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Publicada em 09 de Maio de 2024 às 19:14

Carlos Bastos, o jornalista que viu de dentro sete décadas da política gaúcha

Em sete décadas de jornalismo, Carlos Bastos conversou, entrevistou e conviveu com todos os personagens importantes da política e do jornalismo feitos no Rio Grande do Sul

Em sete décadas de jornalismo, Carlos Bastos conversou, entrevistou e conviveu com todos os personagens importantes da política e do jornalismo feitos no Rio Grande do Sul

MARCELO G. RIBEIRO/ARQUIVO/JC
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Márcio Pinheiro
A referência, extremamente pessoal, nesse caso se faz necessária por uma curiosidade: se não fosse pelo entrevistado, o entrevistador não estaria aqui. Me explico: foi Carlos Bastos o responsável por apresentar minha mãe ao meu pai e, dessa maneira, permitir que - 63 anos depois - eu e ele pudéssemos estar frente a frente para essa conversa.
A referência, extremamente pessoal, nesse caso se faz necessária por uma curiosidade: se não fosse pelo entrevistado, o entrevistador não estaria aqui. Me explico: foi Carlos Bastos o responsável por apresentar minha mãe ao meu pai e, dessa maneira, permitir que - 63 anos depois - eu e ele pudéssemos estar frente a frente para essa conversa.
E que conversa! A poucos dias de completar 90 anos (no próximo dia 25 de julho), Carlos Henrique Esquivel Bastos, o mais completo e longevo repórter político do Rio Grande do Sul, é uma usina de histórias. São centenas de relatos repletos de personagens (muitos deles históricos) quase sempre acompanhados por uma análise sutil e bem-humorada.
A lamentar apenas a decisão dele - ainda em tempo de ser modificada - de não colocar tudo isso em livro. "Sou muito desorganizado, indisciplinado, sem capacidade de ordenar tudo o que vi e sei", justifica-se, ainda que para essa tarefa não faltem voluntários dispostos a reunir essas informações. "Vamos ver", responde ele deixando uma porta aberta.
Gaúcho de Passo Fundo, em Porto Alegre desde os 16 anos, Carlos Bastos é o mais jovem dos quatro filhos do casal formado por Brasileiro Araújo Bastos e pela argentina Rosa Esquivel Bastos. Casado com Ana Maria Goulart Lopes de Almeida - sobrinha do ex-presidente João Goulart - Bastos é pai de quatro filhos e avô de quatro netos.
O gosto pelo jornalismo é de infância. Em Passo Fundo, Bastos aprendeu a ler com os diários da cidade: o Diário da Manhã, de Túlio Fontoura, e O Nacional de Múcio de Castro, pai de Tarso de Castro, e também o vespertino Diário da Tarde, de Danilo Quadros. Já a partir de meados dos anos 1950, em Porto Alegre, onde começaria sua carreira, ele passaria por todas as redações - das que ainda existem às que se perderam pelas constantes modificações na imprensa.
Nessa atividade, ele conversou, entrevistou e conviveu com todos os personagens importantes da política feita no Estado nas últimas sete décadas: de João Goulart a Paulo Brossard, de Leonel Brizola a Nelson Marchezan, de Sinval Guazzelli a Ildo Meneghetti, para ficar apenas entre os que já morreram. Com muitos dos que permanecem vivos (e ativos), ele ainda mantém contatos esporádicos, embora reconheça - como tantos entre seus pares da crônica - a decadência da representação política. "Profissionalmente é difícil compará-lo a outros colegas, por sua longevidade e pela sua proximidade com grandes figuras", destaca José Fogaça, ex-senador e ex-prefeito de Porto Alegre.
Ativo, com ótima agilidade mental, Carlos Bastos apenas se queixa dos limites físicos. Seu corpo não acompanha mais a cabeça, o que o impede de sair e de frequentar ambientes pelos quais sempre circulou, como redações, restaurantes, bares, reuniões políticas e jogos e reuniões do Conselho do seu clube, o Grêmio.
Conversar com Carlos Bastos é também reviver uma parte fundamental do jornalismo, aí incluídos nomes que tiveram alcance nacional, como os barões da imprensa Samuel Wainer, Breno Caldas e Maurício Sirotsky Sobrinho. "Minha turma está indo embora", resigna-se - ainda que lhe reste a companhia de velhos amigos como Flávio Tavares, Ivette Brandalise e Jayme Sirotsky, seu colega desde os bancos escolares em Passo Fundo - ao lembrar de velhos colegas, como Tarso de Castro, Lauro Schirmer, Fausto Wolff, Paulo Sant'Ana, Carlos Fehlberg, João Souza e Ibsen e Laila Pinheiro, o casal que foi apresentado por ele na redação da Última Hora, como está narrado no início do texto.
 

