As consequências da pandemia e da enchente do ano passado — que resultaram no fechamento temporário ou definitivo de negócios e empreendimentos —, a escassez de matéria-prima e a alta do dólar que impacta nos insumos (cevada, lúpulo e embalagens) compõem um panorama adverso para o setor gaúcho de cervejas especiais e microcervejarias independentes.
"A dificuldade de repassar esses custos ao consumidor final é um dos grandes entraves para as microcervejarias, que competem com grandes cervejarias capazes de negociar melhores preços com fornecedores", destaca o presidente da Associação Gaúcha de Microcervejarias (AGM) do Estado, Matheus Andrade. Executivo na entidade, Gustavo Cunha complementa: "Outro desafio é a complexidade tributária e a falta de isonomia fiscal entre os estados, que dificultam a expansão das microcervejarias para outros mercados".
A principal demanda do setor atualmente está relacionada à simplificação da carga tributária, juntamente com as mudanças propostas na nova reforma. A AGM afirma integrar ativamente as discussões, em parceria com outras entidades relevantes, com o objetivo de buscar e lutar por melhores condições para o setor, envolvendo incentivos fiscais, linhas de crédito emergenciais e políticas públicas que promovam a recuperação e o fortalecimento do empreendedoras. O combate à concorrência desleal, reforçando o esclarecimento do consumidor sobre as cervejas independentes, a prática de dumpings e compra de pontos de venda são outras bandeiras do segmento. Fora isso e como de resto em toda a indústria, a mão de obra qualificada é insuficiente.
"É unânime entre as cervejarias associadas à AGM a dificuldade em encontrar profissionais tecnicamente habilitados para atuar nos processos de produção. A fabricação de cervejas artesanais exige conhecimentos específicos em brassagem, fermentação, controle de qualidade e envase, habilidades que nem sempre são contempladas em cursos tradicionais de formação", observa o presidente da AGM.
Além disso, a alta rotatividade no mercado e a falta de programas de capacitação específicos para o setor agravam ainda mais esse cenário. De acordo com os dirigentes, a AGM tem incentivado parcerias com instituições de ensino e promovido capacitações técnicas para elevar o nível de qualificação dos profissionais, visando fortalecer a competitividade e a qualidade das cervejarias gaúchas.
A favor do segmento, está a coragem em inovar. O uso de energia solar e práticas de economia circular, como o reaproveitamento de subprodutos, o uso de embalagens eco friendly e a implementação de sistemas automatizados para brassagem e envase, aumentando a eficiência e a consistência da produção, são exemplos de iniciativas dessa ordem. Do ponto de vista do consumidor, os dirigentes citam a criação de experiências imersivas e a aposta na produção de cervejas zero álcool e low carb (com baixas calorias e baixo teor alcoólico). "Para 2026, as projeções indicam um volume de comercialização de cerveja zero álcool superior a 1 bilhão de litros. Para se ter uma ideia, em 2020 o volume foi de 197 milhões", ilustra Cunha.
Entre as oportunidades dessa indústria, os dirigentes apostam no turismo, por meio do fortalecimento de rotas temáticas e festivais regionais. "O turismo é essencial para o fortalecimento da cultura cervejeira no Estado. Ele não apenas movimenta o mercado local, mas também ajuda a contar a história e a diversidade do nosso setor", conclui Cunha.