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Saúde

- Publicada em 09 de Julho de 2021 às 13:13

Com novas cepas, RS analisa reduzir intervalo entre as doses da vacina

Antecipação ampliaria proteção da população já imunizada, mas reduziria o ritmo de avanço nas faixas etárias

Antecipação ampliaria proteção da população já imunizada, mas reduziria o ritmo de avanço nas faixas etárias


LUIZA PRADO/JC
A chegada da variante Delta do novo coronavírus e sua inevitável disseminação junto à população pode fazer com que o esquema de vacinação no Rio Grande do Sul seja alterado nos próximos dias. Isso porque a Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS) analisa a possibilidade de reduzir o intervalo de aplicação entre as duas doses do imunizante. O objetivo seria acelerar a proteção completa contra a doença, evitando uma nova elevação na curva de casos e óbitos causados pela pandemia. Além disso, uma antecipação evitaria que o prazo estabelecido pelas farmacêuticas nas bulas das vacinas para a aplicação da dose 2 seja ultrapassado, situação que vem ocorrendo.
A chegada da variante Delta do novo coronavírus e sua inevitável disseminação junto à população pode fazer com que o esquema de vacinação no Rio Grande do Sul seja alterado nos próximos dias. Isso porque a Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS) analisa a possibilidade de reduzir o intervalo de aplicação entre as duas doses do imunizante. O objetivo seria acelerar a proteção completa contra a doença, evitando uma nova elevação na curva de casos e óbitos causados pela pandemia. Além disso, uma antecipação evitaria que o prazo estabelecido pelas farmacêuticas nas bulas das vacinas para a aplicação da dose 2 seja ultrapassado, situação que vem ocorrendo.
Estudo publicado na revista científica Nature aponta que as duas doses dos imunizantes da AstraZeneca e da Pfizer eram resposta imune contra a variante Delta em 95% dos pacientes vacinados.
Ainda não há definição a respeito da questão no Estado. O governo gaúcho escuta especialistas técnicos independentes antes de tomar uma decisão. Em Porto Alegre, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) irá manter os prazos vigentes atualmente. O tema foi tratado na quinta-feira (8) na reunião da Comissão Intergestores Bipartite (CIB). Segundo a assessoria da SMS, como há um movimento em outros estados e municípios no sentido de mudar os intervalos, o Conselho dos Secretários Municipais de Saúde, junto com a SES-RS, irá enviar uma nota ao Ministério da Saúde referindo o assunto.
Uma outra questão também envolve uma possível redução no intervalo da aplicação das doses: o posicionamento do Ministério da Saúde. Ao menos cinco estados já anunciaram a antecipação mesmo sem o governo federal ter definido uma posição em âmbito nacional. Até o momento, o Rio Grande do Sul tem seguido as orientações do ministério a respeito da campanha de vacinação.
Em nota, o Ministério da Saúde disse que acompanha todos os estudos sobre as vacinas e qualquer modificação deve ser discutida na Câmara Técnica Assessora em Imunização e Doenças Transmissíveis. O intervalo entre doses para a vacina AstraZeneca permanece, diz o texto, o mesmo disposto em bula e orientado pelo fabricante, de 12 semanas.
Outro ponto também precisa discutido antes de que uma decisão seja anunciada. Caso haja uma antecipação da dose 2, a tendência é de que o ritmo da aplicação da primeira dose seja reduzido, a não ser que as entregas de vacinas por parte do governo federal aos estados seja acelerada. Assim, a decisão em jogo coloca dois cenários na balança: se a segunda dose for antecipada, a proteção das pessoas que completarem a imunização será maior. No entanto, caso não seja ampliada a chegada de vacinas, o avanço no número de indivíduos imunizados com a primeira dose, que já resulta em uma proteção contra o novo coronavírus, se dará em forma mais lenta.

Especialistas divergem sobre a antecipação da dose 2

Os estados do Espírito Santo, do Maranhão, do Mato Grosso do Sul, de Pernambuco e de Santa Catarina decidiram antecipar a aplicação da segunda dose da vacina da AstraZeneca. Os principais motivos são aumentar a parcela da população totalmente imunizada e evitar ultrapassar o prazo de 12 semanas entre as doses. A redução do intervalo vai além de uma decisão política em razão da disponibilidade ou não de vacinas suficientes. O assunto não é um consenso na comunidade científica.
Para Mauro Schechter, professor titular de doenças infecciosas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e de epidemiologia das universidades de Pittsburgh e Johns Hopkins (EUA), é mais importante ter um número grande de pessoas vacinadas com ao menos a primeira dose. "Quanto mais rapidamente as pessoas forem vacinadas, maiores as chances de conter uma pandemia. Não importa se a vacina é um pouquinho mais eficaz que a outra ou menos eficaz. Isso não faz a menor diferença em termos de conter a pandemia", diz.
A variante delta do coronavírus foi registrada pela primeira vez na cidade de São Paulo em um homem de 45 anos que está sendo monitorado. O infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim) também defende a manutenção do atual calendário de imunização. "A estratégia inicial, que deve ser mantida, é vacinarmos o maior número de pessoas no menor tempo possível. Para isso, devemos utilizar os intervalos máximos permitidos, ou seja, quando a gente alarga mais o intervalo entre a primeira e a segunda dose, mais rapidamente a gente consegue avançar no programa de vacinação", afirma.
Segundo ele, aumentar o número de pessoas com o esquema vacinal completo não vai diminuir a circulação na nova variante no país, mas pode atrasar o início da imunização de outros grupos.
Para a epidemiologista e presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) Gulnar Azevedo, a possibilidade da transmissão comunitária evidencia que é adequado reduzir o intervalo entre as doses das vacinas, uma vez que apenas com as duas doses a população estará imunizada. "Estamos falando de uma variante que tem uma capacidade de transmissão muito mais alta e, se pessoas não estiverem imunizadas, há o risco de a transmissão voltar a aumentar de forma importante. O número de casos vai aumentar e a necessidade de assistência hospitalar e até de leitos de cuidado intensivo pode ser muito grande", aponta.
Renato Grinbaum, infectologista e consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), acredita, por sua vez, que não há conduta certa ou errada, e que é preciso considerar os dois cenários - mais pessoas apenas com a primeira dose ou investir na imunização completa. "Talvez seja mais interessante nesse momento bloquear os efeitos ruins da variante Delta fazendo essa antecipação, mesmo com uma imunização um pouco abaixo daquela efetividade que seria com uma dose mais tardia. Isso favoreceria o fim mais precoce da pandemia e o retorno das atividades econômicas", pondera.
Em São Paulo, o tema foi discutido nesta quinta-feira (8). O coordenador executivo do Centro de Contingência da Covid-19 em SP, João Gabbardo, disse que, em sua avaliação, a alteração pode retardar o cronograma para aplicação da primeira dose na população adulta. "Tenho uma resistência com essa ideia", afirmou Gabbardo. "Quando você usa uma vacina com uma previsão que não estava no planejamento, obviamente que retarda a vacinação de outros grupos de faixa etária. O atraso afeta todos que ainda não foram vacinados, tem efeito cascata". O ex-secretário executivo do Ministério da Saúde declarou ainda que acredita ser mais seguro ter um número maior de pessoas imunizadas com a 1ª dose, mas que a decisão será analisada em conjunto. O governador paulista, João Dória, por sua vez, afirmou que uma antecipação da dose 2 depende de um posicionamento do Ministério da Saúde e da Anvisa.