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23 de Outubro de 2025 às 00:25
Tecnologia
Dener Pedro, Isadora Jacoby
GE
Vanderlei Carminatti é CEO da GamdSports, plataforma para gestão de clubes criada em Erechim e validada no Ypiranga, time do município Foto: GamSports/Divulgação/JC
Dener Pedro Estagiário do GeraçãoE
Dener Pedro
Estagiário do GeraçãoE
Isadora Jacoby Editora do GeraçãoE
Isadora Jacoby
Editora do GeraçãoE
Tecnologia
Fundos de investimento estrangeiros miram em negócios gaúchos de inovação
Startups do Estado têm no mercado internacional uma possibilidade de captação de recursos
Parte fundamental do processo de desenvolvimento de uma startup é o investimento. Ao construir um plano de negócio com uma ideia inovadora, o empreendedor projeta quando, como e quanto vai receber de aporte, seja ele de um investidor anjo, de crowdfunding, de um fundo de investimento ou por meio de crédito. Esses aportes podem vir de fora do País, já que iniciativas brasileiras têm chamado a atenção de investidores estrangeiros.Criada em 2021, a GamdSports é uma plataforma pensada para a gestão de recursos de clubes esportivos. Diretor do Ypiranga, clube de futebol de Erechim, Vanderlei Carminatti enfrentava dificuldades na tentativa de implementar um modelo de gestão mais moderno. Com a ideia de disputar competições que ocupassem o calendário todo, a necessidade de captar mais recursos era urgente. Com experiência empresarial, Carminatti não encontrou ferramentas de gestão para otimizar a visualização dos pontos de venda do estádio, valores arrecadados com bilheteria ou números que indicassem o comportamento dos sócios-torcedores. A solução encontrada por ele foi desenvolver, por conta própria, uma plataforma.“Queria uma solução que me entregasse uma visão 360º, ter um controle tecnológico e automatizado. Só encontrei plataformas com serviços isolados, mas nenhuma que unisse tudo”, explica Vanderlei. “Eu preciso entender o comportamento do meu sócio. Quando ele vai, o time sobe, cresce, tem bons jogos e ele paga em dia. Quando o time começa a não ter bons jogos, ele acaba desistindo. Qual é o benefício, além do futebol, que esse torcedor pode ter?”, reflete.A solução, pensada para ser imediata e de uso interno, logo se mostrou uma ferramenta que poderia ser útil para diversos clubes. “Como eu tinha uma experiência de anos dentro de um clube, sabia exatamente o que era necessário. Pude testar e validar o negócio no Ypiranga. Foi tão bem que o Atlântico [clube de futsal de Erechim] se interessou. E aí eu pensei: ‘tem uma oportunidade aqui’, e criamos a startup”, recorda Vanderlei.
Parte fundamental do processo de desenvolvimento de uma startup é o investimento. Ao construir um plano de negócio com uma ideia inovadora, o empreendedor projeta quando, como e quanto vai receber de aporte, seja ele de um investidor anjo, de crowdfunding, de um fundo de investimento ou por meio de crédito. Esses aportes podem vir de fora do País, já que iniciativas brasileiras têm chamado a atenção de investidores estrangeiros.
Criada em 2021, a GamdSports é uma plataforma pensada para a gestão de recursos de clubes esportivos. Diretor do Ypiranga, clube de futebol de Erechim, Vanderlei Carminatti enfrentava dificuldades na tentativa de implementar um modelo de gestão mais moderno. Com a ideia de disputar competições que ocupassem o calendário todo, a necessidade de captar mais recursos era urgente. Com experiência empresarial, Carminatti não encontrou ferramentas de gestão para otimizar a visualização dos pontos de venda do estádio, valores arrecadados com bilheteria ou números que indicassem o comportamento dos sócios-torcedores. A solução encontrada por ele foi desenvolver, por conta própria, uma plataforma.
“Queria uma solução que me entregasse uma visão 360º, ter um controle tecnológico e automatizado. Só encontrei plataformas com serviços isolados, mas nenhuma que unisse tudo”, explica Vanderlei. “Eu preciso entender o comportamento do meu sócio. Quando ele vai, o time sobe, cresce, tem bons jogos e ele paga em dia. Quando o time começa a não ter bons jogos, ele acaba desistindo. Qual é o benefício, além do futebol, que esse torcedor pode ter?”, reflete.
A solução, pensada para ser imediata e de uso interno, logo se mostrou uma ferramenta que poderia ser útil para diversos clubes. “Como eu tinha uma experiência de anos dentro de um clube, sabia exatamente o que era necessário. Pude testar e validar o negócio no Ypiranga. Foi tão bem que o Atlântico [clube de futsal de Erechim] se interessou. E aí eu pensei: ‘tem uma oportunidade aqui’, e criamos a startup”, recorda Vanderlei.
