Cerca de um milhão de gaúchos e residentes do Rio Grande do Sul podem ficam sem atendimento por plano de saúde em 40 hospitais. Este é o número aproximado de usuários do IPE Saúde no Estado, que foi notificado na quarta-feira (16) sobre possível rescisão contratual e suspensão de atendimentos pelas principais instituições gaúchas que atendem pacientes pelo plano.
Em movimento liderado pelas federações dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do RS (FEHOSUL) e das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do RS, as entidades decidiram notificar a autarquia estadual e o IPE Saúde após reunião presencial em Porto Alegre na terça (16). O documento, protocolado no IPE na manhã de quarta, inclui demandas e menciona a possibilidade de encerrar a prestação dos serviços hospitalares aos usuários da instituição caso não sejam cumpridas.
Em nota, a FEHOSUL cita "problemas históricos na gestão do IPE, agravados por constantes atrasos nos pagamentos, pela falta de reajustes e mais recentemente, pela imposição de uma Tabela Própria de Remuneração, sem o devido debate com os prestadores".
A Tabela Própria de Remuneração imposta no dia 2 de março pelo IPE Saúde é uma das principais queixas dos hospitais apontadas no documento protocolado, segundo a FEHOSUL. A federação relata que a imposição sobre a remuneração dos prestadores do IPE, "de forma unilateral e sem aviso prévio", representa um "impacto financeiro insustentável" aos hospitais.
Representantes e gestores dos 40 hospitais que assinam o documento ainda disseram que atrasos no pagamento de salários obrigaram os hospitais a "recorrerem a custosos empréstimos bancários para honrar os seus compromissos". A nota da FEHOSUL destaca "aumentos inflacionários que atingem todo o setor de saúde" como um problema grave desconsiderado pelo IPE nas negociações.
As entidades demandam:
- A suspensão do Comunicado 004 (que impôs a tabela);
- Instalação imediata de Câmara Técnica conjunta para viabilizar o pagamento de diárias e taxas;
- Elaboração de um calendário de pagamentos referentes aos valores em atraso do IPE Saúde aos prestadores.
Caso a suspensão da tabela não seja cumprida, a FEHOSUL afirma que os 40 hospitais que assinam o documento devem encaminhar o aviso-prévio da rescisão contratual junto ao plano de saúde.
São eles:
- Hospital São Vicente de Paulo de Passo Fundo;
- Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA);
- Hospitais da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (nove hospitais: sete unidades em Porto Alegre, além de Gravataí e Santo Antônio da Patrulha);
- Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre;
- Hospitais do Sistema de Saúde Mãe de Deus (três unidades: hospitais em Porto Alegre, Tramandaí e Torres);
- Hospitais da Rede de Saúde Divina Providência (cinco hospitais: em Estrela, Arroio do Meio, Progresso e duas unidades em Porto Alegre);
- Hospital Ernesto Dornelles de Porto Alegre;
- Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo de Santa Maria;
- Hospitais do Tacchini Sistema de Saúde (Bento Gonçalves e Carlos Barbosa);
- Hospitais do Instituto de Cardiologia (quatro hospitais: Porto Alegre, Viamão, Cachoeirinha e Alvorada);
- Hospital São Lucas da PUCRS de Porto Alegre;
- Hospital Santa Lúcia de Cruz Alta;
- Hospital Virvi Ramos de Caxias do Sul;
- Hospital de Caridade de Erechim;
- Hospital Santa Bárbara de Encruzilhada do Sul;
- Hospital Comunitário São Peregrino de Veranópolis;
- Hospital de Caridade de Santiago;
- Hospital São Sebastião Mártir de Venâncio Aires;
- Hospital Pompéia de Caxias do Sul;
- Hospital Bruno Born de Lajeado;
- Hospital Vida e Saúde de Santa Rosa;
- Hospital Leonilda Brunet de Ilópolis;
- Hospital Sapiranga de Sapiranga;
- Hospital Beneficente Santa Terezinha de Encantado;
- Hospital de Caridade e Beneficência de Cachoeira do Sul;
- Hospital de Clínicas de Passo Fundo;
- Clínica São José de Porto Alegre.
IPE Saúde quer 'solução conjunta' com hospitais
Em nota divulgada nesta quinta-feira (17), o IPE Saúde diz que "vem adotando medidas de reestruturação compatíveis à necessidade de sustentabilidade financeira que deve nortear toda boa gestão".
"A expectativa do IPE Saúde é que, em breve, seja construída uma solução conjunta em outras frentes que beneficie tanto os prestadores e traga maior segurança aos quase um milhão de usuários em todo o Estado", relata.
Com relação à tabela, a instituição explica que a elaboração se deu "a partir de critérios técnicos e transparentes", motivada por "ação do Ministério Público que apontou discrepâncias em relação aos preços pagos pelo IPE Saúde de determinados insumos", entre outros fatores não mencionados. O IPE não cita intenção de retificar o comunicado.
Segundo o IPE, estudos técnicos pautados na "transparência e diálogo" viabilizou "avanços importantes" também relacionados às federações, entre outras entidades. "Com efeito, por meio desse ambiente, tem sido viável convergir para elucidar a necessidade de esforços conjuntos visando ao reequilíbrio econômico-financeiro e melhoria assistencial", diz a nota.