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Publicada em 31 de Janeiro de 2024 às 19:10

Referência no jornalismo, Elmar Bones une reportagem e história em livros

Um dos mais importantes jornalistas do Estado, Elmar Bones relembra histórias de seis décadas de profissão

Um dos mais importantes jornalistas do Estado, Elmar Bones relembra histórias de seis décadas de profissão

RAMIRO SANCHEZ/DIVULGAÇÃO/JC
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Márcio Pinheiro
"A vida é um balanço que não fecha, quando fecha não é mais vida. A vantagem é que, aos 80, você já aprendeu a conviver com o mistério. Em breve saberei quem sou", diz o jornalista Elmar Bones - se amparando em uma citação do escritor argentino Jorge Luís Borges, então aos 80 anos, já velho, doente e cego - para definir a inédita experiência que o acompanha nos últimos 10 dias: completar oito décadas de vida. Elmar continua: "O velho Borges às vezes acreditava que tinha uma outra vida pela frente", antes de concluir: "Me sinto mais ou menos assim, com a vantagem de que não estou cego nem doente".
"A vida é um balanço que não fecha, quando fecha não é mais vida. A vantagem é que, aos 80, você já aprendeu a conviver com o mistério. Em breve saberei quem sou", diz o jornalista Elmar Bones - se amparando em uma citação do escritor argentino Jorge Luís Borges, então aos 80 anos, já velho, doente e cego - para definir a inédita experiência que o acompanha nos últimos 10 dias: completar oito décadas de vida. Elmar continua: "O velho Borges às vezes acreditava que tinha uma outra vida pela frente", antes de concluir: "Me sinto mais ou menos assim, com a vantagem de que não estou cego nem doente".
Gaúcho de Cacequi - embora pelas origens profissionais seja constantemente confundido com quem nasceu em Santana do Livramento - Elmar completa 80 anos com mais de seis décadas de carreira, uma trajetória que o coloca entre os jornalistas mais destacados de sua geração. Elmar é ainda o Bicudo, apelido que trouxe da infância (dado por um tio que via a dificuldade que o menino tinha para aprender a assobiar) e que foi espalhado pelas redações de Porto Alegre pelos amigos e conterrâneos Kenny Braga e Danilo Ucha.
A opção pelo jornalismo nem chegou a ser uma escolha: nasceu da necessidade. "Fui levado ao jornalismo pelas circunstâncias. Minha família era pobre, cedo tive que trabalhar." Aos 17 anos, resolveu mudar. "Vi um anúncio no jornal A Platéia: 'Vaga para escriturário'". Elmar achou que se encaixava, já que era bom em datilografia - "fui aluno da escola da dona Izolina, amiga de minha mãe" - e numa Underwood preta, com teclas redondas, escreveu uma carta ao jornal manifestando seu desejo de "pertencer aos quadros daquela prestigiosa empresa".
Deu certo. O jovem Elmar foi contratado como atendente do balcão de anúncios sociais, sendo responsável por catalogar convites e registros de aniversários, casamentos, falecimentos, bodas e tudo mais. Anos mais tarde, a maneira inusitada de conseguir um emprego seria repetida, agora com Elmar no papel de empregador. "Em 1974, eu caminhava pela Rua Comendador Coruja quando passei por uma casa de dois andares e alguém da janela e gritou: 'Magro, quer ganhar uns pilas?'". 'Quero', respondeu o andarilho, o jornalista Carlos Wagner, um dos mais premiados repórteres gaúchos. "Entrei e me pediram para datilografar notas promissórias, as cotas dos associados. Eu não sabia, mas estava assistindo ao parto da Coojornal", acrescenta Wagner, recordando uma parte importante da carreira dele e de Elmar que também será lembrada nessa reportagem.
Dos registros sociais, Elmar passou para revisão, exercendo agora uma tarefa mais nobre dentro da escala jornalística, porém insalubre: trabalhava à noite no meio dos gráficos. Ainda assim, ele pegou gosto pela atividade e decidiu se mudar para Porto Alegre, onde pretendia cursar uma faculdade. "Quando fiz vestibular, me inscrevi em Jornalismo e Arquitetura. Na primeira prova de desenho, me dei conta que não tinha nem os instrumentos para traçar 'uma perspectiva a partir do ponto de fuga', como pedia a questão", reconhece. "Vi que o que eu queria mesmo era o Jornalismo". Outros dois amigos, novamente Ucha e Kenny, ex-colegas da Platéia, também já estavam inscritos no jornalismo.
"O Elmar faz parte de uma geração de jornalistas de Santana do Livramento que teve participação importante na imprensa", reforça o também santanense Antonio Britto, ex-governador do Rio Grande do Sul e colega de Elmar nos tempos de Caldas Jr.
Na faculdade, Elmar se sentiu melhor por conviver com os colegas de outras turmas, como Filosofia, Letras, História e Sociologia. Ainda era aluno quando foi aceito como estagiário na Folha da Tarde, em 1967, sendo logo contratado como repórter. Ganhava 60 cruzeiros, um salário baixo. Porém, o prestígio compensava: a Folha da Tarde era o vespertino da cidade, o segundo maior jornal do Rio Grande do Sul, só atrás do Correio do Povo, do mesmo grupo. Como o salário não era dos melhores, Elmar precisava ter um duplo emprego, no caso assessor de imprensa do IAB, onde fazia um boletim. Mas logo tudo mudaria: São Paulo entraria no horizonte.
 

