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Publicada em 04 de Julho de 2025 às 00:10

Cooperativas alicerçam retomada econômica do Rio Grande do Sul

Crises são oportunidades para que cooperativismo ganhe reconhecimento

Crises são oportunidades para que cooperativismo ganhe reconhecimento

/EVANDRO OLIVEIRA/JC
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Loraine Luz
Ainda reverberando, as grandes adversidades enfrentadas pelos gaúchos em 2024 testam a força da coletividade. A nível organizacional, esse grau de coesão comunitária tem nome e um histórico consistente de protagonismo no Rio Grande do Sul: as cooperativas.
Ainda reverberando, as grandes adversidades enfrentadas pelos gaúchos em 2024 testam a força da coletividade. A nível organizacional, esse grau de coesão comunitária tem nome e um histórico consistente de protagonismo no Rio Grande do Sul: as cooperativas.
LEIA O CADERNO COOPERATIVISMO, publicado pelo JC hoje
Investigando Interior adentro, é impossível explicar a reconstrução e a retomada do desenvolvimento social e econômico das regiões afetadas seja por enchentes, seja por estiagens sucessivas, sem obrigatoriamente mencionar o trabalho das cooperativas. Como costuma acontecer na trajetória de atuação desse modelo de organização, as crises são grandes oportunidades para que essas instituições ganhem maior reconhecimento social. 

Os números divulgados na terça-feira pelo Sistema Ocergs comprovam o vigor do cooperativismo gaúcho neste último ciclo. "São dados substanciais. Mostram que o cooperativismo cresceu em todos os ramos, mais do que todos os outros setores econômicos do Rio Grande do Sul. Isso confirma a importância deste modelo de cooperação para que juntos possamos competir cada vez melhor", avalia Darci Hartmann, presidente do Sistema Ocergs (Sistema da Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul).
No Brasil, as cooperativas também demonstram relevância. Porém, a alta presença territorial, o atendimento em áreas sem banco, por exemplo, e o rápido apoio a emergências tornam o funcionamento do modelo no Estado ainda mais forte. A recuperação de solos e áreas agrícolas devastadas pelas cheias demandará um longo período de reconstrução. Hartmann pontua que os produtores rurais estão descapitalizados, necessitando de investimentos que podem levar de quatro a cinco anos para concluir a regeneração completa.
As preocupações do Sicredi, presente em 484 dos 497 municípios gaúchos, convergem nesta direção: "Essa estiagem de agora é mais preocupante porque não é a primeira dos últimos anos. O produtor vem tendo essa dificuldade de vários anos", observa Márcio Port, presidente da Central Sicredi Sul/Sudeste. A gravidade dos endividamentos está ligada às perdas recorrentes de safras. "É um ano bem importante para conseguirmos conquistar prorrogações adequadas. Do contrário, será um ano preocupante para o produtor rural", avalia Port.
A resiliência exigida das cooperativas no período, em decorrência dos efeitos da crise climática, atingiu a própria integridade física delas. "Tivemos usinas inundadas. Cooperativas de energia, de compostos completamente destruídas, mas conseguimos nos reestruturar e estamos aí, firmes e fortes", garante o presidente do Sistema Ocergs. A Uniodonto RS precisou mudar de sede, para manter o atendimento dos beneficiários: "Como medida extraordinária, mantivemos os rendimentos mensais dos cooperados durante esse período de crise", conta o presidente da Uniodonto Federação RS, Irno Augusto Pretto. Da mesma forma, diversas unidades da Unimed POA ficaram debaixo d'água. Um ano após o maior desastre climático da história gaúcha, baixar a guarda não é uma opção.
"As enchentes passaram, mas continuamos no monitoramento das fortes chuvas e seus impactos. Aprendemos muito em maio de 2024. São em momentos como este que comprovamos a força do cooperativismo no Rio Grande do Sul. Atuamos de forma intensa, tanto economicamente quanto em ações sociais", aponta o presidente do Conselho de Administração da Unimed Porto Alegre, Márcio Pizzato.

