Há 35 anos, o médico veterinário Eduardo Furtado Flores se dedica à pesquisa em busca do aprimoramento da sanidade dos rebanhos e à formação de novos profissionais para atuar nesse segmento. Com isso, projeta, será possível incrementar a produção de proteína animal para alimentar um planeta que caminha para abrigar uma população de 10 bilhões de habitantes.
A trajetória profissional e a contribuição para o desenvolvimento do agronegócio lhe renderam a indicação à ao Prêmio Especial do Prêmio O Futuro da Terra 2024. A distinção, fruto de parceria entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e o Jornal do Comércio, será entregue durante a Expointer, em evento no dia 26 de agosto, no Parque Estadual de Exposições Assis Brasil, em Esteio.
Graduado em 1983 pela Universidade Federal de Santa Maria (Ufsm), mestre pela mesma universidade, PhD pela Universidade de Nebraska (EUA) e pós-doutor pela Unicamp, Flores se define como um virologista voltado à sanidade animal, como meio de aumentar a produção de alimentos. E acredita no desenvolvimento de novas vacinas a e no aprimoramento de outras, não tão eficientes, para que a atividade pecuária atinja um patamar superior de sanidade, produtividade e eficiência.
“Há deficiência de imunizantes, doenças para as quais não se têm vacinas ou cujas vacinas apresentam eficácia passível de aprimoração. Minha trajetória profissional focou na identificação dessas lacunas e como poderia ser útil para a sanidade e produção animal e para a sociedade, fornecendo soluções, seja por diagnóstico, extensão e consultorias e também pela avaliação e desenvolvimento de vacinas mais eficazes”, conta o pesquisador.
O especialista também atua na análise e diagnóstico de doenças que atingem animais de produção – preferencialmente bovinos de corte e leite. Não por acaso, no Laboratório de Virologia do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Ufsm, ele e uma equipe de pesquisadores já ajudaram a desenvolver e patentear vacinas contra diferentes vírus que afetam a produção animal. Há mais de duas décadas, uma série de convênios com empresas multinacionais proporciona que as vacinas desenvolvidas sejam testadas e licenciadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) antes de chegarem ao mercado.
“Há vários projetos em desenvolvimento, dentre os quais nós temos patentes de pelo menos três vacinas víricas, uma delas na União Europeia e nos Estados Unidos. Uma dessas vacinas está em fase final de testes e deverá ser comercializada em cerca de dois anos. Detemos também patentes de outras vacinas que atualmente estão em desenvolvimento por laboratórios parceiros. Geramos a tecnologia, produzimos vacinas e entregamos, por parceria, a laboratórios, o que poderá dar à Universidade algum retorno por meio de royalties”.
Entre as iniciativas mais relevantes para a a produção pecuária está o desenvolvimento de vacinas clássicas e recombinantes contra a Diarreia Viral Bovina, uma das principais enfermidades nos rebanhos. Além da diarreia, com perda de peso e rendimento, a doença causa problemas respiratórios em confinamentos e distúrbios reprodutivos nas fêmeas, que podem ficar inférteis ou gerar crias com malformação ou abortos, por exemplo.
“Uma vacina já estará sendo comercializada, provavelmente no final do ano que vem para um laboratório multinacional. Nós cedemos as cepas que manipulamos, e eles completam os testes e encaminham para o licenciamento ou certificação pelo Mapa. Ou seja, estamos vendo a nossa pesquisa de décadas finalmente chegar na ponta, que é beneficiar o produtor”, comemora.
Dedicação a outros dois projetos
Eduardo Furtado Flores também está trabalhando no desenvolvimento de outras duas vacinas, contra o Herpesvírus Bovino, que causa doença respiratória e reprodutiva; além de uma plataforma vetorial utilizando o parapoxvírus ovino como vetor vacinal. Esse último projeto tem sido conduzido em parceria com um ex-aluno que atualmente é docente e pesquisador na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos.
“É, na minha opinião, a vacina mais promissora. Trata-se de um vetor vacinal, um vírus que carrega antígenos de outros vírus. Já está com licença concedida nos Estados Unidos e na União Europeia. E estamos encaminhando aqui no Brasil também”.
