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REPORTAGEM ESPECIAL

- Publicada em 24 de Outubro de 2022 às 03:00

Seguro rural vive boom em 2022 no Brasil

Cada R$ 1,00 aplicado pelo Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural em 2021 foi capaz de segurar, em média, R$ 57,82 em valor de produção

Cada R$ 1,00 aplicado pelo Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural em 2021 foi capaz de segurar, em média, R$ 57,82 em valor de produção


FELIPE DALLA VALE/PALÁCIO PIRATINI/DIVULGAÇÃO/JC
Pedro Carrizo, especial para o JC
Pedro Carrizo, especial para o JC
Após resultado recorde em 2021, o mercado de seguros rurais em 2022 já superou com folga os números do ano passado em relação às indenizações pagas a produtores rurais. O Rio Grande do Sul é um dos protagonistas nesse cenário, pois ocupa a 2ª colocação entre os estados com maior adesão às apólices voltadas à lida no campo. Confira o que é e como funciona o seguro rural no Brasil, além de entender o porquê desse crescimento atípico em 2022.

RS é um dos principais responsáveis pelos resultados

Os seguros de cobertura rural estão crescendo com muito mais força em 2022 do que a média geral do mercado de seguros. As indenizações do segmento já haviam sido recorde em 2021, ano em que o Brasil viveu a pior seca em nove décadas. No entanto, 2022 mal fechou e o volume de indenizações aos produtores já é muito superior ao topo histórico do seguro rural.
No mês de julho, a alta foi de 50% em relação ao mesmo período do ano anterior no quesito sinistralidade. No acumulado do ano até julho, a sinistralidade rural subiu 144,7%, o que marca um novo topo histórico para o segmento, conforme dados mais recentes da Superintendência de Seguros Privados (Susep).
Boa parte das indenizações pagas para cobrir os prejuízos que a estiagem e as geadas trouxeram às lavouras brasileiras veio para o Rio Grande do Sul. O estado gaúcho é o segundo entre os estados em contratações de apólices rurais, responsável por 21% do total, atrás apenas do Paraná, que responde por 33% das apólices em 2022, mostram dados do Ministério de Agricultura e Pecuária (Mapa).
De acordo com o presidente da Comissão Especial de Seguros e Previdência Complementar da Ordem dos Advogados do RS (OAB/RS), Ricardo Villar, o segmento rural de seguros deve ser uma das pautas magnas do mercado securitário neste e no próximo ano. Especialmente porque entre 2018 e 2021 os prêmios diretos do seguro rural (pagamento dos segurados às seguradoras) subiram de R$ 486,87 milhões para R$ 1,97 bilhão.
"Nossa economia é fortemente influenciada pelo agronegócio, especialmente no RS. Aliado a isso, o setor rural vem sofrendo perdas severas em razão da questão climática e tudo indica que essas intempéries vão continuar", projeta o advogado.
O presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), Dyogo Oliveira, segue a mesma toada. "A trajetória de crescimento do seguro rural é inequívoca. A perspectiva é de manutenção do crescimento da carteira nos próximos anos, porque há um reconhecimento gradual da importância de suas coberturas pelos produtores rurais", diz em nota.
O mercado, de fato, tem mostrado isso. De 2006 — ano que marca o 'início' do seguro rural no Brasil — até 2022, o número de seguradoras que passaram a ofertar apólices agrícolas no País subiu de quatro para 15 empresas.
O ano de 2006 marca o início do mercado de seguros rurais, pois foi quando o governo federal começou a oferecer subsídios aos produtores rurais que contrataram apólices, através do Programa de Subvenção Rural, que existe até hoje.
Atualmente, o subsídio para culturas de soja é de 20%. Já para as demais (incluindo a criação de animais) o governo entra em média com 40% no pagamento dos prêmios. Isso acontece porque os seguros rurais são essencialmente caros. Segundo relatório do Ministerio da Agricultura (Mapa) publicado em abril deste ano, cada
R$ 1,00 aplicado pelo Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural em 2021 foi capaz de segurar, em media, R$ 57,82 em valor de produção.
O indicador, que mede o quociente entre a importância segurada e o subsídio pago, aumentou 70% entre 2018 e 2021. "Até 2006, existia uma falha de mercado que impedia o seguro rural de se desenvolver. Os produtores não contratavam porque era muito caro e as seguradoras não ofertavam porque os produtores não contratavam. Então, o governo precisou entrar para dar tração ao mercado, o que vem acontecendo até hoje", explica o diretor do Departamento de Gestão de Riscos da Secretaria de Política Agrícola do MAPA, Pedro Loyola.
De acordo com dados do Programa de Seguro Rural, o número de produtores passou de 42 mil para 121 mil de 2018 até 2021, alta de 187%. No mesmo período, a área segurada no Brasil evoluiu 203%, de 4,6 milhões de hectares para 14 milhões no ano passado. A subvenção do governo entre 2018 e 2021 saltou 222%, de R$ 366 milhões para R$ 1,18 bilhão.
 

