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Publicada em 20 de Agosto de 2025 às 08:30

Pesquisa em sanidade animal leva veterinário da Ufrgs ao Prêmio Futuro da Terra

Pesquisador destaca que sanidade animal é ferramenta fundamental para garantir acesso a mercados

Pesquisador destaca que sanidade animal é ferramenta fundamental para garantir acesso a mercados

CLÁUDIO CANAL/ARQUIVO PESSOAL/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
O médico-veterinário e professor titular da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Cláudio Wageck Canal será um dos agraciados com o Prêmio O Futuro da Terra 2025, concedido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e pelo Jornal do Comércio. A honraria, na categoria Cadeia de Produção e Alternativas Agrícolas, reconhece a trajetória e a relevância de seu trabalho à frente do Laboratório de Virologia Veterinária (LabViroVet/Ufrgs), que une pesquisa de ponta, diagnóstico e formação de profissionais para a cadeia agropecuária. A entrega ocorrerá no dia 1º de setembro, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, durante a 48ª Expointer.
O médico-veterinário e professor titular da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Cláudio Wageck Canal será um dos agraciados com o Prêmio O Futuro da Terra 2025, concedido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e pelo Jornal do Comércio. A honraria, na categoria Cadeia de Produção e Alternativas Agrícolas, reconhece a trajetória e a relevância de seu trabalho à frente do Laboratório de Virologia Veterinária (LabViroVet/Ufrgs), que une pesquisa de ponta, diagnóstico e formação de profissionais para a cadeia agropecuária. A entrega ocorrerá no dia 1º de setembro, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, durante a 48ª Expointer.
Natural de Porto Alegre, Canal, 63 anos, formou-se pela Ufrgs em 1986. Na mesma instituição, concluiu mestrado e doutorado em Bioquímica, com estágio sanduíche na Universidade de Berna, na Suíça. Ingressou como professor na Ufrgs em 1998 e, a partir de 2004, assumiu a coordenação do setor de Virologia, consolidando uma carreira dedicada a compreender, diagnosticar e controlar vírus que afetam animais de produção, silvestres e de companhia.
Ao longo da trajetória, publicou mais de 180 artigos científicos e orientou mais de 60 mestres e doutores – metade atuando hoje como docentes universitários e a outra metade no setor privado, em empresas e laboratórios ligados à saúde animal. Essa rede de ex-alunos espalhados pelo Brasil e pelo exterior multiplica o impacto do trabalho.
É um ciclo benéfico: pesquisa e serviço geram melhor formação, e essa formação se espalha”, define. Quando começou a lecionar Virologia Veterinária, o cenário era incipiente. “Era quase idade da pedra. Pouco se sabia sobre quais vírus circulavam no Brasil”, relembra.
Canal levou para a veterinária técnicas de biologia molecular, como a PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), então restritas à medicina humana. No início dos anos 1990, participou da primeira PCR feita no Rio Grande do Sul – inicialmente para pesquisa básica – e logo vislumbrou sua aplicação para doenças animais.
Na época, a técnica era cara e vista com desconfiança no meio veterinário. “As pessoas me olhavam e diziam: isso não existe aqui, é muito caro, só para humanos”, recorda.
Hoje, a PCR é padrão em praticamente todos os laboratórios de diagnóstico microbiológico, permitindo detectar com precisão a presença de patógenos e diferenciá-los de outros agentes que causam sintomas semelhantes. Essa evolução foi decisiva para mapear e tipificar vírus, identificar cepas e indicar vacinas adequadas para cada região.
Resultados que abriram mercados
O trabalho de Canal teve papel importante no controle de enfermidades como a peste suína clássica, doença viral que, até o início dos anos 2000, impedia o Brasil de exportar carne suína. Desenvolvendo protocolos para diferenciar o agente de outros vírus e identificar animais infectados, sua equipe contribuiu para que algumas regiões do País alcançassem o status de livre da doença. O impacto foi imediato: a suinocultura passou a acessar mercados exigentes e se consolidou como um dos pilares da balança comercial.
