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Urbanismo

- Publicada em 06 de Novembro de 2021 às 10:40

Prefeitura de Porto Alegre faz inventário de imóveis públicos considerados abandonados

No final de outubro, a Ufrgs iniciou os trabalhos para a elaboração de um laudo estrutural do Esqueletão

No final de outubro, a Ufrgs iniciou os trabalhos para a elaboração de um laudo estrutural do Esqueletão


ANDRESSA PUFAL/JC
As recentes decisões acerca do futuro do Esqueletão, prédio localizado no centro de Porto Alegre, levantaram curiosidades a respeito dos outros imóveis abandonados espalhados pela cidade. Mas, para um prédio ser considerado em situação de abandono, é preciso preencher mais requisitos além da aparência de descuido. É por isso que, atualmente, a cidade tem apenas um prédio privado declarado vago. Já no quesito público, esse número ainda é desconhecido. O município está fazendo inventário dos imóveis públicos considerados abandonados.
As recentes decisões acerca do futuro do Esqueletão, prédio localizado no centro de Porto Alegre, levantaram curiosidades a respeito dos outros imóveis abandonados espalhados pela cidade. Mas, para um prédio ser considerado em situação de abandono, é preciso preencher mais requisitos além da aparência de descuido. É por isso que, atualmente, a cidade tem apenas um prédio privado declarado vago. Já no quesito público, esse número ainda é desconhecido. O município está fazendo inventário dos imóveis públicos considerados abandonados.
Diferentemente do imaginário popular, para um imóvel ser considerado desocupado não basta apenas parecer abandonado. Segundo o Código Civil, existem requisitos: o proprietário precisa ter claramente a intenção de não querer o imóvel e o proprietário não pode ter posse, ou seja, o imóvel não pode estar sendo utilizado. “Mas não é tão simples. Imóveis não são coisas que as pessoas simplesmente dizem que não querem mais. Normalmente elas querem”, pontua a procuradora-geral adjunta de Domínio Público, Urbanismo e Meio Ambiente e presidente da Comissão de Análise e Gerenciamento dos Imóveis Abandonados (Cagim) da Procuradoria-Geral do Município (PGM), Eleonora Serralta.
Quando esses requisitos são preenchidos, a PGM notifica o proprietário e oportuniza ampla defesa. Caso o proprietário não responda ou avise que não quer o imóvel, o prédio é considerado vago e dono é notificado novamente. “Se a pessoa some, declaramos o imóvel como vago no registro de imóveis, publicamos nos jornais e, depois de três anos, o município vai poder arrecadar o imóvel”, explica Eleonora.
Durante esse período, o município pode utilizar o imóvel. Se o proprietário decidir, antes de se encerrar o prazo de três anos, que quer o imóvel de volta, ele deve avisar o município, pagar os impostos atrasados e indenizar a gestão municipal por todas as ações feitas no período, como a limpeza do terreno ou a pintura do prédio, por exemplo.
“A ideia não é interferir na propriedade privada. Mas, sim, não deixar que abandonem, fiquem sem pagar tributos, deixem o imóvel caindo aos pedaços, cheio de lixo e virando ponto de drogadição”, defende a procuradora. Ela explica, porém, que o trabalho é minucioso. Por conta disso, Porto Alegre conta com apenas um caso de imóvel privado declarado vago e outros três casos de ajuizamento. Os processos são ajuizados quando a PGM fica na dúvida a respeito da arrecadação e, então, um juiz torna-se responsável pela decisão.
Eleonora lembra de um imóvel que já estava pronto para ser declarado vago. “Porém, quando fui analisar a matrícula novamente, vi que o proprietário era casado em comunhão de bens. Notificamos a esposa e, nesse período, o imóvel foi invadido. O dono entrou com uma reintegração de posse por conta da invasão, mas não tínhamos certeza se valeria e queríamos arrecadar o imóvel. Então, foi ajuizado”, conta.
“Examinamos cerca de 400 imóveis para chegar em apenas um considerado desocupado. É uma agulha em um palheiro”, declara. É comum que as pessoas queiram que o município arrecade os imóveis mal cuidados, sujos ou feios. Mas a procuradora explica que a PGM não confisca imóveis, apenas arrecada aqueles que entram nos requisitos para isso. “Se um proprietário não paga IPTU, vamos cobrar. Se não pinta a casa, vamos cobrar. Se não limpa o pátio, vamos cobrar. Mas não vamos tomar aquele imóvel, isso é confisco.”
Segundo ela, o dispositivo do Código Civil que regula as arrecadações é, também, um instrumento urbanístico. “Esse instrumento não pode ser aplicado a roldão, porque o município vai se entupir de imóveis e já tem um monte”, entende.
A Secretaria Municipal de Administração e Patrimônio (Smap) estima que o município de Porto Alegre seja proprietário de em torno de 3,5 mil e 4 mil imóveis. “Creio que 5% ou 10% desse total seja de prédios e imóveis desocupados”, pontua o secretário André Barbosa.
A Smap está fazendo um inventário de todos os imóveis para saber, ao certo, quantos são. “O que acontece é que alguns imóveis têm mais matrículas do que deveriam. O Ginásio Tesourinha, por exemplo, é um imóvel só, mas tem 24 matrículas. Então, nesse caso, temos que individualizar no registro de imóveis e transformar em uma só matrícula”, complementa.
Esses imóveis públicos considerados desocupados costumam vir de doações da União ou de outras situações. “Por exemplo, se a Secretaria Municipal de Educação decidir fechar uma escola, aquele prédio ficará desocupado. A partir daí, podemos ceder o imóvel para alguma instituição que desenvolva trabalhos sociais ou culturais”, explica Barbosa.
Nesses casos, são assinados Termos de Permissão de Uso (TPU) não oneroso. "Recentemente fizemos um TPU para o Museu do Hip Hop. Ali funcionava uma escola desocupada, essa Associação do Hip Hop fez o projeto, apresentou para a Secretaria Municipal de Cultura e foi aprovado.”
Segundo o secretário, o único imóvel do município que, além de desocupado, está abandonado desde 2017, é o antigo prédio da Secretaria Municipal de Produção, Indústria e Comércio (Smic), que fica entre a avenida Osvaldo Aranha e o Túnel da Conceição. A assinatura do termo de cessão de uso para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), válido por 30 anos, será no dia 10 de novembro, às 9h, no salão nobre do Paço. A universidade pretende instalar no local um centro de inovação.
Além de estar atento à questão urbana, como Eleonora, o secretário também se preocupa com o desenvolvimento e segurança da cidade. “Pode acontecer de as pessoas invadirem e construírem casas em terrenos desocupados e, assim, a cidade acaba crescendo de uma forma desordenada. Queremos evitar isso e também que esses imóveis fiquem sem serventia, porque geram gastos, viram pontos de droga ou de prostituição”, avalia.

