O presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros do Rio Grande do Sul (Sincor-RS), André Thozeski, avalia que o mercado gaúcho de seguros e previdência privada vive um momento de expansão, impulsionado tanto pela tradição previdenciária da população quanto pelo impacto da enchente histórica de 2024, que reforçou a percepção sobre a importância da proteção financeira. Em entrevista ao Jornal do Comércio, ele fala sobre as mudanças no perfil do consumidor, a valorização dos corretores diante da digitalização e as tendências que devem marcar os próximos anos.
Jornal do Comércio - Como o senhor avalia hoje o mercado de seguros e previdência privada no Rio Grande do Sul?
André Thozeski - Os gaúchos têm uma forte tradição previdenciária. Nosso Estado historicamente se destaca em comparação aos demais nos índices de adesão tanto aos seguros quanto à previdência privada. Isso vem acontecendo.
JC - Quais são os produtos que mais crescem em demanda entre os gaúchos?
André Thozeski - Nos últimos anos, mas especialmente no último, percebemos uma mudança importante no comportamento do consumidor. Há uma consciência maior em relação às proteções voltadas à família e à residência. Corretores relatam uma procura crescente por seguros que não se limitam à indenização financeira, mas oferecem serviços agregados, como telemedicina e assistência à família.
JC - O consumidor do Estado está mais consciente da importância de seguros e previdência privada?
André Thozeski - O consumidor gaúcho sempre se caracterizou por ser esclarecido, mas hoje notamos algo além: ele está mais participativo no processo de contratação. Há uma interação maior com o corretor para desenhar contratos que atendam de forma mais ampla às necessidades da família. Riscos que antes eram vistos como distantes agora fazem parte das prioridades, como a proteção contra perda de renda por doença ou acidente, coberturas para doenças graves e, cada vez mais, previdência privada, dado o desencanto com o modelo público.
JC - Que mudanças de perfil vocês têm observado nos últimos anos (faixa etária, renda, comportamento)?
André Thozeski - Uma das transformações mais visíveis é a entrada de consumidores de menor poder aquisitivo. Antes, muitas pessoas acreditavam que seguro era algo caro, inacessível. Agora, cada vez mais entendem que a proteção cabe no orçamento. Os corretores tiveram papel fundamental nisso, pois passaram a formatar produtos acessíveis, com pagamento mensal, que se adaptam melhor às finanças familiares do que os contratos anuais.
JC - Como a enchente de 2024 impactou a percepção da população sobre a importância da proteção financeira? Impactou de algum modo?
André Thozeski - Nosso estado viveu a maior tragédia climática da história do Brasil e uma das maiores do mundo. O impacto foi devastador, mas mostrou à sociedade a relevância do mercado segurador. Nossa resposta foi rápida: indenizamos mais de R$ 6 bilhões em pouco tempo. Em cerca de 60 dias, a maioria dos clientes já estava em processo de reconstrução de suas vidas e propriedades. Isso reforçou a confiança na nossa atuação. Muitas pessoas que não tinham seguro perceberam, ao ver familiares e amigos amparados, que poderiam ter enfrentado a tragédia com mais tranquilidade. Esse testemunho foi decisivo para despertar o interesse de novos consumidores.
JC - Qual é hoje a principal função do corretor de seguros diante da digitalização e da concorrência das insurtechs?
André Thozeski - Nada substitui o atendimento humano e especializado. O profissional Corretor de Seguros é para a família tão importante quanto um bom médico. Não é porque existem milhões de medicamentos disponíveis que alguém vai sair comprando sem orientação. O mesmo vale para o seguro. O corretor analisa detalhadamente as necessidades reais do cliente, examina cada contrato, compara entre diversas seguradoras e encontra a solução com melhor custo-benefício - que muitas vezes não significa o mais barato, mas o mais adequado. Além disso, acompanha o cliente em todo o processo, inclusive no momento mais delicado, que é o sinistro. É ele quem garante a indenização correta e rápida. Tudo isso só um profissional Corretor entrega.
JC - De que forma a relação entre corretores e clientes mudou com a maior presença dos canais digitais?
André Thozeski - Os canais digitais surgiram para facilitar o diálogo, mas não para substituir a relação pessoal. Um cliente que entende a importância da consultoria especializada jamais a troca por uma promessa milagrosa em um aplicativo de celular. Eu mesmo converso com clientes pessoalmente, por telefone, e-mail, WhatsApp e até redes sociais. O que não muda é a essência: continuo falando diretamente com meus clientes.
JC - Hoje, quais são os principais desafios enfrentados pelos corretores no RS?
André Thozeski - O grande desafio é conseguir chegar a tantos consumidores e dedicar a atenção necessária a cada um. As necessidades são muito específicas e variam de pessoa para pessoa. Isso exige tempo, dedicação e preparo.
JC - As insurtechs representam uma ameaça ou uma oportunidade para os corretores tradicionais?
André Thozeski - Sempre convivemos com a tecnologia, ela não nos assusta. Os bons profissionais sempre souberam incorporar novas ferramentas ao seu trabalho. Então, não vemos as insurtechs como ameaça... Hoje, 90% dos seguros no Brasil ainda são distribuídos por corretores. Isso porque as pessoas querem ser atendidas por gente, não por máquinas.
JC - E quais ferramentas digitais o Sincor-RS tem incentivado seus associados a utilizar?
André Thozeski - No Sincor-RS, acompanhamos de perto todas as novidades. Fomos pioneiros no País ao oferecer aos nossos associados ferramentas de cálculo, gestão de carteira de clientes e CRMs. Também estimulamos a presença ativa nas redes sociais, sempre com conteúdo relevante. As festejadas inteligências artificiais são apenas mais uma etapa desse processo: adotamos outras máquinas e sistemas. Novamente, a tecnologia é uma ferramenta, não um substituto do trabalho humano.
JC - Quais são as tendências mais fortes para os próximos anos no mercado de seguros e previdência?
André Thozeski - A personalização é, sem dúvida, a tendência mais forte. O consumidor não quer mais pacotes prontos, iguais para todos. Ele busca soluções sob medida, que atendam às necessidades de cada fase da vida. A proteção necessária para um jovem solteiro é diferente da de um casal que espera o primeiro filho ou da de quem está na melhor idade. E só uma consultoria profissional é capaz de personalizar cada contrato e garantir que as coberturas sejam realmente adequadas.
JC - Qual recado o Sincor-RS gostaria de deixar para os consumidores que ainda não consideram contratar um seguro ou plano de previdência privada?
André Thozeski - Procure um corretor de seguros. Ao contrário do que muitos pensam, contratar por meio de um corretor não é mais caro - pelo contrário, costuma ser mais barato, porque você só paga pelo que realmente precisa. Existem soluções em seguros e previdência para praticamente todos os riscos que enfrentamos.