Na ação, realizada por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) – Segurança Alimentar, foram cumpridos seis mandados de prisão preventiva e 15 de busca e apreensão referentes a oito alvos.
O grupo investigado abastecia estabelecimentos da cidade com grandes quantidades de carne (em forma de hambúrgueres e bifes) provenientes do abate clandestino de equinos. A suspeita foi confirmada por meio da realização de perícias em duas hamburguerias de Caxias do Sul, em cujos lanches foi encontrada presença de DNA de cavalo - a Natural Burguer e a Mirus Burguer. O Ministério Público divulgou o nome dessas duas empresas; a reportagem tentou contato com as hamburguerias, sem sucesso.
"Detectamos que os animais eram comprados por em torno de R$ 100,00 de alguns viciados em drogas, carroceiros, além de animais produtos de furto. Hoje nos deparamos com cinco animais vivos no local, sendo que dois estavam cegos e um não tinha uma orelha. Animais em péssimas condições. Segundo informações, dois deles seriam abatidos amanhã. Além disso, dois animais teriam sido enterrados ontem. Se tivéssemos ficado cavando, teríamos trabalho para um dia inteiro. Encontramos várias carcaças de animais", destaca o promotor Alcindo Luz Bastos da Silva Filho, coordenador do Gaeco – Segurança Alimentar.
A investigação descobriu que eram produzidos entre 150 e 180 quilos de hambúrguer diariamente que eram vendidos a lancherias e mercados de Caxias. O fato de carne de cavalo ser usada para consumo é um agravante a mais nos crimes praticados pelo grupo.
"Poderia ser carne de gado, mas, naquelas condições, em local totalmente sem inspeção, sem condição sanitária alguma, totalmente clandestino... A informação que tivemos informalmente hoje, temos de confirmar, é de que cerca de 60% das hamburguerias de Caxias comprariam desse pessoal. Tínhamos uma listagem com 17 estabelecimentos que, em tese, venderiam essa carne. Se elas tinham conhecimento ou não, com as oitivas vamos tentar esclarecer", observa o promotor.
Segundo Alcindo, as hamburguerias não podem ser consideradas vítimas do grupo que vendia a carne. "As lancherias não podem negar que estavam adquirindo produto sem nota fiscal, sem rotulagem, sem procedência. Não sei sobre a questão do conhecimento da carne de cavalo ou não. Esse pessoal está totalmente na clandestinidade. Vítimas essas hamburguerias não seriam de forma alguma. Certamente, estavam querendo angariar vantagem", enfatiza.
Em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de Caxias do Sul, o Ministério Público, agora, vai tentar identificar todos os estabelecimentos que comercializavam a carne fornecida pelo grupo criminoso.
A pasta da Saúde também emitiu nota com esclarecimentos. Veja abaixo o posicionamento na íntegra:
"A Prefeitura informa que a Vigilância Sanitária, ligada à Secretaria Municipal da Saúde (SMS), está mobilizada nesta quinta-feira (18/11) desde as primeiras horas da manhã, para prestar apoio à ação do Ministério Público (MP) e tomará as medidas cabíveis conforme o andamento das investigações.
Como a investigação é conduzida pelo MP e ainda está em andamento, a Vigilância não divulga informações sobre os estabelecimentos, para não prejudicar os trabalhos.
No comércio de alimentos, tais como mercados, açougues e restaurantes, a Vigilância Sanitária avalia a procedência dos alimentos através da presença dos selos, carimbos de inspeção ou nota fiscal. Caso seja identificado algum tipo de alimento sem procedência, o estabelecimento é autuado e os alimentos são inutilizados. A Vigilância Sanitária é responsável por fiscalizar milhares de estabelecimentos, dentre eles os que realizam comércio de alimentos. O trabalho é feito por rotina, mas a Vigilância conta com o apoio da população para denunciar casos suspeitos por meio do Alô Caxias (156) ou do WhatsApp (54) 98418-7119."