Permitida desde terça-feira (23) pelo governo do Estado para os alunos da Educação Infantil e das séries iniciais, apesar do
agravamento da pandemia no Rio Grande do Sul, a
volta do ensino presencial segue polêmica entre pais e profissionais da saúde. Enquanto as famílias se dividem sobre o assunto, especialistas têm alertado para a necessidade de restringir a circulação neste momento, evitando que os alunos se tornem vetores de transmissão da Covid-19.
Docente da área de Biossegurança da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e bacharel em Ciências Biológicas e Biologia Molecular, Melissa Markoski alerta para o risco da volta dos alunos às atividades presenciais nesse pior momento da pandemia. "Avalio como um risco muito grande, porque embora a maioria das crianças não desenvolva a doença, são potenciais vetores, pois não aderem corretamente à prevenção e à máscara, que até para os adultos é difícil de ser mantida corretamente", comenta.
Segundo ela, o distanciamento social deve ser priorizado ainda mais diante do atual cenário, e nem todas as instituições de ensino possuem área física para a separação adequada das classes e nem fiscalização para isso. "A gente sabe que a prevenção não funciona se não tiver os máscara, distanciamento e higienização das mãos", reforça.
Diante do surgimento da
nova variante do coronavírus no Rio Grande do Sul, a professora atenta para o perigo do aumento das contaminações e da velocidade de disseminação, que também sofrerão influência do aumento de circulação nas ruas e no transporte, em função das aulas presenciais. "Neste momento em que há variantes mais transmissíveis e mais hospitalização de jovens, essa volta às aulas vai fazer com que as crianças circulem, peguem transporte público e escolar, onde vai haver aglomeração, e levem essa possível contaminação para suas casas e comunidades, é um risco realmente muito grande", enfatiza.
Melissa avalia que a decisão do Executivo gaúcho de liberar a volta do ensino aos estudantes da Educação Infantil e da 1ª e 2ª séries do Ensino Fundamental foi baseada no fato de essa faixa etária ser menos propensa a desenvolver sintomas graves da Covid-19. No entanto, ressalta que os pequenos podem contaminar membros da família, mesmo se estiverem assintomáticos. "É muito raro que as crianças desenvolvam formas mais graves da doença e que precisem de hospitalização. O problema não é a criança em si, nunca foi, as pessoas precisam entender que a Covid é uma doença do coletivo. A criança pode não desenvolver a doença, mas é vetor", reforça.
Diante do retorno das aulas, ela destaca a necessidade de reavaliar e intensificar os protocolos preventivos, treinando as equipes das escolas e conscientizando os pais de que as crianças são transmissoras da doença." Não é o momento para o retorno das atividades presenciais em escolas. A estratégia teria de ser voltada para que as pessoas se mantenham o máximo possível em casa e tentar frear a disseminação e transmissão das novas variantes", completa Melissa.
Nas redes sociais vem crescendo o movimento de pais que defendem a volta do ensino presencial para todos os níveis da Educação. Nos últimos dias, o movimento "Lugar de criança é na escola" dominou postagens na internet, espalhando mensagens em defesa da retomada das aulas. Representantes do grupo participaram de conversas com membros do governo e da prefeitura de Porto Alegre, e comemoraram a liberação parcial da atividades desde terça.
"Conseguimos, um grade passo foi dado. Seguimos na luta e pedimos os eu envolvimento para que demais anos, escolas públicas e especiais possam voltar", diz uma das postagens em rede social.
Procurados pela reportagem, os organizadores do movimento não retornaram os contatos, mas seguem com a campanha em defesa do direito às aulas presenciais com responsabilidade e segurança, além da inclusão de professores e funcionários de escola entre o grupo prioritária da vacinação contra a Covid-19. Com mais de 5,6 mil seguidores no Instagram, o grupo defende que a o ensino presencial é serviço essencial e deve ser tratado como tal pelos gestores.
Para mobilizar a sociedade e os governos, uma carreata está sendo organizada pelos integrantes para o próximo sábado (27). A concentração, que marca o primeiro ato oficial do movimento em defesa do retorno presencial, está prevista para iniciar às 9h30min, no Parque Germânia.