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Publicada em 25 de Setembro de 2025 às 19:21

Grupo carioca Azes do Samba conquistou o público gaúcho com turnê em 1932

Com nomes de projeção nacional, o mitológico quinteto carioca Azes do Samba agitou a cena musical gaúcha de 1932 com turnê de quase um mês em Porto Alegre e outras cinco cidades

Com nomes de projeção nacional, o mitológico quinteto carioca Azes do Samba agitou a cena musical gaúcha de 1932 com turnê de quase um mês em Porto Alegre e outras cinco cidades

/MONTAGEM SOBRE FOTO DE ACERVO IMS/REPRODUÇÃO/JC
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Marcello Campos
“Eles custam, mas vêm”. O anúncio-alfinetada nos jornais de Porto Alegre em 24 de abril de 1932 prometia para dali a cinco dias o fim da espera iniciada três semanas antes, com o adiamento de uma atração inédita na cidade: o recém-formado quinteto carioca Azes do Samba. A expectativa se justificava pelos nomes em destaque na divulgação, afinal o escrete capitaneado pelos cantores Francisco Alves (1898-1952) e Mário Reis (1907-1981) – duas das mais populares vozes brasileiras da época – incluía o colega Noel Rosa (1910-1937), o piano de Romualdo “Nonô” Peixoto (1901-1954) e o bandolim de Peri Cunha (1902-1978), nascido em Santana do Livramento mas radicado no Rio de Janeiro.
“Eles custam, mas vêm”. O anúncio-alfinetada nos jornais de Porto Alegre em 24 de abril de 1932 prometia para dali a cinco dias o fim da espera iniciada três semanas antes, com o adiamento de uma atração inédita na cidade: o recém-formado quinteto carioca Azes do Samba. A expectativa se justificava pelos nomes em destaque na divulgação, afinal o escrete capitaneado pelos cantores Francisco Alves (1898-1952) e Mário Reis (1907-1981) – duas das mais populares vozes brasileiras da época – incluía o colega Noel Rosa (1910-1937), o piano de Romualdo “Nonô” Peixoto (1901-1954) e o bandolim de Peri Cunha (1902-1978), nascido em Santana do Livramento mas radicado no Rio de Janeiro.
Quase um mês de turnê por seis cidades gaúchas deixariam não apenas um rastro de dezenas de performances sob elogios da imprensa e lotação esgotada em palcos da Capital gaúcha, São Leopoldo, Caxias do Sul, Cachoeira do Sul, Pelotas e Rio Grande. Relatos dão conta de peripécias no ambiente boêmio de quase 100 anos atrás. Sobretudo com Noel com Nonô a tiracolo para desbravar uma Porto Alegre repleta de música nos cafés, bares, cinemas, teatros, cabarés e somente uma estação da rádio (a Gaúcha, fundada em 1927 e ainda com transmissão restrita à faixa do meio-dia às 21h).
Essa história começara meses antes, em apresentações no Rio de Janeiro e São Paulo. Primeiro em trio, com os líderes a dividirem espaço com o colega Lamartine Babo (1904-1963) nas paródias e canções humorísticas. Logo o conjunto foi acrescido do seresteiro Silvio Caldas (1908-1998) e do bandolinista Luperce Miranda (1904-1977), sob aplausos suficientes para um giro pelos Estados do Sul. Mas a agenda acabou atrasada pela busca de substitutos para os três últimos, impedidos ou desinteressados em viagens longas – o resultado foi um novo formato, com a voz e violão de um irreverente Noel em plena ascensão, mais Nonô e Peri, disputadíssimos instrumentistas da época.
Um lance inusitado é que Francisco Alves aceitara um punhado de sambas inéditos como pagamento de um automóvel vendido a Noel. A demora na quitação da “dívida” foi então usada para convencer Noel a participar da empreitada como forma de quitação da dívida, sem prejuízo aos cachês. Detalhes desse breve porém marcante capítulo sonoro são reproduzidos no livro Noel, Uma Biografia (1990), dos pesquisadores fluminenses Carlos Didier e João Máximo. O jornalista gaúcho Paulo César Teixeira também se debruçou sobre o tema em reportagem de 2010 para a revista Magis, da Universidade do Vale do Sinos (Unisinos). 
“A estreia dos Azes em Porto Alegre foi propagandeada para 8 de abril, com os antigos integrantes, mas isso só se concretizou 21 dias depois, já com o novo grupo, até porque o trajeto desde o Rio de Janeiro levou uma semana, a bordo do Itaquera [um dos navios de passageiros e cargas da Companhia Nacional de Navegação Costeira], com escalas portuárias ao longo da costa. O tédio ao menos serviu para saraus de ensaio da trupe e novas composições por Noel, que quase perdera o horário de embarque – indisciplina que faria dele o principal personagem da excursão.
Faltando poucos dias para o espetáculo de abertura, no luxuoso Cineteatro Imperial, Francisco Alves (o “Rei da Voz”) e Mario Reis (“Bacharel do Samba”) se instalaram no refinado Grande Hotel (onde hoje está o Rua da Praia Shopping), optando os demais pela conhecida pensão Mangache, na rua Andrade Neves. Despesas por conta da trupe. Todos devidamente advertidos pelas duas estrelas da turma a manterem a compostura. Pontualidade. Sobriedade. Figurino impecável. “Música é coisa séria, exige traje a rigor. É obrigatório o smoking ou, vá lá, um summer, mas nada de terno comum. Horários terão que ser rigorosamente cumpridos. Somos profissionais, devemos respeitar o público para ele nos respeite”, decretou Chico.

