Nunca é tarde para começar a empreender. É isso que Sandra Costa, empreendedora que abriu seu primeiro negócio aos 50 anos, ensina. Há 27 anos trabalhando como técnica de enfermagem, ela, que também é formada em Educação Física e Fisioterapia, resolveu mudar de área. Em janeiro, Sandra irá inaugurar o Espaço Ilera, clínica focada na prevenção e promoção da saúde que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida dos seus clientes.
Ela sempre trabalhou na área da saúde. Logo após terminar seu curso e iniciar carreira como técnica de enfermagem, a empreendedora começou a graduação em Educação Física. Durante esse período, também se especializou em um curso de pilates.
Mesmo com graduação e especialização no currículo, Sandra não se sentia segura para mudar de profissão. Dúvidas sobre como o racismo poderia afetar suas relações nessa nova carreira a fizeram seguir trabalhando como técnica de enfermagem.
"Na minha cabeça, como que eu ia entrar em uma academia ou em um estúdio aqui no Sul? Será que os alunos iam querer ter uma professora negra? Ficava me questionando: 'será que eu estou preparada?'", admite.
Em busca de mais propriedade para trabalhar com o corpo humano, Sandra decidiu estudar e se formou em Fisioterapia. Foi durante a sua segunda graduação que a ideia de abrir o próprio negócio foi se concretizando.
"Sempre gostei de trabalhar com o movimento do corpo humano, mas só tinha vivido isso dentro de um hospital. Não queria mais trabalhar só com doença, queria focar em prevenção e promoção da saúde", afirma Sandra.
A vontade de empreender já existia, mas o medo e a insegurança também se faziam presentes. E o sentimento permaneceu assim até que Sandra conheceu a Odabá. Segundo a empreendedora, essa foi a virada de chave para que ela tivesse confiança para seguir seu sonho.
"Não tinha coragem para empreender. Até que vi uma reportagem com a professora Cristina, na época, presidente da Odabá. Ela falou da importância da valorização da ancestralidade e como a maneira que a história preta era contada nos privava dessa visão de empoderamento", lembra.
Após ver a entrevista, Sandra resolveu entrar para a associação. Lá, conheceu um novo mundo. "Vi que tinham outras pessoas como eu aqui no Rio Grande do Sul, que são pretas, estão empreendendo e não estão estagnadas."
No início do projeto, Sandra contava com a parceria de duas sócias, que, por questões financeiras, não conseguiram seguir no negócio. Mas isso não a parou e seu sonho está, aos poucos, saindo do papel. Atualmente, a empreendedora divide seu tempo entre o hospital e os atendimentos de fisioterapia a domicílio, mas garante que em janeiro de 2024 um espaço para a Ilera será inaugurado.
O Espaço Ilera, que na língua iorubá significa saúde, terá como seu principal diferencial o acolhimento. Sandra promete que seguirá tentando compreender as necessidades dos clientes e o que eles esperam de um espaço de saúde, buscando estimular hábitos saudáveis. Para isso, ela irá oferecer serviços de cinesioterapia, terapia manual e pilates.
A história de Sandra é um exemplo de como o racismo está presente em todos os segmentos de nossa sociedade. Mesmo graduada, com especialização e experiência na área da saúde, a empreendedora sentia dificuldades para iniciar seu negócio e ocupar uma posição de destaque.
Essa é a importância de frequentar espaços que mostram que ninguém está sozinho e sempre terá alguém para estender a mão.

