A Expointer de 2025 já está prestes a entrar para a história pelo público recorde: até sexta-feira (5), mais de 718 mil pessoas haviam passado pelos portões do Parque Assis Brasil, já superando os 662 mil visitantes dos nove dias de 2024. Mas os efeitos da feira vão além dos corredores e pavilhões. Na rua Celina Kroeff, no bairro Novo Esteio, que concentra algumas das principais entradas para o parque, a movimentação altera a rotina, abre oportunidades de renda, mas também gera incômodos.
Entre os comerciantes locais, a percepção é de que o impacto é desigual. Mailson Figueiredo, 36 anos, dono da Conveniência Delicatessen, acompanha a Expointer pela quarta vez. Para ele, a feira não garante o lucro esperado. “Perco 50% dos meus clientes habituais, mas ganho a Expointer. E quem compra aqui não é o visitante, e sim o trabalhador: lá dentro o preço é muito alto, então eles saem para fora comprar. Quem também ajuda nas vendas é o pessoal dos estacionamentos de rua”, explica.
Na Farmácia Ideal, o efeito também é ambíguo. Os funcionários Vinicius Mattana e Eliza Lovato relatam que os clientes fixos praticamente desaparecem durante a feira. “Os moradores deixam de vir por causa do movimento. Vem o pessoal da Expointer bastante, mas o pessoal do bairro não aparece. É um bairro tranquilo, com muitos idosos, e nessa época eles ficam torcendo para a feira acabar logo para poder voltar a sair de casa. É uma invasão da rotina comum”, descrevem.
No entanto, se para alguns a Expointer espanta a clientela regular, para outros ela se tornou oportunidade de fôlego financeiro. Alberi Antunes transformou o pátio da própria casa em estacionamento depois da enchente de 2024, que deixou 1,5 metro de água dentro da residência.
“Naquele momento, todo mundo aqui no bairro precisava se reerguer. Coloquei estacionamento no ano passado e deu um retorno bom. Com o dinheiro conseguimos pintar toda a casa, por dentro e por fora, e comprar coisas novas. Esse ano já comprei grama nova para o pátio”, conta.
Com capacidade para oito ou nove carros, Antunes cobra entre R$ 70 e R$ 80 por diária. A rotatividade garante caixa: “No sábado e domingo dá em torno de R$ 1.000 por dia, e nos outros dias uns R$ 600 ou R$ 700. Uma média de R$ 800 por dia. É um dinheiro por fora, que vem sem a gente esperar. Para nós, é uma sobrevida”, afirma.
Almir Spiaz administra estacionamento em Esteio
TÂNIA MEINERZ/JC
Mais adiante, no Estacionamento do Vovô, a história se repete, mas com décadas de experiência. Almir Spiaz, 70 anos, começou em 1981 a oferecer vagas em terrenos próximos à feira e nunca mais deixou a atividade. Hoje, cobra R$ 60 por diária - R$ 10 a mais do que os estacionamentos oficiais do parque - e mantém lotação praticamente constante (são cerca de 40 carros por dia).
“O lucro bruto chega a R$ 9 mil ou R$ 10 mil em nove dias. Isso me ajudou a construir a casa, me ajudou na aposentadoria. Tem freguês que estaciona comigo há mais de 20 anos e não entra no parque, vem só pela facilidade e confiança daqui”, diz.
Spiaz explica que, apesar de os custos com aluguel do terreno girarem em torno de R$ 6 mil, a margem final compensa. “Aqui é diário, não é por hora. Até às 11h30 da noite o preço é o mesmo. E sempre lota. Durante a semana não diminui, continua cheio. A prefeitura não complica, porque sabe que isso gira dinheiro. A gente ganha o nosso e gasta. É bom para todo mundo”, comenta. Ele mesmo reconhece: “Pena a Expointer não ser duas vezes por ano."
É desta forma que a rua Celina Kroeff espelha as contradições que a Expointer provoca fora de seus portões. Para comerciantes como Mailson, a feira significa a perda de metade da clientela habitual. Para moradores mais idosos, é sinônimo de dias de isolamento e ruas cheias. Para vizinhos como Alberi e Spiaz, a mesma movimentação garante renda extra, fundamental para complementar salários, reerguer casas após a tragédia climática ou até custear a construção de um lar.
E assim, se dentro do parque a Expointer celebra recordes de vendas e negócios, do lado de fora ela se traduz em adaptação. Entre ganhos e transtornos, a rua que liga o bairro à maior feira agropecuária da América Latina mostra como a economia do evento também se distribui, em diferentes escalas, entre quem convive com a multidão diariamente. Para uns, é espera pelo fim do barulho; para outros, é a oportunidade de salvar as contas do ano.