A 42º Expoagas, a Convenção Gaúcha de Supermercados, pretende ser a maior de todos os tempos. É o que afirma Antônio Cesa Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercado (Agas). Segundo ele, a feira pretende reunir mais de 65 mil lideranças, gestores e colaboradores dos segmentos do varejo, da indústria, do canal distribuidor, do setor primário e da imprensa nesta edição.
Promovida há mais de quatro décadas, a Expoagas 2025 contará com 576 expositores confirmados e duas novas áreas de exposição instaladas, o que possibilitará a 76 pequenas e médias empresas, majoritariamente gaúchas, a exposição de produtos, equipamentos e serviços para os visitantes. A feira deverá movimentar R$ 768 milhões de negócios em seus três dias.
Além disso, a edição de 2025 marca a despedida de Longo como presidente da Agas. Há mais de duas décadas à frente da entidade, Longo se sente contente com os avanços conquistados em sua gestão e sente realizado por “ter sido importante para diversas pequenas e grandes empresas” durante esses anos.
Jornal do Comércio: Queria que tu falasse como é que é para ti ver esse projeto teu crescer tanto nesses últimos anos?
Longo: É um projeto construído a muitas mãos, onde a credibilidade de um evento faz a diferença. Sempre acreditamos no crescimento dele, na necessidade das pessoas irem para obter vantagens, aprendizado e buscar conhecimento. Sempre foi um evento que busca conhecimentos e negócios, com atrações simultâneas, porque conhecemos a raiz e a essência do negócio. É um evento que atrai desde o dono do negócio até a esposa, o açougueiro e o padeiro, e acreditamos que o fornecedor leva bons negócios e promoções, movimentando a economia de toda a cidade. Porto Alegre deveria valorizar mais isso, pois o interior aproveita muito mais esses eventos. Os mercados vêm ao Rio Grande do Sul não só pelas belezas, mas porque sabem que aqui se consegue fazer tudo: negócios, aprendizado e passeio. Movimentamos a feira sem pedir nada ao município, querendo contribuir. O interior compreende que eventos assim movimentam a cidade, algo que Porto Alegre não consegue mensurar, devido ao seu tamanho. Cidades menores, como Guaporé com suas corridas, conseguem mensurar melhor o valor de tal movimentação.
Jornal do Comércio: Esta edição está prevista para ser a maior da história. O que significa para ti organizar um evento tão grande em momento tão instável do estado e do país?
Longo: Significa que sempre tivemos essa responsabilidade e compromisso de fazer o melhor para todos. Esse é o espírito associativista, onde se deseja que todos os setores se saiam bem, porque o supermercado recebe os 4 milhões de gaúchos com renda e recurso gerados por diversas atividades. Por isso, torcemos por todos, não esquecendo os valores. O pequeno empresário que participa de uma associação cresce mais, pois convive com empreendedores que buscam conhecimento e aproveitam as oportunidades.
Jornal do Comércio: O número de expositores aumentou bastante nessa edição, de 496 ano passado para 572 já confirmados esse ano. Como é que tu avalia esse aumento?
Longo: Avalio como uma demanda reprimida. São novos setores e segmentos que querem vender para o supermercado, especialmente os prestadores de serviço. Não é só quem vende arroz e feijão, mas também vendedores de máquina, software, e ferramentas que precisam estar lá para um contato olho no olho com o dono. Esse é o tipo de expositor que mais cresce, e por causa da limitação de espaço físico, tivemos que diminuir e limitar os espaços existentes. Por exemplo, estandes de 200m² foram reduzidos para 80m², e estandes pequenos para balcões, o que permitiu acomodar mais gente, mas é uma situação difícil.
Jornal do Comércio: O evento está bem maior. Como é que vocês, conversando com a FIERGS, estão conseguindo adaptar esse espaço para caber todo mundo?
Longo: Acho que estamos perdendo muito espaço. A Fiergs tem a melhor localização possível e o melhor teatro do Brasil, com uma estrutura pronta. Há uma indústria muito carente de apoio. A Agas é uma grande parceira, pois acredita no vinho gaúcho e na marca regional. A experiência de fazer eventos nas regiões mostra como a comunidade responde. Fazemos isso há mais de 25 anos no litoral, acreditando que ele teria vida própria durante o ano e que o mercadinho local poderia crescer para atender os veranistas. Nosso papel, e o da imprensa que trazemos do interior, é disponibilizar acomodação e deslocamento, acreditando em informação séria e profissional.
