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Publicada em 07 de Março de 2024 às 19:04

Cantora Paola Kirst abre caminhos na nova música gaúcha

Cantora, compositora e performer prepara lançamento de novo trabalho e se consolida como uma das vozes únicas da nova música feita no Rio Grande do Sul

Cantora, compositora e performer prepara lançamento de novo trabalho e se consolida como uma das vozes únicas da nova música feita no Rio Grande do Sul

FERNANDA FELTES/JC
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Priscila Pasko
O clima está quente na rua, quase insuportável, assim como foram muitos dias no verão porto-alegrense. Estou refugiada no ar-condicionado de um café na Cidade Baixa. À minha frente, a cantora, compositora e performer Paola Kirst conta um pouco de sua trajetória, projetos e compartilha reflexões sobre a arte e o cenário artístico. Formada em Artes Visuais (2014) pela Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Paola, além da música e da composição, transitou pela dança-teatro e ainda executa uma variedade de instrumentos. Ela é muitas e por isso, talvez, seja única na perspectiva de artistas e amigos que falam a respeito dela neste perfil.
O clima está quente na rua, quase insuportável, assim como foram muitos dias no verão porto-alegrense. Estou refugiada no ar-condicionado de um café na Cidade Baixa. À minha frente, a cantora, compositora e performer Paola Kirst conta um pouco de sua trajetória, projetos e compartilha reflexões sobre a arte e o cenário artístico. Formada em Artes Visuais (2014) pela Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Paola, além da música e da composição, transitou pela dança-teatro e ainda executa uma variedade de instrumentos. Ela é muitas e por isso, talvez, seja única na perspectiva de artistas e amigos que falam a respeito dela neste perfil.
Paola nota que costumam afastar a sua faceta cantora da sua formação em Artes Visuais. "Na verdade, essas áreas estão muito interligadas. Eu apenas sou essa cantora e compositora porque tive a experiência e a possibilidade de entrar em um universo que, para mim, não era muito acessível, como as artes visuais."
Radicada há aproximadamente cinco anos em Porto Alegre, pode-se dizer que cantora constituiu o seu contorno artístico no Extremo Sul do Estado, em Rio Grande, onde nasceu. "Eu era uma criança muito espoleta. Estava sempre envolvida em atividades relacionadas ao corpo. Tudo o que aparecia na escola eu fazia". De fato, uma Paola moleca jogou futebol, tocou bateria, fez ginástica olímpica, praticou taekwondo e integrou uma banda marcial.
Falamos ainda do primeiro álbum solo de Paola, Costuras que me bordam marcas na pele (produzido no estúdio Pedra Redonda e lançado pelo selo Escápula Records, 2018), agraciado com o Prêmio Açorianos de Música (2019), na categoria Revelação do ano, junto ao grupo instrumental Kiai. Ali, predominam as sonoridades da MPB e do jazz. Entre as faixas, compostas por Paola e parcerias, estão Crendice (letra de Paola Kirst e música de Paola e Dionísio Souza) - ao que tudo indica, uma das mais queridas do público em seus shows - Pão com mel (letra de Thielle Pinho e música de Paola Kirst e Dionísio Souza) e Charlie 04 (letra e música de Juliano Guerra) - que conta com uma interpretação inflamada de Paola no palco.
A linguagem experimental adotada por Paola é uma forte característica do seu trabalho, e não foi diferente em Costuras. No álbum, faixas com duração maior de tempo, como Abandonada (letra de Paola Kirst e música de Neuro Júnior), com 5’38; a leitura de uma poesia escrita por Paola que conta apenas com a interferência sutil do som ambiente (Solitude), a letra que brinca com a passagem dos minutos (Pão com mel) e assim por diante. Isso, sem mencionar as experimentações com a voz e os solos dos instrumentos dos integrantes do grupo instrumental Kiai: Dionísio Souza (baixo), Lucas Fê (bateria) Marcelo Vaz (teclado/piano).
Paola e o Kiai já se mobilizam para o próximo álbum, Submersos. Pessoa bonita (letra de Carlos Medeiros e música de Paola Kirst), o primeiro single do novo projeto, será lançado no dia 15 de março. A faixa foi gravada com os músicos Dionísio Souza e Pedro Borguetti. Com este álbum, a artista comenta que espera comunicar mais. "Não quero que as minhas músicas fiquem nesse lugar do quase sagrado do jazz e que, às vezes, não é acessado." Isso não quer dizer que, até então, nada tenha sido dito por meio do seu trabalho. Afinal, naquela ocasião, essa fora uma das inúmeras maneiras possíveis de se comunicar. Mas ela deseja que a palavra seja mais direta a partir de agora. "Quero que a música fique na cabeça, sabe? Mais refrões". Paola segue experimentando.
 

