Interrompido desde as enchentes de 2024, a volta do transporte ferroviário de etanol para o Polo Petroquímico de Triunfo é considerada como essencial pela Braskem. A empresa utiliza o álcool para produzir o seu chamado plástico verde (feito de fonte renovável, no caso a cana-de-açúcar).
A malha férrea gaúcha foi duramente impactada no evento climático de 2024 e os estragos deixaram o Estado sem ligação por esse modal com Santa Catarina e as outras regiões do País. O diretor industrial da Braskem no Rio Grande do Sul, Nelzo Silva, reforça que a retomada da conexão ferroviária com o restante do Brasil é fundamental para a melhoria da competitividade da operação, visto que o planejamento da companhia sempre foi utilizar o etanol produzido em abundância no Sudeste.
Ele afirma que o negócio de eteno e polietileno verdes, produtos fabricados a partir do álcool, continua sendo estratégico para a Braskem. Por enquanto, a empresa está empregando outros modais temporariamente para trazer a matéria-prima, até a recuperação da conexão ferroviária. "A companhia passou a usar caminhões para garantir o abastecimento do etanol e a continuidade da operação da planta, acarretando em mil viagens mensais", comenta Silva.
Ele lembra que essa decisão logística ocorreu depois de a Braskem ter utilizado temporariamente a cabotagem para atender à demanda, modal que envolve valores mais expressivos e tempo muito maior para transporte da matéria-prima, o que, por consequência, gera perda de competitividade. O diretor industrial da empresa recorda que a planta de plástico verde foi inaugurada em agosto de 2010. Com capacidade de produção de 200 mil toneladas ao ano à época, a unidade foi resultado de um investimento de R$ 500 milhões.
Em 2023, a planta recebeu um novo ciclo de investimentos da ordem de R$ 430 milhões para a ampliação de 30% de sua capacidade produtiva para 260 mil toneladas ao ano e este ano ampliou para 275 mil toneladas a partir de melhorias operacionais. "Desse montante investido na expansão em 2023, R$ 20 milhões foram aplicados na melhoria do terminal ferroviário localizado dentro da unidade Braskem no Polo gaúcho, que recebia o etanol até então", afirma Silva. Ele destaca ainda que a Braskem é a única produtora do polietileno verde e exporta o produto gaúcho para todo o mundo.
Sobre futuras movimentações em Triunfo, Silva adianta que a Braskem vai investir pelo Regime Especial da Indústria Química (REIQ) Investimentos (programa do governo federal que prevê incentivos fiscais) mais de R$ 306 milhões para aumentar em 50 mil toneladas a capacidade de produção de polietileno (nesse caso de origem fóssil) na planta de Triunfo, que passará para 324 mil toneladas. Também está em andamento o planejamento para realização de paradas de manutenção em unidades da Braskem no complexo petroquímico de Triunfo em 2026. "Mas, ainda não temos como informar valores, pois estamos na etapa final de planejamento", assinala o diretor industrial.
Ainda quanto ao tema competitividade, Silva ressalta que a Braskem tem urgência em adotar uma alternativa à nafta como matéria-prima para otimizar o seu negócio. Há análises em andamento nesta direção, como utilizar etano líquido ou propano. Ambos os insumos podem vir de fornecedores nacionais ou do exterior e serem transportados pela Lagoa dos Patos.
O diretor comenta que o principal fator que indicará o caminho a ser seguido será a disponibilidade da molécula dessa matéria-prima a valores adequados e condições logísticas favoráveis em relação aos custos. Ainda não há prazo definido para viabilizar a iniciativa.
No Rio Grande do Sul, a Braskem possui oito unidades industriais no Polo Petroquímico de Triunfo, que produzem aproximadamente 5 milhões de toneladas de químicos e de resinas termoplásticas polietileno e polipropileno, utilizadas para uma infinidade de aplicações, além do plástico verde. Os investimentos da companhia no Estado totalizaram cerca de
R$ 5,7 bilhões nos últimos 12 anos.
O setor de transformação de plástico no Rio Grande do Sul está enfrentando um enorme desafio nos últimos anos, admite o presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico no Estado do Rio Grande do Sul (Sinplast-RS), Alfredo Schmitt. Segundo o dirigente, um dos principais motivos para esse cenário são os reflexos da operação da Zona Franca de Manaus.
Schmitt salienta que aquela região do Brasil possui benefícios tributários que foram recentemente prorrogados por 50 anos. O presidente do Sinplast-RS enfatiza que essa condição faz com que matérias-primas que entram por lá tenham um enorme diferencial de competitividade. "E isso afeta diretamente as indústrias do Rio Grande do Sul", alerta o dirigente.
Conforme Schmitt, uma das questões que mais impacta os transformadores que não contam com os benefícios da Zona Franca de Manaus é o crédito presumido de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de 15% sobre as embalagens flexíveis. Ele adianta que tanto as empresas do setor no Estado como o governo gaúcho estão estudando caminhos para atenuar esse panorama.
O representante do Sinplast-RS diz que o poder público local tem sido parceiro com programas de apoio para aumentar o consumo e transformação de plástico no Rio Grande do Sul, mas "a gente precisa fazer mais". Schmitt ressalta que é um problema que atinge também outros estados brasileiros. "Tem gente que não está mais produzindo nada e só está comprando embalagens flexíveis em Manaus", adverte.
O diretor da MaxiQuim Assessoria de Mercado, João Luiz Zuñeda, concorda que a perda de competitividade de companhias do segmento gaúcho de plástico vem sendo agravada com os incentivos concedidos na Zona Franca de Manaus. Ele considera que esse é um dos fatores que fez com que o Polo Petroquímico de Triunfo não tivesse, nos últimos anos, uma expansão de maior porte.
"Mesmo que tenham pequenas ampliações, o eteno verde (feito do etanol) e a Braskem desgargalando alguma coisa, um ou outro investimento, mas os grandes aportes não aconteceram no Sul", aponta o especialista. O futuro do Polo de Triunfo, antecipa Zuñeda, dependerá muito das decisões que a Braskem, principal companhia do complexo, adotará.
"Só vai acabar tendo uma luz que sinaliza que esse túnel vai chegar a algum lugar a partir do momento que a gente ver claramente o que vai acontecer com a Braskem", diz o consultor. A empresa há algum tempo está envolvida em tratativas de venda, porém ainda não se chegou a uma definição sobre essa movimentação. Quando essa questão for resolvida, o diretor da MaxiQuim prevê que pode ser destravado um novo ciclo de investimento.
O diretor industrial da Braskem no Rio Grande do Sul, Nelzo Silva, salienta que, atualmente, assim como em todo o mundo, o panorama é de desafios, reflexo de um movimento global de ciclo de baixa da petroquímica, que ampliou a capacidade de produção mundial sem que a demanda acompanhasse essa evolução. "Esse cenário é agravado aqui por conta do aumento das importações de resinas termoplásticas, em especial pela Zona Franca de Manaus, prejudicando a competitividade da indústria nacional", conclui Silva.