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Publicada em 04 de Julho de 2025 às 00:10

Cooperativas do setor lácteo apontam caminhos para outros segmentos

Presidente da CCGL, Caio Vianna alerta que a compra de um equipamento, se mal dimensionada em custo e benefício, pode quebrar as finanças

Presidente da CCGL, Caio Vianna alerta que a compra de um equipamento, se mal dimensionada em custo e benefício, pode quebrar as finanças

/Jardine/Divulgação/JC
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Thiago Copetti
De um cenário nada positivo, há cerca de três anos, o setor lácteo se tornou, em 2025, um rentável negócio — alcançando margens de até 30% de lucro, de acordo com o presidente da CCGL, Caio Vianna, cooperativa que reúne outras cooperativas, com foco no apoio aos produtores e no beneficiamento de leite.
De um cenário nada positivo, há cerca de três anos, o setor lácteo se tornou, em 2025, um rentável negócio — alcançando margens de até 30% de lucro, de acordo com o presidente da CCGL, Caio Vianna, cooperativa que reúne outras cooperativas, com foco no apoio aos produtores e no beneficiamento de leite.
LEIA O CADERNO COOPERATIVISMO, publicado pelo JC hoje
A virada de mesa veio justamente após o segmento identificar os principais pontos frágeis da produção e agir efetivamente sobre eles. O primeiro passo foi conseguir reunir ações no campo, na esfera política e no modelo de negócio para que as perdas começassem a ser revertidas em ganhos.
No campo, a prioridade foi colocar um "exército" de técnicos para apoiar desde mudanças básicas — como o manejo de animais, terras e pastagens — até a gestão da propriedade. Atualmente, entre profissionais da CCGL e de outras cooperativas, cerca de mil técnicos estão conectados com os produtores. Curiosamente, um dos pontos de abordagem dessa iniciativa foi frear a euforia em torno dos investimentos em tecnologia e se voltar novamente à terra e aos cuidados com os animais.
"Obviamente, tecnologia é importante, mas a compra de um equipamento, se mal dimensionado em custo, benefício e necessidade, pode quebrar as finanças de um produtor. Não adianta robotizar a ordenha para aumentar a produção. A quantidade de leite que um animal vai produzir depende da alimentação, do manejo para o bem-estar e da seleção genética", alerta Vianna.
A aposta demasiada na tecnologia e na compra de equipamentos modernos, observa o executivo, não é uma exclusividade do setor lácteo. O mesmo ocorre no setor de grãos. Vianna comenta que parte dos produtores que investiram pesado em super colheitadeiras, por exemplo, se endividaram sem o retorno esperado — seja por descuidar de outros processos básicos de plantio quanto por comprar tecnologias que, efetivamente, são usadas muito aquém do potencial.
"Houve muito exagero com aquisições que não eram necessárias e nem utilizadas a pleno. Esses aportes descapitalizam o produtor para investir no melhoramento do solo, por exemplo", analisa o presidente da CCGL.
Analisar as reais necessidades de cada propriedade foi o foco inicial do trabalho dos técnicos colocados a campo para ajudar a aumentar as produtividades por meio de ações que nem sempre exigiam investimentos ou grandes aportes. O resultado de pequenos ajustes, manejo e operação, assegura Vianna, vêm em menos de seis meses ou em até mesmo poucas semanas. Os 550 produtores do CCGL Gerenciados ATCs têm hoje uma produção média de 24 litros diários por vaca. Esse grupo que aceitou o assessoramento — aberto a rever suas práticas de manejo e gestão — tem uma produção 80% acima da média e de sua própria produtividade inicial, de 17 litros. Os 17 litros/dia/vaca ainda são a média dos outros 2,5 mil produtores que não fazem parte do grupo de assessorados.
"Eles não integram esse grupo porque não querem, pois temos condições de atender a todos. Há, porém, produtores mais fechados no sentido de receber orientações externas, opiniões e fazer mudanças na sua forma de trabalho", explica Vianna.

A receita é começar pelo básico

Nos trabalhos técnicos, são analisadas as condições do alojamento dos animais, já que alimentação e bem-estar significam maior produtividade

Nos trabalhos técnicos, são analisadas as condições do alojamento dos animais, já que alimentação e bem-estar significam maior produtividade

/JM Alvarenga/Divulgação/JC
Na primeira etapa do trabalho técnico, a avaliação nas propriedades incluiu verificar qual a necessidade de se fazer correção de solo com aplicação de insumos ou mesmo com o plantio de mais de uma safra em curto espaço de tempo. Assim, mantendo o solo sempre coberto, por plantas ou palhadas, há menos erosão em caso de chuvas fortes, por exemplo, e menos perdas de nutrientes.
"Ou seja, ele irá contar com uma pastagem melhor e mais constante para oferecer aos animais. Aliado a isso, observamos quais as condições em que os animais são alojados e protegidos, seja do frio ou do calor. Melhor alimentação e bem-estar animal rapidamente se refletem em aumento na produção de leite", acrescenta o presidente da CCGL, Caio Vianna.
Ele explica, ainda, que começar pelo básico inclui a constância de políticas públicas, sem mudanças bruscas de prioridades a cada governo. Essa política permanente, aliada a uma equilíbrio nos estímulos dados às importações, também foram conquistas recentes. O setor lácteo, que antes tinha nos produtos do Mercosul concorrência estimulada pelo governo, agora conta com mais equilíbrio, avalia o presidente da CCGL.
"O governo antes oferecia benefício fiscal a empresas que importam leite, e isso terminou. Não fazia sentido, pois reduzia a própria arrecadação de impostos pela baixa produção local, retirava renda do produtor e do Estado. As importações seguem ocorrendo, mas de forma mais equilibrada", avalia o executivo.
Finalizando o ciclo positivo para o leite, Vianna acrescenta que a queda nas cotações dos grãos, como milho e soja, nos últimos anos, ajudou o setor. Apesar de não ser positivo para quem planta, a baixa ajudou a conter os custos com alimentação animal.
"Agora estamos dando prosseguimento a um fator que exige mais tempo, mas igualmente importante para o futuro e para seguirmos avançando. É ir, pouco a pouco, retirando do campo aqueles animais que têm menor produtividade e investindo na reprodução a partir das vacas que mais convertem alimento em leite. Essa seleção genética leva mais tempo, mas vai trazer novos resultados positivos", antecipa o executivo.

