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Publicada em 15 de Maio de 2025 às 18:58

O furacão Graça Craidy: artista visual gaúcha alcança projeção em todo o País

Após longa carreira na  publicidade, Graça Craidy 
se consolida como uma 
das importantes artistas visuais do Estado

Após longa carreira na publicidade, Graça Craidy se consolida como uma das importantes artistas visuais do Estado

KIN VIANA/DIVULGAÇÃO/JC
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Higino Barros
Artista visual gaúcha com maior projeção no País na atualidade, Graça Craidy é considerada um furacão no meio, pelos agitos que costuma provocar. Seu trabalho percorre as principais capitais brasileiras, principalmente a série de pinturas sobre o escritor Guimarães Rosa, com personagens do romance Grande Sertão: Veredas, e sobre a escritora Clarice Lispector, cuja exposição ficou seis meses em Curitiba. Ela tem também outro trabalho de grande repercussão, sobre a questão do feminicídio. Foi pioneira na abordagem artística do tema, muito antes que ele despertasse comoção na população brasileira.
Artista visual gaúcha com maior projeção no País na atualidade, Graça Craidy é considerada um furacão no meio, pelos agitos que costuma provocar. Seu trabalho percorre as principais capitais brasileiras, principalmente a série de pinturas sobre o escritor Guimarães Rosa, com personagens do romance Grande Sertão: Veredas, e sobre a escritora Clarice Lispector, cuja exposição ficou seis meses em Curitiba. Ela tem também outro trabalho de grande repercussão, sobre a questão do feminicídio. Foi pioneira na abordagem artística do tema, muito antes que ele despertasse comoção na população brasileira.
Com trajetória pela Publicidade, formada em Jornalismo, começou sua carreira de artista visual em 2013. De lá para cá, foi abrindo caminho "aos trancos e barrancos", como define. Já expôs em mais de 25 individuais, inclusive na Itália, e em mais de 40 coletivas, inclusive no México.
Graça nasceu em Ijuí, em 1951, 4 de julho. Ela considera o lar da infância e juventude como fundamental para sua trajetória profissional. "Meu ambiente familiar era muito favorável à leitura. Minha casa era cheia de livros, meus pais liam muito". Graça fala dos pais, João e Sybilla, com doçura e saudade.
Morou na cidade até os 19 anos, quando veio para Porto Alegre, fazer vestibular. Escolheu Jornalismo. Cursou a Faculdade de Comunicação da Pucrs, e no quarto ano do curso optou pela especialização em Publicidade, já que tinha sido convidada para trabalhar numa agência.
"Achava o ambiente da publicidade engraçado, glamoroso, eu tinha bastante repertório vocabular. Mas me considero mais autora de texto jornalístico, eu sou uma redatora de texto longo. E, na publicidade, raramente se encontra redatores com estofo para escrever textos longos. Eles são bons de trocadilhos, jogadinhas verbais e tal, mas são raros os que escrevem texto comprido. E eu me dei relativamente bem em publicidade, eu sabia fazer o que eles queriam."
A trajetória pela publicidade somou 30 anos, dos quais 10 trabalhando em agências de Porto Alegre. "Me dei bem, trocava de emprego a cada seis meses, o que deixava meu pai louco. Ele dizia que eu ia estragar minha carteira de trabalho. Mas estas trocas eram provocadas por ofertas melhores de emprego", relembra, divertida.
Mas nem todas suas lembranças desse período são agradáveis, e a Graça dessa época já punha em prática suas convicções de vida. Entre elas, ser honesta consigo mesma. Diz que não suporta esquemas, conchavos, clubinhos e grupos fechados. Dos 10 anos de publicidade em Porto Alegre, ficou sete trabalhando na extinta agência Marca, onde exercia o que define como "certa liderança". Ela conta:
"Fui demitida da Marca por questões políticas. Fui pra casa, vi quanto era meu Fundo de Garantia, e resolvi ir para Nova York, que não conhecia. A Flávia Moraes estava indo para lá também, encontrar uma turma, e fomos juntas. Lá cada uma tomou seu rumo. Me hospedei na Associação Cristã dos Moços, só podia ficar 20 dias hospedada e me esbaldei. Fui a shows de jazz maravilhosos, namorei, visitei museus, todo dia tinha uma história para fazer. E me apresentei, levando meu currículo, a uma agência de publicidade de lá, na Madison Avenue, local mítico da propaganda americana. Foi uma experiência muito enriquecedora".
Voltou para o Brasil, trabalhou em São Paulo por 20 anos, até que, em 2004, retornou de vez para Porto Alegre. "Minha mãe ficou doente, voltei para estar perto dela. Fui fazer mestrado na Famecos, depois doutorado na ESPM, onde consegui emprego e fui dar aula, ficando quase cinco anos nessa função. E acontece que na ESPM sempre tens que dizer sim o tempo todo, e eu sou pessoa de muitos não. Acabei demitida. Aí, na minha inquietação habitual, me lembrei de um curso de arte visual que eu tinha feito em São Paulo, de pintura e desenho, durante um ano e meio, em 1987." E aí surgiu de vez a artista visual, furacão que segue varrendo tudo.
No currículo da artista consta que estudou Desenho e Pintura em São Paulo, com Dalton de Luca; Deborah Paiva, em Porto Alegre; no Atelier Livre Xico Stockinger, com vários mestres; e em workshops internacionais, em Roma (Nicolas Uribe), em Florença ( Accademia d'arte) e em Miami (Congresso Internacional de Pintura Figurativa).
Graça enfatiza: "Sou uma pessoa áspera, suja. Eu falo palavrão, eu ocupo espaço e eu não uso a educação que me deram. Então minha pintura tem que ser parecida comigo. Eu gosto dessa coisa de desaforar; se eu sou uma pessoa desaforada, minha pintura tem que ser assim."
 

