Iniciativas pensadas para as crianças, joias personalizadas e gastronomia. De diferentes maneiras, negócios desenvolvem conexão com a terra e o meio ambiente

Empreendedores gaúchos apostam na conexão com a natureza como diferencial de negócio


Iniciativas pensadas para as crianças, joias personalizadas e gastronomia. De diferentes maneiras, negócios desenvolvem conexão com a terra e o meio ambiente

Enfrentar os desafios de comandar o próprio negócio pode ser menos desafiador quando se empreende com propósito, ancorado em uma causa em que se acredita. Essa conexão entre valores e empreendedorismo pode ser a chave para bons resultados. É nisso que os professores Camila Goulart Peres e Maicon Vieira acreditam. A dupla está à frente da Oka Manaká, quintal brincante que opera há dois anos na zona sul de Porto Alegre.
Enfrentar os desafios de comandar o próprio negócio pode ser menos desafiador quando se empreende com propósito, ancorado em uma causa em que se acredita. Essa conexão entre valores e empreendedorismo pode ser a chave para bons resultados. É nisso que os professores Camila Goulart Peres e Maicon Vieira acreditam. A dupla está à frente da Oka Manaká, quintal brincante que opera há dois anos na zona sul de Porto Alegre.
A ideia de criar um espaço pensado para desenvolver a conexão entre crianças e a natureza surgiu há oito anos, quando viveram as dificuldades de encontrar uma escola de educação infantil para Cecília, sua primeira filha, que dialogasse com os conceitos em que acreditam. "Encontramos a Timbauvá, que era aqui perto e trabalhava com essa questão multietária, do livre brincar, da conexão com a natureza, tudo o que queríamos. Então, abandonamos a ideia, e a Ceci ficou lá até 2020, quando veio a pandemia, e eles fecharam", lembra Camila. Após receberem a notícia de que o espaço iria ser vendido, a dupla levou cerca de 40 minutos até decidir que iria manter o projeto vivo. "Se eles fossem vender para alguém, que vendessem para nós. Ficamos um ano no sítio, onde já tinha um espaço pronto, até encontrar o terreno onde estamos atualmente. Lá já era muito personalizado, mas queríamos trazer a nossa essência, a Oka em si", explica a sócia.
Da compra do terreno até a abertura para a criançada, foi cerca de um ano de reformas e preparação do espaço, que inaugurou em fevereiro de 2022. "Queríamos algo com essa cara de floresta, de bosque. Só tinha uma casinha pequena aqui, o resto era mata, então foi outro desafio. Nós tivemos que, literalmente, abrir a mata, construindo algo do zero e que tivesse a nossa cara, com edificações ecológicas que não impactam o solo e a água, por exemplo", descreve Maicon. A Oka conta com um terreno de dois hectares, onde os pequenos podem ter contato direto com a flora e com a fauna, além de realizar trilhas e beber água direto da nascente.

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O objetivo do quintal é ser um espaço seguro para crianças entre dois e seis anos, auxiliando em questões que vão além do aprendizado ensinado em escolas de educação fundamental. "Aqui, nós trabalhamos com essa cultura de infância que passa de criança para criança, muito mais do que um adulto diretivo, que comanda uma turma. Por aqui, elas vivem entre crianças. Temos um adulto supervisionando a cada cinco crianças, mas elas mesmas se coordenam, se autorregulam, resolvem os seus conflitos quase que sozinhas, sem professores, por assim dizer. Até porque, na verdade, seria difícil dizer quem ensina mais, se são os adultos ou as crianças", reflete Camila.
Enquanto o mundo vive uma crise ambiental, com diversas tragédias acontecendo decorrente da falta de preservação da natureza, Maicon reforça a importância de espaços que trabalhem a relação com o meio-ambiente, principalmente com as crianças. "Buscamos essa harmonização com a mata, com o fogo, com todos os elementos. É preciso amar um lugar para poder preservar ele, ter sensibilidade para essas pequenas ações em favor da natureza, da terra", afirma o professor de Educação Física.
Outra característica importante e um dos pilares principais da Oka são as teorias que guiam as programações e atividades oferecidas no espaço. "Às vezes, as pessoas olham e pensam 'ah, é só brincar', mas é um brincar com ciência. Todas as práticas que desenvolvemos com as crianças são salutogêneses, geradoras de saúde, que fortalecem a imunidade, todo esse desenvolvimento do sistema neurossensorial, ritmo, metabólico-motor. Não colocamos as crianças para correr e brincar sem um fundamento científico e pedagógico por trás", reforça Maicon, que está realizando especialização em neurociência, educação e desenvolvimento infantil.
Entre as atividades oferecidas no espaço, estão caminhadas em meio à mata, aulas de capoeira, produção de pães, trabalhos com argila (retirada, com as crianças, do barro do próprio terreno), desenhos e pinturas. O turno na Oka é das 13h30min às 17h30min, e os valores para mensalidade ficam em torno de R$1,3 mil, com opções para as crianças que desejam frequentar o quintal duas, três ou cinco vezes por semana. Além da família, outras três pessoas também auxiliam no dia a dia da operação.
 