Jornal do Comércio: Um dos principais objetivos da feira deste ano é o foco nos jovens e nas mulheres supermercadistas. Um dos objetivos da associação é incluir um pouco mais esse público no setor?
Longo: Com certeza, são os sucessores. Acreditamos nesse movimento de convivência e troca de experiências entre sucessores, onde um aprende com o outro, cada um com sua cultura e modelo de empresa. Isso os faz se apaixonar ainda mais pelo setor e assumir responsabilidade pelo crescimento. Acreditamos que o legado é a continuidade do trabalho dos jovens e da mulher. A mulher é fundamental; nossa empresa começou com meu avô e minha avó, que na época fazia almoço para cativar os clientes. Acreditamos que a mulher deve estar no caixa.
Jornal do Comércio: E tu acredita que o sentimento de retomada que estava muito presente no ano passado, naturalmente, após enchentes, vai seguir nesse ano?
Longo: Ah, vai seguir. Falta os governos entenderem essa necessidade de se colocarem no chão, no chão de loja. Há um problema de aprendizado geral, os modelos estão ruins. Vemos situações como roubo de aposentados onde o dinheiro é reposto sem buscar quem roubou. Ou imposição de tarifaços que mexem com a economia, e ninguém tem a humildade de conversar com quem foi impactado. A discussão fica na política, mas falta alguém ir lá resolver. Acredito que a entidade, a associação, tem esse papel de criar formatos e escolas.
Jornal do Comércio: O evento deste ano tem um elenco estrelado de palestrantes. Tem confirmado o Dunga Miguel Falabella, Flausino, Ricardo Amorim. Como isso pode agregar para o evento?
Longo: Isso mostra que o supermercadista, o pequeno varejo, para sair de casa e percorrer 500 km, precisa ser motivado. É mais uma coisa que motiva. É um aprendizado com o negócio, com palestras para o açougueiro, para o jovem. O supermercadista precisa viver tudo ao mesmo tempo.
Jornal do Comércio: A popularização dos atacarejos tem afetado os supermercadistas do estado?
Longo: Sim, é um formato novo. Às vezes, a realidade de um atacarejo, que é comprar mais volume por menores preços em locais distantes quando se tem renda, não se aplica aqui, porque não há renda, mas há necessidade de consumo. Então, é mais uma opção que se agrega, como já houve lojas de conveniência, lojas de bairro, e lojas de atendimento. O setor de supermercados já representa 9% do PIB do estado, é o segundo maior arrecadador de impostos para os governos e a segunda atividade que mais gera emprego, abrindo cerca de 5.000 novas vagas anualmente. O autosserviço proporciona a experiência de vantagens e de deixar o cliente escolher o que é melhor para ele.
Jornal do Comércio: Redes bem tradicionais estão fechando e novas estão abrindo. Tu consideras isso uma coisa natural do mercado?
Longo: Eu acho que quando um ramo é forte, ele tem mais players e mais concorrentes. É uma atividade que atrai um maior número de empresas, pois está difundida no dia a dia dos consumidores. O Rio Grande do Sul e o gaúcho sempre foram mais fechados no Estado, devido a uma situação tributária bem complexa e diferenciada do Brasil. Havia esse receio de ir para outro estado, com a preocupação na regionalização e no cliente local. Mas, agora, os daqui também foram para outros estados. Isso demonstra que é um ramo e um Estado com oportunidades e atrativos, e os governos precisam incentivar e fomentar isso.
Jornal do Comércio: Estamos chegando ao fim do seu mandato. Quais foram os principais avanços e desafios que você encontrou nesses anos liderando essa associação?
