Gaúcho conquista título inédito no mundial de tiro na Tailândia

A competição aconteceu em Pattaya, na Tailândia, entre os dias 3 e 10 de dezembro e reuniu os 600 melhores atiradores esportivos do mundo

Por Maria Welter

Lucas Roth de Oliveira - shotgun - tiro esportivo - Campeonato Mundial - IPSC Shotgun World Shoot IV - Pattaya - Tailândia
O gaúcho Lucas Roth de Oliveira, de 22 anos, conquistou para o Brasil o inédito título de Tiro Prático na modalidade shotgun no Campeonato Mundial (IPSC Shotgun World Shoot IV), competindo na categoria Overall (Geral), com atiradores de todas as idades. A competição aconteceu em Pattaya, na Tailândia, entre os dias 3 e 10 de dezembro e reuniu os 600 melhores atiradores esportivos do mundo.
O Brasil foi a terceira maior delegação da competição, contando com 40 atletas, ficando atrás apenas da Tailândia e Filipinas. Outros brasileiros encerraram a participação com bons resultados, sendo que Lucas Schmitz Vargas foi campeão mundial de Shotgun Standard Manual Junior e Luísa Acosta terminou como vice-campeã Mundial de Shotgun Standard Manual Lady.
Seis vezes campeão brasileiro de tiro na modalidade shotgun e três na mini rifle, Oliveira, natural de Novo Hamburgo é considerado um dos melhores atletas da sua divisão em shotgun. O atirador consegue combinar rapidez e precisão, o que faz com que se destaque nos campeonatos.
Oliveira resume o título como "inesperado" e diz que ainda não "caiu a ficha" de que é o campeão do mundo. "Como foi minha primeira competição internacional que eu realmente treinei e vim para dar o meu melhor, não sabia que colocação eu poderia esperar. Eu não vim aqui para ser o primeiro colocado,  vim para dar o meu melhor independente do resultado que eu tivesse", afirma Lucas.
• LEIA TAMBÉM: Com 40 vagas obtidas no Pan, Brasil tem 144 classificados para os Jogos Olímpicos
A paixão pelo tiro vem de casa. A família tem uma loja de armas há 42 anos e um clube de tiros há 23, além do pai, César de Oliveira, competir no tiro esportivo há 40 anos. "Desde pequeno, eu sempre estava dentro da loja do meu pai, com o clube, acompanhando ele nas competições; então eu acabei gostando muito do esporte, comecei a trabalhar com ele e gostei muito desse ramo", explica.
Com 16 anos, Lucas tirou a licença para poder atirar e, a partir dos 17, passou a participar de competições de tiro esportivo. Em 2018, participou do primeiro Mundial, realizado na França.
"Era meu segundo ano competindo, eu não tinha muita experiência, não tinha tanta familiaridade com a arma e nem tanto treinamento. Mas, mesmo assim, eu e meu pai ficamos vice-campeões mundiais no Team Family, que é equipe de família, e eu fui vice-campeão mundial Júnior", relata o atleta.
Depois da competição mundial, Lucas mergulhou de vez no mundo do Tiro Prático. Intensificou os treinos e passou a ter ótimos resultados a nível nacional. Para o Mundial deste ano, a preparação começou há um ano e o atleta passou a ter acompanhamento nutriocional e de personal trainer.
"Todos os dias, eu acordava 5h30min para ir para a academia e, à noite, treinava no clube com a minha arma ou treinava em casa 'a seco', que chamamos de Dry Fire. Então eu tinha dois treinos por dia, era bastante puxado, mas valeu a pena", conta o gaúcho.
No maior campeonato da modalidade, Lucas precisou passar por 30 estágios completamente diferentes, nos quais fez cerca de 360 disparos. Cada estágio tinha uma explicação do que era necessário ser feito, como o trajeto de pista que precisaria ser percorrido e os alvos que seriam atingidos, que variavam entre os estágios. A disputa da sua modalidade foi relizada entre os dias 3 e 9, com tiros sendo feitos em cinco dias, em períodos alternados do dia. 
Entre as dificuldades enfrentadas na competição, o atleta relata a temperatura de mais de 30ºC nos estágios realizados no período da tarde e as diferenças na culinária. "No Brasil, é muito diferente. Eu estava acostumado a comer arroz, feijão, carne. Aqui, não existe esse tipo de coisa, achar uma massa aqui é um milagre", diz Lucas. Para driblar a adversidade, o atleta levou a alimentação de competição do Brasil, com itens como atum, suplementos e paçoquinha.
Para o próximo ano, Lucas planeja descansar após o intenso ano de preparação e, depois, traçar como será a rotina, patrocínios e apoios, reconhecendo que o título irá abrir muitas portas em sua carreira. "Mas não vou abandonar essa categoria em que estou treinando hoje", garante o atleta.

Tiro Prático: IPSC shotgun

O Tiro Prático surgiu como modalidade esportiva no Sul da Califórnia (EUA) por volta dos anos 1950. Em 1976, foi fundada a International Practical Shooting Confederation (IPSC) por representantes de nove países onde o esporte tinha começado a se popularizar. A entidade criou uma constituição e as regras que regem o esporte. Atualmente, a IPSC afilia cerca de 100 regiões da África, Américas, Ásia, Europa, Oriente Médio e Oceania. As competições são feitas utilizando armas curtas, como revólver, pistolas, e armas longas, como rifle, carabina e espingarda. Os competidores são divididos em modalidades de acordo com as características da arma de fogo e do equipamento utilizado.
No caso da modalidade shotgun, na qual Lucas se sagrou campeão mundial, as armas utilizadas são do tipo espingardas (armas de alma lisa). No IPSC, é separada em quatro divisões, cada uma com cinco classes. São permitidas as munições do tipo "cartuchos" nos calibres 12GA (mais utilizado), 16GA e 20GA. Ainda, as armas do tipo standard são do tipo semiautomáticas, não podem ser utilizados carregadores destacáveis, apenas tubos prolongadores.

Categorias

Overall: Categoria geral;
Junior: Categoria até 21 anos;
Sênior: Categoria com mais de 50 anos;
Super Sênior: Categoria com mais de 60 anos;
Damas: Categoria para as mulheres.