Quem olha de relance pode até pensar que Patch Adams é apenas um palhaço. Suas roupas coloridas, sapatos enormes, cabelo bicolor e adereços hilários são apenas um meio de transmitir alegria aos que precisam e, até mesmo, aos que acham que ela não é mais relevante. Contudo, aos 67 anos, Adams é muito mais. Seus olhos transmitem a vivência de quem já viu a dor de muitos, mas nem por isso deixou de acreditar no amor. Muito pelo contrário: ele afirma que a única maneira de salvar a sociedade é através da amizade e da compaixão. Além disso, é provocativo, fazendo críticas negativas ao modelo econômico atual.
O médico norte-americano, que viaja o mundo levando alegria para áreas críticas em situação de guerra, pobreza e epidemia, e também palestrando para a classe médica e para a população em geral, esteve nesta quinta-feira na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) e realizou um encontro com os profissionais do Hospital São Lucas (HSL) e outro para o público. “Os médicos deveriam pensar mais em ser amorosos e não apenas em tratar doenças. Não penso na medicina como um trabalho, pois nunca fiz isso para ganhar dinheiro. Sou médico o tempo todo, assim como sou muitas outras coisas”, define.
Aos que o conhecem apenas pelo filme homônimo, de Tom Shadyac, Adams alerta: considera a obra apenas uma rentável bilheteria hollywoodiana. “Uma vez uma mulher me disse que o filme salvou a vida dela, mas eu sei que quem fez o filme nunca pensou um minuto sobre isso. Essa reação mostra que as pessoas estão famintas por qualquer mensagem sobre o amor, até mesmo as que têm linguagem de jardim de infância”, alfinetou.
Batizado como Hunter Doherty Adams, o médico passou por períodos difíceis. Na adolescência, foi internado em um hospital psiquiátrico. Dessa época, tirou mais de uma lição, entre elas a de que nunca receitaria remédios psiquiátricos. Ao término da faculdade, em 1972, fundou o Instituto Gesundheit. Atualmente, trabalha no projeto de seus sonhos - a criação de um hospital que preste assistência gratuita e humanizada, sempre tendo o bom humor como aliado. Após adquirir um terreno no estado norte-americano da Virgínia Ocidental, em 1980, acreditou que a construção ficaria pronta em quatro anos. Entretanto, ainda não está totalmente acabada devido à falta de patrocínio.
Além de trazer mais alento e esperança aos pacientes, o médico diz que responde mensalmente a 600 cartas, oriundas de 120 países, sendo um terço delas escrita por estudantes da área de saúde que querem largar os estudos por não aguentarem a atitude rude de professores e médicos. A lógica capitalista está também, segundo ele, dentro dos hospitais, principalmente na mudança constante de tecnologia e medicamentos.
Apesar destes posicionamentos, Adams não se considera um pessimista, mas sim um realista, acreditando que nunca é tarde para uma revolução afetiva. Para ele, a riqueza nos fez acreditar que o amor é um sentimento, quando, na verdade, é uma inteligência. O médico diz que se o amor fosse ensinado assim como a Matemática, três vezes por semana, durante uma hora, o mundo seria outro. “Só há uma maneira de ser feliz: trabalhar pelo amor, pela paz e pela justiça. Se não, em 2020 a doença de maior incidência será a depressão, pois toda a humanidade se sentirá sozinha. Atualmente, ensinamos apenas o egoísmo para os indivíduos, com a busca pelo dinheiro e pela beleza”, pontua.
Durante sua visita à Pucrs, Adams plantou uma árvore no jardim do hospital, na companhia de integrantes do grupo Doutorzinhos, que reúne e capacita voluntários para atuarem como palhaços em estabelecimentos de saúde, entre eles no HSL.