Uma das estratégias mais eficazes para ampliar os lucros de produtores rurais e cooperativas agrícolas em todo o País é transformar grãos in natura em produtos com maior valor de mercado. Ainda que exija investimentos novos, o caminho é um dos mais viáveis para somar competitividade às cooperativas e abrir portas para novos mercados, tanto no Brasil quanto no exterior.
• LEIA O CADERNO COOPERATIVISMO, publicado pelo JC hoje
O beneficiamento pode ser razoavelmente simples, como empacotamento dos grãos, a mais complexos, com a extração de óleo de soja — a exemplo de uma iniciativa recente adotada por três cooperativas gaúchas. Em conjunto e com investimento estimado em mais de R$ 1 bilhão, a Cotrijal, de Não-Me-Toque, a Cotrisal, de Sarandi, e a Cotripal, de Panambi, estão colocando em operação uma usina para este fim, a Soli3.
Nei Manica, presidente da Cotrijal e que há anos projetava ter o beneficiamento mais próximo e conectado à cooperativa, ressalta que o projeto é uma quebra de paradigma no Rio Grande do Sul, por exemplo, ao promover a intercooperação entre três cooperativas. "Este é um projeto arrojado de industrialização da soja para produção de óleo, farelo e biodiesel", comemora o executivo.
A usina é fruto de um amplo estudo econômico e de logística, o que levou à escolha da unidade a Cruz Alta, com sua localização e conexão férrea entre os fatores mais importantes. Os ganhos, destaca Manica, irão além dos cofres das cooperativas. "Nós veremos desenvolvimento na região, com certeza, muito grande. Esse investimento atrairá outros", projeta o presidente da Cotrijal.
Os reflexos positivos virão em cadeia, e justificam a existência e necessidade do projeto, de acordo com as cooperativas idealizadoras. Ao industrializar grãos, as cooperativas ampliam seus mercados e agregam valor ao que é entregue pelos produtores que serão, também, melhor remunerados.
"Sendo mais competitivos na cadeia da soja, com a industrialização agregando valor ao grão e à nossa atividade, podemos remunerar ou distribuir os ganhos das vendas e dos resultados das cooperativas", explica Manica.
Outro ganho virá com a agilidade no processo. Ao encurtar a distância da matéria-prima ao processo industrial, a iniciativa reduz os necessários aportes em armazenagem. Os exemplos de resultados práticos e já existentes, como no Paraná, reforça o presidente da Cotrijal, tornaram ainda mais claros que os custos se revertem em benefícios amplos, sinaliza Manica.
Dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) indicam que o investimento em tecnologias de pós-colheita, como o beneficiamento, tem crescido ano após ano. Apenas em 2024 a expansão de projetos nessa área teria sido de cerca de 12%, entre propriedades rurais privadas e cooperativas, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Sul.
Os ganhos da industrialização
- Obter valores superiores a venda do grão in natura
- Permite centralizar a operação, reduzir custos logísticos e melhorar o poder de barganha junto a compradores
- Oferecer produtos finais com marcas próprias, aumentando ainda mais a margem de lucro
- Reduzir a dependência da venda de commodities e ingressar em cadeias de maior valor agregado
- Permite centralizar a operação, reduzir custos logísticos e melhorar o poder de barganha junto a compradores
- Oferecer produtos finais com marcas próprias, aumentando ainda mais a margem de lucro
- Reduzir a dependência da venda de commodities e ingressar em cadeias de maior valor agregado
Aplicativo desenvolvido pela FecoAgro avança no campo e facilita a gestão

Enquanto a safra é colhida, agricultor monitora a atividade à distância
/JOSEANI ANTUNES/Embrapa/JCLançado em 2021 pela Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), uma ferramenta vem mudando a gestão das propriedades de milhares de cooperativados. O aplicativo SmartCoop permite aos agropecuaristas acessar funcionalidades como acompanhamento da lavoura, monitoramento por satélite, previsão do tempo, indicadores de mercado, gerenciamento de rebanho, saldo de produtos na cooperativa, títulos a pagar, cotações e mecanismos de venda da produção.
O aplicativo se conecta a termo bastante novo e que define o perfil contemporâneo do produtor rural e da agropecuária: agricultor data driven/agricultura data driven. Tomar decisões plenamente orientadas por dados (data driven) ainda é uma meta distante de grande parte das empresas. No campo, porém, essa já é uma realidade que bate na porteira de inúmeras propriedades. Um agricultor, atualmente, tem acesso e opera equipamentos e máquinas com mais tecnologia embarcada do que a maior parte da população que vive na cidade - incluindo aqui grandes executivos, gestores e empresários.
Produtores rurais, seja agricultura familiar ou da agricultura empresarial, têm conexão de boa qualidade à internet e smartphones como importante ferramenta de trabalho. Na palma da mão, literalmente, os agricultores passaram a ter o acesso a uma infinita base de informações, pesquisas, monitoramentos, dados de mercado.
Enquanto a safra é colhida, o agricultor monitora a atividade à distância e recebe informações em tempo real sobre a área já finalizada e a qualidade do grão — dados enviados pela própria colheitadeira e por geoprocessamento. O mesmo ocorre no plantio, na definição milimétrica da quantidade de fertilizantes e químicos a serem aplicados planta a planta. Assim, o produtor otimiza os custos e seu tempo — agora, mais direcionado à gestão do negócio. Com o apoio da tecnologia, o produtor pode executar demandas de compra e venda, movimentos do mercado, tendências e oportunidades, assim como se dedicar à parte financeira, negociação e venda no momento certo e na tecnologia aplicada, por exemplo.