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Publicada em 23 de Maio de 2025 às 00:15

Carência de mão de obra limita expansão das atividades moveleira e metalmecânica

Interpump Brasil

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/Roberto Hunoff/Especial/JC
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Roberto Hunoff
Roberto Hunoff Jornalista
De Caxias do Sul
De Caxias do Sul
Problema generalizado nas atividades produtivas da Serra Gaúcha, a falta de mão de obra já é apontada como fator limitante para a continuidade do desenvolvimento econômico da região. Representantes das indústrias metalmecânica, com polo em Caxias do Sul, e moveleira, em Bento Gonçalves, manifestam que a situação, já crítica, tende a se agravar, o que leva as empresas a incorporar cada vez mais processos automatizados.
Euclides Longhi, presidente da Movergs, representação estadual do setor moveleiro, afirma que o gargalo já é sentido em 2025, afetando o crescimento do setor. Argumenta que a alternativa mais viável é a automação e o acesso aos equipamentos será facilitado, em agosto, com a realização da Fimma Brasil, feira de máquinas, matérias-primas e insumos. "É lógico que nem todas as empresas conseguirão automatizar no curto prazo. Ainda mais neste momento de juros elevados, que complicam a contratação de financiamentos", alega.
A atividade tem no Centro Tecnológico Moveleiro (Cetemo), ligado ao Senai, um forte aliado na formação de mão obra. Nos últimos anos, no entanto, por conta da baixa procura, o ritmo de entrega da entidade já não é o mesmo. "As pessoas são imediatas e não vislumbram no longo prazo. Com isso, não se especializam e mudam de emprego e de atividade com muita frequência. Por decorrência, não fazem carreira", avalia. Como forma de atrair e reter os funcionários, as empresas têm investido em benefícios e incentivos, além de oferecerem alimentação e transporte, dentre outros serviços.
De acordo com a vice-presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis), Priscila Manfroi, são muitas as vagas disponíveis no segmento de móveis, responsável por seis mil empregos na região de abrangência da entidade. Ela não vislumbra soluções a curto prazo. "Há, sim, riscos de estagnação no setor", reforça. A entidade representa em torno de 300 empresas sediadas também em Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e Santa Tereza.
A dirigente defende uma mobilização em busca de incentivos públicos para intensificar a adoção de tecnologias mais produtivas para modernizar os parques fabris. "Precisamos ficar menos dependentes da mão de obra, falta gente para contratar", afirma. Destaca que é necessário seguir os exemplos dos grandes países produtores, como Itália, Alemanha e França, que têm altos níveis de automação. "É urgente o investimento para assegurar plena produção. Não se trata de substituir, mas modernizar e garantir a empregabilidade", frisa. Segundo a dirigente, a falta de pessoal vai do operacional aos setores de alta hierarquia, principalmente em funções especializadas, como engenharias para determinados processos.
 

Simecs estima que há 5 mil vagas em aberto no segmento

O presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico Simecs), Ubiratã Rezler, estima algo como 5 mil vagas em aberto na região de abrangência da entidade, número que tem se mantido ao longo dos anos em razão da grande rotatividade. Um dos pontos cruciais, na sua avaliação, é o baixo engajamento das novas gerações, diferentemente de trabalhadores com mais experiência.
O dirigente destaca que o problema é mais crítico nas médias e pequenas empresas, onde o crescimento na carreira é mais difícil, além de a maioria ser familiar. Ainda que em menor escala, as grandes organizações também se ressentem de carência de pessoal. "É uma preocupação muito grande e pode comprometer a expansão do setor", indica. De acordo com Rezler, as empresas têm feito várias ações, inclusive incentivando seus próprios funcionários a auxiliarem nas contratações com a contrapartida de benefícios. Outras saídas são intensificar a busca por pessoas com mais idade, acima dos 50 anos, e contratar mais imigrantes, cujo número têm crescido.
O Simecs, por sua vez, investiu no programa Escola do Manhã, em parceria com a Prefeitura de Caxias, para formar jovens da rede municipal com idades entre 14 e 16 anos no curso de robótica e protótipos mecatrônicos, com duração de 120 horas. Iniciado no ao passado, o curso, em 2025, teve a abrangência ampliada para 12 munícipios da Serra, com expectativa de atender 1.500 alunos dos últimos anos do ensino fundamental e ensino médio da rede pública estadual.
A entidade também defende mudanças em legislação que proíbe o jovem com menos 18 anos de trabalhar em ambientes considerados insalubres. Rezler entende ser possível criar mecanismos para neutralizar esta situação, como uso de equipamentos de segurança e jornada reduzida. "Sem este jovem vejo um futuro cada vez mais difícil para a indústria", alerta.
Em Caxias do Sul, as escolas do Senai sempre foram as principais formadoras de mão de obra para o setor. Ainda que siga relevante, atendendo gratuitamente um grande número de estudantes em situação de vulnerabilidade, a entidade se depara com a falta de interessados para vários cursos oferecidos. "É uma ferramenta importante, mas pode-se discutir se está no caminho certo diante das mudanças do perfil do jovem", ressalta.
Rezler também alerta para a necessidade de uma visão pública mais adequada na criação de atrativos que retenham os trabalhadores e as empresas na cidade. "É preciso criar um ambiente mais saudável, que a comunidade seja atrativa e acolhedora para quem vem de fora e quem já está aqui. Perde-se muita gente por falta de atrativos", comenta.

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