O começo na conturbada década de 1950

Entrevista com Carlos Bastos sobre os 15 anos desde a morte de Leonel Brizola.

Entrevista com Carlos Bastos sobre os 15 anos desde a morte de Leonel Brizola.

MARCELO G. RIBEIRO/JC
A carreira jornalística iniciou em 1955, e Carlos Bastos não podia ter encontrado momento mais propício para essa estreia profissional. O Brasil vivia o ano em que Juscelino seria eleito presidente, e ainda sofria o período de crise política agravada pelo suicídio de Getúlio Vargas, no ano anterior.
Também em 1955 seria criado em Porto Alegre O Clarim, jornal que o então deputado federal Leonel Brizola lançou para dar sustentação à sua candidatura à prefeitura de Porto Alegre. "Eu comecei em O Clarim, levado pelo Hamilton Chaves", lembra Bastos. "Um aspecto relevante na personalidade do Bastos é a lealdade. Ele sempre foi um grande e admirado amigo do meu pai", ressalta o fotógrafo Ricardo Chaves, o Kadão, filho de Hamilton.
Em O Clarim, Bastos fazia a cobertura do setor sindical na coluna intitulada Porta de Fábrica. Como o jornal já nasceu com prazo de validade, o projeto foi abandonado com a realização do pleito daquele ano. "Brizola ganhou a eleição em outubro e fechou o jornal em fevereiro. Ele fez o jornal apenas para ganhar a eleição."
Bastos, então, encontrou abrigo em outro diário, A Hora, só que afastado da redação. "Minha primeira tarefa foi na área de circulação, o que me permitiu viajar bastante e conhecer grande parte do Rio Grande do Sul."
O reencontro com a reportagem se daria em 1957, quando Bastos pôde voltar à redação atendendo a um convite do então chefe de reportagem, José Silveira, e do secretário de redação, Lauro Schirmer. José Silveira, gaúcho de Santana do Livramento e um ano mais velho, é outro que Bastos aponta como sendo um de seus mestres. "Conheci o Silveira quando servimos o Exército e nunca perdemos o contato", diz Bastos a respeito do amigo, que logo depois seguiria para o Rio e faria uma longa e exitosa carreira, em especial como secretário de redação do Jornal do Brasil e depois como chefe da sucursal da Folha de S.Paulo.
Mas poucos anos depois, tão logo a nova década se apresentasse, Carlos Bastos entraria numa nova fase. Ele seria testemunha e ativo participante do maior acontecimento político presenciado pelos repórteres de sua geração.
 

Um militante pela Legalidade

Leonel Brizola durante as atividades da Cadeia da Legalidade

Leonel Brizola durante as atividades da Cadeia da Legalidade

MEMORIAL DA LEGALIDADE/PALÁCIO PIRATINI/REPRODUÇÃO/JC
Em agosto de 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, o Brasil viveu uma de suas mais graves crises institucionais. Com a saída de Jânio era esperado que seu vice, João Goulart (eleito no mesmo pleito, porém por uma outra chapa), assumisse a presidência tão logo retornasse da China, onde liderava uma missão comercial. Porém a questão não era tão simples e, para combater o veto dos militares e fazer valer a legitimidade de Jango, o governo do Rio Grande do Sul liderou a Campanha da Legalidade. "No dia da renúncia, eu era repórter da Última Hora", explica Bastos. "Quando cheguei ao jornal, a redação estava um caos."
Passando dias e noites entre o Palácio Piratini e o jornal, andando armado e dormindo pouquíssimo, Bastos viveu intensamente aqueles dias. "Ali, eu me tornei trabalhista", confessa. "Eu já tinha certo vínculo com o PTB, votava em candidatos identificados com o partido, como o Temperani Pereira, mas a partir daquele momento minha relação com a política se modificou." Bastos ressalta a coragem, a maneira intuitiva e audaciosa de como Brizola se posicionou naquele momento. "O Brizola foi brilhante no modo como organizou a resistência democrática e a defesa da Constituição."
 

