O setor cooperativo no Rio Grande do Sul passa por um momento de transformação. Conforme Darci Hartmann, presidente do Sistema Ocergs, por muito tempo não se olhou tanto para a parte comercial do que era produzido pelos negócios, o que faz, agora, com que se invista em capacitação nessa área. Exemplo dessa virada de chave é a montagem de um espaço inédito dedicado às cooperativas na Expoagas deste ano, que ocorre em agosto, em Porto Alegre. Durante a feira supermercadista, elas terão a oportunidade de expor e vender suas mercadorias. Confira, na entrevista, o panorama de um segmento tão importante para o Rio Grande do Sul e que tem a cidade de Nova Petrópolis como um de seus principais polos.
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Jornal do Comércio - Como está o cenário do cooperativismo no Rio Grande do Sul atualmente?
Darci Hartmann - Estamos bastante satisfeitos, temos 372 cooperativas e 4 milhões de associados. Apesar de toda a dificuldade que nós tivemos ao passarmos pela enchente, já teve uma seca novamente. Mesmo assim, temos números muito interessantes para mostrar, números de investimentos substanciais que o cooperativismo do Rio Grande do Sul está fazendo.
JC - Qual o foco dos trabalhos?
Hartmann - Hoje estamos trabalhando com muita intensidade porque esse mês de julho é o mês do cooperativismo. No dia 5 (neste sábado) vamos festejar o Ano Internacional do Cooperativismo, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU). Vamos trabalhar com a COP30 também. Temos, ainda, o Projeto 365, de reestruturação do solo e que busca a fertilidade em cima desse novo patamar climático. Ele trabalha em quatro vertentes que são fundamentais. Uma é a cobertura de palha do solo o ano inteiro. A segunda questão é a fertilização do solo com calcário de 60cm de profundidade. A terceira é a rotação de culturas, voltar a plantar mais milho para ter mais palha. Em quarto lugar, a questão da irrigação, que é um patamar que a gente tem que continuar debatendo dentro dos conceitos de preservação ambiental. Tudo isso é um projeto para cinco anos. Até porque a velocidade vai depender da capacidade financeira, que hoje é pouca para o produtor. Ele precisa começar a colher melhor, precisa ter safras normais para continuar reinvestindo dentro desse projeto, mas, acima de tudo, para adaptar o agro em cima desse novo fator climático que nós estamos tendo hoje.
JC - Que exemplos vocês levarão à COP30, em Belém?
Hartmann - Essas iniciativas que buscam a questão da recuperação do solo e a questão das cooperativas de crédito. Nova Petrópolis é um ecossistema que acaba levando o desenvolvimento regional. Aqui em Porto Alegre, a Cootravipa é uma cooperativa referência pela inserção de muitos trabalhadores na economia. Então, são essas iniciativas que a gente pretende demonstrar na COP30.
JC - Na Expointer, vocês montam um mercado só com produtos de cooperativas gaúchas. O público reconhece o valor do que é feito neste conceito?
Hartmann - Estamos trabalhando muito forte, temos o selo Somos Coop, que é uma adesão voluntária das cooperativas para mostrar os produtos do cooperativismo. Nesse ano, no planejamento estratégico, também trabalhamos muito forte a questão da promoção comercial, sendo a primeira vez que vamos para a Expoagas.
JC - Como será a participação na feira supermercadista?
Hartmann - A Ocergs vai ter um estande onde as cooperativas menores, pois algumas maiores já têm o seu, vão ter a oportunidade de expor seus produtos para fazer as comercializações, fazer as suas vendas, para começar a ocupar esse espaço. Então, tem sido um trabalho muito bonito, muito interessante no que diz respeito ao crescimento dessa atividade, porque tem que produzir, mas tem que buscar mercado também. O Somos Coop é um selo que foi instituído pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), e o Rio Grande do Sul é o estado que tem mais adesão.
JC - O que o senhor pretende conquistar à frente da Ocergs até o fim do seu mandato?
