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Publicada em 04 de Julho de 2025 às 00:10

Parceria com cooperativas gera aproximação com a sociedade

César Saut diferencia o papel das cooperativas de crédito em relação aos bancos tradicionais

César Saut diferencia o papel das cooperativas de crédito em relação aos bancos tradicionais

TÂNIA MEINERZ/JC
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Mauro Belo Schneider
Mauro Belo Schneider Editor-executivo
O envolvimento da Icatu com o setor de cooperativismo é intenso há mais de duas décadas. Tanto que um andar inteiro de seu escritório, no Centro de Porto Alegre, é dedicado à Icatu Coopera, atendendo demandas do segmento em todo o Brasil. Segundo César Saut, vice-presidente corporativo da Icatu Seguros e presidente da Rio Grande Seguros, o negócio acompanha a performance do setor, servindo como um aliado.
O envolvimento da Icatu com o setor de cooperativismo é intenso há mais de duas décadas. Tanto que um andar inteiro de seu escritório, no Centro de Porto Alegre, é dedicado à Icatu Coopera, atendendo demandas do segmento em todo o Brasil. Segundo César Saut, vice-presidente corporativo da Icatu Seguros e presidente da Rio Grande Seguros, o negócio acompanha a performance do setor, servindo como um aliado.
"Nós somos complementares. Não somos o protagonista. Somos um instrumento de complementariedade para o cooperativismo", afirma o executivo na entrevista a seguir.
LEIA O CADERNO COOPERATIVISMO, publicado pelo JC hoje
Jornal do Comércio - Como é o envolvimento de vocês com o cooperativismo?
César Saut - Eu, na pessoa física, sou associado de uma cooperativa. Meu pai era. Então, tenho uma trajetória de vida próxima do cooperativismo. O cooperativismo, na realidade, é um mutualismo organizado, uma sociedade de pessoas. E o cooperativismo de crédito é um mutualismo organizado para o desenvolvimento econômico daquela sociedade. Seguradora é mutualismo organizado também. Só que não é um mutualismo para desenvolver economicamente uma sociedade, é um mutualismo para proteger economicamente uma sociedade. A essência de uma seguradora e de uma cooperativa é a mesma, são duas sociedades de pessoas, são dois processos de mutualismo organizado. Botamos capital e concedemos capital. A gente bota capital como investimento, concede capital como estímulo ao desenvolvimento.
JC - Mas por que a aproximação da Icatu com o cooperativismo?
Saut - Porque a gente está colando proteção da sociedade com desenvolvimento da sociedade. É disso que se trata. Por isso que a Icatu, como ente técnico, de proteção, de seguro e previdência, se associa com o cooperativismo. Para proteger a sociedade que o cooperativismo está tentando desenvolver. É uma junção de dois empreendimentos que tem, basicamente, a mesma lógica. E a mesma essência.
JC - Como funciona a capilaridade?
Saut - A Icatu tem uma vertical chamada Icatu Coopera, para tratar especificamente o cooperativismo. A gente tem uma equipe dedicada para atender especificamente o cooperativismo. Então, as operações da Icatu dedicadas ao cooperativismo são tratadas de forma diferente.
JC - Por quê?
Saut - Porque uma cooperativa tem um conceito diferente. Uma cooperativa é toda voltada a um associado. Tu tens muito conceito de first in, first out. A primeira demanda é o primeiro atendimento. Ela não vai ter uma ordem de priorização, por exemplo, pelo potencial econômico do cliente. Ela vai ter uma ordem de priorização equânime, porque todos os associados são iguais. A cooperativa tem um conceito diferente, um fluxo próprio. Numa cooperativa, o associado não é cliente, ele é dono. É muito diferente. Quando tu falas de uma cooperativa, ela não tem clientes, ela tem sócios e o sócio é dono. Quantos donos o Sicredi tem hoje? 10 milhões. O associado é dono, no banco o cliente é cliente. São sociedades absolutamente distintas, apesar de terem objetivos iguais. Um banco quer dar um crédito para ela. Uma cooperativa quer concentrar a vida financeira dela em um princípio diferente. Apesar de terem como objeto o mesmo produto, o objetivo do banco é vender crédito, o objetivo de uma cooperativa é vender crédito, o banco faz produto para vender para o cliente, a cooperativa vê qual a necessidade do associado e faz o produto para atender o associado. Uma cooperativa tem sobras, um banco tem lucro.