Profissionalismo, boemia e muita música

1932 - AZES DO SAMBA - caricaturas (Acervo Marcello Campos)

1932 - AZES DO SAMBA - caricaturas (Acervo Marcello Campos)

/ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC
Contratada por intermédio do empresário teutobrasileiro Kurt Batzdorff, a turnê gaúcha dos Azes do Samba teve em Porto Alegre o ponto de início e encerramento de um itinerário que incluiu as outras cinco cidades mencionadas na abertura desta reportagem. Coube aos shows na Capital a maior repercussão na imprensa desde a estreia no elegante Cineteatro Imperial, inaugurado um ano antes na Rua da Praia, em frente à Praça da Alfândega. Com até três exibições de aproximadamente uma hora por data (15h, 19h30min e 21h30min), o quinteto ali se apresentou diante de plateias lotadas em 29 e 30 de abril, mais 1º, 3, 4 e 5 de maio.
Muita gente compareceu mais de uma vez, atraída por um programa constantemente acrescido de novidades no repertório, no qual duetos de Francisco Alves e Mario Reis eram intercalados a números instrumentais no piano de Nonô e no bandolim de Peri Cunha, sem contar as divertidas blagues de Noel Rosa, também escalado para acompanhamentos ao violão. A dose se repetiria em 6 de maio no Theatro São Pedro, a convite do Club Jocotó, e no Cineteatro Carlos Gomes (rua Marechal Floriano) na mesma noite e nas três seguintes. Notícias e reclames em jornais eram unânimes nos louros, como fez o Correio do Povo em uma de suas edições no período:
"Não foram apenas a beleza e doçura das vozes desses guapos rapazes, nem a graça da interpretação ou a maestria da música que conseguiram os aplausos para esse espetáculo genuinamente nacional. Foi, sobretudo, a satisfação de se ouvir alguma coisa que é nossa, que sobe ao coração e fala desse Brasil já tão grande (...). Quando eles malandreiam seus sambas, até o mais alinhado dos cidadãos sente vontade de que a cadeira se transforme em um imenso tablado para bambolear as pernas e rebolear as ancas, numa rotação cafaja de capoeira desajeitada". Já A Federação sublinhou as qualidades de "um espetáculo que não cansa nunca, pois se assiste sempre com prazer novo e crescente".
 