A conjuntura macroeconômica impôs desafios adicionais ao setor. Foi preciso rever planejamentos, controlar custos e investir em inovação para manter a competitividade. As cooperativas mais representativas no Estado têm se concentrado na digitalização, em inteligência artificial, na personalização de serviços e em novos produtos.
Para Marcelo Hoffmeister, diretor de Desenvolvimento e Negócios da Unicred Geração, a lógica do modelo cooperativista permite manter o otimismo. "No modelo ímpar em que atuamos, sem fins lucrativos, os resultados obtidos são distribuídos aos cooperados e reinvestidas no desenvolvimento das comunidades e das próprias cooperativas", destaca.
O presidente do Sistema Ocergs compartilha desse sentimento de confiança na essência do funcionamento dessas organizações. "Tivemos sobras líquidas muito substanciais, crescimento em número de associados e de faturamento. Mas dou especial importância a pilares fundamentais no cooperativismo, como a questão da gestão profissionalizada, do pertencimento, pelo qual o associado é quem decide. A cooperativa está inserida na comunidade e é lá que ela investe seus resultados, suas sobras, enfim, e isto realmente cria uma sinergia muito forte no que diz respeito a toda essa capacidade do crescimento que nós estamos tendo", avalia.

Balanço 2025 ano base - 2024, considerando todos os setores


Cooperados/associados: 4,2 milhões (+7,13%)
Ingressos (faturamento): R$ 93,2 bilhões (+8,41%)
Empregados: 78,5 mil (+2,57%)
Sobras: R$ 5 bilhões (+10,96%)
Patrimônio líquido: R$ 39,2 bilhões (+21,87%)
Ativos: R$ 217,8 bilhões (+21,87%)


Fonte: Sistema Ocergs

Selo impulsiona movimento

Minuto Varejo - campanha Zaffari com Ocergs - cooperativas para valorizar produtos em supermercado - campanha institucional

Minuto Varejo - campanha Zaffari com Ocergs - cooperativas para valorizar produtos em supermercado - campanha institucional

MAICON HINRICHSEN/DIVULGAÇÃO/JC
Com foco no consumo consciente, o carimbo #SomosCoop foi criado para ajudar as pessoas a identificarem produtos e serviços de cooperativas. Em 2024, pouco mais de 90 cooperativas gaúchas adotaram o selo. Sendo 2025 o Ano Internacional das Cooperativas, a adesão é particularmente importante, ampliando o alcance e impacto da comunicação coletiva. Pode ser aplicado em produtos, ponto de atendimento, de venda, sede, escritório, frota, uniforme, envelope, carteirinha de convênio, cartão, totem de autoatendimento, estande em evento, cartaz…Sites, redes sociais, aplicativos, assinaturas de e-mail, e-mail marketing, banners, telas de computador, entre outras possibilidades.

Como parte ds ações de comunicação planejadas pelo Sistema OCB para o ano especial, o carimbo #SomosCoop apareceu no programa Mais Você, da apresentadora Ana Maria Braga, na Rede Globo em março.

Nova sede


2024 foi o ano de abrir as portas da nova sede do Sistema Ocergs – A Casa do Cooperativismo Gaúcho, localizada na Avenida Berlim, no 4º Distrito de Porto Alegre. Com 750 m², funciona como um hub de inovação e ponto de encontro para o cooperativismo. Oferece ambientes para eventos, salas de reuniões, áreas de convivência, salas de aula equipadas, espaço de coworking e a biblioteca Vergilio Perius. a estrutura tem 1,8 mil títulos e 4,2 mil exemplares. Além de publicações sobre cooperativismo, há centenas de livros sobre Administração, Direito, Matemática, Meio Ambiente, Contabilidade, Marketing, Relações Públicas, Literatura e História, entre outras áreas. Durante a enchente de maio, a biblioteca foi alagada, e a estrutura já foi recuperada. O nome - anunciado no final do ano passado - é uma homenagem ao idealizador da Escola Superior do Cooperativismo (Escoop).