Um curso para uma revista

Elmar Bones em 1961, na máquina de escrever do jornal A Platéia

Elmar Bones em 1961, na máquina de escrever do jornal A Platéia

JOÃO DAVI/REPRODUÇÃO/JC
No final dos anos 1960, São Paulo vivia um momento de efervescência jornalística e publicitária. A imprensa brasileira começava a ter seu eixo alterado. Se até então o Rio de Janeiro dominava o mercado, com suas agências, suas emissoras de televisão e seus jornais, em especial o Jornal do Brasil, a partir de então a relevância na comunicação se mudaria para São Paulo. Novas revistas, como a Quatro Rodas (especializada em carros e em turismo), e novos jornais começavam a surgir. O primeiro foi o Jornal da Tarde. Ligado ao grupo que publicava O Estado de S. Paulo, o vespertino nasceria em 1966 com a proposta de se alinhar ao emergente jornalismo-literário que se fazia nos Estados Unidos. À frente, dois brilhantes jornalistas: Murilo Felisberto e Mino Carta.
Dois anos depois da criação do JT, Mino Carta lideraria um novo projeto, a revista Veja. Criada em 1968, a Veja tinha como modelo as semanais americanas (Time e Newsweek, principalmente). Nascida de um concurso que deu origem a um curso que prepararia novos profissionais para a redação, a Veja acolheu num primeiro momento 10 jornalistas gaúchos. "Éramos 10, a maior bancada entre mais de 100 jornalistas selecionados de todo o País." Além de Elmar, estavam lá José Antônio Severo, de Caçapava do Sul; Hélio Gama, de Cachoeira do Sul; JA Dias Lopes, de Dom Pedrito; Laerth Pedrosa, de Pelotas; Caio Fernando Abreu, de Santiago do Boqueirão; Enio Squeff, de Nova Prata; Gilberto Pauletti, de Cruz Alta; e Pedro Maia Soares e Ester Guendelsmann, de Porto Alegre.
Elmar quase que perdeu essa viagem. A Editora Abril havia lançado o edital e ele perdera o prazo de inscrição. Num primeiro momento, não lamentou, mas logo depois, em conversa com o colega Pauletti, no Bar Corujão, na avenida Salgado Filho, a ficha caiu. "Ele me contou que fora selecionado, ganharia uma bolsa de 300 cruzeiros mais alojamento e alimentação." Entusiasmado, Elmar, dali mesmo do bar, ligou para o representante da Abril, que estava hospedado num hotel. Eram 11h da noite e o horário colaborou para que Elmar fosse atendido com má vontade. A lista estava fechada, avisou o selecionador, e ele embarcaria para São Paulo com os nomes indicados na manhã seguinte. "Tanto insisti, que ele me convidou para tomar o café da manhã. Reuni algumas reportagens que havia feito, que ele olhou com condescendência, mas não havia o que fazer, a lista estava completa". Já desistindo, Elmar saía do hotel quando um dos 10 selecionados chegara ao local para dizer que estava desistindo. Elmar entrou na lista.
A mudança para São Paulo alterou não apenas os hábitos do jovem repórter como também mudou completamente sua percepção jornalística. "Aquilo foi um salto ciclópico. Aqui, o jornalismo era uma 'força auxiliar do governo', na linguagem, nas coberturas. Muitos jornalistas eram funcionários públicos. Meu editor na Folha da Tarde, Sérgio Tochetto, grande profissional, me acenava com uma vaga no Piratini quando eu pedia um aumento."
Na Veja, era diferente, mas a revista que surgiu como um sucesso instantâneo - a primeira edição, com grande campanha de lançamento, vendeu 700 mil exemplares - logo começou a cair. "Quando saí da revista, em junho de 1972, ela estava vendendo apenas 11 mil exemplares e nos elevadores da Abril, ouvi que iria fechar".
A revista não fechou, mas precisou se moldar ao governo militar. "Houve mudanças na redação, a pauta se abrandou, temas candentes, como tortura, anistia, presos políticos, foram banidos", lamenta Elmar. Fora da redação, a rotina ficou sufocante. "Hospedei um colega sem saber que ele estava na mira da repressão e fui parar na Operação Bandeirantes. Fui fichado e precisava me apresentar na delegacia toda segunda-feira". Era hora de voltar a Porto Alegre.
 