Futebol e política se misturam

Carlos Bastos (em foto de 2015) envolveu-se na política partidária (com o PDT) e futebolística (como conselheiro do Grêmio)

Carlos Bastos (em foto de 2015) envolveu-se na política partidária (com o PDT) e futebolística (como conselheiro do Grêmio)

JONATHAN HECKLER/ARQUIVO/JC
O gosto pelas negociações, pelos debates, sempre fez parte do dia a dia de Carlos Bastos. "Sou de um tempo que se acompanhava a Assembleia Legislativa de perto para saber o que pensavam parlamentares como João Goulart, Leonel Brizola, Paulo Brossard, Daniel Krieger". A política era compreendida, discutida e vivida. A extensão dessa paixão e o envolvimento - além do jornalismo - com a política e com o futebol fizeram com que ele tivesse uma proximidade maior com o PDT e com o Grêmio. "Bastos sempre ocupou cargos relevantes nas redações. Sempre teve lado, clube e partido, mas chama atenção o fato de ter exercido com tanta imparcialidade e equilíbrio a sua vida profissional", reconhece José Fogaça.
Para o Grêmio, Bastos foi levado por Fábio Koff. Foi quando ele participou da primeira eleição disputada pelo dirigente. "Fomos derrotados pelo Hélio Dourado, mas no pleito seguinte ganhamos e o Fábio pôde fazer uma grande gestão". Assim, próximo dos acontecimentos, por mais de duas décadas, ele atuou nos bastidores da política clubística. "Nunca assumi um cargo diretivo, mas sempre era muito requisitado pelos companheiros pela minha capacidade de ler e compreender os mapas em épocas de disputas eleitorais".
Já ao PDT, Bastos se filiou tão logo Brizola retornou ao Brasil e começou a estruturar o novo partido. Ele se entusiasmou com a volta do líder político e fez questão de assinar ficha. Nunca deixou de ter uma participação nos processos eleitorais e nas discussões políticas. Hoje, ele dá o seu diagnóstico. "Regionalmente, o PDT está bem", avalia, falando de sua proximidade com o presidente Romildo Bolzan e de como vê o partido internamente. "Mas temos algumas crises em nível nacional causadas pela briga dos irmãos Ciro e Cid Gomes no Ceará."
 