JC - Mas não é a mesma coisa?
Saut - Não. Porque quando a cooperativa tem lucro, que são as sobras, ela vai dividir com os associados. Quando a operação do banco tem lucro, ela está pagando para os acionistas.
JC - E essa estrutura toda que vocês montaram atende isso?
Saut - A estrutura que foi montada foi desenvolvida para entender e para personalizar. Tu tem que personalizar a parte técnica. A parte técnica é outra, a política de aceitação de seguros é outra, a precificação é outra, a política de pagamento de indenização é outra. Trabalha com um regramento próprio.
JC - Que lugar vocês querem chegar com esse ramo?
Saut - O entendimento da ONU é que o cooperativismo é um movimento social irreversível. Em alguns lugares do mundo, o cooperativismo de crédito é metade do sistema financeiro ou mais. E o cooperativismo é um representante legítimo das sociedades. Qual é o nosso sonho grande? É democratizar o acesso ao seguro no Brasil. Cada vez o seguro tem mais abrangência. E o cooperativismo pode ser um dos melhores veículos para isso. Porque o cooperativismo de crédito, que nasceu há muito tempo, mas que cresceu nos últimos anos, já passa de 20 bilhões de associados. Aonde vai chegar? Será cada vez mais expressivo. O cooperativismo tem um movimento contracultural dos bancos, até a estrutura está demonstrando. Enquanto os bancos fecham agências e desatendem fisicamente a sociedade, o cooperativismo de crédito abre agências para dentro do País, que é um ente da sociedade, formado pela sociedade. Olha o valor disso. Uma coisa muito interessante também é que a Icatu é um empreendimento brasileiro feito para brasileiros. Uma empresa brasileira. O cooperativismo é um empreendimento inspirado pelo mundo, mas feito aqui, desenvolvido aqui, que não é expatriado.
JC - O cooperativismo exige uma gestão complexa?
Saut - Sim, pois quando eu me relaciono com o banco, eu fecho com o banco, e há um regramento. Quando me relaciono com o cooperativismo, o Sicredi tem 103 presidentes de cooperativas, por exemplo, tenho que me comunicar e me relacionar com o consenso desses 103. É muito diferente. Ele é mais burocrático, mas também é muito mais seguro, porque aquilo que é debatido entre muitos, vai chegar mais filtrado, mais consensual. É mais fácil um errar do que quando há diálogo com o sistema cooperativo. É, sim, mais trabalhoso. Entre ontem e hoje, a gente fez três reuniões com lideranças do Sicredi. E daqui a duas semanas estamos indo para a Suécia para um evento em Estocolmo. Sabe quantas lideranças o Brasil deve estar levando? Cerca de 500. A gente teve um evento fantástico, organizado em Nova Petrópolis há poucos dias, chamado Legado Coop, havia 1 mil lideranças. Aquelas 1 mil lideranças representavam mais de 20 milhões de associados. É um negócio complexo se relacionar com tantas lideranças, é um aprendizado constante. É intenso, mas é bacana, porque, no final das contas, aquelas 1 mil lideranças vão te repassar as necessidades das suas sociedades e tu vais desenvolver os teus produtos e os teus processos da forma mais adequada possível à centralidade do indivíduo, porque aquelas pessoas representam o que o indivíduo precisa e quer. Não o produto que tu inventou e está distribuindo porque tu queres, mas porque aquelas pessoas disseram.
JC - O setor busca profissionalização constante...
Saut - O tempo inteiro eles estão treinando gente em algum lugar do mundo. É da essência do cooperativismo de crédito.
JC - Qual a relação do cooperativismo com o conceito ESG?
Saut - O cooperativismo nasceu ESG. Uma cooperativa, primeiro, tem função social, socioambiental latente. Nas enchentes, a gente viu isso. Quem foi a primeira instituição a abrir as portas? E quem foi a última a fechar? As cooperativas e as igrejas. Porque são instituições da comunidade. As cooperativas nascem com uma transparência alta, com uma lógica de assembleia, de responsabilidade social e de preocupação com aquelas pequenas comunidades. Elas cumprem as normas da ESG cem anos antes da ESG existir.
JC - Qual expectativa de crescimento do braço cooperativismo?
Saut - Deve acompanhar o crescimento do cooperativismo. Nem mais, nem menos. Somos complementares, não o protagonista. Somos um instrumento de complementariedade para o cooperativismo.

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