Outras pegadas célebres

Paola Kirst:

Paola Kirst: "quanto mais eu me apresento e canto, mais eu tenho certeza de que é isso que eu preciso fazer"

FERNANDA FELTES/JC
À meia-noite do dia 19 de fevereiro, a referida mudança apontada por Paola chegava às plataformas de música. Era o EP Silêncio dos célebres, produção integralmente assinada pelo coletivo Pedra Redonda, o mais recente trabalho solo da cantora e que abre caminho para Submersos. São duas faixas, uma delas, que recebe o título homônimo do EP, é musicada por Paola, a partir da poesia de Vinícius Angeli. Fada cega, a outra faixa, tem origem no poema de Julia Mistro e com música de Paola, Pedro Borghetti e Venancio da Luz.
A sonoridade desta última, a pegada nitidamente rock de Fada cega, fisga de primeira e chama a atenção de quem já acompanha o trabalho da cantora, visto que em Costuras a vertente MPB e jazzística são mais marcantes. A faixa Silêncio dos célebres também deságua em outros afluentes, ainda que carregue em si um pouco mais das águas de Costuras.
 
O técnico de som e integrante do coletivo Pedra Redonda, Wagner Lagemann, diz que existe um “amadurecimento enorme” de todas as pessoas envolvidas entre o primeiro álbum de Paola, no qual Lagemann atuou como produtor musical, e o EP recém-lançado. “A Paola desenvolveu muito a relação dela não só com a voz, mas com os instrumentos também, o que dá uma liberdade ainda maior para as composições”. Ele acrescenta que os integrantes da banda Kiai – uma antiga e afetuosa parceria musical de Paola – da mesma forma abriram novos caminhos através das experimentações e dos estudos que fazem.
 
Para a compositora, cantora e instrumentista Thays Prado, as melodias de Paola são muito diferentes umas das outras. “Percebo nela um esforço consciente de fazer sempre algo que ainda não fez, ao mesmo tempo em que deixa os "desenhos" sempre muito orgânicos”. Thays observa a diferença entre as duas faixas do EP, não apenas uma da outra, como também de tudo o que Paola vem fazendo. “A Fada cega pelo rock'n'roll, e a Silêncio dos célebres por ter uma vibe mais etérea, usando uma escala que me parece quase arábica”.

