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Geral

- Publicada em 05 de Dezembro de 2021 às 11:11

Queda na cobertura vacinal é motivo de alerta no Brasil

Confiança, complacência, conveniência e comunicação são os motivos da queda na cobertura vacinal

Confiança, complacência, conveniência e comunicação são os motivos da queda na cobertura vacinal


YURI CORTEZ/AFP/JC
Fabrine Bartz
A Sociedade Brasileira de Imunização (SBim) alerta para a queda na cobertura vacinal no Brasil. Desde 2015, o nível de vacinação está regredindo e chega aos patamares da década de 1980. Com o objetivo de atualizar as vacinas em atraso - o que foi acentuado pela pela pandemia de Covid-19 em 2020 -, a Campanha Nacional de Multivacinação durou dois meses neste ano. Entre as 14 vacinas oferecidas, estavam a BCG, Rotavírus, Tríplice Viral, Febre amarela e Poliomielite.
A Sociedade Brasileira de Imunização (SBim) alerta para a queda na cobertura vacinal no Brasil. Desde 2015, o nível de vacinação está regredindo e chega aos patamares da década de 1980. Com o objetivo de atualizar as vacinas em atraso - o que foi acentuado pela pela pandemia de Covid-19 em 2020 -, a Campanha Nacional de Multivacinação durou dois meses neste ano. Entre as 14 vacinas oferecidas, estavam a BCG, Rotavírus, Tríplice Viral, Febre amarela e Poliomielite.
Principalmente com a retomada gradativa das atividades e o retorno às aulas presenciais, a falta de adesão da população à vacinação abre possibilidades para que doenças consideradas erradicadas voltem à tona. O Plano Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973, tem como meta vacinar, pelo menos, 90% da população contra o bacilo de Calmette e Guérin (BCG) e rotavírus humano (VORH). Para sarampo, rubéola e caxumba (Tríplice Viral) e Poliomielite inativada (VIP)/Poliomielite atenuada oral (VOP) a meta é de 95%, enquanto para Febre Amarela (FA), é de 100%. Segundo dados do Programa Estadual de Imunizações, a última vez que o Rio Grande do Sul atingiu o objetivo de imunização preconizado foi em 2018, quando alcançou 90,98% da população vacinada contra a BCG e 91,21% contra o rotavírus.
E não é somente o RS que não alcança as metas de imunização. O Brasil como um todo enfrenta problemas. Segundo a especialista em epidemiologia e assessora técnica da Coordenação Geral do PNI, Antônia Teixeira, desde 2015 as coberturas nacionais estão em queda. O sarampo, por exemplo, chegou a ser erradicado e voltou a circular no País. A série histórica foi apresentada em setembro deste ano na Jornada Nacional de Imunizações.

Motivos para queda na cobertura vacinal

Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já colocava como um dos riscos para a saúde mundial a queda das coberturas como consequência da hesitação vacinal. No mesmo ano, foi realizada uma pesquisa de opinião para entender quais eram os fatores que estavam levando a uma baixa imunização.
Sobre a pesquisa, a chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Tani Ranieri, ressalta que em 2020 e 2021 a queda no número de vacinados teve relação com a pandemia. No entanto, os dados mostram que antes da Covid-19 já havia queda. “Um dos principais motivos elencados, principalmente em crianças, foi a desinformação, o descaso da população e problemas relacionados com a própria unidade de saúde”, destaca. O horário de funcionamento das unidades e a acessibilidade ao local de vacinação são alguns dos impasses que contribuem com a queda.
A confiança, a complacência e a conveniência são os “3Cs” responsáveis pela baixa procura por vacinação antes da pandemia, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha. A confiança está atrelada à segurança e eficácia da vacina, mas trata-se também da confiança nos governantes, nas instituições e nos profissionais de saúde. “Infelizmente, na pandemia, isso não foi estimulado, houve uma queda, uma quebra na consciência”, aponta o médico pediatra.
O segundo C, a complacência, refere-se à falsa sensação de segurança relacionada com doenças que as pessoas desconhecem e acreditam que não há necessidade de proteção como, por exemplo, a poliomielite. O último caso da doença ocorreu no Brasil em 1989. “Pais jovens nunca viram pólio, podem até ter visto alguém com sequelas de pólio, mas é uma doença que não existiu na infância deles e nem existe durante toda a vida deles”, explica Juarez Cunha.
Já a conveniência está ligada à capacitação dos profissionais da saúde e à complexidade do calendário vacinal, principalmente associada à falta de doses. Atualmente, 48 imunobiológicos são distribuídos anualmente pelo PNI, entre vacinas, imunobiológicos especiais, soros e imunoglobulinas. Do total, 18 vacinas são oferecidas pelo Calendário Nacional de Vacinação para crianças e adolescentes.
Com a pandemia, a comunicação passou a integrar o grupo dos “3Cs”. De acordo com o presidente da SBIm, Juarez Cunha, a comunicação é uma falha que se observa durante as campanhas de vacinação. “Um ministério lança uma campanha dessas, e, em geral, a rede de saúde fica sabendo, mas a população que deve se vacinar não sabe, pois não existem campanhas publicitárias”, comenta o pediatra ao relembrar a importância de campanhas em prol da vacinação na década de 1980 e 1990, como as que tinham como mascote o Zé Gotinha.
A chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Cevs, Tari Ranieli, também aponta que o caminho para reverter a situação é “elaborar intervenções políticas futuras para resgatar essas coberturas vacinais”.

A desinformação e o impacto das mídias sociais na vacinação

Entre as notícias falsas que circulam na internet sobre a Covid-19, 19,8% são sobre as vacinas. Para disseminação da desinformação sobre a vacinação, as plataformas mais utilizadas foram o Instagram (46%), seguido pelo WhatsApp (24%), Facebook (14%), sites 12% e Twitter (4%), segundo estudo conduzido pela pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP), Claudia Galhardi. O estudo investigou 253 notícias falsas recebidas pelo aplicativo Eu Fiscalizo entre 26 de março de 2020 e 31 de março de 2021.
O presidente da SBIm, Juarez Cunha, alerta que se uma pessoa está em dúvida em relação à vacinação, ela irá recorrer aos grupos que, em geral, são grupos fechados dos que pensam da mesma forma. Além disso, o médico pediatra explica que eventos adversos que acontecem em casos específicos, geralmente, são leves e moderados. “É muito raro tu ter um evento adverso grave, porque quando uma vacina está incluída no Programa Nacional, ela já foi avaliada pela Anvisa tanto na segurança quanto na eficácia”, complementa.

Plano Nacional de Imunizações

O Plano Nacional de Imunizações (PNI), coordenado pelo Ministério da Saúde, foi criado há 48 anos. O programa funciona de forma compartilhada com as secretarias estaduais e municipais de saúde e já conquistou resultados importantes como a certificação de área livre da circulação do poliovírus selvagem e a eliminação da circulação do vírus da rubéola. Entre os principais benefícios das vacinas está a diminuição da mortalidade infantil - que caiu 77% no Brasil em 22 anos. De acordo com o relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a taxa passou de 62 mortes a cada mil nascidos vivos para 14 óbitos por mil nascidos vivos. A queda mais acentuada ocorreu nos últimos anos.
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