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Publicada em 24 de Maio de 2023 às 22:35

Sustentabilidade é peça-chave no futuro da indústria

Adesão do setor à agenda ESG ajuda a viabilizar a presença de produtos gaúchos no mercado global

Adesão do setor à agenda ESG ajuda a viabilizar a presença de produtos gaúchos no mercado global

Beira Rio/Divulgação/JC
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Patrícia Lima, especial para o JC
Patrícia Lima, especial para o JC
Em 2016, o último lote de resíduos resultantes da produção de calçados da Beira Rio, uma das gigantes do setor no País, com sede no Rio Grande do Sul, foi para um aterro sanitário. A partir de então, todo o excedente da produção ganha destinação sustentável e, principalmente, rentável, por voltar à linha de produção em forma de matéria-prima.

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De acordo com o último Relatório de Sustentabilidade da empresa, publicado em 2020, somente neste ano haviam sido enviados para coprocessamento e reciclagem mais de 3 mil toneladas de poliuretano. A matéria-prima resultante foi utilizada em itens para os pontos de venda da marca como cabides, pufes e displays, e também em novas palmilhas para os sapatos.
Até mesmo as embalagens dos calçados da marca que chegaram ao mercado foram produzidas com 100% de material reciclado oriundo das próprias fábricas.
Antes de o assunto tomar o debate mundial, a Beira Rio já estava trabalhando para adequar-se a uma tendência que agora dita os rumos da indústria no mundo: sustentabilidade não é mais acessório nem enfeite para turbinar relatórios. Quem não entra de cabeça nessa ideia por meio da adesão à tal agenda ESG estará fora do mercado em pouco tempo.
"Para nós isso é definitivo. Exigimos dos nossos fornecedores a adesão aos selos que certificam práticas sustentáveis na cadeia do calçado e, ao mesmo tempo, somos auditados pelos clientes em todo o mundo, que cada vez mais valorizam a responsabilidade ambiental na produção. O mercado procura por quem está correto e isso é vantagem para nós", afirma o diretor industrial da Calçados Beira Rio, João Arcanjo Henrich.
No ano passado, a Confederação Nacional da Indústria elaborou um levantamento para mapear a integração dos critérios ESG nas estratégias corporativas das indústrias do País. O resultado demonstrou que metade das unidades consultadas já formalizou, na estratégia corporativa da empresa, o compromisso de aderir à agenda ESG. Entre os participantes da pesquisa, 77% informaram que já haviam ouvido falar sobre o termo. Para 71,6%, são as exigências do mercado consumidor que levam à busca pela adesão à agenda de sustentabilidade, investimento social e governança. O estudo não setoriza os dados por estados, mas demonstra uma tendência que se replica na indústria de forma generalizada. Para uma atividade que, de acordo com números da CNI e da Fiergs, representa mais de 23% do PIB gaúcho, acumulando 8% de todas as exportações industriais do País, é determinante considerar esse futuro.
Professor da Escola de Economia da Unisinos, Marcos Lélis observa que a demanda mundial por produtos industrializados já está forçando a adoção de padrões ESG no que ele chama de "caminho sem volta". "Não está mais em discussão se as práticas ESG devem ou não ser adotadas. A questão agora é a velocidade com que as empresas vão se adaptar a essa nova realidade. Quem perder tempo pode perder também a sua fatia de mercado", destaca Lélis.
Enquanto algumas empresas já estão no caminho para operarem dentro de uma estratégia compatível com os padrões ESG, há, segundo o professor, organizações que sequer começaram a falar sobre isso. São dois grupos heterogêneos que compõem o tecido industrial do Estado. "Quem largou na frente para se adequar a essa nova realidade terá padrões de sustentabilidade e grande produtividade. E quem ficou para trás pode perder totalmente a relevância", alerta.
 

DADOS DA INDÚSTRIA

Adesão do setor à agenda ESG ajuda a viabilizar a presença de produtos gaúchos no mercado global

Adesão do setor à agenda ESG ajuda a viabilizar a presença de produtos gaúchos no mercado global

VOLKSWAGEN/DIVULGAÇÃO/JC
A Indústria no RS

- Participação no PIB Estadual – 23,2% (queda de 4,3% nos últimos 10 anos)

- Estimativa de participação em 2023 – 25,3%

- Participação no PIB Nacional em 2020 – 6,4%

- Total do PIB Industrial no RS – R$ 95,2 bilhões



Dados do setor

- Em 2021, o Rio Grande do Sul tinha 45.842 empresas industriais

- De todas as empresas industriais brasileiras, 9,4% são gaúchas

- Entre as exportações de produtos industrializados do Brasil, 7,6% são da indústria gaúcha

- A indústria do Rio Grande do Sul exportou US$ 10,977 milhões em 2022

- O estado é o 4º colocado em exportações industriais do País

- A indústria é responsável por 48,6% das exportações gaúchas

- 27.1% do emprego formal do RS está na indústria (isso corresponde a 7,8% da força de trabalho nacional)

- A indústria gaúcha pagou R$ 21,5 bilhões somente de ICMS em 2022



Perfil da Indústria do RS (2020)

Participação dos setores no PIB industrial RS

- Transformação - 69,6%

- Construção 17,4%

- Serviços Industriais de Utilidade Pública - 12,4%

- Extrativa 0,6%



Indústria gaúcha por setores

Construção – 17,4%

Alimentos – 16,9%

Serviços Industriais de Utilidade Pública - 12,4%

Químicos – 7,3%

Máquinas e Equipamentos – 6,4%

Produtos de metal - 5,2%

Veículos automotores - 4,1%

Derivados de petróleo e biocombustíveis - 4,0%

Couros e calçados - 3,5%

Outros – 22,8%

Fontes: IBGE, CNI e Fiergs

RS tem potencial de produzir energias renováveis e hidrogêncio verde

Apesar de ainda ser novidade para muita gente, a agenda ESG está próxima da realidade do Rio Grande do Sul, especialmente quando o assunto é descarbonização da economia, contribuindo para o esforço global de frear as mudanças climáticas. Com mais de 80% de sua matriz energética com origem em fontes renováveis, segundo dados da Secretaria do Meio Ambiente, o Estado se prepara para lançar um plano ambicioso que, em se concretizando, pode favorecer a adesão da indústria aos critérios.
Palavra da moda entre os gaúchos nos últimos tempos, o hidrogênio verde vem sendo oficialmente estudado desde julho de 2022, quando o governo contratou a empresa de consultoria americana McKinsey & Company para avaliar as perspectivas do mercado desse combustível. Abundante na natureza, o processo de sintetização do hidrogênio não gera carbono. Mas, para ser considerado verde, é preciso utilizar fontes alternativas no processo, como a eólica e a solar.
Segundo o estudo, o Rio Grande do Sul tem grande potencial não apenas para a produção e transporte do hidrogênio verde, mas também para a geração de energia eólica e solar. De acordo com o governo do Estado, já foram firmados quatro memorandos de entendimento com empresas do setor interessadas em implementar projetos relacionados ao hidrogênio sustentável no Rio Grande do Sul. Boa parte desses projetos considera a integração com investimentos em usinas eólicas em alto-mar, chamadas de off-shore.

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