Eduardo Flores vê na heterogeneidade entre os níveis de tecnificação e produtividade nas propriedades como um importante gargalo a travar a ascensão do Brasil a patamares ainda mais elevados de participação no mercado mundial de carne. Segundo ele, enquanto algumas propriedades trabalham com modelos altamente tecnificados e desenvolvidos, outras, até mesmo vizinhas, seguem com métodos ultrapassados.
“Precisamos nivelar a atividade por cima, elevando a tecnificação para sermos mais eficientes. Melhorando a sanidade e a genética, que já é muito boa, com manejo e nutrição, que são muito bons, nós podemos, então, chegar a um nível muito maior de produtividade, oferecendo para o consumidor interno e para o consumidor de outros países um produto de alta qualidade, produzido de maneira sustentável, que é muito importante, preservando o que se tem ainda de meio ambiente”, aponta.
Em outra frente, o especialista se orgulha de ter ajudado a formar mais de 2,5 mil médicos veterinários, quase uma centena de mestres e doutores, muitos deles ocupando atualmente posições de destaque em instituições públicas e privadas no Brasil e também no exterior, como na Argentina, nos Estados Unidos e na Alemanha. Assim, ele colabora para a entrada no mercado de profissionais amplamente capacitados para atuar diretamente na produção e sanidade animal.
A terceira vertente do trabalho desenvolvido é o diagnóstico de doenças víricas em amostras de animais encaminhadas por produtores rurais e médicos veterinários. Anualmente, são testadas cerca de 10 mil amostras, do Estado e do Brasil A Universidade oferece, então, prestação de serviços, consultoria e assessoria, destacando-se a sanidade e manejos reprodutivos nos planteis. Essa atividade, para Flores, é tão relevante quanto a formação de profissionais e a pesquisa e desenvolvimento.
Para além da medicina veterinária, Flores conta com entusiasmo que, durante a pandemia de Covid-19, o laboratório de Virologia da UFSM interrompeu os trabalhos nas amostras de animais para analisar cerca de 45 mil amostras humanas para diagnóstico da enfermidade em pacientes da Região Central do Rio Grande do Sul encaminhadas via Sistema Único de Saúde (SUS).
“O nosso laboratório é mantido com recurso público. Quando fomos chamados a atender uma demanda da sociedade, reduzimos drasticamente as atividades relacionadas à doenças animais para nos dedicarmos integralmente ao diagnóstico molecular da Covid-19. Demos a resposta que a sociedade buscava. E me orgulho muito disso”.
Nascido em Santa Maria, filho de médico, Eduardo Flores passou a infância e adolescência em Santo Ângelo, em contato com atividade rural na propriedade da família da mãe. Ali despertou para a veterinária e onde, depois da graduação, atuou por alguns anos, com foco em sanidade reprodução animal. Mas percebeu que sua vocação era outra.
Voltou então a Santa Maria e à UFSM, onde cursou o mestrado em virologia entre 1986 e 1989. Em 1989 ingressou por concurso como docente na Medicina Veterinária, onde está até hoje, após ter realizado Doutorado nos Estados Unidos (1991-1995) e pós-doutorado na Unicamp (2011-2012), sempre na mesma área. O tema é para ele tão fascinante, que consome grande parte do seu tempo, mesmo em finais de semana ou feriados.
“A pesquisa e gestão de projetos e estudantes, além do gerenciamento do laboratório demandam muito trabalho. Dessa forma, quando as pesquisas estão em desenvolvimento, não tem Natal, feriado ou ano novo. Embora desgastante, é uma atividade altamente gratificante, pois estamos dando nosso retorno à sociedade. Eu sempre digo, no primeiro dia de aula a cada semestre na veterinária: nunca pensei em ser professor, mas estou aqui. E vocês podem encontrar alguém tão realizado profissionalmente quanto eu. Mais realizado do que eu, dificilmente vocês irão achar”, finaliza.
