Muitos negócios abrem e fecham suas portas todos os anos, diante dos mais variados desafios. Alguns, no entanto, marcam a história das ruas, bairros e cidades pela sua presença que resiste ao tempo. Assim ocorreu com a loja Tecidos Raphael Dabdab. Fundado em 1925, o empreendimento acompanhou Porto Alegre nas mudanças econômicas, climáticas e de costumes dos últimos 100 anos.
Sérgio de Martins é o funcionário mais antigo da loja. Com 40 anos de casa, é ele quem comanda o negócio atualmente. "Acompanhei a trajetória da empresa por muitos anos na área administrativa, mas acabei cuidando de todo o funcionamento da loja após o falecimento de Seu Elias Dabdab, em 2016", conta. Após a morte de Elias, irmão do fundador, a loja ficou para sua esposa, Maria Inez Kops, que, hoje com 92 anos, apresenta limitações de saúde que a impedem de cuidar do local.
A história da empresa remonta aos anos 1920, quando a família Dabdab imigrou da cidade de Antiochia, na Síria, atualmente território da Turquia, para o Brasil, em meio aos desafios da Primeira Guerra Mundial. Elias Kalil Dabdab já estava estabelecido no Rio de Janeiro com um comércio de tecidos, o que foi a porta de entrada para o irmão Raphael no País. Em 1925, Raphael, juntamente com José Issa Jousfam, abriu a loja no Centro da capital gaúcha. Seu primeiro endereço foi na rua General Câmara, nº 39, em 1930. Em 1940, a loja se mudou para a rua Voluntários da Pátria, nº 100, e, em 1950, estabeleceu sua sede no nº 4 da mesma rua, endereço que permanece até hoje. Esse vínculo com a rua Voluntários da Pátria fez de Raphael referência na região. "Antes de chegar à loja, trabalhei em banco nos anos 1970. Na época, tinha um curso de datilografia. Junto das mudanças econômicas, vieram as mudanças no meio bancário e eu migrei para o comércio. Cheguei aqui em 1985 e estou até hoje", explica Sérgio.
Sérgio de Martins é o funcionário mais antigo da loja. Com 40 anos de casa, é ele quem comanda o negócio atualmente. "Acompanhei a trajetória da empresa por muitos anos na área administrativa, mas acabei cuidando de todo o funcionamento da loja após o falecimento de Seu Elias Dabdab, em 2016", conta. Após a morte de Elias, irmão do fundador, a loja ficou para sua esposa, Maria Inez Kops, que, hoje com 92 anos, apresenta limitações de saúde que a impedem de cuidar do local.
A história da empresa remonta aos anos 1920, quando a família Dabdab imigrou da cidade de Antiochia, na Síria, atualmente território da Turquia, para o Brasil, em meio aos desafios da Primeira Guerra Mundial. Elias Kalil Dabdab já estava estabelecido no Rio de Janeiro com um comércio de tecidos, o que foi a porta de entrada para o irmão Raphael no País. Em 1925, Raphael, juntamente com José Issa Jousfam, abriu a loja no Centro da capital gaúcha. Seu primeiro endereço foi na rua General Câmara, nº 39, em 1930. Em 1940, a loja se mudou para a rua Voluntários da Pátria, nº 100, e, em 1950, estabeleceu sua sede no nº 4 da mesma rua, endereço que permanece até hoje. Esse vínculo com a rua Voluntários da Pátria fez de Raphael referência na região. "Antes de chegar à loja, trabalhei em banco nos anos 1970. Na época, tinha um curso de datilografia. Junto das mudanças econômicas, vieram as mudanças no meio bancário e eu migrei para o comércio. Cheguei aqui em 1985 e estou até hoje", explica Sérgio.