Três ases, dois coringas

Anúncios na imprensa gaúcha ampliavam a ansiedade em torno da chegada dos sambistas famosos à Capital

Anúncios na imprensa gaúcha ampliavam a ansiedade em torno da chegada dos sambistas famosos à Capital

/ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC
Tamanha intensidade pressupunha momentos de descanso para encarar o tranco, certo? Não para Noel Rosa, 21 anos. O caçula da turma deu de ombros ao sermão sobre profissionalismo, arrastando Nonô (nove anos mais velho) para incursões pela boemia local. Agora também parceiros extramusicais, os dois desbravam botequins, cabarés, prostíbulos e outros endereços nas madrugadas pós-show. Como já temia Chico Alves antes mesmo do embarque no Itaquicé, a esbórnia não demorou a dar as caras. O próprio Mário Reis contaria aos autores do livro biográfico de Noel uma das dores de cabeça causadas pela ala pândega do elenco, em uma das primeiras noitadas.
Os espetáculos da turnê tinham por base o então tradicional esquema tela e palco, ou seja: primeiro um longa-metragem, depois apresentação ao vivo. Com casa cheia e o relógio marcando quase 21h, o Imperial já projetava as últimas cenas do filme quando Noel e Nonô apareceram, em cima do laço. O atraso era o menor dos males: Noel estava com aspecto de quem foi atingido por um bonde. "Que roupa é essa???" espantou-se Francisco Alves ao vê-lo em um amarrotado e encardido terno branco. "É o meu summer", respondeu o rapaz. "Mas é um terno, e ainda por cima imundo!", protestou o outro. "É um summer, sim, Chico. Eu aluguei de um garçom amigo...".
O elegante Mário Reis (tratado por "doutor" em alguns anúncios, por causa do diploma de advogado obtido em 1930) contemporizou: "Pensando bem, o grupo ficará interessante, com quatro de preto e um de branco. A plateia é capaz de pensar que se trata de uma bossa". Acalmados os ânimos, deu tudo certo e Noel recebeu os mesmos aplausos e gritos de "bravo!" - além das habituais gargalhadas nas intervenções mais divertidas, como em seu samba Gago Apaixonado, que ele próprio havia lançado em disco no ano anterior, sendo até hoje uma das mais conhecidas de suas quase 250 composições.
 

Estripulias também no Interior

Mário Reis, uma das vozes mais famosas do Brasil à época, passou poucas e boas com as estripulias boêmias dos colegas de Azes

Mário Reis, uma das vozes mais famosas do Brasil à época, passou poucas e boas com as estripulias boêmias dos colegas de Azes

/ARQUIVO NACIONAL/REPRODUÇÃO/JC
A gandaia de Noel e Nonô rendeu novas surpresas nos bastidores da gira pelo interior do Estado, entre os dias 10 e 20 de maio. Ausências em ensaios. Chegadas com atraso para os shows. Trapalhadas de toda ordem, quase sempre compensadas à base de improviso e talento. Em São Leopoldo, um sumiço mais esticado que o normal lançou o restante dos Azes à caça dos endiabrados. Onde teriam se metido? Mario Reis obteve a resposta ao adentrar um cabaré tenebroso, onde reconheceu já de ouvido os sons do piano e violão. Trêbados, tendo por testemunha uma garrafa vazia de licor.
"Não se preocupe, estamos firmes", garantiu Nonô, escoltado com o amigo até o cineteatro, a meia hora do início do show. Francisco Alves já pensava que aquele comportamento só podia ser provocação, quando viu a plateia em delírio justamente durante um número dos fujões, ovacionados como se nada tivesse acontecido. Por via das dúvidas, o chefe decidiu: dali em diante, a dupla só receberia o suficiente para alimentação e hospedagem, ficando o restante do cachê para acertar no Rio de Janeiro. Em vão.
Em Pelotas, Noel apareceu quase 20 minutos após o horário marcado para a apresentação. E ainda por cima vestido com terno de flanela cinza, de listras desbotadas, e sapatos brancos. Na cabeça, uma boina marrom, emprestada por Peri Cunha e que compunha um figurino em total descompasso com os outros quatro. Um acinte! Francisco pensa em cancelar o espetáculo, porém uma ideia de Mário - sempre ele - salvou a noite: "Quem sabe uma nova disposição de cadeiras no palco não resolve o problema? Noel pode ficar meio escondido atrás do piano de Nonô, os outros três bem na frente...".
A narrativa é de Carlos Didier e João Máximo: "O espetáculo começa como Mário sugeriu, mas quando cabe a Noel a vez de solar, ele vem até a frente do palco e a plateia cai na gargalhada, todo o mundo pensando que a indumentária faz parte do número, um toque diferente para dar mais colorido e alegria ao show. Acompanhando-se ao violão, ele se põe a cantar uma paródia [sobre o cidadão esgualepado, que passa fome por falta de dinheiro e dentes]. Palmas e gargalhadas se repetem a cada quadrinha em que Noel faz troça da própria desgraça."
 