A dor do feminicídio

Um dos trabalhos mais impactantes de Graça Craidy, série sobre feminicídio alcançou repercussão nacional

Um dos trabalhos mais impactantes de Graça Craidy, série sobre feminicídio alcançou repercussão nacional

GRAÇA CRAIDY/REPRODUÇÃO/JC
Muito antes da palavra feminicídio fazer parte do cotidiano e realidade das famílias brasileiras, Graça Craidy se apoderou do assunto para denunciar o assassinato de mulheres por homens, que na maior parte das vezes se dá em ambiente familiar.
"A minha primeira exposição foi em 2015, mas comecei a pintar essa série em 2013. Eu era aluna no Ateliê Livre, fui participar de uma exposição coletiva com outros colegas e passei um domingo nessa função. No dia seguinte publiquei uma foto com o título: minha primeira exposição. O Will Cava, artista visual e professor do Ateliê, viu aquilo, me chamou e disse: me traga questões sobre a mulher e a gente vai escolher juntos que caminho seguir", relembra.
"Aí descubro que os maridos estavam matando suas mulheres. Caí do cavalo. Eu, que me achava instruída, bem informada, nunca tinha ouvido falar no assunto. E quem matava as mulheres eram os maridos! Como sou absolutamente emocional, fui tocada de uma forma louca por aquela informação. Fiz uma noiva e vi que isso acontecia no âmbito do casamento. A noiva tinha uma grinalda de espinhos, com um leve traço de sangue. O conceito da pintura era: Cuidado, o casamento pode ser uma armadilha. Por que os caras matam? Porque tu queres sair do casamento. E tu não podes por quê? Porque tu és propriedade dele. Ele é teu dono. Resolvemos ir por esse caminho."
"Eu comecei na época a pintar noivas. Mas não gostava do resultado. Um dia, jogo no (buscador) Google a frase Assassinada pelo marido e aparece centenas de fotos de mulheres na cena do crime, em jornais tabloides. Aí pensei, essa é a minha verdade. Vou contar isso para as pessoas", conta a artista.
"Chamei as fotos para meu desktop, tirei a cor e pintei 45 quadros na aula do professor Cava. Toda semana eu ia lá, com quatro fotinhas, pregava na parede, botava quatro papéis e pintava. Das 14h às 17h eu pintava quatro quadros, quatro mulheres. Chegava em casa, tirava uma foto e botava "Da série, Até que a morte nos separe". O povo me dizia, não aguento ver mais isso Graça, as mulheres mortas, coitadas. Eu pensava, um dia alguém vai me chamar para fazer uma exposição sobre esse tema e já vou ter os quadros prontos." E foi assim que aconteceu. A estreia da série das mulheres assassinadas por homens foi em 2014, no Dia da Mulher no Centro Cultural da Zona Sul, organizada por Márcia Moraes.
 