Jornalismo e pressão dos anunciantes

Rafael Guimaraens, Elmar Bones, Rosvita Saueressig e Osmar Trindade, do Coojornal, foram presos pela ditadura

Rafael Guimaraens, Elmar Bones, Rosvita Saueressig e Osmar Trindade, do Coojornal, foram presos pela ditadura

BARU DERKIN/ACERVO PESSOAL ELMAR BONES/REPRODUÇÃO/JC
A mudança veio com um convite. Em viagem a São Paulo, Francisco Antônio Caldas - o Tonho, filho e herdeiro de Breno Caldas - convidou Severo para jantar. Severo levou Elmar e os dois ouviram o lamento de Tonho: o Correio do Povo, o jornal mais tradicional e influente do Rio Grande do Sul, não se renovava. Seus leitores iam morrendo e novos não entravam. Já a Folha da Manhã, que surgiu como alternativa para a empresa atrair novos leitores, estava em crise. A família pensava em fechar o jornal caçula, mas Severo e Elmar acreditavam na salvação. "Era possível recuperar a Folha da Manhã. O jornal tinha tudo: equipe, estrutura industrial e a distribuição da Caldas Junior em todo o Estado. Aí o Tonho nos desafiou a voltar para Porto Alegre e assumir o jornal."
Como o jornal tinha uma equipe qualificada, a tarefa foi mais fácil. Severo e Elmar exigiram dedicação exclusiva, proibindo que os jornalistas da redação tivessem duplo emprego. O passo seguinte foi valorizar a reportagem local. "Os fatos locais, com exceção das tragédias e do inusitado, não rendiam manchetes. Assim formamos uma equipe de seis repórteres para produzir uma manchete local por dia", explica Elmar. "Mesmo sem fazer parte do grupo mais próximo do Elmar, sempre admirei o jornalista capaz de ver mais e além. Há 50 anos, à frente da Folha da Manhã, ele criou um momento importante da história da imprensa escrita gaúcha", diz Antonio Britto.
A Folha da Manhã sob o comando de Severo e de Elmar iria durar até junho de 1974. O jornal era lido, mas havia pressões externas. "Aí veio a gota d'água", conta Elmar.
Maior companhia aérea brasileira - e maior anunciante da Caldas Jr. - a Varig havia comprado novos aviões e um deles precisou fazer um pouso forçado no aeroporto do Recife. "O motivo da pane teria sido um urubu de um lixão perto do aeroporto, que fora sugado pela turbina". O assunto teria se esgotado, porém, dias depois, o repórter Jefferson Barros leu no The New York Times que outros aviões do modelo que a Varig havia comprado também apresentaram panes parecidas. Ele fez uma nota. "Aí a Varig pressionou e armou-se uma tempestade: queriam a demissão do Jefferson. Aleguei que a responsabilidade era minha, como editor que havia lido a nota e não vira nada de errado. O incidente passou, mas percebi que outros semelhantes viriam. Decidi não esperar. Pedi para o Tonho me demitir".
Elmar iria agora começar sua aventura no Coojornal.
 

