Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 04 de Julho de 2025 às 00:10

'Muito do que o Sicredi faz não é sozinho', diz Port

Márcio Port calcula que mais de 40% dos contratos de crédito rural no Estado estão com a instituição

Márcio Port calcula que mais de 40% dos contratos de crédito rural no Estado estão com a instituição

/Sicredi/Divulgação/JC
Compartilhe:
Loraine Luz
Registrar crescimento em um ano cheio de dificuldades para o Estado, como foi 2024, pode soar improvável para uma instituição monetária. No caso de uma cooperativa financeira, faz todo o sentido. "Se os bancos se retraem, o que as pessoas fazem? Vêm para a cooperativa. Acabamos crescendo nos momentos de maior adversidade", explica Márcio Port, presidente da Central Sicredi Sul/Sudeste. Em 2024, a cooperativa abriu 15 novas agências no Estado; para 2025, estão previstas outras 25, a maioria em municípios com em torno de 20 mil habitantes.

Registrar crescimento em um ano cheio de dificuldades para o Estado, como foi 2024, pode soar improvável para uma instituição monetária. No caso de uma cooperativa financeira, faz todo o sentido. "Se os bancos se retraem, o que as pessoas fazem? Vêm para a cooperativa. Acabamos crescendo nos momentos de maior adversidade", explica Márcio Port, presidente da Central Sicredi Sul/Sudeste. Em 2024, a cooperativa abriu 15 novas agências no Estado; para 2025, estão previstas outras 25, a maioria em municípios com em torno de 20 mil habitantes.

LEIA O CADERNO COOPERATIVISMO, publicado pelo JC hoje
Na entrevista a seguir, Port detalha por que o Sicredi consolida sua importância para o desenvolvimento gaúcho. Mais de 40% dos contratos de crédito rural no Estado estão com a instituição, que testemunha a realidade de produtores afetados por perdas de safra e endividamento crescente. Impulsionado pelo agronegócio, o Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho ficou positivo 1,3% no primeiro trimestre de 2025 na comparação com o trimestre anterior. "Às vezes, as pessoas dizem: 'Poxa, mas vocês falam tanto do agro'", comenta Port. "Não tem como não falar disso em um Estado com essa vocação", justifica. A resiliência climática - ora por estiagens, ora por enchentes - é um compromisso na cooperativa, mas nada é realizado de modo solitário. "Muito do que o Sicredi faz não é sozinho. Temos parcerias com muitas associações comerciais, sindicatos, Emater e Sebrae. As parcerias não ocorrem em Porto Alegre, mas sim no interior, pelo fato de o gerente do Sicredi conhecer o gerente da Emater ou a pessoa do Sebrae da região e assim por diante. Isso abre um leque de oportunidades muito grande para o município", afirma.
Jornal do Comércio - Com 30% da população adulta gaúcha de alguma forma ligada ao Sicredi, devem passar pela cooperativa as mais diversas histórias envolvendo enchente e estiagem, não é?

Márcio Port - Em estiagem, o número é até mais impactante. Somos responsáveis por 43% de todos os contratos de crédito rural do Rio Grande do Sul. Então, dos produtores que tiveram problemas, que perderam eventualmente tudo com a estiagem, 43% deles vêm até o Sicredi para buscar uma prorrogação nesse momento.
JC - Estiagens sucessivas, depois enchente histórica e antes ainda pandemia. É o periodo mais desafiador para a cooperativa?

Port - Vivemos anos bem difíceis no Rio Grande do Su, tanto em aspectos econômicos como sociais. É nossa preocupação enquanto Sicredi encontrar mecanismos para fazer nosso Estado voltar a crescer. A resiliência é uma característica gaúcha. Mas, diante de vários anos tão difíceis, é importante que todos tenham muito presente essa questão de como fazer para voltar a crescer e desenvolver o Estado, tanto no aspecto econômico como no social. Nos perguntamos muito sobre isso.
JC - Que mecanismos são esses no Sicredi?

Port - Na linha do enfrentamento, seja de pandemia ou de enchentes, o Sicredi foi um dos maiores operadores dos recursos públicos federais. Nem sempre outras instituições têm a mesma inserção, a mesma penetração, a mesma proximidade que as cooperativas têm. Quanto ao mecanismo pelo aspecto financeiro, é fazer, de fato, com que essas linhas de crédito cheguem a quem mais precisa. No Pronampe Solidário, por exemplo, liberamos R$ 1,1 bilhão no ano passado e mais R$ 1,9 bilhão de BNDES Reconstrução. O próprio BNDES reconheceu no Sicredi o maior agente financiador para fazer com que políticas públicas cheguem na mão das pessoas.
JC - As consequências da enchente de 2024 ainda reverberam? 