Até amanhã, se Deus quiser...

Noel Rosa escreveu em Porto Alegre Até Amanhã, uma das muitas canções emblemáticas do sambista

Noel Rosa escreveu em Porto Alegre Até Amanhã, uma das muitas canções emblemáticas do sambista

/ARQUIVO NACIONAL/DIVULGAÇÃO/JC
O retorno à capital gaúcha para o encerramento da turnê teve como cartaz o evento Noite Brasileira, em 24 de maio, com duas sessões em um Imperial novamente lotado em seus 1.632 assentos. Antes, Noel protagonizou a mais difundida história envolvendo sua única passagem pela cidade. O desfecho - um romance jamais concretizado - inspirou a letra de um clássico, gravado com sucesso pelo autor junto com o conterrâneo João Petra de Barros (1914-1948) e, posteriormente, por dezenas de outras vozes. O próprio Noel relembraria o ocorrido, em depoimento à revista semanal Carioca, mais de quatro anos depois:
"(...) Outro samba de sucesso e de que gosto muito é Até Amanhã, que fiz em Porto Alegre, na véspera de embarcar. Defronte ao hotel morava a deusa inspiradora. Eu sentia desejos de vê-la, mas chovia muito e conversávamos da janela. De súbito, alguém a chamou e ela teve que se despedir. Fechou-se a janela e fiquei cantarolando o samba... 'Até Amanhã, se Deus quiser / Se não chover, eu volto pra te ver / Oh, mulher! / De ti gosto mais que outra qualquer / Não vou por gosto, o destino é quem quer'. O Chico Alves me pediu para gravar a composição, mas dei ao João Petra, que começava a aparecer".
A turma seguiu viagem para Florianópolis, depois Curitiba e, por fim, o retorno ao Rio de Janeiro, onde cada qual retomou sua carreira. O nome Azes do Samba foi mantido até meados de 1933, recrutando-se para isso outros companheiros. O grupo não deixou qualquer registro fonográfico, embora os cinco participantes da turnê gaúcha tenham gravado (em maior ou menor quantidade) faixas hoje disponíveis nas plataformas digitais. Inclusive os 24 duetos do "Rei da Voz" com o "Bacharel do Samba" lançados em discos de 78 rotações entre 1930 e 1932 - material reunido em CD, sete décadas depois, sob o sugestivo título de Ases do Samba e cujo repertório inclui parte do cancioneiro que arrebatou as plateias na temporada gaúcha.
Noel Rosa, o "Poeta da Vila", jamais reviu a musa porto-alegrense, cujo nome ninguém se deu ao trabalho de perguntar. Sequer voltou à cidade: nem completara 27 anos quando perdeu a guerra contra a tuberculose. Francisco Alves, por sua vez, comoveu o Brasil em ao ser vitimado em 1952 por um acidente de carro, aos 54. Idade parecida com a de Nonô (tio dos cantores Cyro Monteiro e Cauby Peixoto) ao sofrer um derrame fatal, dois anos depois - funcionário da Secretaria de Viação e Obras do Rio de Janeiro, o "Chopin do Samba" se afastara da música devido a problemas de saúde. Mario Reis foi além: tinha quase 75 quando sucumbiu a complicações de uma cirurgia de aneurisma abdominal, em 1981. Ok, mas e o Peri Cunha?
 