A grande reportagem está na nossa frente

Segundo Elmar Bones (em foto de 2006), repressão da ditadura sufocou o Coojornal e tentou apagar a memória do projeto

Segundo Elmar Bones (em foto de 2006), repressão da ditadura sufocou o Coojornal e tentou apagar a memória do projeto

ANA PAULA APRATO/ARQUIVO/JC
Os laboratórios jornalísticos estimulados pelo Jornal da Tarde, pela Veja e pela experiência da Folha da Manhã, em Porto Alegre, dariam origem a um dos mais ousados projetos jornalísticos da imprensa alternativa brasileira: o Coojornal.
Em meados de 1974, o repórter José Antonio Vieira da Cunha leu uma pequena nota publicada no Jornal da Tarde sobre uma cooperativa de jornalistas italianos que editava seu próprio jornal, Il Giornale. Vieira da Cunha mostrou a notícia a alguns colegas e ali começou a germinar a ideia de fazer algo semelhante por aqui.
Em agosto de 1974, numa solenidade na sede da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), foi criada a cooperativa. Num primeiro momento, a Coojornal fazia apenas publicações encomendadas por outras entidades. O jornal próprio só chegaria às bancas em novembro de 1975, com 28 páginas e uma tiragem de 8 mil exemplares. "Elmar atuou desde o primeiro momento da Coojornal e é diretamente responsável pelos melhores momentos do mensário Coojornal e pelo equilíbrio e sensatez nos debates e análises sobre o papel da Cooperativa dos Jornalistas no cenário conturbado da segunda metade dos anos 1970", destaca Vieira da Cunha.
Próximo de O Pasquim no discurso plural e no combate à censura e à ditadura, o Coojornal adotaria um tom mais sóbrio, especializando-se em reportagens de grande fôlego. Pelos próximos anos seria um sucesso editorial e comercial, com repercussão jornalística e servindo de inspiração a outros modelos semelhantes em outros estados brasileiros. "Naquele tempo, o Elmar já se destacava por defender um jornalismo mais crítico. Além disso, outra das características do Elmar é saber identificar talentos e apostar neles. Tem muito jornalista por este Brasil afora que bebeu de sua sabedoria no início de carreira", diz Vieira da Cunha. "O que aprendi com o Elmar? Na maioria das vezes a grande reportagem está na nossa frente. É simples assim", confirma Carlos Wagner.
 
 

Durante o lançamento de livro "A Paz dos Farrapos", em 2005

Durante o lançamento de livro "A Paz dos Farrapos", em 2005

Tânia Meinerz/ Arquivo
"Equilibrado e cauteloso como aqueles anos difíceis exigiam, o Elmar estava sempre atento para não dar margem a qualquer tentativa de se impor censura prévia no Coojornal, defendendo que a autocensura sempre seria uma causa mais coerente do que entregar o material para alguém censurar", conta Vieira da Cunha, ressaltando ainda sua lembrança do caso dos relatórios do Exército sobre a guerrilha, que o jornal revelou com coragem e exclusividade. "Foi o Elmar quem defendeu com mais ênfase sua publicação com o ponto de vista de que seria importante provocar uma discussão em torno do assunto e divulgar documentos que a opinião pública tinha direito de saber. Elmar era assim, liderava o processo no limite da censura, sabendo recuar com lucidez nos momentos delicados".

Há uma polêmica sobre as causas reais da falência da Coojornal. Elmar dá a sua versão: "Concordo que as divergências internas pesaram, mas não tenho dúvida: foi a repressão brutal que matou o projeto e tentou apagar a memória. Os arquivos da Coojornal, arrestados pela Justiça num processo de despejo, foram queimados por 'falta de espaço no depósito judiciário'. Livros, documentos, jornais, fotos... Foram queimados."

Jornalismo e história

Elmar Bones puxa um samba com os amigos Arfio Mazzei (dir) e Kenny Braga, à frente do prédio-sede da Associação Riograndense de Imprensa

Elmar Bones puxa um samba com os amigos Arfio Mazzei (dir) e Kenny Braga, à frente do prédio-sede da Associação Riograndense de Imprensa