Longo: Acho que o bom é bom quando é bom para todo mundo. Foi bom para mim; eu cresci e me sinto realizado. Minhas filhas sempre me apoiaram, e minha esposa está feliz por ter vindo para o meu ramo. O maior sentimento de vitória é ver as famílias entenderem e transpirarem o varejo. Venho de uma família de imigrantes que tiveram dificuldade, mas nunca tiveram medo do trabalho. Sinto-me realizado por ter sido importante para diversas pequenas e grandes empresas, sempre contando com o apoio de todos. Esse é o espírito associativista: quando levantamos a mão para uma batalha, todos estavam juntos. Isso me realiza muito, que não houve episódio em que, ao mobilizar o setor, não se teve apoio. Como exemplo, a mobilização contra a concorrência desleal de uma multinacional, que resultou no fechamento de supermercados naquele dia, ou situações como a sacola e a farmácia do SESI, que eram concorrência desleal resolvida com conversa e negociação, resultando em vitórias. Acho estranho que alguns não consigam ligar para conversar e negociar. É um modelo muito ruim e um aprendizado negativo para as gerações.
Jornal do Comércio: Queria que tu falasse um pouco sobre o processo de sucessão com a nova gestão.
Longo: Quando assumimos, criamos o Agas Jovem, o primeiro no Brasil, sabendo da dificuldade e complexidade do nosso setor. Sempre acreditei que seria uma grande escola para futuros líderes. Hoje, temos 380 jovens. A associação, sob o mesmo guarda-chuva, tem empresas com 20.000 funcionários e com dois funcionários, com estatuto e regras. O período foi longo, mas com um convívio perfeito. A partir de agora, é um aprendizado, mas tenho certeza de que os próximos presidentes serão todos do AGAS Jovem. A estrutura está montada, e esse é o objetivo.
Quem é Antônio Cesa Longo
Além da liderança na Agas, Longo já recebeu diversas condecorações por sua atuação empresarial
/TÂNIA MEINERZ/JCAntonio Cesa Longo é neto de imigrantes italianos que chegaram ao Rio Grande do Sul e iniciaram suas atividades comerciais em Porto Alegre, em 1917.
Nasceu em Porto Alegre, no Hospital Beneficência Portuguesa, no dia 25 de julho de 1960. Sua formação acadêmica é de economista, tendo pós-graduação em Gestão Empresarial e Administração em Marketing. Desde 1982 trabalha na Companhia Apolo de Supermercados, com sede em Bento Gonçalves, tendo passado por diversas funções a fim de ter total conhecimento das diversas fases do autosserviço.
Foi vice-presidente do CIC (Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves); presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Bento Gonçalves, exerceu cargos de direção na Fecogêneros e na Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do RS, ex-membro do Conselho de Administração do Hospital Tacchini de Bento Gonçalves, município onde participou também como fundador e dirigente em cargos de Associações Automobilísticas, tendo participado da construção do kartódromo Aristides Bertuol de Bento Gonçalves e tendo participado de clubes de serviço como Lions e Rotary Club.
Também foi diretor da Fundaparque (entidade que administra o grande centro de eventos de Bento Gonçalves), e atualmente é diretor da Federasul. Exerce o cargo de diretor na Companhia Apolo de Supermercados, empresa que possui oito lojas de supermercados, localizadas em Bento Gonçalves e Garibaldi.
Tendo participado como diretor e depois como vice-presidente da Agas, em dezembro de 2002 assumiu o cargo de presidente da Associação Gaúcha de Supermercados, com um projeto de interiorização da entidade, através de atividades em diversas cidades gaúchas. Estas promoções, neste período de sua gestão, levaram à realização de eventos importantes em dezenas de municípios gaúchos, congregando os supermercadistas de uma forma participativa sob da bandeira da Agas, que tem como foco o objetivo de unir pequenas e grandes empresas num só ideal. Sua gestão objetiva o pleno fortalecimento do setor do autosserviço, através de atividades que possibilitem a capacitação profissional através de cursos e palestras, o conhecimento de novas técnicas e, especialmente, a troca de experiência entre todos.
Em 2011, recebeu condecorações nas Câmaras Municipais de Porto Alegre e Bento Gonçalves, além de homenagem na Assembleia Legislativa. No mesmo ano, foi condecorado com o título de Cidadão Bento-Gonçalvense. Também em 2011, recebeu o Prêmio Líderes & Vencedores, conferido pela Assembleia Legislativa e pela Federasul na categoria Mérito Empresarial. Em 2014, foi condecorado com a Medalha Mérito Farroupilha, mais alta honraria concedida pela Assembleia Legislativa do RS.
Desde janeiro de 2009, ocupa o cargo de vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).