Ano completamente atípico: área segurada será menor

O que impede uma evolução mais sistemática do mercado é a falta de uma política orçamentária de subvenção por parte do governo, o que daria mais previsibilidade às seguradoras

O que impede uma evolução mais sistemática do mercado é a falta de uma política orçamentária de subvenção por parte do governo, o que daria mais previsibilidade às seguradoras


/UBIRAJARA MACHADO/DIVULGAÇÃO/CIDADES
O mercado de seguros rurais atingiu números recordes em 2021, alcançando 14 milhões de hectares, o que equivale a 20% de área segurada. Além disso, o segmento pagou R$ 200 mil em apólices e atendeu cerca de 120 mil produtores. Pois os números deste ano ainda nem fecharam e alguns recordes de 2021 já foram superados. E bem superados.
Por exemplo, no acumulado de todo o ano passado, as seguradoras pagaram pouco mais de R$ 5,45 bilhões em indenizações subvencionadas. No entanto, entre janeiro e julho de 2022, as seguradoras já pagaram mais de R$ 8 bilhões em indenizações.
A projeção do governo federal é que 2022 feche com um valor segurado muito mais alto do que em 2021, mas uma área segurada muito menor do que os 14 milhões de hectares recordes do ano anterior.
Segundo as projeções, talvez a área segurada não chegue nem à metade. "Essa atipicidade acontece tanto por problemas das seguradoras quanto do governo. O valor segurado subiu demais, isso faz com que a capacidade das seguradoras em atenderem a mesma demanda de 2021 não seja a mesma, assim como o governo também não tem capacidade de subvencionar todo mundo", diz o diretor do Departamento de Gestão de Riscos da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pedro Loyola.
Conforme ele, o Brasil está vindo de dois anos de catástrofes climáticas para o campo, o que gerou, na sua opinião, pagamentos absurdos de indenização por parte das seguradoras.
"Nós tivemos lavouras que chegaram a dobrar de preço. Isso tem um impacto muito grande no mercado e no programa do governo de subvenção", acrescenta.
No entanto, reitera Loyola, um dos principais problemas do mercado de seguros rurais é que ele não apresenta, desde 2006, uma evolução crescente e gradual, mas sim períodos de inércia, seguidos de picos, o que faz com que a área segurada média no País oscile entre 5% e 10%, mesmo com os números expressivos do ano passado.
Segundo Loyola, o que impede uma evolução mais sistemática do mercado é a falta de uma política orçamentária de subvenção por parte do governo, o que daria mais previsibilidade às seguradoras e garantia aos produtores rurais.
Desde que foi criado, o programa de subvenção do governo federal não é uma despesa obrigatória do orçamento.
"Os produtores só vão contratar e as seguradoras só vão oferecer se houver subvenção do governo que reduza os custos deste seguro, que é essencialmente caro", conclui o diretor do Departamento de Gestão de Riscos da Secretaria de Política Agrícola do Mapa.

Solução significa capital para o produtor

Marco Antonio Zanella Fortuna, da Solaris Corretora de Seguros

Marco Antonio Zanella Fortuna, da Solaris Corretora de Seguros


Arquivo Pessoal/Divulgação/JC
Além de salvar o produto afetado por questões climáticas, o seguro, em momentos de dificuldade, cumpre uma função social no campo. Essa é a interpretação de Marco Antônio Zanella Fortuna, da Solaris Corretora de Seguros.
"Principalmente em um estado como o nosso, que depende muito do agro. As seguradoras e resseguradoras injetaram milhões na economia. O produtor conseguiu pagar o posto de gasolina, a oficina, a empresa de insumos, fazendo com que a economia não sofresse tanto", exemplifica Fortuna, citando a estiagem.
Segundo o empreendedor, quem possuía seguro agrícola nesse ano conseguiu se manter na atividade, até porque o custo de implantação de uma lavoura triplicou em relação à safra 20/21. "Em regiões como São Borja, vários produtores não colheram nada, zero sacas. O produtor sem seguro ou não vai ter crédito para plantar nesse ano, o que o fará sair da atividade, ou vai levar anos para pagar", afirma. A Solaris, que tem 52 anos e trabalha em todos os ramos de seguros, aposta no setor agrícola há duas décadas. "O seguro deve ser tratado como um insumo igual a qualquer outro, como fertizantes ou sementes", sugere.