O diretor-presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, detalhou nesta segunda-feira (1º/9) novas ações do governo federal para o setor agrícola, com foco imediato na cadeia do feijão. Será anunciada nesta quarta-feira (3) uma subvenção de R$ 21,7 milhões específica para produtores do grão no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, em resposta à atual sobreoferta registrada nesses Estados.
Serão 30 mil toneladas para os produtores do RS e o restante para os demais Estados do Sul. O relato foi feito durante visita à Casa do Jornal do Comércio na Expointer. Pretto foi recebido pelo presidente do JC, Giovanni Jarros Tumelero.
A medida inclui um programa de Prêmio de Escoamento da Produção (PEP), que busca compensar o custo logístico de envio do feijão das regiões excedentes para centros consumidores, como São Paulo, Rio de Janeiro e o Nordeste. A estimativa da Conab é deslocar até 50 mil toneladas, volume considerado estratégico.
A produção nacional gira em torno de 3 milhões de toneladas anuais. Na última safra, o Rio Grande do Sul colheu cerca de 70 mil toneladas do produto.
"Feijão não dá para estocar como o arroz. Perde qualidade rapidamente. Por isso, nossa ação precisa ser imediata e focada", afirmou Pretto.
Além do feijão, A Conab anunciou um novo aporte de R$ 300 milhões para os Contratos de Opção de Venda (COV) do arroz, instrumento utilizado para assegurar preço mínimo aos produtores da safra 2025/2026. A medida foi apresentada durante coletiva no estande do governo federal no parque Assis Brasil, como parte da estratégia para dar previsibilidade ao setor diante da volatilidade do mercado.
"A ideia é garantir um preço mínimo com base no custo de produção acrescido de 15% a 20%, preservando a liberdade de negociação do produtor", explicou o dirigente.
Ao comentar sobre a postura cautelosa de entidades como Federarroz e Farsul, que questionam a política de formação de estoques públicos, Pretto foi enfático ao defender a estratégia.
"A ausência de estoques foi um dos principais fatores da crise do arroz durante as enchentes no Sul. Se tivéssemos 500 mil toneladas armazenadas, não teríamos enfrentado aquela escalada de preços e o pânico nos supermercados", pontuou.
Para ele, países relevantes do mundo mantêm políticas públicas de estocagem como parte da segurança alimentar. “Não se trata de interferir no mercado, mas de garantir estabilidade em momentos de crise.”
Sobre a divergência com o setor produtivo quanto à orientação para redução da área plantada, Pretto defendeu um diálogo permanente com as entidades, mas reforçou o papel do governo em estimular a produção com responsabilidade.
"Não podemos ficar presos a um olhar local. Temos que pensar grande. O mundo precisa de comida e o Brasil tem a capacidade de fornecer", observou.
Paralelamente, o governo trabalha na abertura de mercados internacionais para o arroz brasileiro. Segundo o dirigente, o México demonstrou interesse concreto em importar o produto como parte de seu programa PACIC, voltado ao combate à inflação dos alimentos. Outros países, como a China, também sinalizam interesse em parcerias com o Brasil para garantir abastecimento.
"O mundo está de olho na nossa capacidade produtiva. A notícia de que o Brasil saiu do mapa da fome e está colhendo a maior safra da história repercutiu lá fora. Produzir comida aqui vai ser cada vez mais um bom negócio", avaliou Pretto.
Durante a entrevista ao JC, o presidente da Conab também falou sobre a estratégia de formação de estoques de milho, essencial para estabilizar preços de carnes, ovos e leite. Ele anunciou a compra imediata de 50 mil toneladas do grão, que serão distribuídas principalmente para abastecer o Nordeste. “Milho é produto estratégico. Se o preço dispara, encarece toda a cadeia de proteínas.”
Pretto afirmou que a Conab está reformando seus 64 armazéns próprios, com investimento de R$ 95 milhões, além de contar com uma rede de armazenagem privada já credenciada. "No caso do arroz, conseguimos estocar as 200 mil toneladas contratadas exclusivamente com a rede privada. Não houve gargalo logístico", finalizou.