A ligação com a literatura

Durante a exposição A mulher que roubava almas, em 2018

Durante a exposição A mulher que roubava almas, em 2018

NILTON SANTOLIN/DIVULGAÇÃO/JC
Um dos traços originais na produção de Graça Craidy é a ligação com a literatura, sendo que duas exposições - Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas e Clarice Lispector - desde que foram lançadas, há dois anos, percorrem capitais e cidades brasileiras, atraindo públicos expressivos. Há dois anos, ela fez uma exposição em Caxias do Sul, para uma Feira do Livro, chamada 100ritratti com retratos de 50 escritores.
"Na exposição do Grande Sertão, as pessoas vinham me dizer 'guria, vou sair daqui e comprar o Grande Sertão agora'. Ou, com a exposição da Clarice: 'guria, Clarice salvou minha vida". As pessoas ficavam tão encantadas que queriam comprar os quadros, levar Clarice para casa. Então, como artista e professora, sinto essa obrigação (de abordar a literatura) com minha comunidade e com as comunidades que frequento como artista. Isso, para mim, não tem preço."
 

Afeto pelos livros

Pintor Pablo Picasso é uma das muitas personalidades que já foram estudadas artisticamente por Graça Craidy

Pintor Pablo Picasso é uma das muitas personalidades que já foram estudadas artisticamente por Graça Craidy

GRAÇA CRAIDY/REPRODUÇÃO/JC
A série sobre pinturas de escritores, que lhe traz reconhecimento nacional, nasceu "movida por afetos", como descreve Graça. E explica: "Como sou movida por afetos também, é como se fizesse uma homenagem a eles."
A exposição sobre Clarice Lispector, a partir de 2022, esteve em galerias de Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo, Niterói e Brasília. Só na capital do Paraná a mostra permaneceu seis meses. Agora, deve ir para Bagé. Já a dedicada a Guimarães Rosa será exposta no Rio de Janeiro, no Centro Cultural dos Correios. "Tenho convites para expor em Niterói, em Brasília, mas fica caro, já que as despesas de transportes, de montagem, adesivagem e outras tarefas sou eu que faço. Inclusive você pode pôr o título da matéria assim: Graça Craidy, a mulher banda", diz brincando. Mais séria, completa: "a Daisy Viola, que foi minha professora diz assim: 'no momento em que tu abres esse umbral da criatividade, ela serve para várias aplicações'. Pode ver: o cara que pinta escreve, ou toca música, ou canta, faz escultura, faz escultura e desenho, aplica a criatividade que está ali. A gente descobre que pode. Aí é só uma questão de tu aprenderes."
"Vou tentar levar estas exposições para vários lugares, se houver condições. Um problema é que não passo em nenhum edital de financiamento de atividade cultural, não consigo. Lembro que, quando da exposição do Grande Sertão: Veredas, não conseguia lugar nenhum para expor. Entrei no edital do Força e Luz e fui barrada, não fui selecionada. A razão é que não sou da turma. As pessoas pensam assim. Como eu só estou há 10 anos expondo, tenho pouco tempo no meio, eu tenho que ser punida. Existe um ranço."
Graça chegou a uma conclusão depois desses episódios de recusas do seu trabalho. "Eu venci porque sou persistente. E confesso que, de 2015 para cá, na medida em que fui fazendo sucesso, fui perdendo amigos! Se for comparar as fotos das minhas exposições mais antigas com as atuais, não há ninguém do passado. É outra plateia, outro povo. Fora daqui, as pessoas não querem saber se tenho 10, 20 ou 40 anos como artista visual. Elas vão ver o trabalho e pronto. Aqui, parece que as pessoas até gostam e foram ver a exposição da Clarice e a do Guimarães Rosa porque gostam dos escritores. Não por minha causa, não por meu trabalho. Eu sempre fui muito produtiva, não sei ficar parada, na Publicidade eu era assim. Acho que isso incomoda, elas ficam bem tristes. E tudo que eu quero eu vou atrás, eu que cato. Ninguém vem bater na minha porta."
 