Processo do Esqueletão tornou-se complicado devido ao número de proprietários

O Edifício Galeria XV de Novembro, conhecido como Esqueletão, assim como outros imóveis privados, também passou por esse processo da PGM. A procuradora-geral adjunta Eleonora Serralta está envolvida na situação do Esqueletão desde o início do processo.
Ela explica que o que atrapalhou o desenvolvimento da ação é que as matrículas foram individualizadas e entregues aos proprietários antes de o prédio ser finalizado. “Tínhamos por volta de 374 matrículas. Ali, são 19 andares, mas, se não me engano, seriam 26 andares. Então tem matrícula até de sala de fantasma”, conta. Essa questão dificultou o processo de encontrar todos os proprietários e notificá-los da intenção de arrecadar as salas que não estavam sendo utilizadas.
Há alguns anos, Eleonora chamou engenheiros para fazer um laudo nível 1 do prédio. O resultado foi que a edificação tinha risco de desabamento, mas, para saber exatamente quais eram todos os riscos e o que poderia acontecer, precisaria de um laudo nível 3, que, segundo a procuradora, costuma custar em torno de R$ 500 mil. “Tentamos, desde o início, que os proprietários custeassem esse laudo”, ressalta.
No final de outubro, o Laboratório de Ensaios e Modelos Estruturais (Leme) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) iniciou os trabalhos para a elaboração de um laudo estrutural, pelo valor de R$ 255 mil. “A prefeitura vai pagar esse valor agora e depois vai cobrar dos proprietários”, afirma o titular da Secretaria de Obras e Infraestrutura (Smoi), Pablo Mendes Ribeiro.
Em entrevista recente ao Jornal do Comércio, Ribeiro afirmou que “nossa expectativa é que o laudo seja conclusivo para a destruição do prédio”.
Para Eleonora, ver o prédio desocupado e próximo de receber um destino final é um alívio. “Quantos anos ficou nas minhas costas a responsabilidade caso esse prédio caísse”, lembra. O laudo deverá ser entregue em até 13 meses.