O eu e o nós: gangorra de criação

Banda Inquilinas faz trabalho autoral com arranjos criados coletivamente

Banda Inquilinas faz trabalho autoral com arranjos criados coletivamente

LUIZA PADILHA/DIVULGAÇÃO/JC
Enquanto Paola Kirst discorre sobre a sua trajetória artística, observo que o "eu" em sua fala está quase sempre vinculado ao "nós". Um se sustenta no outro sem que nenhum dos pronomes perca a sua singularidade. "Nós (…), "a gente (…)", "somos (…)". Isso ocorre quando, por exemplo, a artista se refere ao grupo instrumental Kiai, composto por Dionísio Souza (baixo), Lucas Fê (bateria) e Marcelo Vaz (teclado/piano), todos de Rio Grande, assim como Paola. A banda acompanha a artista na maioria dos seus projetos e espetáculos, ainda que não sejam os únicos. "Eles brincam que eu também sou Kiai, e a Kiai também é a Paola".
Dionísio conta que conheceu Paola em sua faceta dreadmaker. A partir dessa aproximação, que completa quase dez anos, foram se revelando afinidades musicais, que resultaram em parcerias mantidas até hoje. "Ela é uma pessoa muito agregadora, uma produtora, e tem esse talento de fazer as reuniões, as junções. Tem um olhar muito sensível, a escuta também. Acho que é a partir daí que essa amizade com a Kiai vai se fortalecendo também."
O compositor, pintor e poeta Carlos Medeiros, antigo amigo e parceiro musical da cantora, destaca que a voz de Paola é a peça fundamental e está em sintonia absoluta com os instrumentos da Kiai. "Tem a seu dispor o contrabaixo inconfundível, ora sóbrio, ora nervoso e rascante de Dionísio Souza, a bateria arrasadora e libertadora de Lucas Fê e a maestria pianística do genial Marcelo Vaz. Juntos formam um grupo de incrível afinidade e de indiscutível competência musical."
Outras parcerias se agregam à trajetória de Paola, como a banda Inquilinas, da qual, além da riograndina, fazem parte a cantora, compositora e produtora musical Thays Prado, a compositora e pianista Mel Souza e a produtora musical, compositora e performer Viridiana. Formado em 2022, o quarteto apresenta músicas autorais, a partir de arranjos criados coletivamente. "Falamos muito sobre os nossos processos e acompanhamos os dos outros. E com as gurias existe isso de a gente trocar ideia, mostrar e criar coisas juntas", comenta Paola.
Thays, que se considera uma pessoa tímida, diz que sente-se inspirada ao ver como Paola parece à vontade para experimentar ao vivo, ao mesmo tempo que também é meticulosa no que faz. Uma mistura bem trabalhada de controle e improviso. "Ela tem uma confiança, uma presença e um domínio da própria arte. Antes de tocar com a Paola, eu sempre tive a sensação de que ela estava se divertindo no palco. Hoje eu sei, e amo que, sempre antes de a gente subir, ela convida: 'vamos nos divertir?'"
 

Aglutinações artísticas e suas pulsações

Junto com o conjunto Kiai, Paola explora sonoridades que navegam entre a MPB e a liberdade jazzística

Junto com o conjunto Kiai, Paola explora sonoridades que navegam entre a MPB e a liberdade jazzística

VITORIA PROENÇA/DIVULGAÇÃO/JC
A profusão e a especificidade de cada projeto do qual Paola Kirst faz parte exigem uma investigação mais atenta. Enumerar suas criações, vírgula após vírgula, como se um simples desdobramento um do outro fosse, seria leviano. Por vezes, são movimentos de aglutinação em que os desejos e invenções artísticas dos envolvidos se fundem e criam, para logo, ou não tão logo, se desligarem. Sem traumas. Segue a pulsação do que foi como um eco.
Um exemplo foi a criação, em 2021, no contexto da pandemia, de Isso não é um grupo, que tinha entre os integrantes Paola, claro, Pedro Borguetti, Emily Borguetti e Rafael Costa. O projeto surgiu durante a pandemia como um exercício de experimentação de diferentes linguagens artísticas, a partir do compartilhamento de músicas autorais, dança e audiovisual, que acabou indo parar nos palcos em 2022. "Compor com a Paola é um processo muito solto, bem livre. Vai muito pela investigação, pela descoberta de coisas novas. Paola é uma grande musicista, compõe sozinha e também gosta de criar com outras pessoas e processos", compartilha Pedro. Para ele, a experiência de Paola na dança e na performance criou uma conexão do grupo com as várias facetas da artista.
Regressando dez anos nesta linha do tempo que costura a trajetória de Paola, na cidade de Rio Grande, outra banda que faria parte da história da artista estava sendo criada, a Goiaba de Casa. Entre 2014 e 2019, o grupo apresentou músicas autorais a partir de uma sonoridade afro-latina. Integravam a banda Paola, Dionísio Souza (baixo), Vinícius Puccineli (violão e percussão), Bernardo Grohs (percussão) e Cleiton Oliveira (violão). "Paola sempre foi parte do grupo e abraçava a nossa proposta, que era muito coletiva e muito sem grana", conta Cleiton.
"Nós produzíamos os próprios lugares para tocar em casas de amigos, nos apresentávamos em horários alternativos para que o público que tinha filhos pudesse ir. E, quando tocávamos em casas noturnas, levávamos nosso repertório, que certamente não era o mais usual." Em 2019, então, antes de encerrar as atividades, o grupo lançou o álbum Goiaba de casa (Organic Recording Studio).
Cleiton lembra que, juntos, os integrantes embarcaram na ideia de guardar a maior parte dos cachês para gravar um disco. Neste processo, experimentavam instrumentos diferentes, construíam ideias e arranjos e tentavam sair do que era óbvio. Rio Grande, destaca Cleiton, não é compreendida pela imagem que o senso comum faz do gaúcho. "Nossa cidade se banha em muitas águas e respira africanidade. Os bairros e vilas onde morávamos anoitecem ao som dos tambores".
 

