No dia 10 de março, a imprensa anunciava a confirmação do primeiro caso de contaminação pelo novo coronavírus no Rio Grande do Sul. A ocorrência, porém, consta oficialmente como confirmada no dia 29 de fevereiro pela Secretaria Estadual da Saúde, na medida em que foi nesta data que o paciente apresentou os primeiros sintomas da doença. A pandemia havia oficialmente chegado ao Estado.
Neste sábado, dia 29 de agosto, completam-se seis meses da presença da Covid-19 entre os gaúchos. Durante esse período, muita coisa aconteceu, o comércio fechou, reabriu, voltou a fechar, abriu de novo. Aulas foram paralisadas, eventos cancelados, competições esportivas suspensas. Vidas foram perdidas. Mais precisamente, 3.235 vidas foram perdidas. Para marcar a data, o JC recorda os principais fatos ocorridos nesse meio ano vivido sob a sombra de uma doença.
O primeiro caso
O
caso número 1 no Rio Grande do Sul foi noticiado em 10 de março e tratava-se de um homem de 60 anos de idade, morador do município de Campo Bom, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Ele havia realizado uma viagem para a cidade de Milão, na Itália, entre os dias 16 e 23 de fevereiro, e voltou para o Brasil com o vírus Sars-Cov-2. O quadro de saúde do paciente foi leve, sem complicações.
A bola parou de rolar
Protesto de gremistas repercutiu e pressionou por suspensão do campeonato (Foto de Richard Ducker/AFP/JC)
Aulas suspensas
O primeiro óbito
Passados 24 dias desde o primeiro gaúcho apresentar sintomas de contágio, o
Estado registrou sua primeira morte causada pela doença. Uma idosa de 91 anos que estava internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Moinhos de Vento não resistiu e acabou perdendo a luta contra o vírus no dia 24 de março. Naquela data, o Estado já registrava um total de 210 casos confirmados de infecção.
Calamidade pública
Com o registro de casos subindo, a medicina tendo dificuldades para encontrar tratamentos que dessem resposta aos casos mais graves da doença, a falta de equipamentos de proteção para profissionais da saúde, a corrida às farmácias e mercados em busca de álcool gel, a aplicação de restrições e o posterior fechamento de atividades econômicas chegou ainda em março. No dia 19 de março, o governador Eduardo Leite decretou
estado de calamidade pública no Rio Grande do Sul, com fechamento de shoppings centers, restrição no transporte público e suspensão das viagens interestaduais por ônibus, entre outras ações. Em
Porto Alegre, os decretos relativos ao funcionamento da indústria, comércio e serviços foram publicados em 21 de março. A decretação de
calamidade pública na Capital veio no dia 31 de março.
A falsa impressão de controle da crise
Distanciamento controlado
Modelo estadual foi elogiado nacionalmente, mas sofreu com pressões de prefeitos (Reprodução/JC)
Depois de um mês inteiro de restrições mais duras que chegaram, inclusive, a segurar o avanço da pandemia no Estado, o governador Eduardo Leite, pressionado por prefeitos do Interior que, com poucos casos, cobravam medidas diferenciadas, anunciou a
implantação do modelo de distanciamento controlado. A iniciativa, apontada nacionalmente como o melhor sistema criado no País para abordar as diferenças regionais, criou um sistema de bandeiras que afrouxam ou apertam as restrições conforme parâmetros como casos, óbitos e leitos hospitalares, entre outros. Com o tempo, porém, o sistema apresentou fragilidades, os números da pandemia dispararam, prefeitos passaram a desrespeitar as medidas e o balizador estadual perdeu força.
Dez mil casos
No dia 2 de junho, o
Rio Grande do Sul ultrapassou oficialmente a marca de 10 mil pessoas contaminadas pelo novo coronavírus. Naquela data, o número de óbitos causados pela doença no Estado já chegava a 245. Lajeado era a cidade com mais ocorrências, superando até Porto Alegre. O quadro mudou no decorrer das semanas seguintes.
Rápido avanço liga o alerta em Porto Alegre
Em meio à reabertura, a escalada de mortes
Em julho, o Rio Grande do Sul se viu em meio a uma escalada na letalidade da pandemia, seguindo uma tendência diversa da observada no restante do Brasil. O Estado estava tendo um
aumento nas vítimas fatais três vezes superior ao do País. Os recordes de mortes diárias eram batidos quase que todos os dias. O grande aumento no número de vítimas, e também de casos, se deu em meio a flexibilizações das restrições, ao retorno do comércio e até da volta do futebol, o que gerou muitas críticas ao governo do Estado, que permitiu que essas atividades pudessem ser retomadas.
O lockdown no horizonte
Volta das atividades comerciais veio junto com escalada de internações em Porto Alegre (Foto de Patrícia Comunello/Especial/JC)
A situação em Porto Alegre se agravou tanto que o prefeito Marchezan passou a cogitar seriamente a possibilidade de decretar um
fechamento total (lockdown) da cidade em meados de julho. O aumento na velocidade de internações era muito maior do que a capacidade de reforço no sistema de saúde, o que indicava que a cidade caminhava a passos largos para um colapso no atendimento dos doentes. Com a reabertura de boa parte do comércio, somado a uma pitada de indisciplina de parcela da população que insistia em ir para a rua mesmo não sendo para trabalhar, a gravidade do quadro sem ampliou e o debate acerca da necessidade do fechamento total ganhou corpo, com
profissionais de saúde defendendo a medida, e
entidades empresariais se opondo. Ao fim, o cenário se acalmou e não foi necessário adotar a medida drástica.
Duas mil mortes, 100 mil casos
Números seguem altos, mas com indícios de estabilização