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Publicada em 10 de Novembro de 2025 às 15:57

Entre a garrafa e a taça: sommeliers fomentam a cultura do vinho

Caroline Dani, a presidente da Associação Brasileira de Sommelier (ABS-RS) no Rio Grande do Sul

Caroline Dani, a presidente da Associação Brasileira de Sommelier (ABS-RS) no Rio Grande do Sul

Arquivo Pessoal/JC
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Luana Pazutti
Luana Pazutti
“Para mim, é viver com propósito. É encantador entender como o vinho é produzido. Entender que as nuances de cada uva, cada região e cada época vão ser transmutadas em um líquido cheio de histórias e sentimentos. É apaixonante”, afirma a sommelier e empresária Marielly Lautert, que trabalha na área há oito anos. 
“Para mim, é viver com propósito. É encantador entender como o vinho é produzido. Entender que as nuances de cada uva, cada região e cada época vão ser transmutadas em um líquido cheio de histórias e sentimentos. É apaixonante”, afirma a sommelier e empresária Marielly Lautert, que trabalha na área há oito anos. 
Desde a seleção dos produtos para cartas de vinhos até a apresentação para o consumidor, o sommelier é peça chave para toda a experiência de degustação.
Sommelier e empresária Marielly Lautert trabalha na área há oito anos | Arquivo pessoal/JC
Sommelier e empresária Marielly Lautert trabalha na área há oito anos Arquivo pessoal/JC
“O enólogo é quem produz o vinho. Já o enófilo é quem vai consumir o produto. E nós somos justamente essa ponte, que conecta quem faz e quem consome”, explica a sommelier. 
Os caminhos do vinho
Embora esteja em ascensão entre os brasileiros, a cultura do vinho ainda tem um longo caminho para se popularizar no País . “Temos um consumo per capita de vinho baixíssimo, mas há uma perspectiva ou pelo menos um potencial de aumentar esse consumo de forma bastante significativa. E isso passa muito pelo conhecimento, porque a gente só gosta daquilo que a gente conhece”, afirma a presidente da Associação Brasileira de Sommelier (ABS-RS) no Rio Grande do Sul, Caroline Dani.  
Para ela, é aí que entra o papel do sommelier. “Eu costumo brincar que a gente atua como um tradutor daquilo que o enólogo desejava elaborar”, pondera a presidente, que ressalta que os profissionais do campo devem apresentar o vinho como uma possibilidade de escolha para os consumidores
Essa, pelo menos, tem sido a missão da ABS-RS, que, em dez anos de atuação, já formou cerca de 1,3 mil profissionais apenas no Estado. Na entidade, o curso de sommelier tem duração de sete a nove meses e envolve uma série de saberes essenciais ao campo. 
Entre as principais habilidades desenvolvidas na formação, destaca-se o conhecimento de vinhos de diferentes regiões do mundo. “Hoje, a gente sabe que uma mesma cultivar vai ter uma expressão diferente de acordo com a sua origem. Buscamos entender quais são os perfis e quais são os diferenciais dos produtos frente a diferenças de clima, de relevo e de estilos de vinificação”, explica Caroline.
Os critérios e teorias de harmonização também fazem parte do currículo, assim como o serviço, que compreende a maneira como um vinho deve ser apresentado ao consumidor. Tudo isso, considerando o perfil do cliente, do produto e do estabelecimento.
Hoje, essa já não é a única opção para quem quer se especializar na área. Desde 2023, a Uni Senac une teoria e prática para proporcionar uma imersão no universo da viticultura e enologia em Porto Alegre. 
Com encontros semanais e 144 horas de duração, a formação inclui a degustação de pelo menos 300 rótulos. “Estudamos como o vinho é produzido, quais são os tipos de uvas e quais são as regiões produtoras. Temos também uma forte presença da análise sensorial, que é trabalhada em todas as aulas. A ideia é identificar os aromas, os sabores, os estilos”, explica a professora. Há ainda as aulas de etiqueta, serviço e, até mesmo, marketing.
“Nos conectamos não somente a muitas pessoas, mas às histórias e aos sabores dos vinhos. Sempre falamos para os alunos no primeiro dia de aula: depois que eles entram nesse caminho, nunca mais serão os mesmos”, destaca Marielly, que é professora do curso.
