Pampaphoneus biccai. Assim foi batizada uma espécie de predador que viveu há mais de 260 milhões de anos, na era Paleozoica. Em 2008, em uma expedição a uma fazenda em São Gabriel, na região dos Pampas, pesquisadores de diferentes universidades do país e do mundo, liderados pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), encontraram o crânio do animal que viveu no período Permiano. O nome significa, em grego, "assassino ou matador dos pampas". Além disso, homenageia José Bicca, proprietário da fazenda onde foi feita a descoberta.
De acordo com o paleontólogo Juan Carlos Cisneros, da Universidade Federal do Piauí, um dos responsáveis pela descoberta, essa espécie não é um mamífero nem um réptil. "Eles foram os precursores dos mamíferos, animais carnívoros que precederam os répteis", explica. Em meio a rochas, foi encontrado o crânio completo, medindo 35cm de comprimento. Os pesquisadores chegaram ao local, jamais explorado, através de imagens de satélite. O fóssil estava coberto por minerais, sendo necessária uma minuciosa e delicada limpeza, realizada por uma graduanda de Biologia, para não comprometer a descoberta.
Em uma segunda fase, Cisneros foi até a Universidade de Johanesburgo, na África do Sul, acostumada a realizar estudos desse tipo, pois grande parte destes animais é descoberta na região. "Chegando lá, pudemos contar com a colaboração de dois especialistas em paleontologia. Com uma réplica em mãos, fomos à Rússia também, onde um novo pesquisador ajudou-nos a conhecer a origem do animal", conta Cisneros. A espécie encontrada no Rio Grande do Sul é muita parecida com as encontradas na Rússia, pois mesmo com os continentes sendo muito distantes, na época eram muito próximos.
Conforme o professor de Paleontologia da Ufrgs Cesar Schultz, o animal deveria medir aproximadamente três metros e pesar cerca de 300kg, mais do que um leão. "A expedição durou oito dias, mas já tínhamos realizado umas quatro ou cinco visitas à região", informa.
Em termos de importância histórica, foi o primeiro achado de um carnívoro terrestre da Era Paleozoica na América do Sul. Os resultados dessa descoberta podem auxiliar os pesquisadores na identificação de outras vidas e no estudo da longevidade de novas espécies. O fóssil ficará exposto no Museu de Paleontologia da Ufrgs.