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SAÚDE

- Publicada em 17 de Setembro de 2012 às 00:00

Parto domiciliar divide opiniões entre a classe médica


TÂNIA RÊGO/ABR/JC
Jornal do Comércio
O parto domiciliar é um tema que envolve inúmeras questões, tanto em relação à saúde quanto em relação à parte emocional e psicológica da mãe e do bebê. A principal polêmica diz respeito ao que é realmente mais seguro para o momento do nascimento: o hospital ou a residência. No mês de julho, o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro proibiu a participação de médicos em partos domiciliares, mas a Justiça suspendeu essa restrição através de uma liminar. O posicionamento da instituição motivou diversas críticas de grupos que defendem a prática. Até mesmo o Conselho Nacional de Saúde foi contra a proibição, afirmando que tanto os médicos quanto as mulheres têm a liberdade de escolha.
O parto domiciliar é um tema que envolve inúmeras questões, tanto em relação à saúde quanto em relação à parte emocional e psicológica da mãe e do bebê. A principal polêmica diz respeito ao que é realmente mais seguro para o momento do nascimento: o hospital ou a residência. No mês de julho, o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro proibiu a participação de médicos em partos domiciliares, mas a Justiça suspendeu essa restrição através de uma liminar. O posicionamento da instituição motivou diversas críticas de grupos que defendem a prática. Até mesmo o Conselho Nacional de Saúde foi contra a proibição, afirmando que tanto os médicos quanto as mulheres têm a liberdade de escolha.
Atualmente, 98% dos partos no País são realizados em ambientes hospitalares, mas as condições de segurança só podem ser garantidas se este local realmente tiver uma estrutura adequada. Outra crítica frequente aos nascimentos em hospitais é em relação ao exagero no número de cesarianas. Cabe lembrar que o termo parto domiciliar não é igual ao termo parto humanizado, que pode ser conseguido com algumas mudanças na prática das unidades de saúde, acentuando os aspectos emocionais do nascimento.
“Os conselhos não têm poder de proibir o procedimento, só que, caso ocorra algum problema, como fatalmente ocorrerá, eles responderão por isso. Há 35 anos, cerca de 70% dos partos na Holanda eram feitos em domicílios, e com muitos bons resultados. Nesta década, só 10% continuam sendo domiciliares, devido ao número de complicações que começaram a ocorrer”, explica o ginecologista e obstetra Antônio Celso Ayub, coordenador da Comissão de Fiscalização do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers). De acordo com ele, é importante lembrar que na Holanda existe toda uma estrutura para a realização do parto em casa, com a colocação de ambulâncias em frente das residências, mas que, ainda assim, muitas mulheres e bebês morrem.
“Passamos a nascer e morrer nos hospitais, o que ocasionou uma perda dos laços familiares de proteção nestes momentos. Contudo, no caso do nascer, o que se perdeu é possível ser resgatado nos hospitais, com a inserção maior da participação das famílias nas maternidades. No Brasil, isso ainda é um problema, pois não existe estrutura física”, acredita Ayub.
Segundo o médico, um dos recursos apoiados pelas mulheres é a analgesia, que diminui a dor do parto. “Dar à luz naturalmente, mas sem dor, é o que os obstetras de boa linhagem defendem, incentivando, também, o contato da mãe com o bebê logo após o nascimento”, observa Ayub. Sobre o parto domiciliar, ele diz que o Cremers não recomenda o procedimento, devido aos riscos que oferece. O ginecologista ressalta ainda que só é possível saber com segurança se um parto será normal na hora em que ele acontece, pois a qualquer momento pode ocorrer uma anomalia, sendo preciso um local especializado para corrigi-la – no caso, o hospital.

Obstetra critica a recomendação abusiva das cesarianas

Na Capital, um profissional é conhecido por realizar os nascimentos em residências. O obstetra Ricardo Herbert Jones acredita ser o único médico em Porto Alegre a realizar esse procedimento. Para Jones, os partos domiciliares planejados “deveriam fazer parte dos direitos humanos reprodutivos e sexuais de todas as mulheres do mundo ocidental democrático”. “Proibir mulheres de escolherem o lugar de parir baseado em meras opiniões, preconceitos ou desinformação não é uma atitude que possa ser aceita em uma sociedade democrática e plural”, afirma.
O obstetra conta que em torno de 25% das gestantes brasileiras relataram algum tipo de abuso durante o parto dos seus filhos. Alguns dos abusos relatados são episiotomias (corte do períneo), kritelleres (pressão exagerada sobre o útero para apressar o parto), enemas (lavagem intestinal) e tricotomias (depilação), sem que exista algum embasamento para justificar a intervenção. Além disso, outro desvio considerado por Jones é que 54% dos nascimentos acontecem através de cesariana, quando o recomendado pela Organização Mundial da Saúde é de apenas 15%.
“Valores maiores do que esse estão relacionados ao aumento da morbimortalidade materna e neonatal. A taxa de 54% que temos na atualidade representa a falência da cultura em valorizar os eventos  femininos, tornando-os procedimentos cirúrgicos controlados pelos médicos cirurgiões-obstetras”, explica. Segundo ele, tal situação pode ter repercussões extremamente negativas para os recém-nascidos, já que a eles são sonegados os hormônios relacionados ao vínculo materno, como a ocitocina.
Além disso, o médico ressalta que o parto domiciliar proporciona uma vivência mais natural e menos agressiva entre as mães e os bebês. “O nascimento em casa traz a possibilidade de vivenciar o parto com integralidade, situação em que os aspectos emocionais, espirituais, psicológicos e fisiológicos estão conectados e são levados em consideração”, conclui.
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