Mergulho na estranheza

Paola e Lorenzo Flach improvisavam com voz e guitarra no show Vertigem

Paola e Lorenzo Flach improvisavam com voz e guitarra no show Vertigem

VITORIA PROENÇA/DIVULGAÇÃO/JC
O tal "processo" - em voga nas falas motivacionais que circulam pela internet ("confie no processo"), e que, no final das contas, acabam seguindo a cartilha de um sistema que visa, em síntese, o lucro - tem o potencial de adotar um tom mais complexo no labor artístico. No caso de perfis como o de Paola, o processo se revela além do discurso: ele não apenas é vivenciado, como também revirado, evidenciando, assim, uma marca experimental em seu trabalho.
Essa não é a linguagem com a qual ela pretende lidar o tempo inteiro, em razão da recepção. De qualquer forma, a cantora diz que vai encontrando meios de fazer aquilo que tem vontade de fazer. "No meu caso, é esse lugar de misturar tudo, experimentar a voz e os seus lugares mais esquisitos, o corpo nos seus lugares mais estranhos também. E ir perdendo esses medos de fazer essas coisas que soam incomuns." Para isso, é preciso saber lidar com a vulnerabilidade. "O experimento deu errado? Vamos ver se agora dá certo. Mas acho que esse ponto do risco que é o mais excitante no rolê, se dar conta de que a gente não tem controle de nada."
Um fator, talvez, que fomente este impulso é Paola não ter abandonado suas brincadeiras de criança. Ela conta que a música entrou na sua vida muito antes de qualquer instrumento. "Lembro de mim cantando sozinha, brincando de compor, experimentando melodias. Sempre gostei muito de prestar atenção em melodias", recorda.
Pode-se dizer que essas explorações acabam refletindo em projetos como o espetáculo Vertigem (direção de Thais Andrade), que estreou em 2021, com Paola Kirst e o músico Lorenzo Flach. Na ocasião, os dois improvisavam com a voz e a guitarra, incluíam processamento de efeitos, piano e bombo leguero. "O Vertigem nasceu desse lugar, do Lorenzo e eu, assim como duas crianças, poder se experimentar tocando e brincando." A proposta era abordar a estranheza como potência artística. Isso, a partir da performance, do vídeo e áudio e que, no palco, manifestava um caráter cênico.
 

Agregar e potencializar talentos

Projeto 'Pigarra' mostra Paola Kirst investigando novas formas de cantar e explorar as possibilidades do palco

Projeto 'Pigarra' mostra Paola Kirst investigando novas formas de cantar e explorar as possibilidades do palco

arunamcruz/divulgação/jc
Muitos dos projetos desenvolvidos por Paola Kirst, ou dos quais ela participa, têm o apoio e estrutura do coletivo artístico-cultural Pedra Redonda, criado em 2018. O grupo conta com musicistas, educadores, artistas visuais, atrizes, escritores, bailarinos, fotógrafos, filmmakers, produtoras e produtores musicais. O técnico de som Wagner Lagemann compartilha que trabalhar ao lado de Paola “era um sonho”, que se transformou em realidade. “É sensacional, um aprendizado constante. Ela é muito agregadora, assim como o Kiai. Juntando ambos fica essa explosão toda”.
O trabalho do Pedra Redonda é voltado à produção de álbuns, espetáculos e materiais audiovisuais de artistas da música. É neste contexto em que Paola Kirst também está inserida. “O coletivo está muito nesse lugar de potencializar o que a pessoa tem de legal. Então a gente está sempre se incentivando”, explica Paola. Os profissionais estão distribuídos entre Porto Alegre, Rio Grande e São Paulo.
 

