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Publicada em 05 de Junho de 2025 às 03:00

Região Carbonífera terá plano de transição energética

Termelétrica Candiota 3 é uma das usinas movidas a carvão no Rio Grande do Sul

Termelétrica Candiota 3 é uma das usinas movidas a carvão no Rio Grande do Sul

/cgt eletrosul/DIVULGAÇÃO/JC
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O governo do Estado apresentou no início de junho a sua estratégia de descarbonização. Além do estímulo ao hidrogênio verde, há subsídio para consumidores que adotem matriz energética de fontes renováveis e incentivos fiscais para atrair e estimular novos negócios que usem energia limpa desde o início.
O governo do Estado apresentou no início de junho a sua estratégia de descarbonização. Além do estímulo ao hidrogênio verde, há subsídio para consumidores que adotem matriz energética de fontes renováveis e incentivos fiscais para atrair e estimular novos negócios que usem energia limpa desde o início.
Também foi tratada no evento a situação da Região Carbonífera, notadamente o município de Candiota, onde estão duas usinas termelétricas a carvão que ainda estão em operação. Pensando em uma transição energética justa, um estudo está em andamento com foco na região e deve ficar pronto ao fim desde ano.
Na defesa do governador Eduardo Leite, "a transição energética justa é aquela que tem a preocupação de promover a descarbonização sem esquecer que há pessoas, famílias, dependentes de uma economia que se estabeleceu em outros tempos e não pode ser encerrada de forma abrupta".
A iniciativa visa a garantir que a mudança para um modelo energético mais sustentável, com menos dependência de combustíveis fósseis, seja feita de forma justa e equitativa para as comunidades que dependem economicamente dessa indústria.
Em reunião pública em Candiota, no início de abril, houve o lançamento de uma consulta pública (com prazo até o final de maio) com o objetivo de coletar contribuições da comunidade. A oportunidade de participação popular, por meio de contribuições diretas na formatação do plano, engloba as regiões do Estado onde a cadeia carbonífera está presente: a Campanha Gaúcha e o Baixo Jacuí. O plano está sendo elaborado pelo Consórcio Waycarbon-Centro Brasil no Clima, em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema).

Roadmap Climático: painel avança na radiografia do Estado

O conteúdo do Roadmap Climático dos municípios gaúchos é um dos principais avanços capitaneados pelo governo do Estado um ano depois da enchente histórica de maio de 2024, conforme a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema).
Trata-se de uma plataforma digital, lançada em novembro, que oportuniza um diagnóstico detalhado das ações climáticas locais a fim de guiar a execução de políticas públicas futuras. A plataforma é alimentada por informações enviadas pelas Comissões Municipais de Mudanças Climáticas instituídas. Os dados são lançados automaticamente no sistema, desenvolvido em parceria com a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) e a Secretaria do Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), por meio da Infraestrutura Estadual de Dados Espaciais (IEDE). O Roadmap Climático foi dos projetos selecionados pelo Conselho Consultivo do Future Fund, vinculado à Under2, para receber recursos internacionais. A plataforma foi desenvolvida em oito eixos: administrativo, governança, inventário de Gases de Efeito Estufa (GEE), análise de riscos e vulnerabilidade, plano de ação climática, educação para a sustentabilidade, atos normativos, programas e projetos.
O conjunto de dados colhidos até aqui deixa evidente o tamanho do desafio que se tem pela frente a fim de garantir a integralidade da resiliência pretendida para o enfrentamento das mudanças climáticas. A seguir, confira alguns destaques desse levantamento, bem como outros iniciativas públicas avaliadas pela Sema como conquistas na área.

Alguns dados do Roadmap Climático (até 28 de maio de 2025)

 Do total de 497 municípios gaúchos, o painel reúne informações de 404. Destes, 384 já decretaram situação de emergência ou calamidade em decorrência de eventos climáticos nos últimos 5 anos. E 395 enfrentaram situação de emergência climática nos últimos 5 anos mesmo sem decreto.
 287 possuem uma comissão de mudanças climáticas;
 325 não têm conhecimento sobre o que é um inventário de gases de efeito estufa (GEE), 402 nunca realizaram inventário nem receberam capacitação para isso;
 401 não contam com dados ou estudos sobre as projeções de mudanças climáticas para o território;
 Em 337, não foram implementadas ações específicas de adaptação para lidar com os riscos climáticos identificados;
 Apenas em 34 municípios existe política ou plano específico para lidar com os riscos e vulnerabilidades climáticas;
 61 afirmam ter algum currículo escolar específico sobre educação ambiental e mudanças climáticas nas escolas locais;
 369 ainda não aderiram a algum acordo ou compromisso vinculados às mudanças climáticas;
 Apenas 19 dizem desenvolver programas e projetos, em nível local, com objetivo de mitigação e/ou adaptação às mudanças climáticas.

Projeto Reflora

Mais de 6 mil mudas de 30 espécies florestais nativas do Rio Grande do Sul, dos biomas Pampa e Mata Atlântica, vão ser plantadas no Estado. Lançado no final de março, o projeto visa a recuperar a flora nativa afetada pelas enchentes e deve durar três anos. No primeiro ano, será realizada a identificação das árvores danificadas, o mapeamento da localização das espécies e a produção de porta-enxertos. No segundo, ocorrerá a coleta do material genético e o início do processo de enxertia e de desenvolvimento de mudas. Por fim, no terceiro ano será realizado o plantio das mudas.
O Reflora conjuga as secretarias da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) e do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), em parceria com a CMPC, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e diversas instituições de ensino públicas e privadas gaúchas. O investimento é de R$ 7,5 milhões (R$ 2,86 milhões da CMPC, R$ 2,34 milhões da Embrapii e R$ 2,30 milhões de contrapartida econômica da UFV).

