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Publicada em 16 de Novembro de 2023 às 10:14

Vale dos Vinhedos preserva tradição centenária de produção

O Rio Grande do Sul é onde nasceu o vinho brasileiro e é o estado responsável pela produção de 90% dos vinhos finos nacionais; além disso, guarda traços da cultura italiana que não têm em outros locais do País

O Rio Grande do Sul é onde nasceu o vinho brasileiro e é o estado responsável pela produção de 90% dos vinhos finos nacionais; além disso, guarda traços da cultura italiana que não têm em outros locais do País

/Gilmar Gomes/Divulgação/JC
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Bolívar Cavalar, especial para o JC
Bolívar Cavalar, especial para o JC
Se há uma palavra que define a produção de vinho no Vale dos Vinhedos é identidade. Preservando e adequando uma cultura mais que centenária na região dos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, os vitivinícolas do Vale desenvolvem em seus produtos a tradição dos povos de imigrantes italianos que chegaram ao Rio Grande do Sul em meados do século 19.
O Vale dos Vinhedos é um território que apresenta condições climáticas, de insolação e de solo ideais para o cultivo de determinadas uvas - com destaque para a Merlot. A fim de preservar a cultura vitivinícola e atestar a qualidade dos produtos desenvolvidos na região, foi criada, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale).
O diretor-executivo da Aprovale, Moisés Brandelli, explica o objetivo dos produtores do Vale no desenvolvimento de seus vinhos. "A gente busca preservar cada vez mais a nossa identidade e, com essa identidade, aumentar a qualidade. Não é uma escolha de buscar a qualidade a qualquer custo. A gente vai ter o respeito produtivo do meio ambiente, e, com este respeito, seguir as práticas tradicionais para que a gente produza vinhos com esta identidade. Este é o nosso diferencial", afirma Brandelli.
Tratando da história da fundação da associação, a diretora de enoturismo e infraestrutura da Aprovale, Deborah Villas-Bôas, conta que o objetivo principal era obter certificados de Indicação de Procedência (IP) - que atesta a qualidade das uvas - e de Denominação de Origem (DO) - que trata sobre todo o processo de produção, desde o cultivo até a vinificação.
Villas-Bôas explica que estas certificações comprovam que a uva produzida na região tem características diferentes a qualquer outra. "A Denominação de Origem só é concedida quando aquela uva, naquela região, verificada de determinada forma, consegue produzir um vinho característico daquele lugar, que é um vinho que não exista em nenhuma outra região do mundo", afirma a diretora da Aprovale. Isso ocorre pois, mesmo que a uva cultivada seja a mesma, as variações de clima, solo e insolação impactam nas propriedades do produto final.
Esta singularidade do vinho do Vale dos Vinhedos também é uma forma de aquecer o enoturismo. "Quando você prova um vinho no local em que ele é produzido, a experiência é completamente diferente que um vinho que você compra na prateleira do supermercado. Não só pela percepção cultural, mas principalmente porque este vinho terá tido condições melhores de chegar às suas mãos — sem transporte, sem longos armazenamentos. Isso faz com que você prove o vinho na sua melhor condição", afirma Villas-Bôas. Ela ainda completa: "Todas estas características fazem do enoturismo o segmento de turismo mais valorizado do mundo hoje, e o governo brasileiro elegeu, neste ano, o enoturismo como um dos segmentos em que mais se deveria fazer investimentos".
Na visão da diretora da Aprovale, o Brasil é o "novo mundo" para apreciadores de vinho. "O Brasil é um dos países mais procurados do mundo em termos de vinho, porque nós desenvolvemos aqui técnicas que vão possibilitar a produção de vinho em qualquer lugar do mundo", diz Villas-Bôas. Ela cita a produção vitivinícola em regiões áridas, em serras, no alto das chapadas, na campanha gaúcha, entre outros.
A diretora da Aprovale acrescenta: "Quem viajava para os destinos da Europa, descobriu que no Brasil nós temos enoturismo de altíssima qualidade, para todos os bolsos e com vinhos premiados internacionalmente. Este movimento tem sido cada vez mais forte".
Nesta linha, o Rio Grande do Sul pode ser considerado o berço da vitivinicultura nacional. "O Rio Grande do Sul é onde nasceu o vinho brasileiro e é responsável pela produção de 90% dos vinhos finos nacionais. E nós temos, além da qualidade reconhecida dos vinhos, a tradição da cultura italiana, que fez no Vale dos Vinhedos um 'mix' muito interessante. Quem vem até aqui, descobre como uma cultura que se estabeleceu no século 19 evoluiu e transformou uma região", afirma Villas-Bôas.
 