Melhor logística para os grãos é fundamental no apoio ao setor

Preocupação com a recuperação do solo se tornou ainda mais urgente após as enxurradas de 2024

Preocupação com a recuperação do solo se tornou ainda mais urgente após as enxurradas de 2024

/CCGL/Divulgação/JC
Ainda que tenha como foco de atuação o setor lácteo, a CCGL atua também para consolidar os negócios de sua rede de cooperativas na área de grãos - base da receita de grande parte da rede. Com cenário desfavorável ao segmento em preços e demandas, inclusive com o cenário de guerras e incertezas globais, a central de cooperativas aposta na logística para apoiar o setor.
Além de estimular entre os produtos de soja e milho, por exemplo, a necessidade de uso e aquisição racional de tecnologias, a preocupação com a recuperação do solo se tornou ainda mais urgente após as enxurradas de 2024. "O Rio Grande do Sul tem condições, em situações normais, de chegar a 40 milhões de toneladas de grãos, mas hoje temos alcançado cerca de 34 milhões. E os grãos são a base da maior parte das nossas cooperativas associadas", explica Caio Vianna.

Um dos maiores aportes da CCGL no segmento, superior a
R$ 500 milhões, está na logística, como prestadora de serviço no porto de Rio Grande. Vianna avalia que um melhor escoamento da safra pode ajudar a melhorar significativamente os ganhos e ampliar mercados.

"Se nós pararmos de investir em logística e manejo, não vamos conseguir competir com os nossos concorrentes, americanos e argentinos. Nosso porto tem que oferecer rapidez de embarque, agilidade e custo baixo. Por isso investimentos na Termasa e, agora, será preciso ainda aportar recursos no terminal público, devastado pelas enxurradas de 2024", ressalta o executivo.

Diagnósticos caso a caso

O casal Tadeu Debona e Eloisa Oliveira Debona tem a assistência técnica de Eduardo Feltrin (d)

O casal Tadeu Debona e Eloisa Oliveira Debona tem a assistência técnica de Eduardo Feltrin (d)

Divulgação/JC
Entre as centenas de profissionais que estão no campo, apoiando produtores que buscam avançar em seus modelos de gestão das propriedades, técnicas e administrativas, está Eduardo Feltrin, assistente técnico de campo CCGL. A partir da interação com dezenas de cooperativados assistidos, ele aponta algumas ações simples e eficazes para elevar a quantidade de litros de leite por animal.
“Recomendo principalmente ajustes na dieta, dimensionamento de piquetes nas pastagens de Verão e Inverno, separação de lotes para o trato de ração para rebanhos e o escalonamento de plantio para minimizar vazios forrageiros”, resume Feltrin.
Em geral, a iniciativa mais comum sugerida pelo técnico aos produtores, já nas primeiras visitas, é manter a qualidade do leite o ano todo e, para isso, programar a alimentação adequada com silagens e forragens no solo nos 12 meses do ano. 
“Mas encontramos sempre diferentes visões e maneiras de trabalhar com a atividade leiteira, cada qual se adaptando a sua realidade financeira, investimentos em estrutura e rebanho, pastagens e concentrados”, explica Feltrin, ressaltando que não há receita pronta e que o diagnóstico é feito caso a caso, por técnicos e produtores, em conjunto.
Para os produtores Tadeu Debona e Eloisa Oliveira Debona, proprietários do Tambo Intenso, um dos primeiros ajustes feitos a partir da assistência técnica, e com resultados rápidos na qualidade do leite, foi a mudança no manejo de pastagem e adubação de pastagem, e qualidade do leite.
“É sempre bom ter alguém no auxiliando e nos trazendo conhecimento. Antes, tínhamos vazios forrageiros, pastejem de má qualidade, não fazíamos adubação correta. Agora, com o ajuste correto de adubação temos abundância de forrageiras, controle da dieta e uma melhor qualidade do leite”, explica Tadeu.
O casal conseguiu aumentar a produção diária dos animais, saindo de uma média de 23 litros por dia, por animal, para 31 litros. “Investimos nesse período em fazer a correção de solo, ter uma desensiladeira e galpão para trato dos animais e devido a seca dos últimos anos em 2024 fizemos a implementação de irrigação na lavoura de milho silagem”, complementa Eloisa.

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