Hartmann - Acho que o trabalho vai continuar com muita velocidade na questão da valorização das marcas, do processo de comercialização com foco muito forte na questão da gestão, da profissionalização do sistema cooperativo, dando consultorias para que as cooperativas possam continuar competindo melhor, se eventualmente algumas têm dificuldades, investindo também no processo educacional e trabalhar com muita intensidade a questão da representação, do ato cooperativo, em nível estadual e federal, para que nós possamos realmente preservar os direitos do sistema cooperativo.
JC - Há algum grande investimento previsto entre as cooperativas do Rio Grande do Sul para os próximos anos?
Hartman - Três cooperativas do ramo agropecuário devem formar uma indústria (de produção de biodiesel). Através dos nossos diagnósticos, a gente identifica essas necessidades das cooperativas e apoia com consultorias para desenvolvimento de negócios também. Não só para a parte de gestão e governança, mas também para parte de negócios. No caso dessas três cooperativas, fizemos todo o diagnóstico da viabilidade econômica. É a Soli3, que é das cooperativas Cotrijal, de Não-Me-Toque, Cotrisal, de Sarandi, e Cotripal, de Panambi. Um investimento de R$ 1,2 bilhão.
JC - Quais setores se destacam na busca por capacitação?
Hartmann - As cooperativas, nos seus ramos, têm suas especificações e dificuldades. Por exemplo, as de crédito, estão ligadas ao Banco Central, tem todo o sistema unitário de formação. Então, nessas, especificamente, a gente não trabalha tanto nas consultorias. Trabalhamos mais na capacitação estratégica, nas viagens internacionais. As cooperativas de energia e infraestrutura estão ligadas à Aneel, que tem toda uma regulamentação do governo federal. As cooperativas de saúde, que são as Unimeds, também tem regulamentação. As que mais usam, portanto, são as cooperativas agropecuárias.
Porto Alegre tem Ensino Superior voltado ao segmento

Mário de Conto explica que cursos podem ser customizados conforme as demandas das cooperativas
/EVANDRO OLIVEIRA/JCMário de Conto, superintendente do Sistema Ocergs, conta que a Escoop é a única escola de Ensino Superior do Brasil voltada ao setor do cooperativismo. Aberta em 2011, em Porto Alegre, ela tem nota máxima (5) do Ministério da Educação (MEC). Conto lembra que, quando a faculdade foi criada, a pós-graduação era o principal foco. Hoje as pessoas buscam mais cursos de curta duração.
"Temos muitos cursos de pós-graduação, que também foram migrando, por exemplo, para a gestão da inovação em cooperativas. Há muitos aqui no interior do Estado, que fazemos em parceria com as cooperativas", detalha.
Na extensão, são trabalhadas questões específicas para que as cooperativas foquem em suas necessidades. Elas podem, inclusive, pedir cursos customizados aos conselheiros, diz Conto. A Sescoop tem anunciado investimentos na área de inovação para as cooperativas em cursos de liderança e gestão, e os projetos sociais chegaram a R$ 3 milhões em vários municípios pelo interior.
A Escoop trabalha, inclusive, para diversos estados do País, não apenas no Rio Grande do Sul, com aulas online e presenciais. Professores, muitas vezes, são enviados para locais como Sergipe, Bahia e Pará, exemplos de polos onde há programas de pós-graduação.
A primeira experiência, que culminou na criação da faculdade, ocorreu entre os anos de 2007 e 2010, no Curso Superior de formação específica em Gestão de Cooperativas, o Gescoop, realizado em parceria com a Univates, de Lajeado.
A Escoop foi credenciada pela Portaria MEC nº 994, de 19 de julho de 2011, assinada pelo ministro da Educação da época, Fernando Haddad, que autorizou o funcionamento da primeira faculdade voltada exclusivamente ao Cooperativismo no Brasil, publicada no Diário Oficial da Unuião (DOU) de 20/07/2011, iniciando suas atividades em 2012.
O centro educacional funciona na avenida Berlim, nº 409, no bairro Floresta, em Porto Alegre. No local, ficam as salas de aula, um espaço de convivência, uma biblioteca, auditórios e, agora, toda gestão do Sistema Ocergs trabalha do endereço também. Durante a enchente, o espaço ficou alagado, o que demandou esforços na recuperação para a retomada das atividades.