Sob as pálpebras, a certeza do palco

Paola e Dionísio Souza, durante a abertura para show de Jorge Drexler (2023)

Paola e Dionísio Souza, durante a abertura para show de Jorge Drexler (2023)

VITORIA PROENÇA/DIVULGAÇÃO/JC
Ao escutar Paola, é possível entender que a matéria é caminho e veículo nas diversas linguagens em que se expressa. "Quando eu canto, eu sinto no meu corpo", diz. O corpo, qualquer um, é exigente, e pede vazão. E a artista abriu veredas em diferentes momentos da sua vida. Em um deles, no período de 2010, fez parte do grupo Terpsícore, um projeto de extensão da Furg de dança contemporânea, coordenado por Giovanna Consorte ("foi muito incrível"). Em outra fase, entre 2011 e 2014, a artista passou pela Cia. Gênesis Dança-Teatro. O grupo criado em 2002 e dirigido pelo bailarino Alex Almeida também era vinculado a Furg. A Cia. encerrou as atividades em 2020, no início da pandemia.
A respeito de Paola, Alex conta que chegou no grupo "pronta". "Quando ela entrou na Cia trouxe consigo uma bagagem de todas as experiências pregressas que ela teve com as linguagens da música, do teatro, da dança e das artes visuais", lembra. Alex explica que uma das características da Cia era a abertura para pessoas com ou sem experiência prévia em dança. Procuravam, assim, acolher todas as pessoas que tivessem algum interesse na área e a vontade de desenvolver um trabalho artístico coletivo. Neste sentido, comenta Alex, as contribuições da artista foram significativas. "Com a sua experiência nas diferentes linguagens, a Paola colaborava ativamente nos diferentes elementos dos processos de criação. Ela sempre teve o corpo bastante disponível para a expressividade e a performance cênica".
Pigarra (2023), espetáculo performático encenado por Paola, com direção de Thais Andrade, é resultado dessas experiências. Descrito como "uma tentativa de desengasgo", a proposta é bastante intimista. Por meio dela, Paola compartilha memórias pessoais, interage com o público, toca, canta. É uma espécie de passeio, quase onírico, de seus muitos inícios, descobertas, divagações, afetos e silêncios, em parte, desfeitos no palco.
Ainda no café, na Cidade Baixa, Paola compartilha comigo a recordação de uma imagem recorrente que lhe visitava na pré-adolescência, quase um sonho. Diz que, deitada na cama, antes de dormir, fechava os olhos e se imaginava em um palco. Dançava, cantava. Para ela, um desejo, quase uma projeção. "Então eu acho que é esse o lugar que eu preciso estar, sabe? E aí quanto mais eu me apresento e canto, mais eu tenho certeza de que é isso que eu preciso fazer".
É o que diz também a letra de Primeiro mergulho (letra de Paola Kirst e música de Paola e Marcelo Vaz), que integra o álbum Costuras que me bordam marcas na pele (2018), e que pode ser lida como a certidão de quem sempre teve certeza de que seria quem é: "canto para mim/ canto para amar (…) canto porque peço, porque danço, por que será? (…) quero encanto e falha/ eu me vi cantando e só assim pude ser inteira."
 

* Priscila Ferraz Pasko (1983 – Porto Alegre) é escritora, jornalista freelancer na área cultural e graduanda no Bacharelado em História da Arte (UFRGS). É autora do livro de contos “Como se mata uma ilha” (Zouk, 2019) – Prêmio Açorianos 2020 na categoria conto.

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