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Publicada em 06 de Novembro de 2025 às 17:01

Nova fronteira do vinho brasileiro atrai turistas para o Pampa

A viticultura em escala industrial na região é, historicamente, mais antiga do que na Serra

A viticultura em escala industrial na região é, historicamente, mais antiga do que na Serra

Vinhos da Campanha Gaúcha/Acervo/JC
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Patrícia Lima
Um mundo novo, de vinhos e experiências gastronômicas, se abre nas imensidões do Pampa Gaúcho, em que as distâncias e imensidões fazem parte da experiência da viagem. A viticultura em escala industrial na região é, historicamente, mais antiga do que na Serra Gaúcha. Há pelo menos 150 anos se produz vinho para abastecer o mercado interno brasileiro por lá. Por décadas, no entanto, essa produção se resumiu a pouquíssimas marcas, que cultivavam uvas na região. Na primeira década dos anos 2000 os investimentos foram retomados, já de olho na vocação do solo e do clima para o cultivo de uvas viníferas de qualidade.
Um mundo novo, de vinhos e experiências gastronômicas, se abre nas imensidões do Pampa Gaúcho, em que as distâncias e imensidões fazem parte da experiência da viagem. A viticultura em escala industrial na região é, historicamente, mais antiga do que na Serra Gaúcha. Há pelo menos 150 anos se produz vinho para abastecer o mercado interno brasileiro por lá. Por décadas, no entanto, essa produção se resumiu a pouquíssimas marcas, que cultivavam uvas na região. Na primeira década dos anos 2000 os investimentos foram retomados, já de olho na vocação do solo e do clima para o cultivo de uvas viníferas de qualidade.
Hoje a Campanha é um gigante do vinho que só cresce, com empreendimentos surgindo por entre as estâncias de criação de gado de corte. O Trem do Pampa, empreendimento turístico inaugurado em 2024, deu impulso inédito ao turismo na região. Um passeio de mais de duas horas liga as estações ferroviárias de Palomas e Santana do Livramento, com parada na Vinícola Almadén e baldeações possíveis para outras vinícolas no entorno, com degustações e atrações culturais a bordo.
Atrativo extra é o selo de Indicação de Procedência (IP Campanha Gaúcha), concedido em 2020, que atesta o local e o modo de produção dos rótulos. O reconhecimento favorece a divulgação da vitivinicultura da região e assegura a qualidade do vinho local, atraindo os enófilos. A Associação dos Vinhos da Campanha Gaúcha congrega 18 empresas, entre as quais mais de 10 têm programas receptivos para os turistas que estão na região.

Roteiro arqueológico para harmonizar com os vinhos

Vinícola Almadén conta com o vinhedo mais antigo da Campanha

Vinícola Almadén conta com o vinhedo mais antigo da Campanha

/Almadén/Dovulgação/JC
O receptivo turístico da Vinícola Almadén, em Santana do Livramento, ganhou um reforço ancestral. Além dos variados programas de degustação e da programação de tours guiados, os turistas agora podem visitar uma paleotoca. Localizada em uma área de mato em meio aos vinhedos, a toca de 40 metros de extensão foi, provavelmente, escavada por um tatu gigante e, depois, ocupada por uma preguiça que fez ali seu ninho, há cerca de 15 mil anos. Os visitantes percorrem o trajeto até a paleotoca em um veículo adaptado para o passeio e, chegando lá, fazem degustações ao ar livre depois de conhecer o sítio paleontológico.
Quem gosta de história também pode visitar o vinhedo mais antigo da Campanha, uma parcela de tannat plantada em 1976, que dá origem a um dos vinhos mais prestigiados da Miolo, o Tannat Vinhas Velhas. Depois de um trajeto off-road, por entre parreirais e estradas pedregosas, é possível degustar o vinho diante do antigo vinhedo.

Receptivo permite degustar a história do Rio Grande do Sul

Na Estância Paraizo, degustações ocorrem no galpão que já foi refúgio dos peões

Na Estância Paraizo, degustações ocorrem no galpão que já foi refúgio dos peões

/Patrícia Lima/Especial/JC
Uma antiga propriedade no interior de Bagé recebe os visitantes com um roteiro repleto de história. A Estância Paraizo está na família Mercio há mais de 230 anos e hoje se reinventa, pelas mãos da décima geração, aliando a produção de vinhos à atividade agropecuária. No antigo galpão de pedra, que já foi refúgio dos peões e proteção em tempos de conflitos como a Guerra dos Farrapos e a Revolução Federalista, ocorrem as degustações orientadas e os almoços harmonizados, que além dos vinhos, também oferecem iguarias típicas da culinária pampeana, como o espinhaço de ovelha ensopado.
Diretora da Estância Paraizo e idealizadora do receptivo, Victoria Mercio é apaixonada pela história do Pampa e da própria família. É ela quem conduz o Tour Cova de Toro, um passeio pelo vinhedo de syrah no topo de uma colina e pela Capela de São Jorge, construída no início do século 20 como mausoléu. Ao redor do sítio histórico, ela conta as reviravoltas da briga entre maragatos e pica-paus, que lutaram naquelas mesmas terras em 1893. Sempre que pode, Victoria e o irmão, Thomaz, orientam as degustações e as atividades de enoturismo.

Qualidade e lazer no coração da Região da Campanha

A Guatambu Estância do Vinho, um dos principais polos enoturísticos da região

A Guatambu Estância do Vinho, um dos principais polos enoturísticos da região

Vinhedos Guatambu/Divulgação/CJ
No interior de Dom Pedrito, a criação de gado de corte e ocultivo de grãos fez a história da família Pötter na tradicional Estância Guatambu. Até que uma das filhas de Valter José, o patriarca, propôs diversificar e implantar vinhedos na propriedade. Engenheira Agrônoma, Gabriela Pötter liderou a importação de mudas da França e da Itália em 2003. Do sucesso dessa iniciativa nasceu, em 2013, a Guatambu Estância do Vinho, um dos principais polos enoturísticos da região.
Às margens da BR-293, a vinícola abre suas portas para os visitantes, que são recebidos em um prédio cuja estética faz referência às estâncias históricas. Ali o visitante mergulha em um tour pela trajetória da família Pötter e pelas etapas de vinificação dos tintos, brancos e espumantes elaborados com uvas cultivadas na propriedade de Leões, perto da sede da fazenda. Ao longo desse percurso, há paradas estratégicas para a degustação de rótulos selecionados pelos enólogos para ilustrar a experiência.
O ponto alto do receptivo, porém, ocorre uma vez por mês, no Dia Épico – referência ao rótulo mais prestigiado da vinícola. Com fila de espera que pode chegar a meses, é imersão completa no universo da vitivinicultura do Pampa. No grande salão é servido o almoço harmonizado, momento em que as carnes premium produzidas na própria estância são combinadas aos rótulos da casa. Tudo embalado por músicos locais que executam o melhor do verdadeiro cancioneiro gaúcho.

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