Após 68 anos de sua fundação, o Magazine Luiza segue sendo um dos grandes cases de sucesso de empreendedorismo no Brasil. A marca, criada por Luiza Trajano Donato no fim dos anos 1950, faturou R$ 65 bilhões em 2024 e está prestes a passar por grandes transformações. É o que apontou Luiza Helena Trajano, sobrinha da fundadora e presidente do conselho de administração da rede de lojas, durante o primeiro painel na Gramado Summit 2025, na Serra Gaúcha.
A empresária destacou movimentos globais do varejo, citando gigantes como Amazon e Alibaba, que têm apostado em modelos físicos mesmo partindo do digital. “Nós somos uma empresa brasileira e estamos conseguindo competir com sites internacionais extremamente competentes”, ressaltou.
Para os empreendedores presentes, Luiza compartilhou aprendizados valiosos sobre atendimento e inovação, pilares que sustentaram o crescimento da companhia que, entre 2019 e 2020, teve um salto de R$ 24 bilhões no faturamento. “Digital não é mais uma opção. Digital é cultura. Não é software, não é hardware”, afirmou.
Ela também abordou o papel da tecnologia na proximidade com o cliente. “Hoje, se quero saber se um produto é bom, tenho a Inteligência Artificial do Google ou do WhatsApp. Isso muda o jogo”, explicou, lembrando que o consumidor tem acesso a informações em tempo real e toma decisões de compra com base nessas ferramentas.
Luiza Trajano foi um dos principais nomes da oitava edição da Gramado Summit
JÚLIA FERNANDES/ ESPECIAL/ JC
Falando sobre cultura corporativa, Luiza defendeu a importância do propósito como elemento central no sucesso de um negócio. “Não tem crescimento sem propósito. A venda é a locomotiva de tudo, mas a inovação e o propósito tem que estar presentes”, pontuou.
Durante a conversa, reforçou que muitos empreendedores se perdem no caminho por esquecerem o que os motivou a começar. “Empreender está na moda, mas o verdadeiro empreendedor é aquele que busca solução o tempo todo. Onde há crise há oportunidades”, comentou.
A empresária lembrou que o atendimento precisa ser mantido com a mesma atenção de quando a empresa ainda era pequena. “Você tem que dar o mesmo atendimento de quando era pequeno, no momento em que você se torna grande. Atendimento e inovação não podem se perder. Hoje o cliente muda com um clique.”
A executiva reforçou ainda a importância da escuta ativa, inclusive das críticas. “Aprendi a escutar o que não quero ouvir. Quando o cliente reclama, ele está dando uma chance de fidelização. Quando ele se cala, perdemos ele para outro marketplace ”, alertou.
Falando sobre as práticas da empresa, Luiza destacou que sua equipe acompanha de perto as demandas dos consumidores. “Tenho uma equipe que cuida das minhas redes, mas eu mesma respondo muitos casos. Quando vejo um atendimento ruim, eu mesma escrevo para a equipe. Digo que estou com vergonha.”
Entre os anúncios, ela revelou que o Magalu criou a primeira nuvem brasileira, voltada para pequenos e médios empreendedores. “Hoje, 40% dos nossos aplicativos já estão na nossa nuvem. É dar acesso a muitos, o que antes era privilégio de poucos.”
Outro grande ativo da empresa, a influenciadora virtual Lu, também foi destaque no painel. “A Lu é a maior influenciadora digital do mundo, totalmente criada por uma empresa do interior, brasileira.” Atração nas redes sociais, a Lu se tornou um elemento de conexão com o público. Além de ser a cara do Magazine Luiza, a influenciadora digital passou a fazer publicidade para outras marcas. “Ganhamos inúmeros prêmios internacionais, inclusive em Cannes”, destacou.
Luiza também abordou sua atuação como figura pública. Apesar dos convites para cargos políticos, reafirmou seu compromisso com pautas sociais e políticas públicas, sempre de forma apartidária. Envolvida em iniciativas como o Grupo Mulheres do Brasil, que hoje reúne mais de 130 mil participantes, Luiza reforçou que um dos maiores propósitos da empresa e da sua vida é promover a inclusão e reduzir a desigualdade. “A desigualdade é um câncer da sociedade. Se 30% da população não tem oportunidade, todos nós estamos em risco.”
A executiva demonstrou seu compromisso com a diversidade, afirmando que a história “sofrida” do País está diretamente ligada com a carência de políticas públicas e com a exclusão de comunidades marginalizadas.
“Sou muito engajada em movimentos sociais. Temos histórias de jovens que não tem dinheiro nem para pegar um ônibus para trabalhar como menor aprendiz, mas conseguem tirar R$ 100,00 por semana para vender droga. Essa responsabilidade é de todos nós.”
Além disso, a executiva comentou que o longo período de escravidão no Brasil ainda impacta a realidade de toda uma comunidade. “O Brasil é um país que sofre, porque nós tivemos um dos maiores períodos de escravidão do mundo. Foram 386 anos e tivemos uma abolição onde os negros foram para a rua sem comida, sem emprego, sem casa e analfabetos”, lembrou.
Luiza comenta que empresas que escolhem não olhar para diversidade, podem sair perdendo, pois essa é a realidade do País. "Um país onde tem 52% de mulheres e tem mais de 50% de negros não se enxerga em uma empresa não diversa e não compra", assegurou.

