Melo foi veemente sobre a questão: não vai assinar um aumento deste porte para o transporte público da Capital. O prefeito não informou, contudo, qual será a decisão final sobre o novo preço da passagem.
Ao ser questionado em entrevista ao Jornal do Comércio, Melo disse que manterá a sua palavra, discorreu sobre diversas ideias alternativas para um sistema que considera falido e afirmou que pretende alterar a composição do Comtu, que, segundo ele, deve ser formado também por “aqueles que ajudam a pagar a conta, não só aqueles que têm isenções”.
Jornal do Comércio - Prefeito, após a aprovação da proposta pelo Comtu, o senhor reafirma o compromisso de não assinar um aumento da passagem para R$ 5,20?
Sebastião Melo - Já disse que uma passagem no valor de R$ 5,20 não vou assinar. E vou cumprir minha palavra. A política acaba no momento em que a palavra não é cumprida. Compete somente ao prefeito aumentar o preço da passagem. O conselho propõe e o prefeito pode acolher ou não. Quando a proposta chegar a mim, vou ver, estudar, analisar, distribuir para a minha assessoria jurídica e, a partir daí, tomar a decisão.
JC - Quando o senhor recebe a proposta do Comtu?
Melo - Não sei. Apenas tomei conhecimento do que foi aprovado. Agora, quando eles vão enviar a proposta... não posso interferir no conselho, não me compete, ainda mais quando não concordo. E mais uma coisa: vou propor uma mudança significativa no Comtu. É necessário que participem da discussão. Tem que ter aqueles que ajudam a pagar a conta, não só aqueles que têm isenções. Precisa haver uma mudança profunda.
JC - Quais são as alternativas para não haver um aumento elevado no preço da passagem?
Melo - Existe um contrato assinado em 2015. Ano passado, o sistema todo levou mais de R$ 100 milhões (de recursos da prefeitura), envolvendo a Carris (défcit) e o sistema privado (repasse a empresas da Associação dos Transportadores de Passageiros). Neste ano, já estamos chegando na casa dos R$ 50 milhões. A prefeitura não tem recursos para suportar isso. Tratei desse tema na eleição e durante a transição. A primeira audiência após a posse foi para tratar do sistema de transporte. Não mandamos as matérias antes porque tínhamos uma prioridade clara que era a reforma da previdência. Acreditamos que, agora, com o amadurecimento do debate da previdência, podemos enviar as propostas.
A (da privatização) da Carris já foi. Há um conjunto de projetos que estamos refinando para apresentar à Câmara. O Legislativo tem seu tempo e sua regra. Estamos reunindo secretários e setores e penso que o debate já está maduro. Primeiro, a prefeitura vai pedir uma auditoria para a cesta de insumos que compõe a passagem, isto é, os custos de operação e de insumos a partir do qual se gera o valor da passagem.
Estamos conversando com Fiergs (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul) e vamos dar uma olhada para tomar as melhores decisões para a mobilidade urbana de Porto Alegre. Não estamos discutindo só o ônibus. O cidadão quer chegar, independentemente se de Uber, táxi, trem ou ônibus. O nosso caminho é o da negociação para repactuar o transporte público. Temos que ter a grandeza de admitir que o sistema faliu, botar a bola no centro do campo e ver o que podemos fazer.
JC - Quais são as propostas que o Paço pretende encaminhar ao Legislativo?
Melo - Por exemplo, temos os mesmos ônibus para operar em qualquer horário. E hoje há dados para dizer que em alguns horários não há necessidade de um ônibus com capacidade de carregar 80 passageiros. Então, deve-se permitir, na repactuação, botar carros menores para circular em determinados horários. Outra ideia é, em horários diferenciados, haver preços diferenciados. O passageiro que anda das 11h às 16h, paga o valor X. O passageiro que se locomover sem horários fixos pode ser atraído para aquele preço mais barato. Outra discussão é para integrar o sistema com cidades vizinhas. A sobreposição de linhas é muito ruim para o trânsito, para o meio ambiente. Com o sistema integrado, poderia se ter menos ônibus operando. Outra coisa é também fazer a integração com o sistema de lotações. Não tem porque ter um sistema que não integre modais. Agora, qualquer remédio vai ser amargo. Na questão (da retirada) dos cobradores, tem gente que é favorável e gente que não. Sobre as isenções, tem gente que acha correto e tem que acha que não. Também vou dialogar com o Eduardo (Leite, governador do Estado) sobre impostos da cadeia de transporte. O município já fez sua parte e retirou a tributação, mas os impostos ainda representam cerca de 15% do preço da passagem.