Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 25 de Abril de 2024 às 08:47

Empresa gaúcha em Hannover busca tecnologia alternativa à conexão por internet no campo

Reunião presencial com pesquisadores alemães ocorreu no estande da Novus, única empresa do RS com espaço próprio na Feira de Hannover

Reunião presencial com pesquisadores alemães ocorreu no estande da Novus, única empresa do RS com espaço próprio na Feira de Hannover

Guilherme Kolling/Especial/JC
Compartilhe:
Guilherme Kolling
Guilherme Kolling Editor-chefe
De Hannover (Alemanha)
De Hannover (Alemanha)
Um dos grandes desafios do agronegócio gaúcho é a conectividade no campo. Com máquinas agrícolas e equipamentos cada vez mais modernos, o acesso à internet ainda é uma dificuldade para boa parte dos produtores rurais implementarem inovações.

Em um mundo em que o uso de dados e a Inteligência Artificial ganham espaço para melhorar a performance em todos os setores da economia, uma solução a esse entrave pode fazer produtores rurais darem um salto, fator decisivo para a economia do Rio Grande do Sul.
LEIA TAMBÉM: CEO da Siemens elogia Eduardo Leite e vê possibilidade de projeto no RS 

Pois a gaúcha Novus está trabalhando para lançar uma nova tecnologia que pode dar uma resposta a esse problema. O trabalho ocorre em parceria com o Instituto Senai de Inovação RS e uma instituição alemã de pesquisa.

Começou com reuniões virtuais no fim do ano passado e o primeiro encontro presencial ocorreu no estande da Novus Produtos Eletrônicos, empresa de Canoas, na Feira de Hannover, na terça-feira (23). Participaram dois pesquisadores do Instituto para Automação e Comunicação (Ifak), de Magdeburg (Alemanha), representantes do Instituto Senai de Inovação e executivos da Novus, que ao longo dessa semana estão atendendo clientes na feira.

A Novus produz sensores e trabalha com automação e conectividade – faz, por exemplo, a medição de dados e entrega para a nuvem. Agora, a ideia do novo produto é fazer com que haja conexão com satélites, sem depender de internet. O diretor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Novus, Sandro Rafael dos Santos, explica que, em 2023, surgiu uma nova tecnologia para a conexão via satélite nos lugares onde não há antena de celular.

“Chamam de Narrow Band NTN (Non-Terrestrial Network), segue um padrão global, um serviço ainda embrionário na Europa, América do Norte e Oceania. A ideia é, em áreas onde não tem cobertura de celular, conseguir fazer conexão com satélite ao invés de antena terrestre, para permitir um sensoriamento remoto.”

O gerente de Tecnologia e Inovação do Senai RS, Victor Gomes, completa: “Estamos falando de algo chamado nanosatélites. São satélites que ficam em baixa órbita, não são aqueles satélites que ficam lá no espaço. É uma aplicação bem específica, que é possível hoje, não era possível há poucos anos. Não é trivial”.
Guilherme Kolling/Especial/JC
Equipe do Senai RS que participou da reunião sobre o projeto em Hannover Carlos Trein, Victor Gomes, Carlos Eduardo Pereira e Vitor Nardelli. Foto: Guilherme Kolling/Especial/JC
O pesquisador associado do Instituto Senai de Inovação e professor da Ufrgs, Carlos Eduardo Pereira, observa que a boa relação e o intercâmbio prévio com integrantes do Ifak permitiu a aproximação. Agora, serão necessários testes para adaptar a tecnologia de comunicação usando satélites de baixa órbita. “Ver quanto tempo demora para a informação chegar no sensor e quanto tempo leva para responder. Dependendo da aplicação, se demora uma hora, não funciona. Para outra aplicação, até dois segundos pode ser muito tempo”, exemplifica.

A Novus quer usar a tecnologia e adaptar para produtos, que poderão, por exemplo, monitorar dados a distância e colher informações sobre eficiência da colheita, nível de umidade do solo – o que ajudaria em decisões estratégicas como o melhor momento para fazer irrigação, plantar ou fazer a colheita. “Queremos explorar a tecnologia que está disponível, ver se funciona e adaptar isso para os nossos produtos”, completa o diretor de P&D da Novus.

Produto pode ser aplicado para distribuição de energia e monitoramento de barragens

O diretor de marketing da Novus, Fábio Pfeiffer, observa que, embora a tecnologia tenha demanda do agro, considerando que muitas regiões do campo não tem cobertura celular, o produto poderá ter aplicação em outras frentes.