Em todas as redações

Carlos Bastos

Carlos Bastos

MARCO QUINTANA/ARQUIVO/JC
Raro caso de jornalista gaúcho que não quis se mudar para o Rio de Janeiro (como Flávio Tavares, Tarso de Castro, José Silveira, Leo Schlafman ou Fausto Wolff), nem para São Paulo (como Hélio Gama, Elmar Bones ou José Antônio Severo), Carlos Bastos construiu toda sua carreira nas redações de Porto Alegre. "Quando os meus contemporâneos foram, eu não senti vontade. Depois, ficou tarde."
O golpe de 64 o pegou na redação da TV Gaúcha, onde era um dos editores do programa Show de Notícias. Ficaria na emissora - já como chefe de reportagem e como um dos participantes da criação do Jornal Nacional - até o início da década seguinte, quando desceu o Morro Santa Tereza para ser um dos editores da Zero Hora. Na mesma época, Bastos teve ainda uma passagem pela Rádio Gaúcha e, em 1971, deixaria a RBS para coordenar o Departamento de Jornalismo da rádio e da TV Difusora (atualmente Bandeirantes). De 1977 a 1979, atuaria na Rádio Guaíba e, depois, novamente estaria na RBS para novos períodos na TV e no jornal. Dessa última fase, Bastos viveria um outro grande momento profissional ao ser escalado para cobrir a Assembleia Nacional Constituinte, entre 1987 e 1988. "Foi uma grande experiência", reconhece. "O País se reencontrava com a democracia e o Congresso Nacional era o centro das decisões políticas."
De volta ao Estado, Bastos saiu da RBS e se engajou na campanha de Alceu Collares (PDT) ao governo do Rio Grande do Sul, em 1990. Com a vitória de Collares, ele foi chamado para encarar uma função inédita: ser secretário de Comunicação Social. Na sequência, Bastos foi ao Legislativo, como assessor do presidente da Assembleia gaúcha, o deputado João Luiz Vargas, em 1997.
Na mesma linha, outras funções surgiriam em governos de Germano Rigotto (MDB, no Piratini), José Fogaça (MDB) e José Fortunati (PDT), os dois últimos na prefeitura de Porto Alegre. Em paralelo, Bastos passou a assinar, a partir de 1998, uma coluna diária aqui no Jornal do Comércio, fazendo o que sabia de melhor: escrever e analisar o quadro político.
Representante de uma estirpe que chegou às redações sem passar pela universidade, Bastos foi um mestre para tantos outros. "Do alto de seu temperamento conciliador, ele seguiu fazendo o trabalho de descobrir ótimos repórteres, motivando-os com boas pautas, valorizando-os e compartilhando a sua vasta experiência", confirma Juarez Fonseca. "Era um mestre diferente, não do tipo que orientava, mas daqueles que deixam os alunos trabalharem sem pressões desnecessárias", completa Ricardo Chaves.
E aí está um dos poucos arrependimentos de Carlos Bastos. Ele se ressente de uma maior formação acadêmica, de um diploma, não por qualquer vaidade, mas porque assim - segundo ele - poderia ter um didatismo maior.
Bobagem, Bastos! Tuas centenas de discípulos nunca sentiram falta disso.
 

Três histórias de Carlos Bastos

Carlos Bastos, soprando as velinhas dos seus 88 anos, em 2022

Carlos Bastos, soprando as velinhas dos seus 88 anos, em 2022

Thamara Costa Pereira/divulgação/jc
1. Atrás da cortina
"Eu era próximo do deputado Guilherme do Valle. Era um parlamentar de Caxias do Sul, com quem eu tinha um ótimo relacionamento. Muitas vezes saíamos para beber depois do encerramento das sessões na Assembleia. Em uma dessas conversas, ele me contou algo impressionante. Foi em 1959, logo depois de o Wilson Vargas ter perdido a eleição de prefeito para o Loureiro da Silva. Por causa do resultado e da maneira como o Brizola, então governador, conduziu a campanha, a bancada de deputados estaduais ficou indignada e pediu uma reunião com Brizola. Era uma bancada imensa: 23 deputados num total de 55. Houve discussões acirradas, cobranças e o Brizola precisou se explicar. O Guilherme do Valle me contou tudo e eu fiz a reportagem para A Hora com a manchete: "Bancada quer reunião da franqueza". O Sereno Chaise, que também era deputado e meu amigo, no dia seguinte, me disse: "Entraste numa fria. Quem te contou isso, inventou. Não aconteceu nada". Eu respondi: "Sereno, a reunião não foi na sala da presidência?". Ele me confirmou. "Sabe aquelas cortinas enormes que têm lá?" Ele disse: "Sei". Aí eu respondi: "Eu estava atrás de uma daquelas cortinas". Aí ele rebateu, rindo: "Como tu é mau caráter" (risos). E eu agradeci: "Obrigado, agora você me confirmou a notícia" (risos)."
2. Guru das pesquisas
"Em 1982 seriam realizadas as primeiras eleições para governador em quase 20 anos. Na época, eu era diretor de jornalismo na TV Gaúcha e fui ao Rio de Janeiro para participar de uma reunião na Globo. Cada chefia deveria dar uma prévia de como estava o quadro do seu estado. Pedi para a Alice-Maria, que comandava a reunião, para dar a minha opinião sobre o Rio Grande do Sul e também um palpite sobre o Rio. Era março e o Brizola estava com 4%. "Sandra Cavalcanti está com 50%. Não sei se o Brizola ganha, mas vai disputar no Fotochart", falei, usando uma linguagem de turfe". Brizola ganhou e Alice-Maria me disse: "Tu és o meu guru. Agora, vou te ligar em todas as eleições".
3. Duas misses
"Quando estava na TV Difusora, contratei a Ana Amélia (então repórter de economia, futura senadora pelo PP-RS) junto com a Ieda Maria Vargas (Miss Universo em 1963). Ana Amélia descobriu que ganhava menos e veio reclamar comigo. Eu me expliquei: 'A Ieda foi Miss Universo e tu, Miss Lagoa Vermelha'".
 