A loja de tecidos foi fundada em 1925. Desde 1950, está no número 4 da rua Voluntários da Pátria
EVANDRO OLIVEIRA/JC
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A passagem do tempo exige resistência dos negócios. A loja Dabdab é especializada no comércio de tecidos e aviamentos para alfaiates e costureiras, que buscam artigos para confecção de roupas sob medida. Ele explica que, no mercado estadual, a loja praticamente não tem concorrentes diretos, pois empresas que se dedicavam a esse ramo ou encerraram suas atividades ou mudaram de nicho, migrando para artigos mais populares ou aluguel de roupas para eventos. "Quase todas as mães tinham uma máquina de costura em casa. As pessoas vinham ao Centro para comprar tecidos, porque era comum não ter condições de ir a uma loja de departamento. Era outra geração", compara.
Sérgio também fala da profissão, que ocupava uma posição diferente. "O alfaiate era importante. Mesmo com uma condição financeira menor, a pessoa precisava de um alfaiate e de um sapateiro. Hoje, o shopping supre isso", pontua. Além das mudanças de mercado, eventos que afetaram o Rio Grande do Sul no último século impactaram diretamente a empresa.
A passagem do tempo exige resistência dos negócios. A loja Dabdab é especializada no comércio de tecidos e aviamentos para alfaiates e costureiras, que buscam artigos para confecção de roupas sob medida. Ele explica que, no mercado estadual, a loja praticamente não tem concorrentes diretos, pois empresas que se dedicavam a esse ramo ou encerraram suas atividades ou mudaram de nicho, migrando para artigos mais populares ou aluguel de roupas para eventos. "Quase todas as mães tinham uma máquina de costura em casa. As pessoas vinham ao Centro para comprar tecidos, porque era comum não ter condições de ir a uma loja de departamento. Era outra geração", compara.
Sérgio também fala da profissão, que ocupava uma posição diferente. "O alfaiate era importante. Mesmo com uma condição financeira menor, a pessoa precisava de um alfaiate e de um sapateiro. Hoje, o shopping supre isso", pontua. Além das mudanças de mercado, eventos que afetaram o Rio Grande do Sul no último século impactaram diretamente a empresa.
Em 2020, a Dabdab enfrentou a pandemia de Covid-19. Após o distanciamento social, a loja passou por seu último grande impacto: as enchentes de 2024. "A água chegou a 1,5 metro aqui. Nunca imaginamos que chegaria a isso, não houve aviso nenhum. Foram 19 dias da empresa debaixo d'água. No 19º dia, quando entramos, não tínhamos luz. Quase todos os tecidos foram perdidos. Montaríamos umas três lojinhas só com o que jogamos fora", recorda com tristeza.

Na enchente de 2024, a loja perdeu praticamente todo o estoque de tecidos
EVANDRO OLIVEIRA/JC
E esta não foi a primeira vez que a Dabdab precisou manter a resiliência para não fechar. Ao longo de 100 anos, o local é um dos poucos da Capital que resistiu às duas grandes cheias. Já em funcionamento em 1941, poucos registros mostram a loja na época em que Porto Alegre viu as águas subirem pela primeira vez. Percorrendo a loja, Sérgio rememora e percebe as manchas deixadas pelas águas nos tecidos que foram recuperados. "Limpamos e pintamos nós mesmos. Até os vidros estavam quebrados, porque essa rua virou um rio. Peças que pesavam 20 kg passaram a pesar 50kg quando molhadas. Elas desmancharam as prateleiras. Precisamos nos refazer, foram 69 dias fechados."
Outro ponto levantado por Sérgio é mudança de comportamento. "Com a pandemia e a enchente, houve o crescimento do home office. O trabalhador não anda mais pelas ruas que costumava andar, nem necessita de tantas camisas, calças e sapatos para trabalhar." Segundo ele, empreender não é uma tarefa simples e o tempo transforma os negócios. "Tudo mudou, e é difícil empreender. Mas aqui seguimos em um modelo clássico."

O negócio centenário enfrentou as duas grandes cheias de Porto Alegre: 1941 e 2024
EVANDRO OLIVEIRA/JC