Port - Sim, até porque temos várias cidades que não voltaram a ser o que eram antes. Em locais como Cruzeiro do Sul, Muçum, Roca Sales, os efeitos ficarão por muito tempo ainda. O Sicredi, em nível nacional, disponibilizou R$ 90 milhões para enfrentamento aos impactos da enchente do ano passado. Foram usados das mais diversas formas: reconstrução de escola, educação, pontes, estradas.
JC - Quais foram os principais avanços institucionais, financeiros ou sociais conquistados pelo Sicredi nesse último ciclo?

Port - Minhar resposta não tem nenhum vínculo com o financeiro, com o social, mas com o institucional. É a questão do reconhecimento da marca e apoio nos momentos de dificuldade. Se pegarmos a história do cooperativismo, as primeiras cooperativas surgiram como mecanismos para contornar as crises. No momento de crise, o que é comum acontecer? Pego o exemplo de uma instituição financeira. É normal que os bancos se retraiam, saiam da região. Qual é a instituição financeira que vai instalar uma agência num país que está em guerra? O mesmo vale para o que vivemos no nosso Estado. No bairro Matias Velho, em Canoas, tinham quatro agências bancárias: o Sicredi mais três. Depois da enchente do ano passado, o único que reabriu a agência foi o Sicredi. Tivemos um grande reconhecimento da comunidade em geral, da sociedade, dos associados, do quanto as cooperativas fazem a diferença no dia a dia.
JC - Sobre investimentos em estrutura e inovação, o que destacaria neste último ano?

Port - Temos trabalhado bastante na questão de digitalização. Avançamos no aplicativo, que é um dos mais bem avaliados. Já usamos IA para atendimento do associado. Em 2024, foram 9 milhões de atendimentos. Hoje, 70% dos atendimentos são por IA. Se não usássemos inteligência artificial hoje, seria necessário mais ou menos 1,5 mil pessoas a mais trabalhando no Sicredi.
JC - Essas 25 novas agências são em alguma região específica ou estão bem espalhadas?

Port - Bem espalhadas. Por vezes é uma segunda agência em um município que já estamos. Mas não dá para dizer que estão concentradas. São 38 cooperativas do Sicredi que atuam no Estado. Cada uma dessas 38 define qual é a prioridade do ano: se é reformar uma agência que já existe, se manter aquela que tinha ou abrir uma nova. São características distintas. Em Bagé, por exemplo, vamos inaugurar uma agência no centro da cidade no dia 11 de julho, mas o Sicredi já está presente na cidade há 40 anos.
JC - Como a Sicredi projeta o futuro do cooperativismo financeiro?

Port - Cada uma dessas 38 cooperativas está definindo suas próprias metas. Não existe uma meta macro do Sicredi. Existe o que cada cooperativa se propõe a fazer localmente. Avaliar o que é necessário para retomar o desenvolvimento, fazer o Rio Grande do Sul voltar para os mesmos patamares que tínhamos antes da pandemia e retomar sua posição de destaque em nível nacional. Em termos de crescimento, algo em torno de 20% é o que imaginamos.
JC - Como a cooperativa vai se posicionar nesse cenário mais positivo no futuro, de um Rio Grande do Sul de volta a uma posição de destaque?

Port - Já somos protagonistas hoje, já somos fortes, mas o que visualizamos é, além de sermos protagonistas, sermos também mais reconhecidos como protagonistas. Então, esse é um trabalho que fazemos no sentido de comunicar mais. É natural que os bancos fechem suas agências em pequenos municípios. Isso tem acontecido de forma muito forte nos últimos anos. As cooperativas continuam inaugurando agências. Por vezes alguém pergunta se não estamos no caminho contrário. As cooperativas têm se expandido e ganham mercado justamente nessa janela de oportunidade que os bancos estão deixando para trás.

Sicredi RS tem a maior rede de atendimento no Estado

 Está presente em 484 municípios, o que representa 97% do Estado.

 É a única instituição financeira em 32 municípios.

 Presença significativa em cidades com menos de 10 mil habitantes, onde até 70% da população pode ser associada.

 Tem 2,7 milhões de associados no RS (cerca de 30% da população adulta).

 30% das empresas gaúchas são associadas.

 Crescimento superior a 20% ao ano, mesmo em cenários adversos.

 Maior financiador em número de operações no RS; em valores, é o segundo (atrás do Banco do Brasil).

 Soma atualmente 49 mil colaboradores no País.

 Entre as ações envolvendo educação, são destaques o programa A União Faz a Vida, criado em 1995 e presente em mais de mil escolas, e o projeto Cooperativas Escolares, que está em 255 instituições de ensino de 122 municípios - iniciativa iniciada em 2010.
 Em 2023, R$ 30 milhões foram investidos em projetos sociais no RS (educação, cultura, saúde). Nacionalmente, o Sicredi destinou R$ 75 milhões - superando, por exemplo, programas como o Criança Esperança, que distribui R$ 15 milhões por ano.

Notícias relacionadas