Carlos Bastos fala sobre

Samuel Wainer

Samuel Wainer

ACERVO BRUNO WAINER/REPRODUÇÃO/JC
Samuel Wainer
"Eu o considero uma figura incrível e fundamental para o jornalismo brasileiro. Um grande inovador, que sabia não apenas escrever como também administrar. Tinha pleno controle das redações".
Breno Caldas
"Era um dos velhos barões da imprensa. Com ele tive uma convivência ótima, em alto nível. Ele acompanhava toda a produção jornalística, dava liberdade aos profissionais e fazia muitas cobranças. Estou podendo recordar muito do estilo dele agora que estou lendo a biografia escrita pelo jornalista Tibério Vargas Ramos".
Maurício Sirotsky Sobrinho
"Conhecia ele desde os tempos de Passo Fundo. Uma figura fundamental na minha vida profissional. Aprendi muito com ele, em especial quando tive cargos de chefia na TV Gaúcha e na Zero Hora". 

Eles falam de Carlos Bastos

José Fogaça fala sobre a convivência com Carlos Bastos

José Fogaça fala sobre a convivência com Carlos Bastos

ANDRESSA PUFAL/ARQUIVO/JC
José Fogaça, ex-senador e ex-prefeito de Porto Alegre

"Carlos Bastos é uma das mais verdadeiras e raras testemunhas constantes e presenciais da história política do Rio Grande do Sul e do Brasil. O Bastinhos, como alguns de seus amigos gostam de chamar, é um poço de grandes histórias. Um poço de tranquilidade. Um poço de sabedoria jornalística e política. Sua extraordinária biografia profissional demandaria muitos livros para ser escrita por inteiro".

Ricardo Chaves, ex-editor de Fotografia de Zero Hora

"Eu já conhecia o Bastos há alguns anos e fui reencontrá-lo no início da década de 1970, quando um grupo comandado pelo Lauro Schirmer assumiu a Zero Hora. Não lembro exatamente a função dele, mas recordo com nitidez que ele tinha sensibilidade para definir quem faria o quê. Graças a ele, eu e o Luiz Cláudio Cunha nos tornamos uma dupla de dois focas animados e fazíamos muitas pautas e viagens pelo interior juntos. Trabalhamos na ZH, na sucursal da Abril, na Isto É e em O Estado de S. Paulo. Nunca agradecemos ao Bastos esse "casamento", que já dura mais do que o meu com Loraine".

Jornalista Juarez Fonseca, amigo e colega de Carlos Bastos nas redações do Rio Grande do Sul

Jornalista Juarez Fonseca, amigo e colega de Carlos Bastos nas redações do Rio Grande do Sul

ANDRESSA PUFAL/ARQUIVO/JC
Juarez Fonseca, jornalista e escritor

"Em 1971, eu era secretário de Redação de ZH e o Bastos, chefe de reportagem. Certo dia, a empresa instituiu o uso obrigatório de crachá. Houve uma revolta: ora onde já se viu jornalistas usando crachá? Na época, só bancários e funcionários públicos usavam. O levante teve como resposta da direção um aviso no mural: quem não usar receberá uma advertência; em seguida, uma suspensão; se insistir na desobediência, será demitido. Bastos, então, falou com um por um dos que se rebelaram argumentando que aquilo era bobagem. Por que não usar um crachazinho? Iriam perder o emprego e iriam também prejudicá-lo. Ainda assim, uns seis foram demitidos. Sabia que a "revolta" era apenas fruto de rebeldia juvenil inconsequente. Eu era um dos "rebeldes sem causa". Perdi o emprego em 31 de agosto de 1971, nove meses depois de contratado. Mas tive sorte: em julho do ano seguinte estava de volta. Bastos também sairia pouco mais tarde para outros desafios que o engrandeceram ainda mais".

* Márcio Pinheiro é jornalista e escreveu os livros Esse Tal de Borghettinho e Rato de Redação - Sig e a História do Pasquim.

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