“A tecnologia para o agro é um grande mercado, mas visualizamos outros segmentos. Por exemplo, o setor de distribuição de energia tem nos demandado conectividade em áreas onde não tem cobertura. Permitiria monitorar fornecimento de energia, roubo de energia, também em abastecimento de água – ver perdas, captação de água. A conectividade permite o sensoriamento, que a Novus já faz, mas usando as tecnologias disponíveis hoje.”

Outra aplicação seria o monitoramento de barragens e represas, ver se o nível está subindo, analisar variáveis meteorológicas. O pesquisador associado do Senai RS, Carlos Eduardo Pereira, observa que sensores poderão medir o nível dos rios com acesso remoto. “Fica lendo remotamente modelos que possam prever, com algumas horas de antecedência, para alertar sobre eventuais enchentes antes da hora.”

Assim como o produto final, o modelo de negócio ainda não está definido. Uma das questões em aberto é quem vai pagar pela conexão ao satélite – se será incluído pelo fornecedor ou se será uma assinatura do cliente no campo.

Instituto alemão fará projeto e orçamento para viabilizar tecnologia

Depois de entender as necessidades da Novus durante a reunião em Hannover, agora o instituto alemão Ifak fará um projeto para ver uma solução de aplicação da tecnologia, estimando custos da empreitada. O passo seguinte será viabilizá-la, em parceria com o Senai RS.

“Primeiro vão testar a tecnologia, ver se a informação vai de um lado para o outro, depois será desenvolvido o produto, e a terceira fase é a aplicação, em uma máquina agrícola ou o que for”, resume o diretor de P&D da Novus.

O professor Carlos Eduardo Pereira, projeta que, ao propor uma solução, possivelmente o Ifak irá orçar um valor necessário, estimar quantas pessoas teriam que se dedicar ao projeto, ver o material necessário. A etapa seguinte seria a busca de recursos, através da própria empresa e instituições de fomento como a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), com o apoio do Instituto Senai de Inovação RS.

O diretor regional do Senai RS, Carlos Trein, observa que esse é o propósito da instituição, “desenvolver a indústria. Fazemos isso de várias formas, também, através de pesquisa, desenvolvimento e inovação. O Senai é muito conhecido pela formação profissional, mas temos a maior rede de tecnologia e inovação do País, que trabalha para apoiar a competitividade e estimular uma indústria mais produtiva”.

Novus participa da Feira de Hannover há três décadas

Presente na Feira de Hannover desde 1994 – e com 25 participações no evento –, a Novus, de Canoas, é, mais uma vez, a única empresa gaúcha e uma das poucas brasileiras com estande no principal evento internacional de tecnologia industrial, que acontece na Alemanha. São quatro espaços do Brasil – Novus, Fiergs, Simatec (de Minas Gerais, que está junto ao espaço da Siemens) e Indústria Metaloquímica Kels (São Paulo).

Embora nos outros anos em que a reportagem acompanhou a feira a Novus sempre registrasse bom movimento de clientes, nesta edição chama a atenção o lugar estratégico que a empresa conseguiu – expõe no Pavilhão 9, o mais movimentado da feira, junto com gigantes alemãs como Siemens, Beckoff e Pepperl+Fuchs.

“É um pavilhão disputado, o mais procurado, com grandes marcas, fazia tempo que visualizávamos estar aqui, e conseguimos, com experiência na feira e planejamento para saber o momento certo de reservar, para estar em um local conectado ao nosso negócio, de automação, e onde o público vai estar”, relata o diretor de marketing da Novus, Fábio Pfeiffer.
Guilherme Kolling/Especial/JC

Diretores da Novus, Fábio Pfeiffer e Sandro Rafael dos Santos estão na Feira de Hannover. Foto: Guilherme Kolling/JC
O executivo avalia como positiva a feira nos primeiros dias, com clientes do mundo inteiro – Ásia, África (Marrocos), América do Sul (Colômbia), América do Norte (Estados Unidos) –, além da prospecção de novos contatos.

O executivo de vendas para África, Ásia e Oriente Médio, Cláudio Oliveira, comenta, ainda que a Novus está expondo um novo produto voltado para o agro, chamado TL 400. Trata-se de um sensor a laser para medição de nível de líquidos. Por exemplo, pode ver o nível de combustível em uma máquina, quanto tem de um insumo agrícola em um reservatório. Foi desenvolvido originalmente para a fabricante de máquinas agrícolas Stara, de Não-Me-Toque, e agora ganha o mundo na Feira de Hannover.

Notícias relacionadas