Artista desenvolve joias com cristais e pedras brutas colhidas em Uruguaiana

Depois de anos sonhando em abrir o próprio negócio, foi em 2022, durante um período de reflexão pós-pandemia, que Duda Mariné tirou os planos do papel e criou a Vim da Terra, marca de joias autorais feitas com pedras brutas, colhidas da terra pela própria empreendedora na fazenda da família, em Uruguaiana.
Entusiasta de acessórios feitos com pedras e cristais, Duda usava uma joia similar às que vende hoje quando seu tio, proprietário da fazenda Santa Elza, em Uruguaiana, contou que haviam várias pedras como aquela no terreno e que estavam à disposição de Duda. "Isso foi em 2017, e lá eu já sabia que um dia teria uma marca de joias e que seriam com essas pedras. Já sabia até qual seria o nome, criei o perfil no Instagram, mas a ideia ficou parada alguns anos", conta.
Durante o período de isolamento social, Duda decidiu resgatar o projeto e passou a estudar sobre o assunto, participando de cursos de empreendedorismo, finanças e, claro, joalheria. A empreendedora é formada em joalheria autoral pela Criativitá, escola de joalheria gaúcha, e segue, até hoje, aperfeiçoando as técnicas em cursos oferecidos pela organização.

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"Era algo que nunca tinha feito, um processo completamente novo e feito do absoluto zero, literalmente com a pedra colhida da terra. Então, fui atrás de aprender tudo o que podia. Tem uma amiga minha que define empreender como pular de um precipício para depois procurar um paraquedas, e eu acho que é muito isso. É um desafio diário, exige muita coragem, é preciso lembrar que existe um propósito, saber o que te move e não deixar isso se perder", define Duda sobre a experiência.
Completando um ano, a Vim da Terra conta com duas coleções de acessórios. A mais recente, intitulada Nascer, traz novidades para a marca que, até então, contava apenas com anéis. "Agora, também temos pingentes e braceletes. Uma coisa que vai muito de encontro com a nossa proposta de fazer as pessoas sentirem essa conexão, é que todas as joias contam uma história diferente, nessa proposta de fazer pensar, sentir. Algumas vezes, a pessoa vai gostar de uma peça, mas vai se identificar com a história da outra, pode até acabar comprando aquela", reflete Duda.
Hoje, são nove modelos disponíveis no site da marca, quatro anéis, dois pingentes e três braceletes, que são enviados para todo o Brasil. As joias variam entre com e sem pedra e são fabricadas em prata 950 ou ouro 18k. "Trabalhamos só com materiais nobres justamente pela proposta de ser uma joia que fique contigo por muito tempo, que dure uma vida, que passe por gerações", destaca a empreendedora. As pedras variam entre ágata, ágata de fogo, citrino, cristal de quartzo e ônix. Os valores podem variar entre R$ 667,00 e R$ 7,9 mil, a depender do produto escolhido.
Baseada no conceito do slow fashion, a Vim da Terra também atua com produção sob demanda, com joias que podem ser totalmente personalizadas. "As pessoas são únicas, então trabalhar com a opção sob demanda é algo essencial, essa cocriação, para mim, é algo muito importante no processo. Até penso em, no futuro, ter alguém para me ajudar no financeiro ou nas redes sociais, mas o processo, a fabricação das joias, isso não tenho vontade de terceirizar. Para mim, a qualidade é muito mais importante que a quantidade, senão a marca perde todo seu sentido, sua essência", considera Duda.
Entre os planos para o futuro da marca estão a exportação dos produtos para o mercado europeu, setor que Duda acredita valorizar o trabalho produzido na América Latina. "Acredito que lá, ao contrário do Brasil, existe muito essa supervalorização do público por essas pedras daqui do sul do País, é uma vontade grande entrar no mercado europeu", projeta.
 