O que vem adiante

Imigração - Partida. Oleo sobre tela de autoria de Graça Craidy

Imigração - Partida. Oleo sobre tela de autoria de Graça Craidy

GRAÇA CRAIDY/REPRODUÇÃO/JC
Sempre envolvida com trabalhos instigadores, na atualidade faz curadoria de exposição sobre Erico Verissimo, a partir do convite da escritora e professora Marô Barbieri. "Ela me convidou para pintar o Erico, fiz um retrato e ela perguntou: não quer fazer uma exposição inteira? Isso foi em março, eu já com viagem e compromissos marcados. Eu respondi, olha, acho que não dá tempo, não consigo fazer sozinha, mas posso chamar meus amigos. Então saí fazendo convites. Seremos 43 artistas visuais num muro gigante, e vamos fazer um quadro coletivo", anima-se.
A exposição será no terceiro andar do prédio da Força e Luz, na Galeria Incidente, ainda sem data definida. "Convidei o professor Sergius Gonzaga para fazer o texto de apresentação. Como é um espaço apertado, será um bom desafio. Fora isso, gostaria de participar aqui dos festejos dos 150 anos da Imigração Italiana. Eu tenho uma série de dez quadros que pintei da minha família, os Alegretti. Peguei uma foto antiga da família e desmembrei ela em dez quadros. Levei para a Itália, expus lá, numa galeria de uma parente que nunca conheci e que também se chama Alegretti. Estou pintando também uma série de um navio de imigrantes chegando no Porto de Santos. E esse aí eu tenho vendido. Se eu quiser expor eles no futuro, vou ter que pedir emprestado. Fui convidada também para participar da exposição que vai marcar a nova Casa Amarela, chamada Folguedos, com artistas do Brasil inteiro, serei a artista convidada. Farei um quadro sobre a Terreira da Tribo, que completou 30 anos agora. Eu queria começar a fazer cabeças, em cerâmica, mexer com barro, mas deu um quiproquó comigo no Atelier Livre e suspendi. Eu poderia ter ido a um lugar mais manso, porque tenho essa vontade de passar para a terceira dimensão. Como sou retratista, acho que minha mão já tem uma certa intimidade com olho, nariz".
Inquieta e aberta ao choque, como sempre. "Só mais uma coisa", diz Graça Craidy, finalizando - "Gostaria de encerrar lembrando. Eu gosto mesmo é de treta!"
 

Graça, pelos outros

Graça Craidy em seu ateliê

Graça Craidy em seu ateliê

HIGINO BARROS/ESPECIAL/JC
"Tudo começou quando eu li uma postagem da Graça no Facebook, em que ela contava que havia viajado a Fort Lauderdale para assistir a um curso de desenho no Hotel Biltmore. Escrevi pra ela, porque tinha boas recordações do Biltmore. Começamos a trocar mensagens, e a partir daí nossa amizade gerou vários frutos. Ela me pediu um texto de apresentação para sua exposição sobre feminicídio no Centro Cultural Erico Verissimo. Eu pedi a ela duas obras para uma exposição no México, chamada Clara Pechansky y sus 33 amigas, que ficou exposta por um ano na Universidad Autónoma de Sinaloa, devido à pandemia, e acabou sendo doada à UAS.
Venho convidando Graça para vários projetos, porque a espontaneidade do seu traço retrata não só pessoas do nosso convívio e não só personagens da nossa literatura. Graça é capaz de ser ácida quando escreve ou quando desenha, mas ao mesmo tempo lírica e quase ingênua, quando usa aquarela para pintar flores e gatos. É esse contraditório que faz de Graça uma artista com características muito próprias."
Clara Pechansky, artista visual e gestora cultural
"Ela atrai atenção pelo trabalho e como pessoa. Intensa, muito espontânea, engraçada e de posições fortes. Pessoas assim às vezes são polêmicas, inclusive. Mas também elas imantam ambientes. Ela parece uma usina de tanto que ela produz, é muito prolífica, isso é notável. As suas séries são muito eloquentes. Como a exposição sobre Guimarães Rosa. As pessoas vão à mostra e se identificam. E ela tem uma característica generosa. Sempre conversa com quem vai ver seu trabalho. Consegue transitar por públicos diversos. Só para dar uma ideia da força do trabalho dela: de todas as atividades do Memorial do Ministério Público, onde sou curador, a exposição sobre feminicídio foi a atividade que teve muito público e que mais repercutiu na imprensa. Isso que teve atividade aqui como shows de cantores bem conhecidos, como Nei Lisboa e Vitor Ramil. Essa é uma constatação: a arte da Graça tem a capacidade de mobilização das pessoas".
Gunter Axt, historiador e gestor cultural
"Ela tem um poder de expressão muito grande, sem abdicar do desenho, da forma. Tem noção de pintura, sem se preocupar com o formalismo. É uma artista moderna, intuitiva, a pincelada dela é muito bonita de se ver. É daquelas artistas que tem o toque certeiro do pincel. Outro grande valor que vejo no trabalho dela é o comprometimento social. É a artista gaúcha que mais usa o pincel como forma de denúncia, é uma arma dela. E os temas são todos de cunho social. Ela é uma exemplo para outros artistas e tem uma identidade própria. Além de ser uma pessoa de grande generosidade, disposta a ajudar quem procure ou precise dela."
Erico Santos, artista visual

