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Publicada em 23 de Maio de 2025 às 00:15

Protagonismo gaúcho na indústria de calçados persegue maior competitividade

Ferreira estima investimento de mais de R$ 1,7 bilhão neste ano, 7% mais do que o registrado em 2024

Ferreira estima investimento de mais de R$ 1,7 bilhão neste ano, 7% mais do que o registrado em 2024

/Abicalçados/divulgação/jc
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Loraine Luz
Resultados dos primeiros meses de 2025 demonstram que o setor calçadista gaúcho vem pegando fôlego, apesar do cenário externo instável pelo estresse entre Estados Unidos e China e mesmo tendo sido um dos segmentos mais impactados pela maior catástrofe climática vivida pelo Estado, há um ano.
Resultados dos primeiros meses de 2025 demonstram que o setor calçadista gaúcho vem pegando fôlego, apesar do cenário externo instável pelo estresse entre Estados Unidos e China e mesmo tendo sido um dos segmentos mais impactados pela maior catástrofe climática vivida pelo Estado, há um ano.
Os postos de maior empregador do ramo calçadista do País e líder nas exportações nacionais estão mantidos pelo Estado, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). Os 1,7 mil novos postos gerados no primeiro trimestre e os US$ 165,5 milhões frutos da venda ao exterior de 11,48 milhões de pares nos quatro meses iniciais do ano imprimem um viés positivo ao setor.
"Apesar do cenário nebuloso no mercado, especialmente diante das instabilidades internacionais provocadas pela guerra tarifária entre Estados Unidos e China, o setor calçadista brasileiro registrou incremento de 0,8% na sua produção ao longo do primeiro trimestre. O Rio Grande do Sul, como segundo principal produtor, em pares, do Brasil, reflete esse momento positivo", resume o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira.
Entretanto, o clima interno ainda é de recuperação. Afinal, segundo a Abicalçados, 60% dos seus associados precisaram paralisar atividades em maio passado. No Vale do Taquari, região duramente castigada pela histórica enchente, houve estruturas fabris completamente destruídas, com queda de 35% na produção naquele dramático mês em algumas unidades, além de perdas de matérias-primas na ordem de R$ 60 milhões. À época, as 1,8 mil empresas empregavam diretamente mais de 85 mil pessoas.
Atualmente, o estoque total de emprego (primeiro trimestre) ficou em 82,6 mil empregos diretos, 3,8% menos do que no mesmo período de 2024. No quadrimestre, as fábricas gaúchas conquistaram incremento de 3,3% em volume de vendas ao exterior, mas queda de 1,8% em receita ante o mesmo período de 2024. Com alta tanto em volume ( 54,1%) quanto em receita ( 25,6%) em relação ao mesmo intervalo do ano passado, a Argentina ultrapassou os Estados Unidos como principal importador do calçado brasileiro no primeiros quatro meses de 2025.
"O Estado tem, hoje, todas as ferramentas para continuar sendo o principal produtor de calçados de valor agregado do País, bem como o maior exportador brasileiro em divisas geradas", garante Ferreira. Com relação à expansão dos investimentos do setor, o dirigente projeta uma perspectiva positiva, mesmo que a utilização da capacidade instalada esteja na ordem de 70%, o que inibe novas investidas. "Mesmo assim, a indústria calçadista é uma das que mais investe quando falamos de Indústria da Transformação. Para 2025, estimamos um investimento de mais de R$ 1,7 bilhão, 7% mais do que o registrado em 2024", afirma.
O crescimento das importações de calçados, em especial da Ásia, preocupa a indústria calçadista como um todo. A Abicalçados tem atuado junto ao governo federal para conter a entrada massiva de produtos asiáticos — principalmente do Vietnã, Indonésia e China.
"A Abicalçados vem alertando o governo federal sobre a invasão de calçados asiáticos. O pleito diz respeito ao aperfeiçoamento de mecanismos de defesa comercial, como o antidumping, que hoje existe apenas contra o calçado chinês, além da possibilidade de criação de cotas para importação", explica o dirigente. Dados elaborados pela Abicalçados apontam que, somente em abril, entraram no Brasil 3,6 milhões de pares, pelos quais foram pagos US$ 46,6 milhões, incrementos de 41,2% em volume e de 69,3% em receita na relação com o mesmo período de 2024. No acumulado do ano, as importações somaram 16,5 milhões de pares e US$ 188,9 milhões, altas tanto em volume ( 28,3%) quanto em receita ( 23,4%) em relação ao mesmo intervalo do ano passado.
Ainda na esfera federal, a entidade trabalha pelo não retrocesso da reforma trabalhista, bem como pela simplificação tributária do trabalho. No âmbito estadual, a principal demanda é pela internalização da deliberação do Comsefaz, que prevê o aumento da alíquota de ICMS de 17% para 20% sobre vendas realizadas via plataformas internacionais de e-commerce. A medida visa alinhar a tributação dos produtos importados com a dos produtos nacionais, tornando a competição mais equilibrada e estimulando o consumo de bens produzidos no Brasil.
Logística e formação de mão de obra qualificada são outros dos desafios para o setor calçadista, como de resto para todos os segmentos industriais brasileiros. Segundo Ferreira, o sistema de transportes do País é ineficiente e de alto custo, o que compromete a competitividade nos mercados interno e externo. Além da necessidade de políticas públicas e incentivos para capacitação, o setor entende que é importante resgatar o interesse dos jovens pela carreira industrial.
"A questão da mão de obra é um desafio muito importante para a indústria em geral. Precisamos não somente de mais incentivos e projetos de capacitação, mas também resgatar, no jovem brasileiro, a vontade e o orgulho de trabalhar na indústria por meio do investimento maciço em tecnologia", sugere.
Neste ponto, o dirigente cita a instalação de uma nova escola Sesi de Ensino Médio e educação de jovens e adultos em Novo Hamburgo, mais especificamente na Feevale, além da nova unidade móvel do Senai-RS para atuação nos segmentos de couro e calçado na região do Vale do Sinos.