Vinícola biodinâmica na Serra inaugura restaurante focado na gastronomia do Sul

Localizada na divisa dos municípios de Farroupilha e de Pinto Bandeira, a Vinícola Monte Astral surgiu com a proposta de produzir vinhos orgânicos a partir da filosofia biodinâmica, onde as bebidas são produzidas com intervenção mínima, respeitando os ciclos naturais e a interconexão entre o ser humano, a natureza e o cosmos. A novidade da propriedade é o restaurante Ostara, local com foco em culinária sulista que busca unir o melhor da arquitetura, vinhos e da gastronomia local.
A Vinícola Monte Astral é comandada pelo casal de empreendedores Paulo Cesar e Fernanda Rutzen. A ideia da vinícola surgiu em 2012, quando, em uma viagem à França, Paulo provou um vinho natural pela primeira vez. O empreendedor gostou tanto que resolveu entrar no mundo da enologia biodinâmica.
Em 2017, Paulo e Fernanda adquiriram um hectare de terra e, com o auxílio de Jefferson Sancineto Nunes, sócio, agrônomo e enólogo da Monte Astral, iniciaram a preparação do solo. Originalmente, a vinícola tinha o objetivo de ser um projeto pequeno, feito para atender apenas familiares e amigos próximos. No entanto, foi crescendo e, atualmente, conta com 25 hectares.
Os vinhos naturais biodinâmicos são feitos com o mínimo possível de intervenção, ou seja, não utilizam pesticidas ou adubos não naturais. Tudo é pensado para que o ciclo natural da produção seja respeitado ao máximo. Outro ponto enfatizado por Jefferson é o respeito às fases da lua. Acredita-se que o satélite natural interfira diretamente na plantação e até mesmo na hora de engarrafar e consumir os vinhos. "A cada três ou quatro dias, a lua está na frente de uma constelação. Por exemplo, estamos na frente de uma constelação de calor. Todos os vinhos que tu tomares agora vão estar muito mais fáceis de serem tomados, com aromas mais abertos, por conta dessa influência dos astros", explica Jefferson. A Monte Astral oferece 16 variedades de vinhos, que podem ser adquiridos na própria vinícola, como também em restaurantes parceiros, como o Bottega Maria e Zanza Bar, ambos em Porto Alegre.

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Recentemente, Paulo e Fernanda abriram, junto à vinícola, o restaurante Ostara, focado na culinária do sul do País e seguindo os ideais da filosofia biodinâmica, utilizando apenas insumos produzidos por um processo que estabeleça uma relação íntima entre o produtor rural e a natureza.
O cardápio foi idealizado pelos chefs Felipe Di Sicca e Raphael Dittrich, que buscaram trazer uma nova cara para a culinária sulista. Os destaques são o carreteiro da terra, uma releitura 100% vegana do clássico prato gaúcho, e o galeto Ostara e roti de frango, um galeto desossado com roti de frango e sálvia crocante. "Nós estávamos pensando em expandir, e o Felipe tinha o sonho de abrir um restaurante na Serra. Foi uma parceria que deu supercerto", conta Fernanda.
A arquitetura do restaurante, assinada por Lisiara Camargo Simon, está afinada com o propósito do local, utilizando madeira engenheirada, tendência que utiliza pedaços de madeira pré-fabricada, com o objetivo de potencializar o seu uso na construção, diminuindo a produção de resíduos. Tudo pensado para seguir os ideias sustentáveis da vinícola.