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Coronavírus

- Publicada em 26 de Maio de 2020 às 20:58

Pandemia completa três meses no Brasil

No pico do isolamento social, ruas de Porto Alegre ficaram vazias em dias úteis

No pico do isolamento social, ruas de Porto Alegre ficaram vazias em dias úteis


MARCO QUINTANA/JC
Quando, no dia 26 de fevereiro, o primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus foi registrado no Brasil, ninguém imaginava que, em três meses, o País passaria por uma quarentena que esvaziaria as ruas, tantas vidas seriam perdidas, dezenas de erros seriam cometidos pelo poder público e muitas horas seriam desperdiçadas com disputas políticas enquanto a população sofre diariamente com os efeitos da pandemia.
Quando, no dia 26 de fevereiro, o primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus foi registrado no Brasil, ninguém imaginava que, em três meses, o País passaria por uma quarentena que esvaziaria as ruas, tantas vidas seriam perdidas, dezenas de erros seriam cometidos pelo poder público e muitas horas seriam desperdiçadas com disputas políticas enquanto a população sofre diariamente com os efeitos da pandemia.
Ministros caíram, governadores ganharam destaque, o SUS mostrou sua importância, o mercado mundial de equipamentos colapsou. Nesta terça-feira, 26 de maio, o País contabilizava 391.222 casos e 24.512 óbitos em razão da doença, que já marca uma era e mostra que é preciso gestão profissional na condução da saúde pública.

A droga ineficaz que derrubou dois ministros

Teich e Mandetta sucumbiram à pressão do presidente Bolsonaro

Teich e Mandetta sucumbiram à pressão do presidente Bolsonaro


/MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL/JC
O Brasil é o único país do mundo que teve três ministros da Saúde em três meses de pandemia, sendo que os dois primeiros deixaram o cargo em razão de uma droga que não possui eficácia contra a Covid-19: a cloroquina. Cético em relação ao medicamento e com um discurso que falava na importância de respeitar e seguir o que diz a ciência, Luiz Henrique Mandetta foi lentamente "fritado" e, após um longo atrito com o presidente Jair Bolsonaro, demitido do cargo em 16 de abril, quando o Brasil tinha 30.425 casos e 1.924 mortes causadas pela doença. No dia seguinte, Nelson Teich assumiu a função mostrando-se mais alinhado com o presidente e evitando discordar publicamente das declarações de Bolsonaro. No entanto, a insistência do presidente para que o ministério indicasse a cloroquina como tratamento para o novo coronavírus, entre outras coisas, fez Teich pedir demissão no dia 15 de maio, menos de um mês depois de tomar posse. No lugar dos dois médicos, assumiu Nelson Pazuello, um general do Exército. O militar tratou de satisfazer o chefe, e não só liberar o uso da cloroquina como indicá-la como "o único tratamento hoje disponível". Contraindicada por entidades médicas e com os ensaios clínicos suspensos pela Organização Mundial da Saúde, a cloroquina já foi abandonada até pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, outrora defensor da droga. Atualmente, dois presidentes se destacam pela defesa do medicamento: Jair Bolsonaro e Nicolás Maduro, da Venezuela.
 

Pressão no sistema de saúde exigiu reforço da rede

Um dos mantras mais ouvidos desde o início da crise sanitária é o que aponta a necessidade de "achatar a curva" de contágio pelo vírus. A razão disso é a seguinte: se muita gente se infectar ao mesmo tempo, a demanda por leitos hospitalares crescerá bruscamente e não haverá vagas para todos. Junto com esse "achatamento", outra medida que reduz esse risco é o incremento da rede. O Ministério da Saúde já habilitou, desde abril, 6.344 novos leitos em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs). Conforme o governo federal, isso representa um repasse de R$ 911,4 milhões para estados e municípios. Além disso,a pasta dobrou o valor destinado ao custeio diário dos leitos, passando de R$ 800,00 para R$ 1,6 mil. No Rio Grande do Sul, são 1.877 leitos de UTI - neste mês, 270 novas vagas foram habilitadas no Estado. No Brasil inteiro, são cerca de 34,3 mil, sendo 18,5 mil pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em meio à crise, o SUS mostrou sua eficácia e o quanto precisa de investimento permanente.

A dificuldade em se obter EPIs e respiradores

Governo Federal conseguiu trazer material do exterior e já distribui 83 milhões de EPIs

Governo Federal conseguiu trazer material do exterior e já distribui 83 milhões de EPIs


MS/DIVULGAÇÃO/JC
Local onde surgiu o novo coronavírus, a China é, também, a maior produtora de equipamentos de proteção individual (EPIs) e respiradores mecânicos do mundo. Responsável por 90% da produção mundial de EPIs e 20% da de respiradores, o país asiático reduziu drasticamente sua produção em razão da pandemia. Além disso, a maior parte da produção foi utilizada internamente. Isso acabou por gerar uma corrida internacional pelos suprimentos. Para prover a falta dos equipamentos e tentar mais força de negociação no mercado internacional, o Ministério da Saúde passou a centralizar as compras, em um cenário em que aviões mudavam de rota após um país mais rico oferecer mais dinheiro pelos produtos do que aquele que tinha feito a encomenda. Conforme o Ministério da Saúde, 1.437 respiradores foram entregues para 17 estados do País. Além disso, 83 milhões de EPIs foram enviados a estados e municípios.

Um presidente contra o isolamento

Caminhando em sentido contrário às grandes potências europeias e asiáticas e aos vizinhos sul-americanos, Jair Bolsonaro se alinhou ao norte-americano Donald Trump e, ambos, se tornaram os dois principais líderes mundiais com posicionamento contrário ao isolamento social como única maneira de reduzir a disseminação da Covid-19. Com um discurso colocando saúde e economia em lados opostos, o presidente chegou a afirmar que "corria o risco" ao defender o fim do isolamento. Contrariando infectologistas, sanitaristas, epidemiologistas e diversos outros cientistas da área da saúde, Bolsonaro chamou a Covid-19 de "gripezinha", disse que o isolamento foi "inútil" e que, se dependesse dele, iria "abrir tudo". Até o momento, os números da pandemia mostram que quem agiu rápido e restringiu a circulação da população obteve melhores resultados. Na Argentina, que instituiu o isolamento social obrigatório em 20 de março, são 12.615 casos - incidência de 28 casos por 100 mil pessoas - e 468 mortos - 1,04 mortos por 100 mil pessoas. No Brasil, são 186,2 casos por 100 mil habitantes e 11,7 óbitos por 100 mil pessoas.

Governadores assumem o protagonismo

Em um cenário em que o governo federal "bate cabeça" sem saber para onde vai, com vácuo de comando no Ministério da Saúde, e a comunidade científica se posicionando contrariamente às orientações do presidente da República, coube aos governadores e prefeitos assumirem o protagonismo no combate ao novo coronavírus. Com decretos de restrição de circulação e fechamento do comércio, os líderes estaduais tomaram as rédeas e desafiaram o governo federal. Se João Dória (SP) e Wilson Witzel (RJ) - chamados, respectivamente, de "bosta" e "estrume" pelo presidente Bolsonaro na reunião ministerial que teve o vídeo recentemente divulgado pelo Supremo Tribunal Federal - se tornaram inimigos do Planalto, outros governadores, como o gaúcho Eduardo Leite, ganharam popularidade ao agirem com agilidade e buscarem soluções conjuntas com cientistas e economistas.