A força do polo calçadista do Rio Grande do Sul

A indústria gaúcha de calçados — composta por mais de 1,8 mil empresas, a maior parte de micro e pequeno portes — teve uma produção de 203 milhões de pares em 2024, alta de 3,3% ante 2023.
Cerca de 82,6 mil pessoas estão empregadas no setor, de forma direta. Isso representa em torno de 12% de todo o emprego gerado pela Indústria de Transformação gaúcha.
Em 2024, o setor gaúcho exportou mais de 32 milhões de pares, principalmente para Estados Unidos e Argentina.
No País, com base em números da Secex, as exportações somaram 39 milhões de pares e US$ 349 milhões no primeiro quadrimestre do ano, resultados superiores tanto em volume ( 9,7%) quando em receita ( 1,5%) em relação ao mesmo período do ano passado.
A Argentina lidera compra do calçado brasileiro. No quadrimestre, o país vizinho importou 4,65 milhões de pares, que geraram US$ 77,82 milhões ( 54,1% em volume e 25,6% em receita) em relação ao mesmo intervalo de 2024. Antes principal destino dos pares nacionais, os Estados Unidos caíram para o segundo lugar no quadrimestre, com a importação de 3,53 milhões de pares brasileiros por US$ 67,36 milhões, incremento de 1,7% em volume e queda de 6,3% em receita ante igual período de 2024.
No mês de abril, as principais origens das importações foram a China (1,16 milhão de pares e US$ 2,5 milhões, incremento de 3,3% em volume e queda de 25,4% em receita na relação com abril passado), Vietnã (951,58 mil pares e US$ 19,74 milhões, incrementos de 62% e 83%, respectivamente, ante abril de 2024) e Indonésia (742 mil pares e US$ 14,35 milhões, incrementos de 152,7% e 192,5%, respectivamente, ante abril de 2024).
Com base nos números do MTE, a indústria calçadista brasileira criou 979 novas vagas em março. O saldo do trimestre ficou positivo em 9,1 mil empregos.

Feito aqui

Em março, foi lançado o selo do calçado 'Desenvolvido no RS' (DRGS), uma iniciativa do Sindicato da Indústria de Calçados do Estado do Rio Grande do Sul (Sicergs), em evento promovido pela Frente Parlamentar do Setor Coureiro-calçadista, da Assembleia, em parceria com o Sicergs e os sindicatos das Indústrias de Calçados de Igrejinha, Novo Hamburgo, Sapiranga, Parobé, Três Coroas, Campo Bom, Estância Velha, Dois Irmãos, Ivoti e Farroupilha e o Sindicato das Indústrias do Vestuário e do Calçado de São Leopoldo.

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