Após o surgimento dos primeiros clientes, Vanderlei compreendeu que ainda não era o momento de buscar investidores, e sim de consolidar o produto, conquistar novos clientes e tornar o negócio atrativo para investidores. Neste ano, com 15 clubes parceiros e um negócio estruturado, chegou o momento de ir em busca de investidores. Por meio de parceiros do Paraná, Vanderlei estabeleceu contato com um fundo de investimentos norte-americano que possui uma ramificação no Brasil. Interessado no potencial da iniciativa, o fundo fez um aporte que chegará a R$ 60 milhões, a fim de expandir a plataforma para novos países na América Latina e na Europa.
Além dos recursos, que permitirão uma ampliação territorial da GamdSports, o fundo de investimentos também será importante na exploração de novos mercados de forma estratégica. “Eles são sócios de várias empresas de tecnologias e isso, para nós, agrega muito. Poderemos atuar como tiqueteria para outros esportes e até eventos em geral”, projeta Vanderlei.
Com o aporte, o dia a dia da GamdSports mudou consideravelmente. Por conta disso, Vanderlei faz um alerta a empreendedores que desejam conquistar investimentos. “O primeiro ponto é você conhecer muito do modelo de negócio em que está inserido. Eu já trabalhava com tecnologia, mas o maior valor agregado é estar imerso dentro de um clube há 11 anos. É realmente entender as dores e a solução que você está entregando para esse público”, indica.
O que a GamdSports oferece
As funcionalidades da GamdSports são focadas em integrar a gestão de torcedores, a venda de produtos e ingressos e a análise de dados, oferecendo ao clube total controle sobre suas operações e propriedades, como lojas físicas e digitais, pontos de venda no estádio ou ginásio e sistema de escaneamento. Este último ganhou uma importância ainda maior nos últimos meses, já que está em início de aplicação a obrigatoriedade de acesso via reconhecimento facial em partidas em estádios com capacidade para mais de 20 mil pessoas.
Os planos de assinatura, assim como a estrutura da plataforma, variam de acordo com o tamanho dos clubes em termos de número de sócios e divisão esportiva. “A ideia é chegarmos até clubes ainda maiores, de Série A do Campeonato Brasileiro. O investimento nos dá esse poder de barganha”, analisa Vanderlei.
Empresa gaúcha de IA recebe investimento de R$ 2,7 milhões de grupo norte-americano
O investidor norte-americano visitou a estrutura do BlueMetrics, no Tecnopuc, na última semana Foto: Divulgação/JC
Garantir investimentos internacionais é o norte de muitos negócios voltados à inovação. A BlueMetrics, empresa gaúcha especializada em soluções de Inteligência Artificial e análise de dados, acaba de registrar esse feito. A iniciativa recebeu um aporte de R$ 2,7 milhões da Thirty Capital, empresa de private equity com sede na Carolina do Norte, nos Estados Unidos.
Denis Pesa, CEO da BlueMetrics e sócio do negócio ao lado de Gabriel Casara, CGO, conta que a relação entre as empresas já é antiga. Desde 2019, o negócio gaúcho atua como fornecedor de tecnologia para o grupo norte-americano. "Desenvolvemos, ao longo do tempo, uma relação de muita parceria, confiança e obtenção de resultados concretos. Em vários momentos, a Thirty Capital demonstrou interesse em investir no Brasil e na BlueMetrics, e com a chegada da IA, vimos espaço para este movimento", explica o CEO da iniciativa gaúcha, corroborado por Rob Finlay, CEO da Thirty Capital. "O principal atrativo foi a equipe da BlueMetrics. Tivemos a sorte de trabalhar com Denis e sua equipe por muitos anos. Sempre ficamos satisfeitos com a qualidade e a integridade do produto. Eles demonstraram capacidade de contratar e reter os melhores engenheiros e sempre superaram nossas expectativas em termos de prazos e orçamento. As soluções da BlueMetrics em dados estão alinhadas à nossa filosofia: usar inteligência de dados para criar valor e impulsionar uma tomada de decisão mais inteligente", destaca o CEO do fundo norte-americano.
A BlueMetrics oferece soluções de dados e Inteligência Artificial para empresas com o objetivo de otimizar resultados por meio destas tecnologias. "A partir de conversas com nossos clientes, levantamos as principais necessidades nestas áreas, e construímos juntos uma jornada para implantação gradual e sólida das soluções, muitas vezes passando por provas de conceito, produtos mínimos viáveis e aplicação definitiva em produção", pontua Denis.
O negócio, ao longo de 10 anos de operação, prestou serviço para outras empresas no mercado internacional, mas garante que o investimento milionário chancela a relevância do ecossistema de inovação gaúcho. "Nosso Estado sempre foi reconhecido como polo gerador de talentos, temos centenas de startups instaladas em parques tecnológicos como Tecnopuc e Instituto Caldeira, e as soluções criadas aqui são de primeiro nível", percebe Denis.
