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Publicada em 10 de Março de 2025 às 00:10

'O agro está em crise, mas não vai acabar', aponta Manica

Nei Manica, que preside a Cotrijal, alerta sobre a urgência de irrigação das lavouras, sob pena de o agronegócio gaúcho parar

Nei Manica, que preside a Cotrijal, alerta sobre a urgência de irrigação das lavouras, sob pena de o agronegócio gaúcho parar

/Expodireto/Divulgação/JC
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Ana Esteves
Para o presidente da Cotrijal, Nei Manica, o segredo do sucesso da Expodireto, que completa 25 anos e segue viva mesmo diante das adversidades enfrentadas há anos pelo setor primário gaúcho, é o foco nos negócios fechados durante o evento e em seus encaminhamentos. Ele reforça a necessidade de um processo de securitização para que os produtores endividados possam sanar suas dívidas a longo prazo e destaca a urgência de irrigar as lavouras, sob pena de o agronegócio gaúcho parar.
Para o presidente da Cotrijal, Nei Manica, o segredo do sucesso da Expodireto, que completa 25 anos e segue viva mesmo diante das adversidades enfrentadas há anos pelo setor primário gaúcho, é o foco nos negócios fechados durante o evento e em seus encaminhamentos. Ele reforça a necessidade de um processo de securitização para que os produtores endividados possam sanar suas dívidas a longo prazo e destaca a urgência de irrigar as lavouras, sob pena de o agronegócio gaúcho parar.
Jornal do Comércio - Mais uma Expodireto precedida por um intenso período de estiagem no Estado, fenômeno responsável pelo aumento do número de produtores endividados. Mesmo com esse cenário preocupante, a expectativa é de uma feira de incrementos, seja em público, expositores e negócios. A que o senhor atribui esse sucesso?
Nei Manica - Nos últimos anos, o Rio Grande do Sul vem sofrendo muito com estiagem, depois enchente. Mas um dos fatores da continuidade e até crescimento da Expodireto é o foco da feira, na busca de inovação e tecnologia para o agronegócio, modelo que a feira segue há 25 anos. Então, como é uma feira bem focada, ninguém deixa de vir, bem pelo contrário, tem muitos esperando uma oportunidade, pois, além da comercialização que poderão fazer na feira, têm a possibilidade de encaminhar negócios futuros. Porque o agro está em crise, mas não vai acabar. No caso da cadeia produtiva do agro, os expositores precisam ter um ambiente para demonstrar seus produtos independente do momento de crise. É na Expodireto que as empresas realmente fazem seus lançamentos, e ela é balizadora dos negócios durante o ano.
JC - Nesse ano vocês resolveram não divulgar os números finais de comercialização na Expodireto, seria por receio de ter uma comercialização muito baixa em função da crise?
Manica - Não, porque lá em 2005 a comercialização caiu 70%, em função da crise e divulgamos os dados. Os números refletem um momento: se a economia está boa, a venda é boa, se a economia está ruim, as vendas caem, então, tem que ser realista. Além disso, todo ano, parece que é uma disputa, um comparativo de quem vende mais, quem vende menos. Não é o nosso caso e acredito que não seja o caso de outras feiras divulgar números que não são reais. Nosso objetivo é fazer uma feira onde os negócios aconteçam, mas que os expositores saibam que, se não comercializarem na Expodireto, têm o ano todo para tal, pois muitos negócios iniciam na feira, mas só são fechados depois. Para não haver aquela especulação, e até as críticas do tipo "estão anunciando número que não é real", resolvemos não divulgar o número final dos negócios e sim focar no que a feira tem: tecnologia, inovação e oportunidades.
JC - Um dos temas que deve tomar conta dos debates durante a feira é o do endividamento dos produtores e da necessidade de um novo processo de securitização. O senhor acredita que essa seja realmente uma saída plausível?
Manica - No ano passado, trabalhamos muito junto às entidades e federações ligadas ao agro, para que se conseguisse um alongamento das dívidas do produtor, as quais ele vinha acumulando por perdas em três secas, depois com as enchentes e, esse ano, para agravar ainda mais, uma nova seca. A grande maioria dos produtores não tem mais capacidade de pagamento, eles vêm jogando os débitos de um ano para o outro, pois não têm renda e, com essas taxas de juros, não conseguem pagar, num curto prazo. O que nós precisamos é fazer uma nova securitização, que é um prazo de 20, 25 anos com juros compatíveis, menores, para que o produtor possa liquidar todas as operações que ele deve ao banco, à cooperativa. Só assim, ele consegue voltar a plantar com tranquilidade, voltar a ter crédito e a economia do Estado não para. Mas se não liquidarmos as contas e começarmos a irrigar as lavouras, vai ter um efeito cascata: cai a primeira pedra, caem todas as outras. Se o agro vai mal, a indústria pode ir mal, o comércio vai mal, o serviço vai mal, a receita do Estado cai.
JC - Em que pé está essa questão da securitização?
Manica - O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) protocolou o projeto de lei que permite a renegociação de dívidas de produtores rurais impactados por eventos climáticos extremos. Aqui no Estado, contamos com o apoio do governador Eduardo Leite, porta-voz das entidades junto ao governo federal. Estamos envolvendo Farsul, Fetag, Fecoagro para olharmos juntos os ajustes que teriam que ser feitos nessa pauta, para que ela seja unificada. Precisamos aperfeiçoar essa proposta de lei para que realmente possamos convencer o Senado, a Câmara Federal e o governo federal da necessidade dos produtores gaúchos. Lembrando que não é perdão de dívida.
JC - O tema da irrigação está na pauta de entidades como Farsul, Fetag e acredito que das cooperativas também. Qual sua visão sobre esse assunto?
Manica - Há tempos que falamos em irrigação e agora estamos conseguindo que haja um entendimento de que é preciso modificar alguns itens da legislação nacional. Aqui no Estado, deverão ser anunciadas na Expodireto, pelo governador Eduardo Leite, medidas que possam permitir a retenção de água em barragens e açudes, nunca deixando de observar a preservação do ambiente. E depois buscaremos incentivo, através de um fundo para instalação de pivôs.
 

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