Obra 'Manada', de Graça Craidy | GRAÇA CRAIDY/REPRODUÇÃO/JC
Obra 'Manada', de Graça Craidy GRAÇA CRAIDY/REPRODUÇÃO/JC

"Conheci a Graça Craidy em outubro de 2016 no café do MARGS, na mostra Zoravia - a construção da poesia, de Gilberto Perin, composta por nove fotografias lindas em preto e branco, e depois estivemos em um programa na rádio Guaíba sobre a violência contra a mulher e acabamos nos tornando amigas. Graça é uma artista muito ativa, inquieta e dedica-se à pintura, desenho e aquarela usando diferentes materiais para expressar diferentes temáticas e vivências. Considero muito expressivas e aprecio suas obras sobre Clarice Lispector e sobre o Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. O tema do feminicídio também é uma característica sua que aprecio muito."
Zoravia Betiol, artista visual
"Essa liberdade dela como pessoa e a capacidade de observação do entorno se reflete na pincelada dela. É uma pintura completamente expressionista, com cores diversas, assuntos que tocam diretamente a ela. Quando alguma coisa impressiona, ela traz para seu trabalho artístico.
É uma pintura muito forte e ela não se omite de maneira nenhuma, é muito atenta. Impressiona a capacidade dela de captar o entorno e se sensibilizar com isso. Depois que ela fez essa série sobre o assassinato das mulheres, começou a desenhar pessoas idosas que ficam nas janelas de suas casas observando o mundo de fora. Resultou em uma série muito linda sobre velhos solitários, olhando para a realidade da rua. Apesar de ser uma figuração, a expressividade da pintura, da cor, da pincelada, trazia uma mão muito solta."
Daisy Viola, curadora, artista visual e professora do Ateliê Livre

Artista visual Graça Craidy produz de forma incansável e já soma dezenas de exposições individuais e coletivas | KIN VIANA/DIVULGAÇÃO/JC
Artista visual Graça Craidy produz de forma incansável e já soma dezenas de exposições individuais e coletivas KIN VIANA/DIVULGAÇÃO/JC

"Graça Craidy é espécie rara: amiga da vida toda. Nos conhecemos em cursinho pré-vestibular e fomos colegas na Faculdade de Jornalismo (Famecos - Pucrs), nos longínquos anos 1970. Depois nos reencontramos, quando ela voltou para se desafiar a habitar o mundo da expressão artística visual. Passo corajoso que a colocou frente a frente com um novo letramento: o da conjunção de linha, forma e cor ao invés de palavras. Com o mesmo destemor iconoclasta que dá tempero a seus textos literários (crônicas saborosas, que divulga nas redes sociais e com certeza serão reunidas em livro), Graça Craidy começou a observar as fisionomias das pessoas. Começou a desenhar retratos enquanto assistia palestras. Os retratos dos palestrantes se multiplicaram em traços que foram incorporando, sem pudores, um non finito (inacabado) de aprendiz que não quer repetir fórmulas, mas achar seu próprio caminho. Quando encontra, procura outro. É assim que, até hoje, Graça exercita um gradiente de aproximação e afastamento da figura que discute com a agilidade de traço adquirida pelo exercício disciplinado das ferramentas do ofício. Graça quer tudo, menos ser inócua. Não conseguiria. Conheço poucas pessoas com tanta vitalidade e energia de fazer."
Angélica de Moraes, jornalista
 

* Higino Barros é jornalista, editor de Cultura do JÁ Porto Alegre e autor da Antologia poética Gregório de Matos, da coleção Rebeldes e Malditos, da L&PM Editora.

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