Um gaúcho entre cariocas

Peri Cunha em 1978, pouco antes de seu falecimento

Peri Cunha em 1978, pouco antes de seu falecimento

/ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC
Tratado sem maiores destaques durante a turnê dos Azes do Samba por uma imprensa gaúcha habituada a encher a bola para "pratas da casa", Peri Cunha (Eraldim Foutoura Cunha na certidão) foi protagonista de uma trajetória que o tornou um influente nome brasileiro em seu cavalo de batalha, o bandolim. O prodígio nascido na fronteiriça Santana do Livramento em 1902 aprendeu o instrumento durante a infância - primeiro na música erudita, depois na popular. Aos 15 já estava em Porto Alegre, onde teve aulas com o icônico Octavio Dutra (1884-1937), entrando de cabeça em gêneros como o choro e o samba em ascensão no País.
"Ele foi para o Rio como músico do Exército, nos idos de 1920, e logo entrou para o grupo Os Gaturamos, rival do Bando dos Tangarás de Noel Rosa e Almirante", conta o músico e pesquisador porto-alegrense Arthur de Faria. "Lá conheceu o pernambucano Luperce Miranda, seu ídolo no bandolim, e logo também se tornou referência, tocando para veteranos como Ernesto Nazareth e estreantes como Carmen Miranda. Em 1952-1953, gravou oito faixas em 78 rotações, com choros, polkas e valsas de Octavio Dutra, Azevedo Marques e dele próprio. Foi o caso de Baião na Coreia, intermeado por bombardeios, rajadas e metralhadoras, em alusão à guerra na Ásia."
Compacto de 78 rpm de  'Baião na Coreia', de Peri Cunha, lançado em 1952 | ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC
Compacto de 78 rpm de 'Baião na Coreia', de Peri Cunha, lançado em 1952 ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC
A obra ainda ecoa. Dentre os fãs está o compositor, instrumentista e professor cearense Jorge Cardoso, formado em bandolim na Itália. "São impressionantes as gravações do Peri, com uma técnica diferente do Jacob do Bandolim, referência máxima", avalia. "É uma pena que tenha tão pouco nas plataformas digitais, até porque foram poucas as suas gravações solo, embora tenha acompanhado vários medalhões em discos e apresentações. Ele inclusive integrou o conjunto do violonista Rogério Guimarães, que aparece em ação durante uma cena do filme Bonequinha de Seda (1936), da companhia Cinédia. Dá para ver no Youtube."
A vida artística se alternava à de servidor do Ministério da Fazenda, desde muito jovem. Promovido a fiscal aduaneiro no porto de Santos (SP) nos anos 1960, aproveitou a deixa para integrar nas horas vagas o Conjunto Lenha de Casa (fundado em 1885), para o qual "importou" de Porto Alegre o sobrinho violonista Jessé Silva e o amigo flautista Plauto Cruz. Mas um deslize - que não vem ao caso - no cargo público levou à sua exoneração, em 1966. Sem sucesso nos recursos às Cortes superiores, em 1970 decidiu voltar para a capital gaúcha que deixara para trás cinco décadas antes.
O trabalho com Jessé e Plauto fez com que rapidamente se enturmasse com a velha guarda local. Instalado em um apartamento na Rua da Praia, passou a bater ponto em pontos boêmios como o bar Adelaide's, dividindo mesa com Lupicínio Rodrigues (que teria conhecido pessoalmente os Azes do Samba, fato pouco provável) e outras figuras. Em novembro de 1978, poucos meses após solar em duas faixas do LP coletivo Nós, Os Chorões, a insuficiência cardíaca inseriu seu nome no obituário musical, aos 76 anos - em seguida, a gravadora porto-alegrense Isaec lançou um compacto duplo de Peri tocando quatro valsas inéditas de sua autoria, sobre caprichado acompanhamento de conjunto regional e arranjos de cordas.
 

* Formado em Jornalismo, Publicidade & Propaganda (ambas pela PUCRS) e Artes Plásticas (Ufrgs), Marcello Campos tem seis livros publicados, incluindo as biografias de Lupicínio Rodrigues, do Conjunto Melódico Norberto Baldauf e do garçom-advogado Dinarte Valentini (Bar do Beto). Há quase duas décadas, dedica-se ao resgate de fatos, lugares e personagens porto-alegrenses. Contato: portonoitealegre@gmail.com.

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