Por dentro do Sistema Ocergs

O Sistema da Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul é composto por:

> Ocergs (Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul), que atua junto ao poder público, defende interesses do setor e fortalece a identidade do cooperativismo no Estado. 

> Sescoop/RS (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no RS): desenvolve programas de educação, formação e qualidade de vida para cooperados, colaboradores e comunidades. 

> Escoop (Escola Superior do Cooperativismo): a primeira e única instituição de ensino superior do país dedicada à formação cooperativista, com graduação, pós-graduação e programas de pesquisa e extensão.
A Escola Superior do Cooperativismo (Escoop) tem cursos personalizadas e de acordo com diagnósticos aplicados nas cooperativas. São identficadas falhas e potenciais e, de acordo com isso, oferecidas as capacitações. A iniciativa tem selo do MEC nota 5. Os eixos dos cursos são: cooperativismo, governança, gestão e inovação.
Outra novidade na área de aprimoramento de cooperados é a página exclusiva para o Rio Grande do Sul na plataforma de ensino à distância CapacitaCoop, iniciativa do Sistema OCB, que oferta mais de 241 cursos gratuitos e certificados sobre o cooperativismo para cooperativistas. Para ver mais https://capacita.coop.br/rs.

No País

O cooperativismo chegou a 23,45 milhões de associados no país, gerou 550.611 empregos e movimentou R$ 692 bilhões em 2023, com ativos totais superiores a R$ 1,16 trilhão. No comércio exterior, as instituições brasileiras alcançaram US$ 8,3 bilhões em exportações. Os dados são Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2024.
88% dos brasileiros percebem o movimento como moderno e inovador, de acordo com a Pesquisa de Imagem do Cooperativismo, de 2023, realizada em todas as regiões do Brasil, com 11.522 respondentes. Além disso, 18% dos entrevistados associaram o cooperativismo à união, aliança e soma de esforços, enquanto 16% relacionaram o movimento à ajuda, apoio e auxílio mútuo.
Cada R$ 1,00 concedido em crédito gerou R$ 2,56 em atividade econômica. O impacto das cooperativas de crédito na sociedade foi identificado em estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em parceria com o Sistema OCB e o apoio do Conselho Consultivo Nacional do Ramo Crédito (Ceco). Em termos de PIB per capita, os municípios que contam com cooperativas de crédito registraram um incremento de R$ 3.852 por habitante, equivalente a 10% da média nacional de 2021.
No Brasil, a taxa de penetração do cooperativismo é semelhante à mundial, chegando a 12,7% em 2023, segundo Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo. A mesma fonte indica que as cooperativas de crédito estão em 57% dos municípios, reunindo 17,3 milhões de associados (85% pessoas fisicas). São 730,9 bilhões em ativos.
Uma cooperativa é a principal instituição financeira dos cooperados para quase 53% dos entrevistados da pesquisa "A competitividade das cooperativas de crédito na era digital", desenvolvida pela MIT Sloan Management Review Brasil. O estudo obteve 172 respostas, todas de colaboradores e lideranças que atuam no cooperativismo de crédito no Brasil. A coleta foi realizada de forma anônima entre 19 de abril e 9 de maio de 2025. A MIT Sloan Management Review Brasil é uma plataforma de conteúdo especializada em gestão, estratégia e inovação. 

Ainda conforme a pesquisa, para serem mais competitivas, as cooperativas precisam evoluir em aspectos estruturais que impactam diretamente a jornada do cooperado e a operação como um todo. Alguns dos aspectos citados foram: avançar na agilidade da oferta de crédito, produtos e serviços (a resposta de 54,7% dos entrevistados), melhorar a eficiência operacional (37,8%) e fazer melhor uso de dados para análise (34,9%).

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