A 130 quilômetros ao Sul de Porto Alegre, moradores do município de Camaquã enfrentam frequente queda de energia elétrica, desde novembro do ano passado. Entre domingo e a última segunda-feira, dias 23 e 24, a região dos Galpões, no interior do município, permaneceu por mais de 24 horas sem luz.
“Sem ar condicionado foi horrível com as crianças, fora o desconforto. O próprio banho, por exemplo”, lamenta o agricultor, Leandro Marth Backaus, de 37 anos. Além da falta d'água, a população se depara com a perda de alimentos e com os prejuízos agrícolas da produção de tabaco, que necessita da energia elétrica para o funcionamento das estufas.
Com objetivo de amenizar o incômodo das altas temperaturas e as perdas da produção, a alternativa é a utilização de geradores. “Fomos especialmente buscar óleo para o gerador funcionar, mas com isso temos o gasto da luz, do óleo e do trator, que está há horas ligado”, comenta Veridiana Backaus Holz, de 32 anos.
De acordo com a agricultora, com o gerador foi possível manter a utilização de ventiladores e aparelhos domésticos, evitando o desperdício de alimentos. “Mas, e quem não tem gerador, como ficam as carnes?”, questiona.
Segundo a Ceee Grupo Equatorial, com o início do verão ocorrem tempestades com fortes chuvas e ventos que costumam danificar as estruturas da rede elétrica. Para reduzir as interrupções que prejudicam a comunidade e a economia da região, a empresa vem realizando uma série de ações. Em dezembro de 2021, foi realizado o deslocamento de parte do equipamento de alimentador de energia que percorre as estradas Capitão Jango e Galpões. Originalmente, a rede passava por trechos de vegetação intensa e sofria com frequentes interrupções em virtude da queda de galhos na fiação.
Embora a obra tenha facilitado a manutenção, são raras as semanas que não ocorrem quedas de energia na região. “Estamos pagando caro e não temos energia para usar”, relata o aposentado Edvino Vachholz, de 61 anos.
No entanto, a empresa afirma que além da manutenção, investe na recomposição da automação de equipamentos de rede, que protege e agiliza o restabelecimento da energia. Estes equipamentos serão telecomandados e operados à distância pelo Centro de Operações. Em outros distritos do município também foram realizadas vistorias: Bandeirinha, Banhado do Colégio, Bonito, Capela Santo Antônio, Capela Velha e Sant'Auta.
A Zona Rural não é a única que sofre com as consequências da falta de energia, a área urbana também enfrenta dificuldades. “Na última semana faltou três vezes e hoje (segunda-feira) faltou de novo”, diz o motorista Marcelo da Conceição Peres, de 41 anos, morador do bairro Carvalho Bastos. Já no bairro Dr. Rosinha, o estudante Rafael da Silva de Freitas, de 20 anos, afirma que o tempo de espera para o restabelecimento varia entre quatro a cinco horas.
De acordo com a Ceee Equatorial, os prazos para a solução de cada ocorrência dependem da complexidade de cada caso. Deslocamento e acesso de equipes às localidades com fornecimento interrompido, ações em parceria com outros órgãos públicos e o isolamento da área afetada são levados em consideração.
Outro ponto abordado pelos moradores, tanto na área urbana quanto na rural, é o aumento da tarifa e do valor total da conta comparando com a qualidade do serviço. “O preço está sempre subindo, cobram taxas em cima de taxas e sequer baixam os preços para retratar as horas em que o consumidor ficou sem luz nesse calor. Deveriam, ao menos, compensar na fatura, já que no momento que mais precisamos do serviço não temos”, diz Freitas.
Em contrapartida, a concessionária responsável alega que a compensação já é realizada em forma de desconto na fatura do mês seguinte ao período de apuração.
Além da implementação de melhorias na comunicação entre concessionária e cliente, em 2022 a CEEE Grupo Equatorial Energia irá iniciar a construção de uma nova subestação em Cerro Grande do Sul, com quatro novos alimentadores de energia. Entre eles, um reforçará exclusivamente Camaquã. O investimento de R$ 23 milhões irá beneficiar diretamente 12,3 mil clientes ou, aproximadamente, 50 mil pessoas. A unidade terá capacidade de 12,5 MVA e tem previsão de início de funcionamento para 2023.