 
 

Produtores do Vale dos Vinhedos avaliam últimas seis safras como "exemplo de qualidade"

Diretor-executivo da Aprovale, Brandelli ressalta a influência do clima na uva

Diretor-executivo da Aprovale, Brandelli ressalta a influência do clima na uva

/Arquivo Pessoal/Divulgação/JC
Abrangendo o território dos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, o Vale dos Vinhedos é uma das regiões do Rio Grande do Sul que mais se destaca na qualidade do vinho produzido. Nas últimas seis safras - de 2018 a 2023 —, os produtos fabricados foram exemplos de alta qualidade, muito influenciados pelas condições climáticas favoráveis registradas nos últimos anos.
O diretor-executivo da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), Moisés Brandelli, explica esses resultados positivos. "Em nem todos os anos aconteceram invernos extremamente rigorosos, que é uma coisa ideal para a parreira - foi frio o suficiente para a boa produtividade", afirma Brandelli. Ele também diz que primaveras chuvosas — mas não tanto — e verões secos influenciam na qualidade do produto.
Este resultado positivo, entretanto, não se refere à quantidade da produção, mas à qualidade do vinho. Em razão dos limites da região do Vale dos Vinhedos, as questões quantitativas da produção são limitadas ao território dos três municípios. Assim, a quantidade de vinhos desenvolvidos tende a ser padrão.
De acordo com Brandelli, há um elemento que pode afetar negativamente na quantidade de vinhos produzidos: a geada. Apesar disso, o diretor da Aprovale afirma que este evento climático ocorre de forma pontual e não interfere na totalidade da produção de vinho no Vale dos Vinhedos. "É algum ponto que cai pedra, mas não é o suficiente para afetar toda a região", diz Brandelli.
Para a safra de 2024, a expectativa dos produtores é de manutenção da qualidade do vinho registrada nos últimos anos. "Tivemos um inverno bem ocioso, tiveram dias frios e dias quentes. Ainda assim, deu para perceber que todas as parreiras fizeram o seu estágio de dormência, que é essencial para ela guardar energia para a produtividade do ano seguinte", afirma Brandelli. Ele pondera, no entanto, que a qualidade ainda vai depender ainda das condições climáticas dos próximos dias de 2023.
 
 

Cálculos de empreendedores apontam que enoturismo tem crescimento médio de 10% ao ano

A atividade é tão importante que a grande maioria das vinícolas instaladas hoje no roteiro obtém a maior parte dos seus resultados a partir da venda do vinho direto ao turista

A atividade é tão importante que a grande maioria das vinícolas instaladas hoje no roteiro obtém a maior parte dos seus resultados a partir da venda do vinho direto ao turista

/GILMAR GOMES/Divulgação/JC
Apesar da quantidade da produção de vinhos no Vale dos Vinhedos ser limitada ao território dos três municípios que o compõem — Bento Gonçalves, Gabribaldi e Monte Belo do Sul —, o fluxo de turístico está crescendo significativamente na região. A diretora de infraestrutura e enoturismo da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), Deborah Villas-Bôas, afirma que a quantidade de turistas vem aumentando em 10% ao ano.
"A Aprovale foi fundada em 1995. De lá para cá, o Vale tem crescido consistentemente 10% ao ano em termos de fluxo turístico. Nós só tivemos uma queda no período da pandemia, e agora a gente já se encontra completamente resgatado desta queda — já voltamos aos números de 2019", diz Villas-Bôas.
A diretora explica como este cálculo de aumento de fluxo de 10% ao ano é realizado: "Esta medição é feita internamente (pelos empreendimentos). Nós compilamos os dados e batemos também com os dados que são fornecidos pelas prefeituras dos três municípios que compõem o Vale dos Vinhedos". Villas-Bôas afirma que o crescimento do enoturismo foi maior que o registrado nas vinícolas, justamente em razão da limitação territorial que os empreendimentos enfrentam para a expansão.
A partir destas dificuldades, o segmento turístico se apresenta como a principal alternativa para o aumento de rendimento das vinícolas. "O enoturismo é tão importante que a grande maioria das vinícolas instaladas hoje no Vale dos Vinhedos obtém a maior parte dos seus resultados a partir da venda do vinho direto na mão do turista. Poucas são as vinícolas que têm o rendimento maior oriundo de outras fontes", explica Villas-Bôas.
Uma questão que traz boas perspectivas para o turismo da região é o perfil dos visitantes do Vale. A diretora da Aprovale afirma que a maioria dos clientes não são gaúchos — cerca de 50% vem de São Paulo —, e tem entre 23 e 35 anos. "Isto mostra que a população que visita o Vale dos Vinhedos é muito jovem, o que nos dá um horizonte muito bom de que eles vão permanecer como visitantes fiéis", diz Villas-Bôas.
 
 

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