A sensação externada por boa parte do empresariado da Serra Gaúcha ligado ao segmento metalmecânico é que, da forma como a economia e a política vêm sendo conduzidas atualmente, tanto 2025 quanto 2026 devem ser anos de indicadores similares ao exercício passado ou abaixo. O presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Simecs), Ubiratã Rezler, observa que tem ouvido muitos relatos de dificuldades e alguns, de setores específicos, demonstrando satisfação. "A verdade é que as empresas estão desacelerando as atividades e a expectativa é de manutenção do cenário do ano passado", projeta.
De acordo com o dirigente, o cenário se estende para 2026 por conta das eleições, da adoção da reforma tributária em função do início do período de dualidade e de prováveis mudanças na legislação trabalhista em decorrência da proposta de fim da escala 6x1. Rezler destaca que há um encaminhamento no sentido de aprovar 40 horas semanais, sem redução salarial. "O prejuízo será grande e reduzirá ainda mais a já baixa produtividade do setor", observa Rezler. Para ele, a política trabalhista brasileira é engessada e precisa ser rediscutida para tornar-se mais flexível.
Outra preocupação para o ano é com a cadeia de fornecimento, em que parte dos insumos têm sido reajustados em até 15%. Os importados em razão da volatilidade da moeda e os nacionais pelo Custo Brasil. Acrescenta-se a isto a expectativa de reajuste na energia elétrica em razão da baixa dos reservatórios hídricos. A mão de obra, em falta no setor, preocupa pela volatilidade, com uma grande rotatividade, mas também pelo aumento dos custos dos benefícios ofertados, como alimentação, transporte e saúde.
Rezler avalia a guerra comercial que o novo governo americano abriu com vários parceiros sob duas óticas. A primeira é de que o aumento maior para a maioria dos países, poupando o Brasil que ficou com 10% da tarifa, abre oportunidades para o empresariado local. Já a China deve buscar outros mercados para colocar os itens que produz. "Passa a ser uma ameaça indireta. O Brasil consegue colocar sua produção nos Estados Unidos, mas é ameaçado em outros mercados. O empresário deve estar atento para não perder oportunidades, a exportação deve ser estratégica e não oportunista", recomenda.
Mesmo diante do quadro de incertezas e ameaças, Ubiratã Rezler argumenta que o empresariado deve manter uma política cautelosa de investimentos, aplicando naquilo que é necessário. "Investimento zero é nefasto e o momento atual é de redução nos preços das máquinas em função do mercado mais retraído", alerta.
Frisa que, a princípio, aplicar os recursos no sistema financeiro com juros elevados pode ser interessante, mas a perda futura também deve ser considerada. "Melhorar o ambiente de trabalho e modernizar com cuidado é fundamental para o crescimento do negócio", afirma. Avalia que produtos novos têm passado por um momento de queda no mercado, enquanto os focados em manutenção e reforma estão em alta, como máquinas agrícolas, caminhões e implementos rodoviários. "É preciso ser competitivo e criativo para vencer esta etapa", registra.
Entidade mobilizada para descarbonização

Para Rezler, mercado está exigindo mudança cultural das empresas
/Fabio Grison/divulgação/JCUma das principais ações do Simecs, iniciado no ano passado, tem sido incentivar o setor em geral a preocupar-se com a descarbonização, que se tornará essencial na manutenção e crescimento dos negócios. Segundo Ubiratã Rezler, grandes organizações estão transformando produtos com outros insumos para reduzir custos e deixar um legado diferente. "A descarbonização é um pilar de atuação do Simecs e muitos clientes estão investindo nesta estratégia", afirma.
Para Rezler, que adota a ferramenta em sua empresa desde 2013, o mercado está exigindo esta mudança cultural, que é simples e de baixo custo. "Ela deve ser feita agora e não esperar 2030", reforçou. O Simecs recebeu recurso para oportunizar a descarbonização junto a associados interessados. No ano passado, foram feitos 70 diagnósticos de empresas e 100 deverão produzir inventário. Para 2026, a meta é dobrar os números.
O presidente reconhece que o assunto não é facilmente deglutível pelo empresário por gerar custos num momento já difícil. Mas frisa que sem a ferramenta a possibilidade de perder clientes importantes e ter dificuldades em gerar novos negócios é muito grande.
"Por enquanto, as iniciativas por ESG são por demanda de mercado e não por iniciativa própria. Importante é aplicar aquilo que faz sentido e provoque mudanças em benefício das comunidades", reforça.