TÂNIA MEINERZ/ARQUIVO/JC
Com o fim da Coojornal, Elmar decidiu realizar um retorno ainda mais profundo às raízes jornalísticas: voltou a Livramento. Lá ele reuniu um grupo de amigos (Kenny, Ucha, Glênio Lemos, Jorge Escosteguy) e juntos fundaram a Editorial Cerros Verdes. A intenção era arrendar o jornal A Platéia, que, perto de chegar aos 50 anos, estava praticamente falido. "Fiquei dois anos e meio lá, foi jogo duro, mas o jornal sobreviveu e hoje está aí comemorando 92 anos".
De novo em Porto Alegre, Elmar fundou a JÁ Editores com a intenção de publicar um jornal comunitário, o JÁ. Esse interesse pelo jornalismo comunitário, presente no cotidiano das pessoas, sempre foi uma preocupação de Elmar. "O que sempre me chamou a atenção nele é a capacidade de ser cosmopolita, enxergar os processos e as modificações na imprensa, ter uma ampla visão da função dos jornais, estar na província e estar no mundo simultaneamente. A síntese disso é sua aposta no jornalismo local, antevendo o que hoje parece óbvio", avalia Britto.
Além do jornal, a JÁ editaria livros do que pode ser considerado como reportagens históricas, títulos como A Paz dos Farrapos, Pioneiros da Ecologia e Histórias da Santa Casa - O Cardeal e o Guarda-Chuva. O interesse pelo tema surgiu no Coojornal. "Como muitas pautas eram proibidas, a anistia, por exemplo, a saída era fazer uma 'reportagem histórica' contando das anistias no Brasil, desde o império até o Estado Novo", explica Elmar. "Com essa artimanha de recorrer à história para mexer em temas espinhosos, fomos aprimorando, até inclusive convencer alguns historiadores que jornalista podia escrever sobre história, coisa que eles não admitiam." 

Ruy Carlos Ostermann pega Autógrafo do  livro "Uma Reportagem, Duas Sentenças", de Elmar Bones

Ruy Carlos Ostermann pega Autógrafo do livro "Uma Reportagem, Duas Sentenças", de Elmar Bones

Tânia Meinerz/ Arquivo
Vivendo entre Porto Alegre e Florianópolis, Elmar é viúvo de Dóris Sena da Costa. "Minha colega da faculdade com quem tive dois filhos, Mariano e Irene, que me deram seis netos, três de cada um. Hoje tenho uma união estável com a jornalista Patrícia Marini". Na capital catarinense, ele se dedica a tocar violão, pintar, ler e escrever. Também pretende se dedicar a um novo projeto de história: A Fronteira que Escolheu a Paz, narrando fatos históricos de Santana do Livramento e Rivera. "É uma espécie de tributo que presto a essa terra que não me viu nascer, mas me propiciou os fundamentos que me levaram pela vida", disse Elmar em entrevista ao jornal A Platéia.

Quando está em Porto Alegre, Elmar toca seus projetos jornalísticos. "O JÁ é mais ou menos a continuidade da minha história. Começou como um jornal de bairro, cresceu, deu origem a uma editora, chegou a ter 60 jornalistas trabalhando em seus projetos, mais de 40 títulos editados até que trombou com o establishment", conta, recordando os problemas que teve por causa de uma reportagem que envolvia um crime e personagens ligados à política. "Fizemos uma reportagem na qual não se apontou um único erro factual, mas que deu origem a um processo, cujas consequências esgoelaram o jornal e a empresa". Mesmo com as dificuldades, Elmar tem esperanças. "O jogo ainda não terminou. Depois de esgotar todas as instâncias na Justiça brasileira, recorremos à Corte Interamericana de Direitos Humanos, acusando o Estado brasileiro de não garantir nossos direitos de liberdade de imprensa e liberdade de expressão. O processo está em andamento desde 2014. Agora, em dezembro de 2023, o governo brasileiro fez sua última manifestação no processo, que agora está concluso para julgamento", explica. "Espero ter novidades a qualquer momento."

Bibliografia parcial de Elmar Bones

A Paz dos Farrapos (1995)
Netto - O General que não Aceitou a Paz (1996)
Luiz Rossetti - O Editor sem Rosto (1996)
- A História Ilustrada de Porto Alegre (1997)
A Cabeça de Gumercindo Saraiva (com Tabajara Ruas/1997)
A História Ilustrada do Rio Grande do Sul (1998)
A Espada de Floriano (2000)
Pioneiros da Ecologia (2002)
Histórias da Santa Casa - O Cardeal e o Guarda-Chuva (2003)
Viamão 300 anos (organização com José Barrionuevo, 2023)
 

* Márcio Pinheiro é jornalista e escreveu os livros Esse Tal de Borghettinho e Rato de Redação - Sig e a História do Pasquim.

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