Na última semana, para selar o investimento, o CEO da Thirty Capital veio a Porto Alegre para conhecer a estrutura da BlueMetrics. A visita, conta Rob, reforçou a percepção positiva acerca do ecossistema gaúcho. "Tínhamos uma noção geral sobre o crescimento do ecossistema de inovação da região, mas nossa visita recente abriu nossos olhos para um incrível ambiente tecnológico. O Rio Grande do Sul possui um ecossistema impressionante de empreendedores, pesquisadores e iniciativas público-privadas que fomentam avanços tecnológicos significativos. É uma comunidade vibrante, com forte foco em sustentabilidade e inovação aplicada, o que torna o ambiente ideal para empresas como a BlueMetrics prosperarem", garante Rob.
O investimento de R$ 2,7 milhões deve incrementar a presença nacional da BlueMetrics, assim como servir de motor para novos produtos, explica Denis. "Queremos fortalecer nosso posicionamento nacional como fornecedor de serviços de IA, ampliando nossas equipes para suportar o crescimento explosivo da demanda nesta área. E investiremos forte no desenvolvimento de produtos de IA por assinatura (IA as a Service), para que nossos clientes possam ter mais rapidez e agilidade ao utilizar soluções prontas para uso", revela.
Sobre o futuro da IA, o CEO da BlueMetrics destaca que viveremos, em breve, um novo momento de transição. "Estamos perto da maturidade das soluções que geram conteúdo (IA generativa), e em breve ouviremos falar mais da IA agêntica, em que agentes pensam em como executar e orquestrar, de forma autônoma, tarefas mais complexas, compostas por múltiplos passos e interações sistêmicas. Por exemplo, poderei pedir para um agente pessoal buscar por passagens e hotéis, comprando tudo automaticamente quando encontrar uma boa oferta. Do ponto de vista de negócios, as empresas precisarão se preparar para serem consultadas, criando seus próprios agentes públicos, ou perderão vendas. As oportunidades serão enormes, mas exigirão preparo", aconselha Denis.
A forma como essas tecnologias são aplicadas na prática dos negócios pode ser um diferencial do Brasil, segundo o investidor norte-americano. "O Brasil está avançando rapidamente. Embora o ecossistema de IA na América do Norte e na Europa tenha uma infraestrutura e mercados de capitais mais maduros, o Brasil tem uma vantagem única: está aplicando IA em setores com impacto imediato e tangível. Isso é um diferencial poderoso. O País possui um talento extraordinário, criatividade e potencial para se tornar um protagonista global em inteligência artificial", afirma Rob.
'Os próximos anos vão ser favoráveis, porque temos margem para crescer', diz especialista
Bruno Bastos é pós-graduado em gestão estratégica Foto: ARQUIVO PESSOAL/JC
Mestre e pós-graduado em gestão estratégica, Bruno Bastos foi presidente da Associação Gaúcha de Startups, participou de conselhos de inovação e atua na organização do South Summit, conhecendo de perto o cenário das iniciativas do Estado. "Nossas startups são incipientes para serem competitivas em nível global. Temos cerca de 10 em todo o Estado que são sólidas, desenvolvidas", pondera Bruno. "Nós temos poucos programas que motivam o empreendedor a abrir startup, e isso acaba respingando fora também. Quem está olhando de fora, quer rentabilidade", analisa.
As dificuldades de se investir no Rio Grande do Sul também têm relação com a falta de cultura empreendedora por aqui. "É uma questão cultural. Se você pegar dois negócios em condições parecidas, sendo um em Porto Alegre e o outro nos Estados Unidos, ou na Alemanha, ou em Hong Kong, nós vamos largar em último, porque não vamos ter a mesma performance pela condução do negócio. E isso não é culpa de ninguém, mas o investidor sabe que, na prática, é assim", define Bruno.
Para fugir do estereótipo estabelecido em relação a negócios gaúchos e brasileiros, é preciso saber os caminhos para atrair os investidores certos. "É difícil determinar, porque não há um padrão, a maioria dos investimentos feitos aqui são pontuais. O que dá para observar é que plataformas chamam atenção por terem vários serviços em uma coisa só. Negócios de alta tecnologia também, e o Brasil tem potencial para desenvolver deeptechs e biotechs, porque temos mata, florestas e cientistas, pesquisadores. Mas para isso precisamos de mais editais, incentivos, dinheiro para financiar", afirma Bruno.
Outra alternativa é a busca por fundos de investimento que tenham atuação focada em setores específicos. Dessa forma, é mais fácil vender a ideia sem a interferência da barreira geográfica. "Nisso nós temos vários pontos positivos, como a área da saúde e principalmente o agro. Tem que estar na linha de visão do fundo, porque eles são malandros. Querem investir para vender mais caro para o próximo ali na frente. Então, tem que haver essa perspectiva de crescimento", detalha Bruno.
Mesmo com uma visão não tão otimista, Bruno enxerga uma grande melhora no cenário. "A situação era muito pior. Sou realista, porque tem pessoas que pensam que está tudo ótimo, mas se tu abres a janela, cadê a inovação? Cadê a smart city? Mesmo assim, o fato é que estamos no melhor momento possível do Estado. Os próximos anos vão ser favoráveis, porque temos margem para crescer. O desafio é desenvolvermos novos negócios que, ali na frente, vão aumentar nosso PIB e mudar a nossa imagem", projeta.