“É, na minha opinião, a vacina mais promissora. Trata-se de um vetor vacinal, um vírus que carrega antígenos de outros vírus. Já está com licença concedida nos Estados Unidos e na União Europeia. E estamos encaminhando aqui no Brasil também”.
Eduardo Flores vê na heterogeneidade entre os níveis de tecnificação e produtividade nas propriedades como um importante gargalo a travar a ascensão do Brasil a patamares ainda mais elevados de participação no mercado mundial de carne. Segundo ele, enquanto algumas propriedades trabalham com modelos altamente tecnificados e desenvolvidos, outras, até mesmo vizinhas, seguem com métodos ultrapassados.
“Precisamos nivelar a atividade por cima, elevando a tecnificação para sermos mais eficientes. Melhorando a sanidade e a genética, que já é muito boa, com manejo e nutrição, que são muito bons, nós podemos, então, chegar a um nível muito maior de produtividade, oferecendo para o consumidor interno e para o consumidor de outros países um produto de alta qualidade, produzido de maneira sustentável, que é muito importante, preservando o que se tem ainda de meio ambiente”, aponta.
Em outra frente, o especialista se orgulha de ter ajudado a formar mais de 2,5 mil médicos veterinários, quase uma centena de mestres e doutores, muitos deles ocupando atualmente posições de destaque em instituições públicas e privadas no Brasil e também no exterior, como na Argentina, nos Estados Unidos e na Alemanha. Assim, ele colabora para a entrada no mercado de profissionais amplamente capacitados para atuar diretamente na produção e sanidade animal.
A terceira vertente do trabalho desenvolvido é o diagnóstico de doenças víricas em amostras de animais encaminhadas por produtores rurais e médicos veterinários. Anualmente, são testadas cerca de 10 mil amostras, do Estado e do Brasil A Universidade oferece, então, prestação de serviços, consultoria e assessoria, destacando-se a sanidade e manejos reprodutivos nos planteis. Essa atividade, para Flores, é tão relevante quanto a formação de profissionais e a pesquisa e desenvolvimento.
Para além da medicina veterinária, Flores conta com entusiasmo que, durante a pandemia de Covid-19, o laboratório de Virologia da UFSM interrompeu os trabalhos nas amostras de animais para analisar cerca de 45 mil amostras humanas para diagnóstico da enfermidade em pacientes da Região Central do Rio Grande do Sul encaminhadas via Sistema Único de Saúde (SUS).
“O nosso laboratório é mantido com recurso público. Quando fomos chamados a atender uma demanda da sociedade, reduzimos drasticamente as atividades relacionadas à doenças animais para nos dedicarmos integralmente ao diagnóstico molecular da Covid-19. Demos a resposta que a sociedade buscava. E me orgulho muito disso”.
Nascido em Santa Maria, filho de médico, Eduardo Flores passou a infância e adolescência em Santo Ângelo, em contato com atividade rural na propriedade da família da mãe. Ali despertou para a veterinária e onde, depois da graduação, atuou por alguns anos, com foco em sanidade reprodução animal. Mas percebeu que sua vocação era outra.
Voltou então a Santa Maria e à UFSM, onde cursou o mestrado em virologia entre 1986 e 1989. Em 1989 ingressou por concurso como docente na Medicina Veterinária, onde está até hoje, após ter realizado Doutorado nos Estados Unidos (1991-1995) e pós-doutorado na Unicamp (2011-2012), sempre na mesma área. O tema é para ele tão fascinante, que consome grande parte do seu tempo, mesmo em finais de semana ou feriados.
“A pesquisa e gestão de projetos e estudantes, além do gerenciamento do laboratório demandam muito trabalho. Dessa forma, quando as pesquisas estão em desenvolvimento, não tem Natal, feriado ou ano novo. Embora desgastante, é uma atividade altamente gratificante, pois estamos dando nosso retorno à sociedade. Eu sempre digo, no primeiro dia de aula a cada semestre na veterinária: nunca pensei em ser professor, mas estou aqui. E vocês podem encontrar alguém tão realizado profissionalmente quanto eu. Mais realizado do que eu, dificilmente vocês irão achar”, finaliza.