Situação semelhante se repete em outras cadeias. Na avicultura, a vigilância contra influenza aviária e doença de Newcastle é estratégica, pois qualquer foco leva ao bloqueio de importações. Na bovinocultura, a febre aftosa é um dos maiores desafios, e doenças menos conhecidas pelo público, como a diarreia viral bovina, provocam perdas reprodutivas e redução drástica da natalidade dos rebanhos.
Quem tiver mais sanidade perde menos, produz mais e com menor custo. Isso aumenta a competitividade do Brasil”, resume.
O diagnóstico e a caracterização de vírus alimentam estratégias de prevenção que vão além da escolha de vacinas já disponíveis. Nos últimos anos, Canal e sua equipe também passaram a se dedicar ao desenvolvimento de imunizantes adaptados à realidade brasileira. É o caso da vacina experimental contra a diarreia viral bovina, baseada em cepas que circulam no País – ao contrário das formulações comerciais importadas, feitas com variantes estrangeiras.
Estamos utilizando cepas brasileiras para aumentar a eficiência das vacinas e diminuir a perda que esse vírus causa”, explica. A pesquisa ainda é incipiente. Começou há cerca de dois anos e, se bem-sucedida, pode chegar ao mercado no começo da próxima década.
Ele destaca que a produção atual em larga escala de aves, suínos e bovinos em confinamento só é viável graças à prevenção sanitária. “Antes das vacinas, não se conseguia colocar mais de cem frangos juntos sem perder metade por doenças. Hoje, com diagnóstico e imunização, é possível criar dezenas de milhares no mesmo espaço”, compara.
Conhecimento que chega ao campo
Além de dar aulas e conduzir pesquisas, o LabViroVet presta serviços de diagnóstico a produtores e indústrias, permitindo respostas rápidas a surtos e ajustando protocolos sanitários. O conhecimento gerado é transmitido diretamente aos estudantes e também aos técnicos e veterinários das empresas, num fluxo constante entre academia e setor produtivo. Muitos ex-orientandos hoje ocupam postos-chave na indústria avícola, suinícola e de bovinos, levando adiante práticas de vigilância e controle de doenças.
Esse intercâmbio ajuda a enfrentar barreiras sanitárias impostas por países importadores. Canal lembra o surto de influenza em Montenegro, que levou diversos mercados a suspender temporariamente a compra de frango brasileiro.
A sanidade não é importante só pela produtividade, mas para garantir acesso aos mercados”, reforça.
Em um mundo onde a mobilidade de pessoas e mercadorias acelera a disseminação de patógenos, manter rebanhos e plantéis saudáveis é questão de segurança alimentar e de competitividade internacional.
Canal considera o prêmio um reconhecimento que vai além de seu nome. “É uma grande honra, um reconhecimento da cadeia produtiva pela atuação que desenvolvemos de forma silenciosa. Abre portas com a indústria e com financiadores, o que é fundamental, porque a pesquisa é cara e depende de credibilidade”, afirma.
Ele lembra que, graças a essa confiança, hoje consegue acessar financiamentos para projetos de maior custo, como o de vacinas – algo que seria inviável há poucos anos. O pesquisador vê no futuro a oportunidade de ampliar parcerias com empresas e instituições, reforçar a formação de novos profissionais e avançar no desenvolvimento de vacinas adaptadas à realidade brasileira.
Sanidade é sinônimo de alimento seguro, custo menor e acesso a mercados. Sem isso, não há cadeia produtiva sustentável”, conclui.
A lista de agraciados com o Futuro da Terra, cuja cerimônia ocorrerá no dia 1/9:
Nome Categoria de premiação
Cláudio Wageck Canal Cadeias de Produção
Jorge Alberto Vieira Costa Cadeias de Produção
Volmir Sergio Marchioro Cadeias de Produção
Wilson Francisco Britto Wasielesky Jr. Cadeias de Produção
Juliano Smanioto Barin Inovação e Tecnologia Rural
Marcia Maria Auxiliadora Naschenveng Pinheiro Margis Inovação e Tecnologia Rural
Maurício Oliveira Inovação e Tecnologia Rural
Fabricio Jaques Sutili Preservação Ambiental
Helen Treichel Preservação Ambiental
Luiz Antonio de Almeida Pinto Preservação Ambiental
Crops Team Startup Inovadora
ProspectaBio Startup Inovadora
José Miguel Reichert Prêmio Especial

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