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Coronavirus

- Publicada em 01 de Janeiro de 2022 às 10:45

Síndrome pós-Covid: perda de memória e dificuldade de raciocínio chamam atenção em ambulatórios no RS

Até o momento, 416 atendimentos médicos foram realizados no ambulatório do Hospital de Clínicas de Porto Alegre

Até o momento, 416 atendimentos médicos foram realizados no ambulatório do Hospital de Clínicas de Porto Alegre


Clovis Prates/HCPA/Reprodução/JC
Fabrine Bartz
As limitações da Covid-19 se repetem em pacientes de regiões distintas do Rio Grande do Sul. Embora questões neurológicas e respiratórias continuem como as principais sequelas da síndrome pós-Covid-19, a perda de memória e a dificuldade de raciocínio chamam atenção em ambulatórios de Porto Alegre e da região Sul do Estado.
As limitações da Covid-19 se repetem em pacientes de regiões distintas do Rio Grande do Sul. Embora questões neurológicas e respiratórias continuem como as principais sequelas da síndrome pós-Covid-19, a perda de memória e a dificuldade de raciocínio chamam atenção em ambulatórios de Porto Alegre e da região Sul do Estado.
Duas mulheres com 25 anos foram as pacientes mais jovens do ambulatório da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porto Alegre, até o momento. Com cinco meses de funcionamento, o ambulatório, localizado no Centro de Saúde IAPI, já realizou 605 atendimentos nas áreas de fisioterapia, psicologia, enfermagem, nutrição, fonoaudiologia, acupuntura e osteopatia.
No total, 147 pessoas foram avaliadas e 68 seguem em acompanhamento. Em operação desde 12 de julho, pacientes com a síndrome pós-Covid-19 apresentam fadiga, dor, perda de força, formigamento nas mãos e pés, ansiedade e insônia. Além disso, também relatam tosse noturna, tontura, alteração da pressão arterial, azia, dificuldade para engolir e perda de memória. “Não há uma escala para dizer que talvez o cansaço é pior ou melhor do que uma perda motora. Então, tem diferentes sequelas, mas não é uma única escala”, explica a coordenadora do ambulatório, a fisioterapeuta Aline Casaril.
De acordo com a profissional, sequelas que dependem da parte muscular como, por exemplo, fadiga e perda de força, possuem uma evolução mais rápida. Porém, o processo de recuperação das funções neurológicas é lento. Dessa forma, o paciente leva mais tempo para recuperar o olfato e o paladar, assim como a sensibilidade e o desaparecimento do formigamento. “Às vezes, a pessoa progride muito no ganho de força e de movimento, mas continua com aquela alteração de sensibilidade”, comenta Aline.
O tempo de internação agrava o quadro dos pacientes. Entre aqueles que realizaram o acompanhamento no ambulatório de reabilitação pós-Covid-19-IAPI, 86% foram internados e um terço esteve em ventilação mecânica. Um homem de 53 anos vivenciou o período mais longo de internação. Foram, ao todo, 180 dias. De acordo com Aline, a perda de peso e muscular estão entre os fatores que podem ser desencadeados com o longo período de internação, assim como os quadros de úlcera.
Situações graves, que exijam avaliações mais complexas, contam com o apoio do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Até o momento, 416 atendimentos médicos foram realizados no local.
Dependendo dos sintomas, o paciente pode ser encaminhado para os serviços de fisioterapia, psiquiatria, psicologia, nutrição, clínica médica, pneumologia e fisiatria. Este último é composto por um equipe multidisciplinar (médicos fisiatras, acupunturistas, do esporte e cardiologista, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogo, enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicólogo, assistente social e educadores físicos) que trabalha visando a recuperação de incapacidades, maximização das potencialidades existentes e ganho de funcionalidade. “Buscamos a independência do paciente e sua reinserção na sociedade, dentro de suas possibilidades”, relata a médica Maria da Graça Lopes Tarragó, que integra o Serviço de Reabilitação Física do HCPA.
No Sul do Estado, as duas principais limitações estão relacionadas com questões neurológicas e respiratórias, como a falta de ar e sequelas pulmonares. Considerado o primeiro do Estado, o ambulatório Pós-Covid-19 do Hospital Universitário da Universidade Federal de Rio Grande (HU-Furg) realizou 800 atendimentos desde outubro de 2020.
A médica pneumologista Alessandra Zille explica que há estudos em andamento para identificar o que faz os pacientes terem mais ou menos sintomas da doença. “Algumas coisas estão relacionadas ao grau de comprometimento pulmonar dos pacientes que estiveram internados”, diz.

O impacto da 'névoa cerebral' em pacientes pós-Covid

A perda de memória e a dificuldade de raciocínio são fatores em comum entre os pacientes dos ambulatórios gaúchos. Estudos norte-americanos chamam o fenômeno de névoa cerebral. De acordo com Alessandra, é como se houvesse uma barreira na frente e eles não conseguem lembrar de algumas situações.
Para realização de um tratamento, no primeiro momento, é feita uma avaliação com o neurologista. Além da deficiência de vitaminas, o tempo de internação e a questão familiar impactam na recuperação do paciente. “Na semana passada, atendi um (paciente) que perdeu três da mesma família. No mesmo momento de Covid, estava no hospital enquanto tinha familiares que faleceram”, comenta a pneumologista .
No ambulatório de reabilitação pós-Covid-19-IAP há duas pacientes que demonstram, de forma clara, a perda de memória. Uma está com dificuldades de retomar o trabalho e a outra, que é professora, esquece coisas que antes eram automáticas. “Como a maioria dos pacientes está em uma idade funcional e laboral, essa perda de memória tem impactado bastante” conta a coordenadora Aline.
Um estudo publicado em fevereiro, na revista especializada Cancer Cell, explica que o sintoma classificado como “Covid de longa duração” ou “Névoa cerebral”, pode ser uma consequência da presença de moléculas inflamatórias do líquido cefalorraquidiano, que fica ao redor do cérebro e da medula espinhal. O estudo se concentrou em 18 pacientes com Covid-19 e com problemas neurológicos graves que estavam hospitalizados no Memorial Sloan Kettering (MSK).
Disponível do site do Museu da Vida, os pesquisadores brasileiros Waldir Ribeiro, Clarice Ramiro, Miguel de Oliveira e Suzi Aguiar compartilharam um artigo sobre a névoa cerebral e a Covid-19. De acordo com eles, o quadro que se apresenta causa transtornos a longo e médio prazos, tais como: perda de memória, fadiga, confusão mental, dificuldade de concentração e articulação da fala. A névoa cerebral também pode se manifestar a partir de outras infecções, como a herpes, por exemplo.
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