AdaptaCidades

Entre os estados brasileiros, o Rio Grande do Sul deverá contar com o maior número de cidades contempladas no AdaptaCidades, uma iniciativa do Programa Cidades Verdes Resilientes, anunciada em fevereiro, coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e apoio dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação e Cidades. Na prática, as capacitações chegariam a mais de 40% dos municípios gaúchos. Segundo Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), cerca de metade das associações manifestou interesse em aderir, enquanto a outra metade ainda não respondeu formalmente - e estão sendo contatadas novamente. O prazo para envio dos termos municipais de adesão assinados é até 15 de junho. As capacitações ocorrerão pelo período de três anos.

Cooperação entre governo e instituições

No final de fevereiro, a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), por meio do Departamento de Recursos Hídricos e Saneamento (DRHS), formalizou um Termo de Cooperação com o Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM), que tornará possível atualizar o mapa hidrogeológico do Estado e desenvolver o balanço hídrico subterrâneo. O documento prevê reuniões técnicas periódicas para o alinhamento e planejamento das ações. Também serão promovidos eventos de capacitação para as equipes de ambos os órgãos, além da elaboração de diretrizes técnicas para aperfeiçoar os procedimentos de autorização para a construção de poços e a outorga de água subterrânea. Uma comissão técnica será criada para atualizar o Mapa Hidrogeológico do Estado, e relatórios executivos serão produzidos para acompanhar as ações conjuntas. O prazo de vigência deste termo é de 60 meses.
Também em fevereiro, a Sema e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), por meio do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), assinaram um termo com o objetivo aprimorar a gestão nas áreas de recursos hídricos, saneamento, infraestrutura e meio ambiente.

O Plano Rio Grande e o meio ambiente

Confira os projetos voltados a uma melhor preparação para futuros eventos climáticos e o seu status um ano após a enchente:
 Desassoreamento dos rios (eixo 1): R$ 300 milhões (em andamento);

 Dragagem das hidrovias:
R$ 731 milhões (em andamento);

 Recuperação e manutenção
da rede de estações hidrometeorológicas: R$ 1,2 milhão (em andamento);
 Serviço de radar meteorológico: R$ 25,94 milhões (em operação);
 Três novos radares: R$ 186,5 milhões (em contratação);
 Revisão dos planos diretores
de municípios afetados pelas águas: R$ 3,1 milhões (em andamento);
 Batimetria e topografia dos rios: 45,9 milhões (em vias de assinatura de contrato);
 Modelagem hidrodinâmica: R$ 12,1 milhões (em vias de assinatura de contrato)
 Estação de medição da qualidade do ar: R$ 275 mil (realizado)
 Mapeamento topográfico: Sem edital (em planejamento)

Outros destaques

O Rio Grande do Sul estipulou como meta para o Plano Estadual de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC+RS) ampliar em 216 mil hectares sua área irrigada até 2030. De 2020 a 2024, o Estado conseguiu expandir os sistemas de irrigação a 120 mil hectares de cultivo, o que representa 55% da meta.
O Programa de Desassoreamento do Rio Grande do Sul abrange 154 cidades. A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano (Sedur) é responsável pelo Eixo 1, que trabalha com recursos hídricos de pequeno porte, como rios menores, arroios e canais de drenagem. Até o início de maio, foram retirados mais de 360 mil metros cúbicos de sedimentos de pequenos rios, arroios e sistemas pluviais de municípios gaúchos. O serviço de desassoreamento do Arroio Boa Vista, que faz ligação com o Rio Taquari e beneficia diretamente os municípios de Estrela e Lajeado, começou em 1º de maio.
Anunciado ano passado e com previsão orçamentária de R$ 40 milhões, o Centro de Referência Internacional em Estudos Relacionados às Mudanças Climáticas (Criec) “será lançado em breve, não podemos adiantar informações”, segundo a Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia da Estado. A iniciativa deverá incluir diferentes secretarias de governo e representações externas, incluindo a participação do Comitê Científico. Conforme o Plano Rio Grande, a ideia é que todas as ações após enchente de 2024 converjam para transformar o Estado em um local de estudos internacionais.
A manutenção de diques, casas de bombas e comportas compete aos municípios. O Estado, via programa Fundo a Fundo Reconstrução, vai apoiar os projetos que necessitem de ajuda financeira para conclusão das obras. Até maio, em Canoas e Pelotas, as obras e projetos estavam em fase de apresentação e adequação de documentação
No segundo semestre de 2024, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (Fapergs), vinculada à Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia, lançou o edital Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Voltado a Desastres Climáticos, um investimento de R$ 45 milhões via Funrigs. Cinquenta projetos de pesquisa foram contemplados. O prazo para execução dos trabalhos é de 36 meses.
O Comitê Científico de Adaptação e Resiliência Climática, composto por mais de 40 especialistas e pesquisadores de renome, foi instalado em junho de 2024. O colegiado possui caráter consultivo, devendo elaborar pareceres que serão encaminhados ao Comitê Gestor do Plano a fim de colaborar com a tomada de decisões. As principais atividades realizadas são anunciadas em boletins disponíveis em www.sict.rs.gov.br (o mais recente até a apuração deste texto era de março).

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