Amor à primeira taça
Esse é o caso do gaúcho Moisés Silva, que, aos 50 anos, decidiu mudar de vida. “Eu sou engenheiro químico e eu desenvolvi a profissão durante praticamente a vida toda. Eu sempre atuei no ambiente corporativo, na área de vendas e nas mais diferentes diretorias das empresas que eu trabalhei. Eram empresas multinacionais”, conta.
Moisés Silva deu uma guinada na vida e passou a se dedicar aos vinhos | Arquivo pessoal/JC
Moisés Silva deu uma guinada na vida e passou a se dedicar aos vinhos Arquivo pessoal/JC
Entre uma viagem e outra, o engenheiro encontrou a paixão pelo mundo dos vinhos. “À noite, quando a gente faz uma viagem a trabalho, geralmente saímos. Vamos a algum restaurante. Ou então, almoçamos com o cliente. E nessas andanças, eu fui conhecendo um pouco mais desse mundo. Fui gostando”, explicou. 
Foi aí, que Silva decidiu dar uma “guinada” na vida e fez um curso de sommelier oferecido pela Federazione Italiana Sommelier Albergatori Ristoratori (Fizar) em parceria com a Universidade de Caxias do Sul. Durante a formação, sediada no município gaúcho de Flores da Cunha, teve a oportunidade de visitar vinícolas e conhecer os desafios que cercam o comércio da bebida
Com o diploma na mão, o recém-formado sommelier abriu uma loja de vinhos, onde trabalhou por um ano e meio. Na sequência, deixou o estabelecimento para experimentar uma nova especialidade
Silva decidiu unir saberes adquiridos ao longo de sua trajetória profissional para realizar a gestão de vinhos em restaurantes, elaborando cartas exclusivas a partir do estilo do estabelecimento e do perfil dos clientes. Hoje, o amante de vinhos atua em nove restaurantes no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e em São Paulo.
E embora a elaboração da carta de vinhos seja o “ponto de partida” dos seus serviços, a gestão da bebida vai muito além disso. “A gente estabelece objetivos a serem alcançados no que se refere à venda dos vinhos. Desenvolvemos a precificação, treinamos os garçons que atendem os clientes no restaurante e  elaboramos indicadores para acompanhar todos os resultados mês a mês. Tudo isso com contagem e análise semanal dos estoques para ver até que ponto os produtos estão girando ou não”, explica o sommelier. 
Mesmo com a rotina profissional agitada, Silva não perde a oportunidade de ampliar conhecimentos. “Enquanto sommelier, eu me descobri fazendo o que eu estou fazendo. Quase ninguém faz essa gestão completa dos vinhos nos restaurantes. E, por ter um certo ineditismo, esse trabalho tem me exigido estudar e conhecer bastante”, afirma o gestor. 
Desde que conquistou o certificado de sommelier profissional, continuou investindo em uma série de cursos e capacitações. Seu currículo conta com formações ministradas pela estadunidense WSET, que figura entre as principais organizações internacionais na área de educação em vinhos, assim como cursos de curta duração oferecidos pela ABS. 
Silva, que já trabalha no campo há nove anos, afirma que existe mercado para a profissão no Brasil. Algumas áreas, contudo, podem ser mais desafiadoras do que outras. “Na área comercial de importadoras ou lojas de vinho existe uma demanda muito grande para esse tipo de profissional. O trabalho como sommelier em restaurantes parece mais limitado. Queira ou não queira, o sommelier tem um salário diferenciado e nem todos os restaurantes estão dispostos a pagar”, pondera. 
O sommelier conta que os salários podem variar, mas, de modo geral, um profissional que trabalha na área de vendas tende a ganhar entre R$6 mil e R$10 mil mensais. Já para um sommelier que atua em restaurantes, a remuneração costuma variar entre R$5 mil e R$8 mil por mês. 
Para o amante de vinhos, o investimento vale a pena, pois a atuação do sommelier influencia diretamente na experiência do consumidor. “No fundo, o nosso papel é conhecer as pessoas para identificar o vinho que vai fazer elas terem uma boa experiência. O mais bonito da profissão é isso: se entregar para as outras pessoas e usar do seu conhecimento para fazer os outros mais felizes”, conclui. 

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